15 de novembro de 1943 (cont.)
Discurso do dr. Ciro Carneiro
Falou, em seguida, o dr. Ciro de
Ataíde Carneiro, presidente do Conselho Geral da Irmandade, que exaltou o significado da solenidade que se realizava e durante a qual ia ser feita a
entrega de medalhas especiais do jubileu a um grupo de irmãos, como justa homenagem da Santa Casa pela sua participação, há cinqüenta anos, nas
alegrias e mágoas da instituição.
O discurso do dr. Ciro Carneiro é o seguinte:
"Quis
a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santos associar ao programa das grandes comemorações do seu 4º centenário uma solenidade íntima do seu
numeroso grêmio.
"Atos como esse, celebram-se de longe em longe,
no encerro deste Consistório, com a intimidade que convém às festas de família, para honrar datas jubilosas da grei.
"Agora, porém, determinou a Irmandade que se
revestisse a cerimônia de especial solenidade. Deu-lhe mais aparatosa feição, entressachando na magnitude desta sessão de encerramento das
celebrações centenárias a entrega festiva de medalhas de jubileu a um destacado grupo de irmãos.
"Certo que bem andou a Mesa Administrativa nesta
resolução. Casa-se, com adequada afinidade, às festas do 4º centenário da benfazeja Irmandade, a celebração não menos pomposa do meio centenário d
vida social desses prestimosos irmãos.
"Quando se acumulam as homenagens do povo e dos
poderes públicos à instituição secular que é modelo das casas de caridade do Brasil, nada era mais justo do que, voltando-se para dentro de si
mesma, distribuir ela um pouco do calor dessas ovações para os associados que, há mais de meio século, vieram trazer-lhe a sua efetiva colaboração.
"Mal se houve, somente, a direção da casa, no
decreto sem apelo, com que designou o seu canhestro pregoeiro, quando a magnificência do ato, a cultura do brilhante auditório e a condição social e
política dos homenageados reclamavam que pela Irmandade se ouvisse palavra mais eloqüente, mais primorosa e mais vibrante.
"Queira, pois, a ilustre assistência, antes de
tudo, indulgenciar o desacerto dessa escolha. Foi inspirada, logo se vê, pelo generoso propósito de não desconsiderar o Conselho Geral desta casa,
cuja presidência ocupa no momento o mais apagado dos irmãos, por uma circunstância toda eventual, imputável à reconhecida bondade dos seus
confrades.
"Irmão remido há cerca de 20 anos, membro do
Conselho Geral há mais de dois lustros e seu presidente ha perto de um qüinqüênio, é com a mais viva comoção e o mais consciente entusiasmo que,
neste instante, em nome da Santa Cassa da Misericórdia, tenho a honra de proclamar os nomes desses Irmãos, a que se concedeu medalha de ouro, em
lembrança da sua participação, durante 50 anos, nas alegrias e nas mágoas da Irmandade.
"São eles:
Sr. Joaquim Cordeiro, irmão remido desde 10 de
dezembro de 1887;
d. Ana Machado Reis, irmã remida desde 9 de
março de 1889;
sr. Ernesto Teodoro Simon, remido em 10 de
novembro de 1890;
dr. Cesar Lacerda de Vergueiro, irmão remido em
10 de dezembro de 1891 e benemérito desde 23 de outubro de 1923;
dr. Firmo Lacerda de Vergueiro e Eurico de
Vergueiro, irmãos remidos em 10 de dezembro de 1891;
d. Diva Delamare Porchat de Assis, remida em 27
de junho de 1892 e
d. Adelaide Galeão Carvalhal, remida em 11 de
junho de 1893.
"Vede, senhores, o que pode e vale a força da
associação.
"Quem de nós, isolado, poderia construir e
sustentar obra de tal porte, como esta quadri-secular instituição?
"Todas as nossas ações e empreendimentos ficam
naturalmente condicionados à restrita capacidade das nossas forças e à estreita duração de nossa vida.
"A obra de um homem, por apurado que seja o seu
engenho, por extraordinário que seja o seu poder pessoal, por alentada que seja a sua fortuna, é sempre minúscula e perecedora, fora do campo da
arte e da ciência. Por muito que dure, não excederá o tempo de sua vida, se ao seu esforço não se associarem os outros, que lhe continuem a tarefa e
mantenham as fundações.
"Vista de longe, no caleidoscópio da história, é
figura ridícula, que o olho humano mal consegue divisar.
"Até aqueles grandes impérios, construídos pela
força e pela violência, cimentados na compreensão da liberdade natural do homem, têm, no longo estirão dos séculos, o brilho efêmero das rosas de
Malherbe, embora aparentem, vistos de perto, a solidez imperecível de pirâmides.
"Chamem-se os fundadores Alexandre ou
Nabucodonosor, Cesar ou Carlos Magno, Ciro ou Napoleão, Benito ou Adolfo, o pó, a ignomínia e a cinza da maldade são o seu fim iniludível, como o de
todas as produções da cobiça e do ódio.
