Reprodução da primeira página da edição de 18 de julho de 1932 do jornal Folha da Manhã
Da capital da República a Santos
Tendo viajado a bordo do destróier Matto Grosso regressa o dr.
Cyrillo Junior, um dos paladinos da causa consticucionalista
SANTOS, 17 (H.) - O comandante do scout Bahia, da segunda divisão naval, radiotelegrafou
ao major Carlos Reis Junior, comandante da praça de Santos, solicitando enviasse ao canal da Bertioga uma lancha a fim de reconduzir a esta cidade
o dr. Carlos Cyrillo Junior, oficial de ligação entre o comando da praça de Santos e o Quartel General das Forças Constitucionalistas, e que havia
seguido para a capital da República a bordo do destróier Matto Grosso.
O major Reis Junior, de conformidade com esse radiotelegrama, enviou para o local indicado uma
lancha da Polícia Marítima.
À hora em que telegrafamos, 23.55 horas, é esperado a todo o momento no cais o sr. Cyrillo
Junior.
Reprodução parcial da primeira página da edição de 18/7/1932 do jornal Folha da Manhã
Impressionante desastre da aviação ao serviço da ditadura em Santos
O aparelho, depois de haver voado sobre a cidade precipitou-se no mar
soçobrando - A nobreza das condolências enviadas
SANTOS, 17 (H.) - Ocorreu hoje, às 11,45 horas da manha, um impressionante desastre de aviação,
que repercutiu penosamente na cidade, muito embora o aparelho sinistrado, bem como a sua tripulação, fossem enviados a Santos pela Ditadura, para
combater o movimento constitucionalista.
Pela manhã, diversos aparelhos da armada voaram sobre a cidade, distribuindo um manifesto
atribuído ao sr. Olegário Maciel, presidente do Estado de Minas Gerais.
Um desses aparelhos, quando regressava à sua base, sofreu sério acidente, cuja causa não se
conhece ainda e, à hora acima mencionada, precipitando-se, caiu sobre o mar a 15 milhas da Ilha da Queimada Grande, soçobrando imediatamente.
O comandante da tripulação do vapor do Lloyd Brasileiro Commandante Alcidio, que navegava
para Paranaguá, anunciou a tragédia, da qual foi dado imediatamente conhecimento por meio de rádio ao contra-almirante Américo dos Reis,
comandante da 1ª divisão que se acha ancorada em Vila Bella (N.E.: atual Ilhabela),
próximo desta cidade.
Esse rádio foi interceptado pela estação do Quartel General da praça de Santos.
O major Carlos Reis Junior, tendo conhecimento do lamentável acidente, expediu esse rádio:
"Exmo. sr. comandante da 1ª Divisão Naval, contra-almirante Americo dos Reis - Bordo do scout
Rio Grande do Sul - Vila Bella - Captei rádio do Commandante Alcidio. Embora m campos opostos, somos os mesmos irmãos brasileiros. A
Nação, o povo, o Exército, o povo de São Paulo e da cidade de Santos choram com a gloriosa Marinha nacional tão sentida perda. Solicito transmitir
comandante Schort as nossas sentidas condolências. - (a.) Major Reis Junior, comandante da Praça de Santos".
O comandante - O contra-almirante Americo dos Reis, logo após haver recebido esse rádio,
transmitiu outro ao major Carlos Reis Junior, comandante da Praça Militar de Santos, agradecendo o seu gesto e as condolências apresentadas.
Reprodução parcial da primeira página da edição de 18/7/1932 do jornal Folha da Manhã
A Marinha nacional a favor de S. Paulo
O embarque do sr. João Neves para o Sul e o que a Nação espera dessa viagem
- A ansiedade da tripulação dos destróieres localizados em Santos
As notícias que temos do Rio, graças ao nosso amplo serviço de reportagem, são as mais
promissoras. O movimento revolucionário pró Constituição, irrompido em S. Paulo, conta, não só na Capital da República, como em todos os recantos
do país, com as mais francas e entusiásticas simpatias. A tropa federal e de polícia do Rio é toda ela francamente simpática à revolução em prol
da lei e da ordem.
"O povo da capital de S. Paulo pode confiar na nobreza da Marinha de Guerra que não dará um
único tiro contra as populações paulistas. A gloriosa Marinha Nacional, à cuja frente está o bravo almirante Protogenes Guimarães, diante da luta
travada pelo Exército em defesa do povo brasileiro, manterá, até o fim, a atitude simpática de até agora. E é ela que possui o mais eficiente
contingente de aviação artilhada. Possuem os nossos marinheiros três possantes aviões de fabricação americana, adquiridos no governo Washington
Luís e que deveriam combater os revoltosos de 1930.
