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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - VISITANTES
Esquadra estadunidense, em 1953

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Mais de meio século depois, ainda persistem entre os santistas lembranças da passagem pela cidade da esquadra da Marinha dos Estados Unidos, com 14 navios de guerra que permaneceram vários dias em visita ao porto, em 1953. O fato foi registrado assim pelo jornal Folha da Manhã, em 28 de junho de 1953, com foto na primeira página e continuação na página 5 do primeiro caderno (ortografia atualizada nesta transcrição):


BELONAVES NORTE-AMERICANAS EM SANTOS – Encontram-se desde ontem em santos numerosas unidades da Marinha de Guerra dos estados Unidos, as quais permanecerão naquele porto até o próximo da 5. Antes de sua entrada em portos nacionais, as belonaves norte-americanas realizaram uma série de manobras em conjunto com navios brasileiros e aviões da FAB. No clichê, um aspecto dos barcos dos EUA, ancorados em Santos. (Noticiário na 5ª. Página do 1º caderno).
Foto publicada na primeira página da Folha da Manhã de 28 de junho de 1953

(cor acrescentada por Novo Milênio)

Ancoraram ontem em Santos catorze navios da esquadra norte-americana

Entre as belonaves o ultramoderno cruzador-pesado Macon e o porta-aviões Saipan  - Cruzeiro de treinamento – O programa oficial das visitas

Santos, 27 (de Domingos de Lucca Junior e Antonio Pirozzelli, enviados especiais) – Aportaram em Santos, nas primeiras horas da manhã de hoje, os 14 navios da esquadra norte-americana, componentes de um grupo de 40 belonaves, que realizam um cruzeiro de dois meses para treinamento e instrução de oficiais, aspirantes e marinheiros em águas da Europa, América do Sul e América Central. O grupo de navios ancorado neste porto é capitaneado pelo cruzador pesado Macon, sob o comando geral do almirante Richard F. Stout, que concedeu uma entrevista coletiva à imprensa, na nave capitânia, às 10 horas.

Os navios da frota ianque, antes de tocarem o Brasil, realizaram manobras conjuntas com vasos de guerra nacionais e unidades da FAB, ao largo de Recife.  De Santos e do Rio de Janeiro, únicos portos brasileiros atingidos pela frota, os navios americanos seguirão para as Antilhas, Panamá, Barbados, Colômbia e Cuba, onde essas unidades se reunirão ao restante da frota, em exercício na Europa, regressando, depois, às suas bases, nos Estados Unidos.

Entrevista à imprensa – O almirante Stout iniciou sua entrevista declarando-se impressionado com a entrada do porto de Santos e afirmou que os marujos e oficiais estavam ansiosos para lançar âncoras, a fim de, subindo a serra, poderem conhecer São Paulo, capital muito conhecida nos Estados Unidos, em virtude da fama que possui de ser a cidade que mais cresce no mundo. Em seguida, o comandante da frota esclareceu que a presente viagem era, como tantas outras de rotina, realizadas anualmente por unidades da esquadra, a fim de treinar não só o pessoal da ativa, como, também, os reservistas navais, que tinham sido convocados, e os alunos das universidades ianques, que serviam ao "Reserve Officer Training Unities", corporação que congrega oficiais da reserva naval, idêntica aos centros de Preparação de Oficiais da reserva do nosso Exército.

"Sem dúvida – frisou o almirante Stout – é com prazer que vimos ao Brasil, país que muitos de nós já conhecemos e que, hoje, está estreitamente ligado aos Estados Unidos. Este é o primeiro cruzeiro de treinamento que a Armada Americana realiza em águas sul-americanas".

O porta-aviões Saipan
Foto publicada com a matéria, na página 5 (cor acrescentada por Novo Milênio)

Jovem a tripulação – Os jornalistas notaram que as tripulações das belonaves americanas eram compostas, em sua maioria, de jovens de idades que variavam entre 18 e 21 anos, e sobre o assunto interpelaram o almirante, que esclareceu que o slogan da Marinha bem respondia ao fato: "Junte-se à Marinha e conheça o mundo". "É evidente que o espírito de aventura da mocidade a impele para a Marinha – esclareceu -, e essa a razão de nossas tripulações, desde os marujos à própria oficialidade, serem compostas de jovens de pouca idade".