"O que desses vultos restará, algumas vezes, será
o vívido lampejo do gênio dos que o tiveram, incapaz, todavia, para espancar as sombras tenebrosas com que sua prepotência denegriu a história da
Humanidade, na asfixia da humana liberdade.
"O grande apagador do tempo escurece num átimo a
lembrança de todas essas epopeizadas criaturas, que da flexão verbal usam somente a primeira pessoa, numa soberba e alucinante exibição do pronome
eu.
"Nem foge a regra o homem de gênio, que em vida é
rodeado pelo círculo de espinhaços respeitosamente curvados e pelo coro das aclamações e mal cerrou os olhos é cercado pela sombra espessa do
esquecimento.
"Vede, ao revés, esta árvore tetra-secular, que é
Santa Casa da Misericórdia de Santos. Não tem sujeição ao tempo, que desliza por ela como a gota d'água sobre a superfície do vidro polido.
"Continua a acolher sob a sua sombra gasalhosa,
hoje como nos dias de Braz Cubas, todos os necessitados que se lhe acercam. Tanto mais cresce, quanto mais dá.
"É que tirou origem duma pequenina semente, toda
feita de amor e de caridade. Semente fecunda, contra a qual nada pôde, nem a discórdia e a cólera dos homens, nem a força das vicissitudes, nem a
corrente impetuosa dos anos.
"Nasceu arbusto mesquinho e tenro ali no outeiro
de Santa Catarina, hoje derruído, e tanto cresceu que foi forçoso mudá-lo para outros sítios e já um novo transplante se prepara para as
proximidades do histórico Jabaquara.
"Acompanhou, desde a fundação, a vida da cidade e
da sua gente, chorando com os que choram, consolando os que padecem, libertando os que eram escravos e escravizando, pela gratidão, os que eram
livres.
"Passaram os anos e as gerações, transformou-se o
meio físico e o social, passaram os homens com seus ódios e suas virtudes e, também, os governos, com suas glórias e seus erros. Ela, porém, não
passou: permaneceu pelos séculos que já correram e ficará pelos que hão de vir, na obra incessante da Misericórdia.
"É como aquele templo sagrado do sonho de
Tennyson, que nem era pagode, nem mesquita, nem catedral, senão mole imensa e singela, [por] cujas portas abertas de par em par, entraram a Verdade,
a Paz, a Justiça e o Amor, e nela fizeram moradia.
"São assim as produções do bem e da verdadeira
caridade, inspiradas no mandamento de amor, que o Divino Crucificado ditou.
"As riquezas materiais, já observara S. João
Crisóstomo, quando distribuídas, mínguam a seu dono; as espirituais, tanto mais aumentam, quanto mais se repartem, como os peixes e os pães do
milagre de Cristo.
"Mas, notai bem, não foi ato de um homem isolado,
que fez essa perpetuidade benéfica. Foi a associação, sempre renovada, de uma intérmina sucessão de homens de boa vontade, uns aos outros ligados,
como contas de um rosário sem fim, pelo fio de ouro do amor do próximo.
"Aqui desfilaram, nestes 400 anos, milhares de
pessoas, sem distinção de sexo ou de condição, de fortuna ou de nacionalidade, de cor ou de raça. Pessoas que se reuniram para a prática efetiva da
verdadeira solidariedade humana, contribuindo com seus haveres e com suas energias para mitigar nalguma porção as dores dos que sofrem.
"Verdadeiros adjutores Dei, que se
entregaram á caridade pelo prazer que ela proporciona, acessível somente aos que são limpos de coração. Porque a caridade, como diz Bernardes, é tão
gostosa, que não causa a repetição fastio, senão a variedade deleite.
"Ponde ante o binóculo da imaginação essas vastas
enfermarias, onde se alinham leitos alvacento e sobre eles, aqui uma face escaveirada, com a descor de um milagre de cera, ali uns olho refulgentes,
na inconsciência do delírio, além uns lábios arroxeados, ressequidos pela febre e por toda parte o soluço, o gemido, o sarrido, o pranto, a dor, em
suma. E a perpassar continuamente entre as camas, abeirando-se de cada qual, no silêncio que lhe convém, o anjo da Caridade, trazendo aqui alívio,
ali consolação.
"E imaginai agora que há quatro centúrias se
desdobra esse mesmo quadro, na luta sem-fim da ciência contra a moléstia, da consolação contra a aflição, do bem contra o mal.
"Só assim podereis ter uma nítida visão da
magnitude da tarefa que puseram sobre os ombros as gerações que nos precederam, na edificação e sustentação desta Casa Santa.
"Aqui foram irmãos, num mesmo sentimento de pura
fraternidade cristã, ricos e pobres, potentados e humildes, homens que deixaram lá fora, na vida da cidade e na Nação, nomes aureolados de glória,
outros, como v. excia., sr. presidente, cuja fama ultrapassou, para nossa honra, as fronteiras da Pátria, e outros ainda, em muito maior número,
simples anônimos, cujos apelidos apenas se registram nos anais da Irmandade.