"O sr. João Neves, que, durante todos esses dias, esteve foragido no Rio, para fugir à
perseguição da polícia do capitão João Alberto, conseguiu escapar. A esta hora, o ilustre tribuno rio-grandense segue para o Sul. Da viagem do sr.
João Neves muito espera a Nação que se bate pela ordem e pela lei".
A população santista confia na maruja brasileira - Ontem, aproximou-se de Santos uma
esquadrilha de destróieres. Logo entrou em ação o forte de Itaipus, que tem estado vigilante m defesa do nosso porto. A população santista não se
impressionou com os disparos. Ela está plenamente confiante em nossa Marinha de Guerra. A atitude correta da maruja brasileira surta no porto
impôs-se à simpatia da cidade.
A localização dos destróieres da Marinha - SANTOS, 17 - (Da nossa sucursal) - Uma divisão
da esquadra nacional mantém-se numa franca atitude de neutralidade nos mares do nosso Estado.
São alguns destróieres enviados contra nós pela ditadura.
O litoral paulista está bem guarnecido pelas tropas constitucionalistas, que mantêm um constante
serviço de reconhecimento em toda a linha marginal do continente.
Os destróieres estão localizados perto da ilha do Montão de Trigo, não muito distante da ilha de
São Sebastião. Estão fundeados ali há vários dias, não demonstrando nenhum sinal de movimento. A sua aparência nada tem de hostil a São Paulo.
As informações das pessoas que conseguiram aproximar-se da esquadra negam que por parte da
respectiva tripulação haja alguma animosidade contra o movimento revolucionário constitucionalista encabeçado por São Paulo. A tripulação
manifesta um vivo desejo de conhecer a verdade sobre os acontecimentos, pela leitura dos jornais paulistas.
Quanto à localização da divisão aérea da Marinha Nacional, conseguimos saber que os hidroaviões
do governo central estão muito além da ilha de São Sebastião.
O apelo de um contra-almirante - Meus caros companheiros.
Deixo meu retiro para vos fazer um apelo e trazer um depoimento leal sobre o incêndio que
explodiu em São Paulo e que já lavrava desde muito no coração de todos os brasileiros. Acreditai-me. Ponho nas minhas palavras a conquista moral
de 33 anos de dedicação à marinha e ao meu país e uma vida já longa sem a mais leve mancha. Marinha brasileira! É a minha mocidade, a melhor parte
de minha vida, que associo à sua lembrança!
Meus companheiros!
Afirmo-vos que acabo de assistir neste bem fadado pedaço do nosso Brasil às mais emocionantes
manifestações de civismo da nossa história nos últimos temos. A posse do governador Pedro de Toledo, aclamado por absoluta unanimidade das forças
federais e estaduais e da população, ao som do hino nacional, o desfile de batalhões de voluntários compreendendo homens de todas as idades ainda
em trajes civis, revigorados pela fé e irradiando confiança nas suas atitudes, a ordem perfeita e a rapidez com que se processou à mobilização de
todos os recursos, são fatos que devem constituir legítimo orgulho para nós brasileiros. Um povo capaz desse esforço não pode ser mantido sob uma
ditadura indefinida.
Só um grande anseio, só um objetivo generoso, acima de todas as competições, desperta por tal
modo as energias latentes destes milhões de brasileiros que estão arrastando consigo os dos demais Estados!
O povo brasileiro tem direito à liberdade que reclama!
O povo brasileiro quer o regime da lei! Há vários séculos revelou os seus instintos de
liberdade, conquistou-a através de vicissitudes e não pode agora viver sob o arbítrio ou experiências de governança que não solicitou e em que não
está sendo ouvido.
Não há um motivo defensável para o retardamento da volta da nação à posse de si mesma: ao
contrário, tudo nos mostra que a agravação dos nossos males é uma conseqüência do regime que caiu inesperadamente sobre nós e que, persistindo,
nos conduzirá a sofrimentos incalculáveis.
A ditadura é contrária à nossa índole e tradições.
E a Marinha não está de acordo com esse regime!
O profundo sentimento de disciplina que u conheci, ainda subsiste, apesar dos golpes conscientes
ou inconscientes que tem recebido. A Marinha acompanhou sempre a nação nos seus grandes transes. Pois estamos agora num deles, o em que o povo
cansado quebra os grilhões e vai fazer valer os seus direitos a todo o custo!
Os brasileiros agora em luta pelo regime legal estão certos do apoio da Marinha, que não lhes
falhará, como não lhes falhou o apoio decisivo de todas as forças do exército e as forças públicas de vários Estados já em marcha sobre a capital
do país.
Marinha Nacional! Depositária de tantas tradições
gloriosas! Conosco rumo da lei, para a felicidade e grandeza do Brasil!
J. Lomba
Contra-almirante.
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Reprodução parcial da primeira página da edição de 18/7/1932 do jornal Folha da Manhã
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