Grande número desses jovens são alunos de universidades, convocados para servir na reserva naval, e retornarão aos estudos tão logo termine o tempo de prestação de serviço militar. Por outro lado, há cerca de 7 mil aspirantes, metade dos quais se prepara para a ativa e outra metade para a reserva da U. S. N.

O pessoal da reserva, todavia, no final do curso poderia ser convocado para a ativa, enquanto que os aspirantes da ativa, após este cruzeiro, receberão seus galões de segundos-tenentes.

Prosseguindo em suas explicações, o comandante Stout adiantou que, terminado o cruzeiro, os jovens marinheiros terão um mês de licença, a título de prêmio pela longa permanência no mar.

14 navios ancorados – São os seguintes os navios ancorados neste porto: cruzadores pesados Macon e Albany; porta-aviões Saipan, que tomou parte na campanha do Pacífico, durante a última guerra mundial; navio-tanque Shipola; destróieres Bener, C.H. Roan, H. F. Bauer e Shannon; navio de desembarque Kleinsmith; contratorpedeiros de escolta Tweedy, Coates, J. D. Blackwood, Delong e Parle. Esses navios, bem como os ancorados na capital da República, permanecerão no Brasil até o próximo dai 5 de julho.

Os representantes da imprensa, após a entrevista, visitaram demoradamente o Macon e o porta-aviões Saipan. O primeiro desses vasos é um cruzador pesado de grande potência, equipado com uma série de canhões de longo alcance e baterias antiaéreas, contando com material ultramoderno. Foi construído durante a última guerra e lançado ao mar em 1945.

O Saipan tem seu nome ligado à guerra do Pacífico. É um porta-aviões leve e rápido, destinado a transportar cerca de 20 aeroplanos para serviços de interceptação em cobate aéreo, ajuda à infantaria, ataque a submarinos e reconhecimento. Possui duas catapultas e um helicóptero de salvamento com capacidade para 6 passageiros.

O nome do Saipan prende-se à batalha travada na ilha do mesmo nome, no arquipélago das Marianas, durante a segunda conflagração mundial. Seu comprimento é de 684 pés (cerca de 200 metros) e desloca 19.320 toneladas. Esse porta-aviões ocupa uma tripulação de 2.000 homens e possui os últimos aperfeiçoamentos da técnica naval. Seus geradores elétricos podem fornecer energia suficiente para iluminar uma cidade de um milhão de habitantes. Viajou o Saipan, até janeiro do presente ano, mais de 209.000 milhas. Em seu convés foram realizadas 33.000 aterrissagens. Visitou 11 países estrangeiros. Foi, ainda, o primeiro porta-aviões ianque a exercitar uma esquadrilha de jatos.

O almirante Stout, quando ontem falava à imprensa
Foto publicada com a matéria, na página 5 (cor acrescentada por Novo Milênio)

O programa oficial – É o seguinte o programa oficial que vigorará durante a estadia da frota neste porto: dia 27 – 8 horas, chegada; 9 horas, visitas de oficiais; 10 horas, entrevista à imprensa; 10h45, visita de oficiais americanos ao capitão dos Portos, comandante da guarnição, prefeito, Câmara e Corte de Justiça; 17 horas, coquetel oferecido pelo prefeito à oficialidade ianque.

Dia 28 – 10 horas, missa a bordo do porta-aviões Saipan; 11h30, visita de 30 crianças ao Coates; 21 horas, recepção dançante no hotel Guarujá, oferecida pelo prefeito local, e no clube Tumiaru, oferecida pelo prefeito de São Vicente.

Dia 29 – 13h30, churrasco oferecido pelo governador do Estado, no parque da Água Branca; 14h20, crianças visitarão o Klein; 17 horas, coquetel oferecido pelo comandante da Força Pública.