"Na corrida do tempo, eles se sucederam uns aos
outros, como as células do organismo vivo, sem que se alterasse, na continuidade dos dias, dos meses e dos anos, a vida da instituição.
"Já tereis,
pois, compreendido qual não seja a nossa alegria, quando nos é dado celebrar o cinqüentenário, não de uma, mas de oito dessas células no organismo
da Irmandade.
***
Correndo-lhes
os nomes, que já mencionei no princípio, não podemos deixar de evocar a lembrança de três beneméritos cidadãos, que tantos e tão bons serviços
prestaram a esta Casa e a esta cidade; os drs. Adolfo Porchat de Assis e Manoel Galeão Carvalhal, a cujas viúvas rendemos preitos nesta noite, e
Afonso Vergueiro, cujo retrato orna nesta galeria em memória do seus trabalhos e do qual, três dos quatro filhos vivos, aqui vão receber a medalha
do jubileu.
"Mas, dentre os homenageados de hoje, eu peço
licença aos demais para destacar aquele que, ao título de Irmão Remido, une desde 1923 o de Irmão Benemérito.
"Filho de Santos, onde nasceu a 11 de junho de
1886, o dr. Cesar Lacerda Vergueiro honrou, desde a mocidade, o nome tradicional que ostenta com brilho e que se liga, no passado, aos vultos
nacionais do senador Vergueiro, regente da Minoridade, e do barão de Antonina, como aquele senador do Império.
"Estudante de Direito, ascendeu à presidência do
Centro Acadêmico XI de Agosto, graças ao valor próprio e ao prestígio pessoal, que conquistou nas arcadas da velha e gloriosa Faculdade de Direito
de São Paulo.
"Já era, então, a mesma personalidade simples,
modesta, boa cativante, que hoje conhecemos, infatigável nas tarefas que empreendia, como salientava, na época, o seu colega Tapajoz Gomes, ao
traçar-lhe em versos o perfil:
"'...
vendo-o, com certeza,
ninguém lhe
dá o valor que tem, exato,
tal a
modéstia do seu fino trato,
tal do seu
gênio prático a lhaneza
de caráter,
trabalha, age sensato,
e sem a
capa falsa do aparato,
de ativo
que é chega a causar surpresa.'
Nesse tempo, estava em crise de desânimo o Centro
Acadêmico, ao ponto de escrever-se que haviam morrido na Academia a viveza e o civismo. Cesar de Vergueiro, com sua energia e seu trabalho pertinaz,
reavivou os brios amortecidos e, como se não bastasse essa obra moral de alto valor, deixou, como atestados materiais de sua fecunda gestão, a herma
do grande poeta da Faculdade e a galeria de seus diretores, obras celebradas, com igual justeza, nos mesmos versos de Tapajoz Gomes:
"'Deve-lhe
a vida o Centro; a Academia
fez
despertar da inércia em que vivia'.
"Do sangue avoengo, que lhe corre nas veias, e da
atmosfera cívica de sua terra natal, em cujo brasão se inscreveu o título de mestra da liberdade, veio-lhe, sem dúvida, o espírito de incendiado
liberalismo, que sempre caracterizou sua vida pública, pontilhada de traços indeléveis do bom combate contra a violência e a opressão.
"Esse pendor insopitável do seu caráter levou-o,
mal formado, à presidência dos Centros Civilistas de São Paulo, em 1909, e, a seguir, do Centro Anti-Intervencionista.
"Quem assim, com cívico entusiasmo, se iniciara
na vida política, não podia deixar de nela fazer gloriosa carreira; deputado federal por São Paulo de 1913 a 1930, secretário da Justiça do Estado,
veio a ser diretor do Partido Republicano Paulista, da qual reorganização foi o impulsor e o centro vital.
"Na sua longa vida pública, projetada desde cedo
no cenário nacional, o melhor do seu pensamento esteve sempre voltado para a terra natal, que lhe deve, entre outros muitos serviços que seria longo
enumerar, a iniciativa da construção dos edifícios da Alfândega e dos Correios e Telégrafos, do monumento e do mausoléu dos Andradas e a criação de
sua Base Aérea.
"Os ares de Santos sempre foram impregnados,
também, do aroma sutil da Caridade: Patriam charitatem et libertatem docui.
"Por isso é que sempre tiveram a predileção de
Cesar de Vergueiro as casas santistas de beneficência. Nelas tiveram, especialmente a Santa Casa, um advogado espontâneo e desinteressado. Pugnava
ele, com tocante solicitude, para que não lhes faltasse a larga contribuição da 'cota de caridade', para que lhes não minguassem recursos, com que
distribuíssem benefícios a mãos cheias, sem restrições e aperturas.
"Fazia-o repetidamente, ano após ano, movido pelo
impulso irresistível do coração, sem impor condições, sem alardes vaidosos e sem pôr olho no ouropel dos títulos honoríficos.
"Nesse tempo, não andava a Irmandade a mendigar
esmolas, nem se vira forçada, como depois aconteceu, a suprimir leitos nas suas enfermarias.
