A escola noturna e a congregação, em suas antigas instalações
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No jubileu de prata, um relatório contava as primeiras estórias
Quando, em 1946, a Escola Noturna Santo Inácio completou seu Jubileu de Prata, a diretoria da época apresentou um relatório dos primeiros 25 anos em forma
de revista. Através dele, podemos tomar conhecimento do que foi [o] início da escola, as dificuldades encontradas, mas sempre superadas graças ao trabalho eficiente
dos congregados e dos diretores da Congregação Mariana da Anunciação, contando também com o apoio do povo e do comércio em várias campanhas que foram lançadas.
Esse documento, que pertence ao arquivo da Escola, é quase único e acreditamos ser importante, principalmente para as novas gerações de congregados, a sua republicação quase na íntegra,
dentro desta revista em que se comemora o Jubileu de Ouro.
Histórico - Ao se aproximar o jubileu de ouro de sua ordenação sacerdotal, manifestou o saudoso Cardeal D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti o desejo de que, dentre as
comemorações projetadas, se incluísse a fundação de 50 escolas para pobres, considerando a premência do problema do analfabetismo no Brasil.
Acolheu o patriótico apelo o apostólico padre José Visconti SJ. [N.E.: SJ. = Superior Jesuíta], cuja passagem pela nossa cidade
caracterizou-se por tantas obras de religião e ação social. Decidiu fundar uma escola noturna, para meninos pobres, condoído que se achava da situação de abandono em que viviam os menores. Secundou-o na sua iniciativa a Congregação Mariana de
Santos, de que então era diretor, corporificando-se então a ideia.
Estava pois fundada modestamente a Escola Noturna Santo Inácio, cujas primeiras aulas funcionaram no prédio 370 da Rua da Constituição. Devido à exiguidade das instalações, mudou a
Congregação sua sede para o prédio 327 da mesma rua, a fim de melhor poder acolher o número elevado de crianças que acorriam à matrícula.
Amparada sempre pela abnegação dos professores, pela simpatia das autoridades do ensino, pela imprensa e pelo auxílio de benfeitores dedicados, dentre os quais não podemos deixar de
citar os nomes das saudosas sras. Izabel Santos, Lili Freire, do sr. Godofredo de Faria e sra., e do nosso benemérito comércio de Santos, lançou-se a diretoria no ano de 1929, numa campanha para a aquisição de um prédio próprio e conveniente, onde
pudessem ser bem instalados os diversos departamentos da Congregação e, especialmente, a Escola Noturna, objeto de desvelo e preferência dos Congregados.
Assim, foi adquirido, por escritura pública, o prédio nº 45 da Rua 7 de Setembro, onde vêm funcionando ininterruptamente as quatro salas de aula da Escola.
Ensino e organização - O ensino ministrado aos alunos é inteiramente gratuito, recebendo eles não só as lições das diversas matérias, acompanhando o programa oficial, como também
instrução cívico-religiosa que os habilite a serem cidadãos úteis à Pátria. De fato, nas diversas categorias de profissões, deparamos jovens e homens que passaram pelos bancos da Escola, e estamos certos, honram o seu nome e correspondem aos
ensinamentos benfazejos que dela receberam.
São também dispensados aos alunos os cuidados do corpo pelo esporte, assistência médico-dentária. Por gentileza da Cia. City, os passes com abatimento são
também fornecidos aos alunos. Todos os anos fazem a primeira comunhão em solenidade própria. Outras formas de assistência não lhes têm faltado, como roupas, medicamentos e até colocação em diversos misteres, conseguidas pela interferência dos
congregados.
Estatística - Nos primeiros 20 anos de funcionamento, a frequência média dos alunos atingiu a 140 anualmente. Damos a seguir o quadro do último quinquênio: 1942, 126 alunos; 1943,
181; 1944, 181; 1945, 161; 1946, 171; total dos 5 anos, 820. Num período de 25 anos, passaram pelos bancos escolares 2.620 alunos, o que representa contribuição valiosa à campanha contra o analfabetismo em nosso País.
