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Santistas, nas barrancas do Paranapanema [11]

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Livro de Santos Amorim, lançado em novembro de 1932, relata a participação de um batalhão santista na Revolução Constitucionalista daquele ano:
Os combates em Taquari

As 2ª e 3ª Cias. do 7º dão provas admiráveis de heroísmo

A 3ª Cia. já estava guarnecendo a ponte de Campininha de Monte Alegre. Quando veio se lhe juntar a 2ª Cia. A fim de que, naquela tarde, 4 de setembro, ambas se deslocassem para outra posição. A esse tempo, a 3ª tinha deslocado um G.C. para ficar na Fazenda Santa Albertina. Lugar este de observação às estradas que davam acesso a várias passagens pelo rio Paranapanema.

A situação, portanto, era séria.


Uma hora de emoção

Um episódio inesperado veio, porém, pôr a tropa em sobressalto. Seriam 20 horas. O telefone da Fazenda Santa Albertina chama o comandante da 3ª. Pede-lhe reforço. E, sem mais explicações, repentinamente, interrompe-se a ligação.

Por quê? Qual a causa desse fato? Ninguém sabe. Ninguém atina com o que ocorre. Uma hora de emoção. De grande ansiedade. Pela sorte dos bravos soldados santistas. Que ali se encontravam. Para a luta. Mas, a brutalidade desse golpe não tirou a calma dos voluntários conterrâneos. Nem tampouco daqueles a quem cabia a responsabilidade de comandá-los. Imediatamente foi organizada uma patrulha. De reconhecimento. E de reforço.


Agindo destemerosamente

Embora sem informação precisa sobre a verdadeira situação. Ignorando a quantidade e a espécie dos adversários, essa patrulha lançou-se para a frente. Atravessando o rio. E procedeu a rigorosa investigação. Até além da Fazenda Santa Albertina. Sem conseguir, todavia, encontrar o menor vestígio. Quer do nosso G.C. (Grupo de Combate). Quer do inimigo. Mas urgia voltasse a nossa patrulha. Para tomar medidas severas. Garantindo as nossas posições.


Em contato com o inimigo

De regresso ao P.C. do destacamento da ponte. Aí, já havia uma outra patrulha. Organizada para nova batida. A fim de, a todo o custo, entrar em contato com o inimigo. O que, afinal, se deu. Não só o localizando. Como também o obrigando a retirar-se da posição que ocupava. Deixando 1 morto. E 3 feridos.


UM FLAGRANTE - Tenentes Mário Amazonas e Polydoro Bittencourt,
e brigada Benedicto de Camargo. Estão no campo. Tomando ares...


Para Itaí

Às 20 horas. Chegam vários caminhões. Para conduzir toda a tropa. (2ª e 3ª Cias.). Destino ignorado. Como sempre. Percebemos, logo, que algo de grave se passava. Para retirar uma tropa. Já identificada com a situação do setor em que combatia. Em tal hora. E com carta de prego. Só mesmo premente necessidade de natureza militar, poderia determinar essa atitude do comando. Reunida a tropa. Menos a patrulha que seguiu para a Fazenda Santa Albertina. Tomou os caminhões. Seguindo em direção a Bom Sucesso. Pela estrada de Angatuba. E dali para Itaí. Onde chegou à tarde do dia seguinte.


A retomada de Taquari

Pernoitamos em Itaí. No dia seguinte deveríamos retomar Taquari. A 2ª linha de combate comandada pelo major Othelo Franco. Deveria iniciar as hostilidades.

Pela manhã de 6. Ocupamos as posições. Que nos tinham sido designadas por aquele oficial. Que já reconhecera o terreno. Localizando, assim, a tropa. No eixo da estrada de rodagem. E nos flancos direito e esquerdo.

Não tardou o fogo. O duelo de artilharia era formidável. Não menos intensa era a fuzilaria. Soldados nossos, em serviço de reconhecimento, fazem uma valiosa descoberta. A 4 quilômetros das nossas posições. Havia uma estrada oculta. Que contornava um sítio em Itaí. Indo desembocar à nossa retaguarda.

Infiltrando-se por aí o adversário, estaríamos perdidos. Com a retaguarda cortada. E impossibilitados, portanto, de reforçar a 1ª linha. E de remuniciá-la. Nessa altura, entra em ação o major Othelo. Põe à disposição da 1ª linha um Pelotão da 3ª Cia. Não obstante soubesse os sacrifícios que lhe estavam reservados.

A causa de São Paulo, porém, o exigia. Por isso mesmo, desde o comandante ao último soldado, seguiram todos. Sem a menor vacilação. Eram assim os moços do 7º Batalhão. Moços e velhos. Pois estavam ali Schmidt. Polydoro Rosa. Amazonas. E outros mais.


Marcha de 8 quilômetros

Depois de u'a marcha de 8 quilômetros. Em direção oblíqua ao flanco esquerdo. O Pelotão faz alto. E é lançada então uma patrulha de reconhecimento. Que procura fixar as posições inimigas.

Logo a seguir chega um reforço. Tropa mista. Sob o comando do tenente Loureiro. Este oficial é do Batalhão Ibrahim Nobre. Presta-nos relevantes serviços. Denotando calma. Coragem. Apreciáveis qualidades militares.


Na manhã de 7

7. Pela manhã. Foram reiniciados os reconhecimentos. Em todas as estradas. Que podiam dar acesso à estrada-eixo. Pela qual se fazia o serviço de remuniciamento e reforço.