"Porque, enquanto Cesar Vergueiro foi deputado
federal, não se estancou para a Santa Casa, nem para os asilos, creches e associações caritativas de Santos, aquele auxílio farto e generoso.
"Mas, para que dizer mais das obras e virtudes
desse varão santista?
"Toda Santos bem o conhece e aplaude. Estou em
dizer que tudo quanto pudesse aqui exprimir, para realçar-lhe os méritos e serviços, ficaria muito aquém da realidade, diretamente conhecida de
todos vós.
"Bem sabemos, dr. Cesar Vergueiro, quanto esta
manifestação molesta vossa conhecida modéstia e vossa fidelidade e rigor na observância do preceito evangélico de manter no secreto à mão esquerda a
esmola que fazeis com a direita.
"Escusai-o, porém, na certeza de que, acima de
qualquer suspeição oriunda da boa e fraterna amizade que nos liga, fala em mim o sentimento de Justiça.
"Já vos disse alguém, em análoga circunstância,
falando em nome de todas as casas de caridade de Santos, que sois a 'bondade vitoriosa'.
"Sim. Pelo Bem
é que venceste, sempre, em todas as circunstâncias da vida. E é pela Bondade que continuareis a vencer, mesmo nos instantes de adversidade, que
praza aos céus não os haja muitos para vós.
***
"Essas
medalhas, que ides receber vós todos, irmãos cujo jubileu comemoramos, são bem, na sua singeleza, o símbolo da vitória pela bondade. Assinalarão, na
perpetuidade do ouro, a imperecível gratidão de todos milhares de pessoas que, nestes 50 anos passados, receberam os benefícios desta casa.
"Que paire sobre vós, enchendo-vos de graças e
venturas, a bênção de Deus, atraída pelas preces reconhecidas de todos quantos, nas enfermarias e no ambulatório deste Hospital, têm recobrado a
saúde, recebido conforto e recolhido consolação.
"Praza igualmente ao Senhor que se multipliquem
na Irmandade células vivas e prestadias como estas, que lhe permitam conservar pelos séculos em fora a mesma pujança e o mesmo verdor de hoje, ou,
como disse o poeta, envelhecer como as árvores fortes envelhecem:
"'Na
glória da alegria e da bondade,
Agasalhando
os pássaros nos ramos,
Dando
sombra e consolo aos que padecem'".
O discurso acima transcrito foi, ao finalizar,
sublinhado por longos aplausos.
Agradecendo a homenagem, o dr. Cesar Lacerda
Vergueiro, irmão jubilado, proferiu as seguintes palavras:
"Exmo.
sr. dr. José Carlos de Macedo Soares, digno representante do sr. presidente da República
"Srs. representantes das demais autoridades
federais, estaduais e municipais
"Digna Mesa Administrativa da Santa Casa da
Misericórdia de Santos
"Dedicado sr. provedor
"Exmas. senhoras
"Meus senhores
"Não podeis imaginar como me toca a alma, como me
comove esta homenagem, quantas recordações me trazem as palavras amáveis com que me honra o vosso orador, o nosso comum amigo Ciro Carneiro!
"A primeira é a do meu querido e saudoso pai, que
quando eu contava apenas 5 anos de idade, já se preocupara em nos fazer, a mim e a meus irmãos, irmão remidos da Irmandade da Santa Casa da
misericórdia de Santos. Suave lembrança! Delicadeza de sentimentos! Magnífica lição!
"Não se contentava quem nos deu a vida em fazer o
bem a quem dele se acercasse, em derramar às mancheias favores, benefícios e bênção. Quando apenas balbuciávamos as primeiras palavras, quando
uníamos as primeiras idéias, quando mal compreendíamos o alcance da bondade, o valor do altruísmo e a profundeza das necessidades humanas, quis
desde logo que assentássemos praça nas fileiras do regimento do bem no último quartel do século passado, nesta encantadora terra, cidade onde poucos
anos decorridos da descoberta da nossa Pátria, já se estabeleceria a primeira Santa Casa em combate contra a dor, contra o sofrimento, contra os
males de toda a espécie que oprimem aos desamparados da fortuna. Assim fazendo, marcou-nos um roteiro que, calada e lindamente, nos fez seguir.
"A segunda é a minha infância vivida nestas
plagas, ao contato deste mar e desta natureza sempre em festa, ao pé desta serra, que mais tarde subi, com emoção e com saudade, para no altiplano
de Piratininga completar a minha educação e aprestar-me para as lutas da existência agitada que tenho levado.
"A outra é a dos trabalhos que tive a felicidade
de realizar em prol de Santos, cuja lembrança me é eterna e, notadamente, das suas casas de caridade, de orfandade e de instrução, quando, pelo
mandato popular, fui levado ao parlamento federal de meu país.
"Trabalhos que desempenhei, natural e
espontaneamente, como uma determinação do meu fadario, como uma contingência da educação e dos exemplos hauridos do meu bom pai e de minha santa mãe
e pelo quais nada se me deve, o que foi feito nada mais é do que pálida imitação, modestíssima cooperação ao muito que aqui, há quatro séculos, se
tem realizado em prol da coletividade sofredora, sem visar outra recompensa além da consciência do dever cumprido, além da satisfação de ver enxutos
olhos alheios, mitigadas as dores, educados os órfãos e adolescentes e alevantados os espíritos dos nossos semelhantes.