Corpo docente - Não podemos passar sem comentário o trabalho admirável dos professores e diretores que, durante os 25 anos, vêm emprestando o seu esforço e dedicação ao ensino.
Escolhidos entre os moços da Congregação, exercendo sua missão sem recompensa alguma, depois da luta diária pelo pão, sacrificando momentos de merecido repouso, cumprem eles sempre a
obrigação sagrada de permanecer ao lado dos alunos, ministrando sua experiência e luzes, com olhos fitos em Deus e na Pátria.
Dever de gratidão também recordar a assistência bondosa e vigilante dos dedicados diretores que teve a Congregação, no período em exame: padres Visconti, Cantessoto, Danti, Doppler,
Rocha, Armelin, Rosman e Alvarenga, coadjuvados pelos incansáveis padres Celestino, Monsaert (de saudosa memória), Drumond, e muitos outros cujos nomes nos escapam.
Autoridades religiosas - Todos os excelentíssimos bispos diocesanos sempre enalteceram a obra da Escola, favorecendo-a com as suas bênçãos. Dos reverendíssimos padres provinciais
da Companhia de Jesus, recebeu a Escola as maiores atenções e encorajamento.
Poderes públicos - Bem souberam compreender as nossas autoridades o que representa de boa e humanitária a obra da Escola e não se recusaram a esse reconhecimento, concedendo-lhe
suas subvenções que, embora não tanto quanto foram de se desejar, somam apreciável contribuição. Aufere a escola as seguintes subvenções:
da Prefeitura Municipal de Santos - Cr$ 3.800,00 anuais.
do Governo Federal - Cr$ 3.000,00 anuais.
Autoridades de ensino - Acha-se a Escola sob a fiscalização permanente da Delegacia do Ensino, a quem presta todas as informações adstritas ao seu movimento escolar. Não devemos
nos furtar de esclarecer a colaboração amistosa de que têm dado os diversos inspetores escolares, devendo relembrar os nomes dos professores Primo Ferreira, Sílvio Julião, Zenon de Moura, Malaquias de Oliveira e Luiz Damasco Pena, além dos
dedicados fiscais.
A turma de 1944
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Impressões antigas, mas atuais
Ainda do relatório dos primeiros 25 anos da Escola Santo Inácio, consideramos oportuno registrar aqui algumas impressões de inspetores de ensino,
professores e outras pessoas que, após visitar e verificar o trabalho desenvolvido na Escola, manifestaram seu entusiasmo pela obra dos congregados da CMA.
Em 5 de março de 1934, do sr. Malaquias de Oliveira Freitas, inspetor escolar: "Visitando mais de uma vez este estabelecimento de ensino levo a melhor das
impressões. Não há palavras que possam bem traduzir o elogio que me vai pela alma, pela abnegação e devotamento dos distintos moços que aqui trabalham. Sacrificando horas de lazer, dedicam-se à educação moral e à instrução de quase uma centena de
brasileiros que estariam condenados à ignorância se não fora o devotamento caridoso e patriótico dos moços da Congregação Mariana de Santos".
Em dezembro de 1934, do sr. Stockler de Lima, Inspetor da Instrução Municipal: "Na qualidade de representante do sr. prefeito municipal, visitei hoje a
Escola Noturna Santo Inácio, assistindo aulas em todas as classes. De tudo que me foi dado ver e observar, levo as melhores impressões e deixo aqui consignados os meus louvores a esta casa de ensino, forte cooperadora na causa da alfabetização do
nosso Brasil. Aos diretores, os meus aplausos e agradecimentos pelas gentilezas que recebi".
Em 30 de abril de 1941, do sr. Luiz Santos Filho, inspetor escolar: "Visitei hoje a Escola Noturna Santo Inácio, estabelecimento de ensino dedicado a
proporcionar o ensino primário a alunos pobres, mantido pelos moços que formam a Congregação Mariana de Santos. Percorri as quatro classes em funcionamento, assistindo e dando aulas, e dessa visita colhi ótima impressão do trabalho realizado pelos
dignos jovens marianos, trabalho este que reputo de elevado patriotismo. Estão matriculados 112 alunos e acham-se presentes 75".