Quase sempre nos auxiliavam os caipiras. Gente simples. Na sua maioria refratária ao soldado. Arreceavam-se de prestar-nos informações. Por não alcançarem a grandeza cívica da revolução paulista. E que ali estavam, também, para defender as suas famílias. E as suas propriedades.


Uma cena cômica

Mostra da mentalidade tacanha dessa pobre gente é uma cena que guardamos de memória. Vamos reproduzi-la: - a nossa sentinela avançada do flanco direito notou que, durante a noite, o inimigo procurava localizar um ninho de pesada. Dominando certa estrada fronteiriça. Que ficava em uma elevação.

Cientificou desse fato o comandante do destacamento. Este, imediatamente, ordenou fosse feito o reconhecimento necessário. Utilizando-se de um dos caipiras. Morador do sítio. Onde, segundo as informações, estava a metralhadora ditatorial.

E foram. Na passagem de um para outro capão de mato, em pleno descampado, a pesada nos descobriu. E fez fogo. Cerrado. Insistente.

A patrulha deitou, ato contínuo. Para não ser atingida. O caipira, porém, ficou de pé. De pé, como um herói...

Após alguns minutos, um soldado fez com que o paisano se abrigasse. Pondo-se a salvo das balas inimigas. Que choviam em nossa direção.

Cessado o fogo, alguém lhe perguntou o que sentira. O caipira, ingênuo, respondeu:

- Ai, meu capitão. Não sei dizer o que foi. Mas senti um nervoso na barriga que não me deixava correr. E eu o que queria era fugir para perto dos soldados. Que gente maldita, essa do governo. Nem avisa que vai fazer fogo...

É escusado acrescentar, que todos os santistas riram. À vontade. Diante da confissão sincera do matuto. Que por sinal nunca mais foi visto...


A bravura dos santistas

Decorreu desse modo todo o dia 7. Nossos soldados na expectativa de entrar em ação direta. Ao anoitecer, a luta ganhou vulto. Tivemos ordem para intensificar a vigilância. Às 20 horas. Uma patrulha inimiga procura surpreender o nosso posto de vanguarda.

Solicitamos reforço. O comandante do destacamento avalia a gravidade do momento. Bem poderia ser, aquela patrulha, a ponta de uma coluna. Que pretendesse cortar a estrada-eixo. Envolvendo-nos. Por isso, o comandante foi dirigir o ataque. Com um G.C. E uma F.M. 

Nessa ocasião, presenciamos mais um ato de abnegação e bravura dos voluntários santistas.

Quando saía essa força, chegaram com a bóia alguns soldados do serviço de ligação. Que estavam auxiliando a distribuição do rancho. Compreendendo que o instante era delicadíssimo, eles correram a reforçar a patrulha. Espontaneamente. Com o maior desassombro. Provando que, no 7º B.C.R., ninguém deixava de enfrentar o perigo. Sem o mínimo temor às conseqüências. E atravessaram toda a noite de 7. Mantendo indormida vigilância.


Por quê não ocupamos Taquari?

Essa pergunta ficará eternamente sem resposta? É o que me parece...

Não sei eu, nenhum soldado santista sabe, por quê não ocupamos Taquari. E Taquari só não caiu em nosso poder porque não tivemos ordem para retomá-lo. Essa, a verdade nua e crua. Que a deixo aqui gravada. Com o meu protesto veemente de paulista. Contra a conduta canalha dos canalhas que são responsáveis pelo fato. Canalhas que ignoro quem sejam. Senão, estamparia os seus nomes nesta página. Para que o povo de São Paulo os conhecesse. A esses traidores. E covardes.

Descrevamos: - amanheceu o dia 8. A situação mais agravada. O major Armond foi chamado para a frente. Com urgência. A fim de resolver sobre determinadas necessidades do combate decisivo que ia ferir-se. Mas o major Armond conservava-se em Itaí. Inexplicavelmente. À tarde. Uma Cia. abandona a posição. E quer retirar-se para Itaí. O major Othelo Franco opõe-se a isso. Estabelece-se grande confusão. Horas depois, quando o inimigo já estava quase cercado pela nossa tropa. Esta começou a retirar-se. Teve ordem para retirar-se. Embora devesse avançar. O inimigo não perdeu tempo: - tratou de desocupar Itaí. Livrando-se do nosso certo. Colocando-se em posição vantajosa. Contra nós.

Às 19 horas. Nossa situação era já insustentável. Receávamos, até, a perda total da pouca artilharia de que dispúnhamos, ali. O major Othelo, nessa dolorosa contingência, prestou decidido apoio às 2ª e 3ª Cias. do 7º. Auxiliando-as com uma seção de metralhadoras. Salvando, assim, toda a coluna constitucionalista.

O 1º pelotão continuava na sua posição. E, às 20 horas, teve ordem de engajar combate com o adversário. Apoiando a retirada da artilharia.

E, assim atuou esse pelotão até as 12 horas de 9. Quando, já sem ligação alguma e com a estrada-eixo em poder do adversário, procurou retirar-se por picadas. Até atingir a 2ª linha. Transformada, então, em linha de frente. E sob o comando do bravo major Othelo.

Desse modo, o 7º B.C.R. conseguiu deter o adversário. E salvar a coluna do contra-ataque a Taquari. Este combate deveria ter resultado, logicamente, em uma das maiores vitórias para o exército constitucionalista.

Entretanto, não foi o que se deu...

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