"Nem é pequeno este galardão, pois é a própria
felicidade que, no dizer de Ruy Barbosa, é a sensação do bem alheio feito pelas nossas próprias mãos. Já o diz a sabedoria popular: 'Quem
dá aos pobres, empresta a Deus', como a significar que o bem que fazemos ao nosso próximo,
material e espiritualmente, nos é retribuído largamente pelo Supremo Criador a juros infinitos de alegria, bem estar e felicidade.
"Já o poeta Gabriel D'Anunzio com razão dizia: 'Possuo
tudo que dou'. Lembro como um grande padrão de honra a homenagem que as instituições de
caridade de Santos me promoveram há 18 anos, sendo orador o saudoso Augusto Marinangeli, benemérito desta Casa. Já nessa ocasião afirmei só
lamentar, como neste momento, não poder fazer em prol da Santa Casa da Misericórdia de Santos tudo que ela merece.
"Agradeço à digna Mesa Administrativa, ao
dedicado provedor sr. Benedito Gonçalves e ao amigo Ciro Carneiro tanta bondade".
O dr. Ciro Carneiro procedeu, a seguir, à entrega
das medalhas de ouro aos irmãos jubilados (50 anos), concedidas às seguintes pessoas: dr. Cesar Lacerda de Vergueiro, d. Diva F. de Lamare Porchat
de Assis, Ernesto Teodoro Simon, d. Adelaide A. Galeão Carvalhal, Eurico de Vergueiro, d. Ana Machado Reis, dr. Firmo Lacerda de Vergueiro e Joaquim
Cordeiro.
O sr. Benedito Gonçalves fez a entrega simbólica
dos diplomas de irmãos beneméritos e benfeitores a várias outras pessoas e entidades cuja relação consta no convite da Irmandade, publicado na
Imprensa, em 13 de novembro.
Discurso do dr. Lincoln
Feliciano
Em nome da Mesa Administrativa da
Irmandade, o dr. Lincoln Feliciano, consultor, pronunciou a bela oração seguinte, apresentando o professor Candido Mota Filho, diretor geral do
Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda.
"Pelos
demais membros da Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia fui destacado para apresentar-vos o dr.
Candido Mota Filho, conferencista de hoje, como se preciso fosse que um eminente professor, da mais famosa Faculdade de Direito do país, carecesse
de ser apresentado ao público da segunda cidade de S. Paulo.
"Faço-o ardendo de emoção, ante a vida
quadri-secular desta casa santa, cuja glória rebrilha, nesta semana de festas centenárias, tal-qualmente sucede com a flor-de-lótus, que de cem em
cem anos viceja, em alvo-azul de luar, esparzindo, por tudo, em redor, a volúpia de seu perfume.
"Consultor técnico da bancada paulista, na
Assembléia Constituinte Nacional de 1934, deputado estadual, diretor do Instituto Disciplinar, fundador da Sociedade de Cultura e Debates, da
Sociedade de Psicologia de S. Paulo e da Sociedade Alberto Torres, criador do Serviço de Reeducação e do Serviço Social de Assistência e Proteção
aos Menores, organizador do projeto do Departamento Nacional da Criança, membro do Conselho Nacional de Proteção à Família, membro da Academia
Paulista de Letras e diretor do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda, é o dr. Candido Mota Filho autor de várias obras: A função de
punir, admirável panorama das duas escolas penais; Introdução ao estudo do pensamento nacional (ensaio crítico); Alberto Torres e o
tema de nossa geração; Introdução à política moderna; A nomeação dos prefeitos; Uma grande vida (biografia de Bernardino de
Campos e ensaios sobre a política republicana); As novas tendências do Direito Constitucional (tradução da obra do prof. B. Mirkine Gutzevik);
Tratamento dos menores delinqüentes e abandonados; Redução da infância abandonada; A defesa da infância contra o crime;
Premeditação; Do estado de necessidade; e O Poder Executivo e as ditaduras constitucionais.
"Literato, sociólogo e educador, tem o dr.
Candido Mota Filho, além disso tudo, um florão de glórias que não deve ser esmaecido: quando ainda jovem, foi adepto do movimento nativista ou
autóctone, que, a respeito do problema literário, se estendeu pelo Brasil, sendo um dos epignos da célebre Semana de Arte Moderna, em 1924
(N.E.: SIC. Na verdade, a Semana ocorreu em 1922),
com Mario de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia, Osvaldo de Andrade, Paulo Ronald de Carvalho e tantos outros, movimento esse que
culminou com a ruidosa renúncia de Graça Aranha da poltrona que ocupava na Academia de Letras. Já então pensava ele, como Tristão de Ataide, que é
da 'fusão de elementos bárbaros, que vêm da terra, com elementos cultos, que vêm do homem, que
há de nascer a nossa verdadeira originalidade de amanhã'.