Em 23 de outubro de 1942, do sr. Amadeu Damato, inspetor escolar: "Visitei hoje a Escola Noturna Santo Inácio. Encontrei-a funcionando com regularidade,
possuindo um corpo de professores registrados numeroso. Os documentos acham-se em ordem, o mesmo dando-se com a escrituração escolar. Percorri as classes do 2º e 1º graus, tendo assistido e dado aula de leitura no 1º grau. Acham-se matriculados 97
alunos e estão presentes hoje apenas 43, devido ao tempo chuvoso. Encontrei afixado em quadro próprio o registro do estabelecimento. Observa-se no estabelecimento ótima ordem, asseio e disciplina. Ao seu diretor dei instruções sobre confecção de
horário para cada uma das classes, discriminadamente".
Em 13 de setembro de 1928, do professor Olynto Orsini, presidente do Conselho Superior da União dos Moços Católicos e da Universidade de Minas Gerais: "Casa
de Deus! Casa de Virtudes! Casa de instrução" São essas as palavras que afloram aos lábios dos católicos mineiros, ao entrarem na sede da Congregação Mariana de Santos. Deus abençoe os esforços desses abnegados semeadores do bem, que sacrificando
interesses materiais e secundários que o mundo oferece, sacrificando as horas de merecido repouso, se dedicam aos interesses imorredouros da alma, aos negócios puríssimos de Deus, transfundidos na alma de centenas de meninos, às luzes da religião e
da ciência. Os embaixadores da União de Moços Católicos da Congregação Mariana de Minas trazem aos seus irmãos de Santos o seu amplexo fraternal e carinhoso, saudando-os com o coração e agradecendo ao Altíssimo a graça que lhes proporcionou de
viverem alguns momentos essa vida santa, edificante, que se vive na sede desta exemplar Congregação. Salve congregados marianos de Santos".
Em 1931, do sr. José Domingos Ruiz: "Visitando esta Congregação Mariana, não posso deixar de consignar nestas breves linhas a ótima impressão que me causaram
suas instalações, em que a maior parte é devotada à grande causa nacional: a educação pública. Como presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito de São Paulo, formulo os mais sinceros votos de prosperidade à brilhante
Congregação Mariana de Santos. Deus a guarde".
Classe do primeiro ano em 1971, com a professora Dulcelina Maria Ablas Dias Correa
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Muitos saíram daqui e foram brilhar lá fora
Entre o meio milhar de congregados que passaram pela Congregação Mariana da Anunciação, foram muito raros os que não foram também professores da Escola
Noturna Santo Inácio. Era quase uma condição "sine qua non" para ser admitido no sodalício, pois durante o noviciado, em que o rapaz era preparado para a consagração de sua vida à Maria Santíssima, era indispensável o seu apostolado no
ensino das matérias constantes do currículo ou da aula de catecismo, como também no preparo para a primeira comunhão.
Muitos desses ex-professores tornaram-se, mais tarde, pessoas de posição destacada nos diversos cenários da vida. Na política, por exemplo, destacamos como vereadores em Santos, Lúcio da
Silva Graça, Aristóteles Ferreira, que foi presidente da Câmara Municipal, e Fernando Dias Oliva, também por duas vezes presidente, sendo que numa delas chegou a ocupar interinamente o cargo de prefeito municipal.
Na vida religiosa, pode-se destacar o padre Edmundo Delgado e os irmãos leigos Luiz Machado Neto e Paschoal Maradei, da Companhia de Jesus. No laicato, como justo prêmio às suas sempre
prontas colaborações às causas da diocese e exemplos como profissionais e chefes de família, foram agraciados pela Santa Sé com o título de "comendador" o fundador da Escola, Vicente Severiano Morel, e os já saudosos Antonio Ablas Filho e Ennio
Emmerich de Souza.
