FESTAS JUNINAS
Da quadrilha ao country
Nara de Paula
Fogueira, correio elegante, quadrilha e cadeia não estão
mais presentes nas quermesses, deram lugar a parques de diversões, shows musicais e restaurantes. As festas juninas vêm perdendo suas
características originais, tornando-se eventos praticamente idênticos a outros que acontecem nas demais épocas do ano.
Originalmente, a "festa junina, criada em Portugal, era uma homenagem a São João ou
João Batista, nascido em 24 de junho" - daí serem chamadas de "festas joaninas", explica a coordenadora do curso de História e do Centro de Estudos
Folclóricos da Unisantos, Yza Fava de Oliveira. Com o tempo, passou-se a homenagear também Santo Antonio, no dia 13, e São Pedro, no dia 29, e a
festa passou a ser chamada de junina, em referência ao mês.
Assim como as roupas tradicionais, a festividade foi feita também de retalhos, em um
processo de aculturação, no qual cada região adapta a festa a seus costumes, acrescentando novos elementos culturais.
A tradição de reunir-se em volta da fogueira, por exemplo, veio do interior do país,
onde, no século passado, agricultores comemoravam a boa colheita em volta da fogueira pedindo proteção aos deuses, comendo, bebendo e dançando.
Outro exemplo incorporado nesta festa típica é o mastro. De acordo com a estudiosa,
quando Santa Isabel, prima de Maria, estava grávida, ela salientou que se João Batista nascesse de manhã, ela avisaria hasteando uma bandeira branca
em um mastro. Caso nascesse à noite, seria acesa uma fogueira. "No entanto, a criança nasceu no crepúsculo do dia, e Santa Isabel então resolveu
tomar as duas providências", revela.
Até a quadrilha, um dos costumes que ainda resistem em algumas quermesses, foi
originada de uma dança francesa, tipicamente aristocrática, muito popular na corte de Luís XIV. Ela foi trazida ao Brasil e incorporada pelo povo,
que a adaptou á sua realidade.
No entanto, a quadrilha, atualmente difundida, exibe um grande erro que, de acordo com
Yza, deve ser corrigido o quanto antes. "A roupa caipira usada na época não era remendada. Eram pessoas humildes, do campo, mas que se vestiam da
melhor forma possível para a festa. A cidade assimilou a pobreza do campo às vestimentas, equivocando-se", explica a historiadora, referindo-se ao
estereótipo de Chico Bento (personagem de histórias em quadrinhos do Maurício de Souza), implantado nas atuais quadrilhas de festa junina.
Foto: Leandro Amaral, publicada com a matéria
Mudanças no nome e nas características
Santos sempre manteve o costume de promover quermesses nessa época do ano. Uma das
mais antigas e tradicionais, que a princípio funcionava na Praia do Gonzaga, levava o nome de Cidade Junina, onde podiam ser encontradas
brincadeiras típicas, como cadeia, perna-de-pau e pau-de-sebo. Os anos se passaram e essas brincadeiras foram sumindo e, depois de tanta
transformação, o evento passou a se chamar Inverno Quente, perdendo toda ligação que tinha com as festas juninas. Em 2004, o nome mudou
novamente, passando a se chamar Inverno Santos, desvirtuando de vez a idéia inicial do projeto e tornando-se definitivamente um evento
assistencial.
Segundo a professora, os exemplos mostram que as tradições e os costumes mudam,
transformam-se, e, para não perdê-los, é preciso preservá-los. "A grande esperança está nas escolas. Devemos incentivar as festas juninas nas
escolas, motivando os professores e alunos a pesquisar sobre as tradições juninas, para que isso não se perca no tempo", acredita Yza, acrescentando
que toda cultura é dinâmica e, por isso, ainda serão incorporados novos elementos aos festejos juninos. "A música country é um bom exemplo.
Hoje em dia, ela ainda é estranha nas festas, embora já comum nas quermesses escolares. Quem sabe daqui a alguns anos ela seja assimilada aos
costumes juninos". |