"Li algures, creio que Cassiano Ricardo, também
desse cenáculo, era aqui representado por dois dos seus mais imortalizados imortais, o embaixador José Carlos de Macedo Soares, seu
presidente, e o prof. Clementino Fraga, ambos cativantes, pelos primores de sua fidalguia, que há,no Brasil, dois pássaros que bem refletem a
mentalidade de nossos homens de letras: o carão e a corruíra.
"O carão, pardo-enegrido, tem o pescoço estriado
de branco. Não renova as penas. É triste, esquivo, de canto monótono e tautológico. Relembra os indivíduos que andam sempre aborrecidos, se queixam
de tudo e de todos, cheios de ressentimentos e despiques, para os quais só presta o passado. São, fisicamente, os tipos de camisa de peito duro e
ceroulas de amarrar.
"A corruíra, de cor parda-ferrugínea, com asas e
rabo atravessados por linhas escuras, um tanto onduladas, muda sempre se penas. É saltitante, irrequieta, trêfega. Seu canto deflagra numa melodia
chistosa alegre. Recorda os indivíduos que, no dizer de Gabriel D'Anunzio, têm como lei suprema a renovação. Sofrem de polimorfismo intelectual.
Amam a originalidade.
"Candido Mota Filho pertence aos últimos. Filho
do prof. Candido Mota, o introdutor, no Brasil, da escola penal positiva, com as idéias de Lombroso, ele tem sido, na arte, na cátedra e no
jornalismo, um espírito eminentemente moderno: um renovador".
Discurso do prof. Candido Mota Filho
O prof. Mota Filho pronunciou, depois,
sua palestra. Foi uma esplêndida peça oratória, de fundo sociológico, repontada de conceitos e afirmações brilhantes, plasmadas pela sua
inteligência ágil e robusta.
Falou em Santos, de sua história, do seu
fundador. Estudou a figura da Caridade sob elevado prisma, sem esquecer a obra da Santa Casa da Misericórdia, que elogiou como aos homens que
passaram pela sua administração e pelos que hoje a dirigem.
Seu trabalho foi acolhido com vibrante salva de
palmas.
O orador seguinte foi o padre Almeida Morais, que
deixara de falar por ocasião do Te Deum, por motivo superveniente.
De improviso, empolgou pela facilidade e vigor do
seu verbo, traçando interessante paralelismo entre a Igreja e a obra assistencial das Misericórdias. E, no final, ergueu inflamado hino de elogio à
cidade de Santos. Foi uma oração que empolgou.
Também se fez ouvir, em feliz oração, o sr. João
Teófilo de Medeiros, inspetor da Alfândega e representante da Fazenda, nas solenidades da Semana da Santa Casa, apresentando S.S. calorosa saudação
aos dirigentes da tradicional casa de caridade.
Discurso do
dr. J. Teófilo de Medeiros
"Senhores:
"Representante, nestas solenidades, do eminente
brasileiro dr. Artur de Souza Costa, emérito gestor das finanças nacionais ao serviço da pátria nova, que desperta na exuberância de seu formidável
potencial econômico, pela ação patriótica do insigne presidente Getúlio Vargas, no seu governo renovador, de grandiosas e dinâmicas realizações;
representante, dizia, do ilustre titular da pasta da Fazenda, dr. Souza Costa, e como filho desta terra de bondade, embora que nascido em outras
plagas, mas a ela preso pelo coração desde os verdes anos da mocidade, elo sem dúvida mais forte que o fenômeno biológico, e só relegado a plano
inferior pelo advena ingrato, a todos vós dirijo a minha saudação.
"Bem sei que a minha palavra desautorizada será
um ponto opaco na constelação dos oradores que se fizeram ouvir, brilhando como estrelas de primeira grandeza o eminente embaixador Macedo Soares e
o consagrado professor Clementino Fraga, que a todos encantou com a música de sua palavra aveludada, a condizer com a irradiante simpatia de sua
personalidade.
"Era divisa do imortal Vitor Hugo que, mesmo aos
mais humildes, é permitido ter um pensamento e dizê-lo! Sede vós generosos também, permitindo-me que use dessa liberdade, para que, no registro
dessa grandiosa comemoração, ainda sem par nesta veneranda instituição de caridade, figure o meu aplauso também. Quanto à sua trajetória, através de
quatro séculos irisada de mística beleza, mitigando dores e semeando alegrias, tudo disseram já o oradores que nos encantaram com a magia de sua
palavra, sublimada pela pureza dos seus sentimentos.
"E não seria eu, certamente, que,num prurido de
exibição, abusaria da vossa paciência com a repetição descolorida da história desta 'Casa de Deus', onde a solidariedade humana se expande em surtos
de magnificência, resgatando as dívidas da vaidade, do orgulho, do egoísmo! Tomando alguns momentos dos que me dão a honra de ouvir-me, tenho por
escopo não somente manifestar o meu empolgante júbilo, o meu desvanecimento de ter tido, também, a ventura de participar deste acontecimento
histórico, que atraiu as figuras de maior relevo do nosso mundo científico e literário para esculpirem a página mais brilhante da vida da Santa Casa
da Misericórdia de Santos, como para significar aos seus dirigentes o meu entusiasmo pelas fecundas realizações que observei em minha visita às suas
novas instalações, e ainda, o meu agradecimento pela fidalga acolhida com que tanto me distinguiram e cativaram.