No magistério, entre outros, pode-se lembrar o nome do sr. Carlos Pacheco Cirilo, reitor da Faculdade Católica de Direito de Santos; Ubi Bava, catedrático da Escola Nacional de Belas
Artes; e Francisco Gago Lourenço Filho (N.E.: engenheiro agrônomo, professor e presidente do Conselho Administrativo do Programa Especial de Bolsas de Estudo - PEBE - do Ministério do Trabalho e Previdência Social, em
1969. Sua biografia foi incluída na publicação do jubileu de ouro da Escola Santo Inácio). [...]
O dr. Eros Santos Chaves paraninfou a turma de 1960.
Era diretor Antonio F. Ribeiro Jr. e vice, Walter Byron R. Santos
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Estes fizeram os 50 anos da escola
Em seus cinquenta anos de ininterruptas atividades, a Escola Noturna Santo Ignácio foi sempre muito feliz no que diz respeito aos homens que presidiram as
várias diretorias ou que a dirigiram. Por ali passaram pessoas de grande capacidade, atuantes e de inegável espírito empreendedor. Abaixo, numa espécie de homenagem a todos eles, damos a relação completa dos presidentes das diretorias e diretores:
Os presidentes - José Teixeira Coelho, em 1944, 46, 51, 57, 58 e 61; comendador Vicente Severiano Morel, em 1921, 34, 36 e 39; Milton Evangelista de Almeida, em 1929, 35 e 66;
Marino Leite, em 1937, 49 e 50; comendador Ennio Emmerich de Souza, em 1941, 42 e 45; Nelson Fonseca Pereira, em 1952, 53 e 59; Lino Vieira, em 1923; Synésio de Andrade Fernandes, em 1926 e 43; Joaquim Sérvulo da Cunha, em 1928 e 30; Hely de Aguiar
Botto Filho, em 1933 e 40; comendador dr. Antonio Ablas Filho, em 1955 e 56; dr. Eros dos Santos Chaves, em 1963 e 65; Vicente Greco, em 1922; dr. Paulo Dutra da Silva, em 1924; dr. Fábio de Aguiar Goulart, em 1925; Rodolpho Eduardo Fonseca, em
1927; Alaor de Souza Ablas, em 1931; reverendíssimo Irmão Pascoal Maradei S. J., em 1932; dr. Carlos Pacheco Cyrillo, em 1938; dr. Manoel Garcia Vilarinho, em 1947; Danton Evangelista de Almeida, em 1948; Angelo Pierre Sobrinho, em 1954; Italo
Morgado Sartini, em 1959; Rubens de Moraes Pinto, em 1960; dr. Affonso Bernardo Fernandes Vitali, em 1962; dr. Roberto Machado de Almeida, em 1964; dr. Oscar Novoa, em 1967; Marcelo Emmerich de Souza, em 1968; José Alves Filho, em 1969; Nilo Nóvoa,
em 1970; e Augêncio Miranda, o atual presidente da diretoria (N.E.: em 1971).
Os diretores - Reverendíssimo padre José Visconti S.J., seu fundador, já falecido, nos períodos de 1921 a 24 e de 1930 a 34; revmo. padre Angelo Contessoto S.J., já falecido, nos
períodos de 1924 a 28 e de 1934 a 40; revmo. padre Carlos Doppler S.J., já falecido, de 1928 a 30; revmo. padre Francisco de Assis Rocha S.J., de 1940 a 42; revmo. padre Valentim Rozman S. J., de 1942 a 45; revmo. padre Waldomiro Alvarenga S. J. de
1945 a 53; revmo. padre Lauro Trajano Lopes, de 1959 a 60; revmo. padre José Achótegui S.J., de 1960 a 62; revmo. padre João da Silva Passos S.J., de 1962 a 71; revmo. padre Milton Paulo de Lacerda, seu atual diretor, desde fevereiro do corrente
ano (N.E.: 1971). |