"Daqui a cem anos, terão, eles também, os seus
nomes evocados pelas gerações vindouras, num preito de saudade e gratidão, tal como hoje recordamos os que passaram legando à posteridade o exemplo
de suas excelsas virtudes, cristalizado no apostolado de bondade de que nasceu, viveu e se consolidou este templo caritativo e doce, oásis da
indigência e cadinho onde se apura a sublimidade da doutrina cristã, esse maravilhoso poema de amor que ilumina o verdadeiro caminho da verdadeira
felicidade!
"Terminando esta pálida oração, a todos agradeço
a atenção que me prestaram, e peço licença ao ilustre e eminente provedor, dr. Benedito Gonçalves, e demais membros da Mesa Administrativa, para,
nesta solenidade evocativa, render uma homenagem à memória de José Cabalero, recordando-o como um dos grandes benfeitores desta piedosa instituição".
Oração do sr. provedor
Em nome da Mesa Administrativa da
Santa Casa, o sr. Benedito Gonçalves, digno provedor, pronunciou a oração seguinte:
"Ainda
sob a acentuada impressão das solenidades com que, elevando os nossos sentimentos de zelo e afeto pelas tradições excelsas desta Casa, comemoramos a
faustosa passagem do 4º Centenário de sua fundação, eu não poderia, senhores, omitir, antes de concluída esta sessão para sempre memorável, a
manifestação pública do profundo e sincero reconhecimento da Irmandade à cooperação de quantos concorreram para cabal desempenho do programa
comemorativo que ora culmina na suntuosidade desta assembléia.
"É para traduzir a indelével gratidão que nos
fica do valioso apoio recebido como incentivo ao prosseguimento da humanitária ação aqui desenvolvida, numa continuidade sem fim, que ainda uma vez
cumpre-me encarecer o gesto de benemerência com que nesta, como em outras circunstâncias, se houveram quantos asseguram à Irmandade o estímulo de
sua presença, de sua palavra, de seu trabalho, de seu esforço e principalmente de sua generosidade em prol do engrandecimento e do bem estar da
Santa Casa de Santos.
"O rememorado e invulgar acontecimento histórico
que no espaço de uma semana nos congregou neste recinto, se de um lado merecia pela sua importância e significação as honras que vós, senhores, pia
e generosamente, lhe outorgastes, por outro, proporcionou-nos o ensejo feliz de bem aquilatar, em toda a evidência, o amor que tributais às mais
caras tradições do nosso passado, máxime quando mais de perto, como neste fato, falam diretamente ao coração.
"Difícil, entretanto, se me afigura destacar
atuação maior ou menor nesta contingência, de vez que importa reconhecer ter cabido a todos um quinhão de sacrifícios a que somos indistintamente
sensíveis.
"Temporariamente afastados de afazeres cotidianos
de tanto relevo na capital federal ou mesmo em São Paulo, como o fizeram os ilustrados mestres que, nas sucessivas conferências da Semana
Médico-Social, para aqui afluíram trazendo o concurso inestimável de sua alta e soberba erudição ou, ainda, com as dignas e provectas autoridades
civis, militares e eclesiásticas que participaram deste esplêndido movimento patenteando solidariedade para nós muito honrosa, ou também, como as
associações e sodalícios não só desta lendária cidade, mas até dos mais longínquos centros culturais do País, por si ou delegações de magna
representação que nos tributaram a homenagem de seu espírito acrisolado de fidalguia, são circunstâncias que abrem a atitudes generosas como essas
largo crédito de benemerência só retribuível com soma igual de ponderoso e inextinguível reconhecimento.
"Unidas a essas provas de tão alto senso social,
surgiram inequívocas demonstrações de cooperação, dentre as quais me permito destacar como gesto expressivo da índole acolhedora do povo de Santos,
a cativante oferta da empresa do Parque Balneário, franqueando, sem ônus para a Irmandade, a hospedagem de nossos ilustres convidados, não só ao
exmo. sr. prefeito municipal, em cujo zelo pelas glórias da cidade todos nós nos louvamos, cumpro o grato dever de tributar inteira gratidão da
Irmandade, não só pelo amparo concedido para completo êxito das comemorações, como ainda pelo interesse direto que pessoalmente e pelo poder público
municipal tomou, reservando para a Prefeitura destacada função nos atos comemorativos.
"Difícil, repito, relatar nesta passagem
circunstanciadamente todo o apoio recebido no sentido de revestir esta comemoração do encantamento para felicidade nossa tão auspiciosamente
logrado.
"Por isso mesmo é maior o grau de gratidão a que
essa generosa e geral complacência obriga a Irmandade. E se é possível concretizar tão grande soma de sentimentos num símbolo que realmente expresse
tudo quando essa ampla cooperação significou para o brilho das nossas festividades, eu ouso personalizá-lo n figura sempre querida e admirada do
exmo. sr. embaixador Macedo Soares, cujas cativantes atenções para com a Santa Casa de Santos lhe asseguram a imperecível gratidão da Irmandade.
"Ao lustre emprestado pela sua personalidade aos
festejos, adjuciou ainda s. excia., para mais enaltecer as glórias aqui comemoradas, alta e generosa representação do exmo. sr. presidente da
República, que assim das efusões de alegria com que celebramos o remoto acontecimento, donde promanou o maravilhoso destino deste florescente
recanto do Brasil.
"E se ainda me é lícito envolver numa auréola de
luz a espiritualidade com que nos encantou a Semana Médico-Social, é na pessoa do eminente professor Clementino Fraga, que encontro sobejas razões
para encarnar todo o entusiasmo do nosso espírito pelo sazonados frutos colhidos dos sábios ensinamentos prodigalizados pelos grandes mestres que
aqui se fizeram ouvir.
"Sim, porque não nos debruçamos apenas na
contemplação do episódio longínquo cujo contorno já se esmaece à sombra das nuvens do passado. Ousamos mais. Erguemos os olhos para a visão do
futuro e procuramos desvendar nas brumas da madrugada que se anuncia novos caminhos para a jornada extensa que nos resta palmilhar.
"Organismos como estes não ficam à margem da vida
social, na época tumultuária que vivemos. Antes nela se entrosam, necessária e fatalmente, como elementos geradores de vida, fiéis indispensáveis ao
equilíbrio das balanças donde pendem as diferenças sociais.
"E, sem perder nunca a feição sentimental em que
se moldaram no passado, buscam pressurosos atender ás múltiplas exigências da técnica, completando-se e atualizando-se para a grande função que lhes
é reservada.
"Visou a Semana Médico-Social ventilar
palpitantes questões que evidenciam a crescente importância dos hospitais para a vida da sociedade. Compreendendo a necessidade de acompanhar a
marcha da evolução que se processa rapidamente para um campo de ação mais largo e benéfico à coletividade, tomou a Santa Casa de Santos a iniciativa
dessa realização, certa de lograr os magníficos resultados que dela podem promanar.
"Valem os seus ensinamentos como diretrizes novas
para a operosidade que o futuro lhe reclamará em ambiente mais dilatado e, por isso mesmo, dentro das complexidades vindouras, busca na plena
consciência dos seus graves encargos, escudar-se em normas seguras e capazes de lhe proporcionar o cabal desempenho de sua grande e humanitária
tarefa.
"Credencial bastante para tanto é o acervo
precioso de quatro séculos de realizações soberbas, sem nunca haver desmerecido das alvíssaras de honra e nobreza de que vive cercada.
"As manifestações de simpatia e respeito
recebidas são para a Santa Casa de Santos um penhor do apreço em que não apenas pela sua longevidade gloriosa, mas principalmente pela mercê do
grande papel que representou nos fastos de nossa história, é tida no conceito de instituição benemérita e digna do culto do mais entranhado afeto.
"É em nome dela, senhores, que, ao encerrar as
solenidades comemorativas do 4º centenário de sua fundação, deixo a todos a expressão mais sincera e comovida de profundo e inextinguível
reconhecimento".
Falou por último o embaixador José Carlos de
Macedo Soares, que se congratulou com a Mesa Administrativa da Santa Casa pela dedicação de seu provedor, sr. Benedito Gonçalves, do sr. Henrique
Soler, presidente do Conselho Deliberativo, e do sr. Ciro Carneiro, presidente do Conselho Geral, e dos demais mesários e irmãos beneméritos, entre
os quais destacava o nome do sr. Lino Vieira. Revelou que no telegrama que lhe enviara o presidente da República, dando-lhe poderes para
representá-lo nas comemorações do 4º centenário da Santa Casa, s. excia. qualificou aquela instituição de "a
benemérita Santa Casa".
Concluindo, declarou que, apesar da situação
angustiosa em que se encontra, o Santo Padre não esqueceu que neste rincão longínquo se realizavam festas comemorativas de 4 centúrias de uma casa
de caridade, que desde sua fundação recebeu o nome de Casa de Deus, por isso que s.s. enviara um telegrama de felicitações à Santa Casa.
A convite do embaixador Macedo Soares, d. Idilio
Soares leu ao auditório o telegrama enviado pelo Sumo Pontífice, concebido nos seguintes termos:
"Cidade
do Vaticano - Nunciatura Apostólica - Rio de janeiro - Sua Santidade envia à Santa Casa de Santos, por ocasião do 4º centenário de sua fundação,
paternais votos de bênçãos apostólicas - (a) Cardeal Maglione".
Em nome do presidente da
República, o embaixador Macedo Soares declarou encerrada a solenidade.
Este livro
foi composto e impresso nas oficinas da Empresa Gráfica da "Revista dos Tribunais" Ltda., à Rua Conde de Sarzedas, 38, São Paulo, m março de 1947. |