Dia 30 – 9 horas, visita ao cônsul geral americano em São Paulo; 9h30, visita ao comandante da 2ª Região Militar; 10 horas, visita ao comandante da 4ª Zona Aérea; 10h30, visita ao governador do Estado; 11h30, almoço oferecido aos comandantes das belonaves, pela Câmara Americana de Comércio; 14 horas, visita de 20 crianças ao Kleinsmith;15 horas, visita ao prefeito Jânio Quadros; 16 horas, visita ao comandante da Força Pública; 18 horas, coquetel oferecido pelo governador Lucas Nogueira Garcez.

Dia 1º de julho – 10 horas, retribuição das visitas, pelas autoridades de São Paulo e Santos; 11 horas, visita de 25 crianças do Delong; 13 horas, visitas de 20 crianças ao Kleinsmith e de 100 outras ao Albany; 16 horas, show oferecido pelo governo do Estado, no Estádio Municipal do Pacaembu, no qual tomarão parte artistas de rádio, teatro e TV; 22h30, baile no Balneário Hotel de Santos, oferecido pela Marinha de Guerra do Brasil.

Dia 2 – 11h30, almoço oferecido ao almirante Stout, pela Câmara Americana de Comércio; 14 horas, visita de 20 crianças ao Kleinsmith e de 25 ao Roan; 16h30, visita do governador Garcez ao Macon; 18h30, jantar oferecido pelo coandante do Saipan.

Dia 3 – 9 horas, homenagem da Marinha Americana ao Monumento dos Andradas, em Santos; 16 horas, chá a bordo do Macon.

Dia 4 – 11 horas, homenagem da Marinha Americana ao Monumento do Ipiranga; 13 horas, visita de 30 crianças ao Shannon; 13h30, corridas em homenagem à Marinha Americana, no Jóquei Club de São Paulo; 14 horas, visita de 100 crianças ao Macon; 15 horas, chá-dançante oferecido pela colônia americana de Santos; 22 horas, baile, nos salões do Esplanada, oferecido por elementos da colônia inglesa radicados em São Paulo. No dia 5 a frota ianque levantará ferros em prosseguimento ao cruzeiro de treinamento no exterior.

Unidade da esquadra americana em Santos
Foto publicada com a matéria, na página 5 (cor acrescentada por Novo Milênio)

A chegada ao Rio

Recebidos no Catete pelo presidente da República os componentes do cruzeiro norte-americano

RIO, 27 (Sucursal) – Às 9 horas da manhã de hoje a maior parte da esquadra de adestramento norte-americana, constituída de 15 belonaves, sob o comando do contra-almirante Edmundo C. Wooldridge, conduzindo aspirantes da Academia Naval de Anápolis e do Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva da marinha, transpôs a barra. Na altura da Ilha de Villegagnon o encouraçado Missouri, capitânia da Esquadra, disparou os vinte e um tiros de saudação à terra, que foram respondidos pela bateria da Ilha das Enxadas. Logo a seguir, o grande encouraçado atirou mais 19 vezes, cumprimentando o pavilhão do comandante das nossas forças de alto mar, que se achava desfraldado no topo do mastro do Almirante Saldanha. Estas últimas salvas foram respondidas pelo cruzador Tamandaré. A esquadra comandada pelo almirante Edmund compõe-se de 29 navios, dos quais 14 fundearam em Santos. Os 15 que hoje lançaram ferro na Guanabara têm as suas guarnições constituídas ao todo de 7.000 homens, entre oficiais, guardas-marinha e marinheiros. A permanência da esquadra na Guanabara será de oito dias, durante os quais os oficiais e marinheiros americanos serão homenageados pela colônia do seu país e pelas autoridades navais brasileiras.

Visita ao presidente da República

Rio, 27 (Sucursal) – Estiveram esta tarde no Catete, sendo recebidos pelo presidente da República, os comandantes e oficiais dos navios componentes da esquadra norte-americana ora em visita ao nosso país. Os visitantes, chefiados pelo contra-almirante Edmund Wooldridge, comandante do grupo naval, foram apresentados ao chefe da nação pelo sr. Valter N. Walmaley Junior, atualmente à frente da representação norte-americana em nosso país, que se achava acompanhado do capitão-de-mar-e-guerra Adalbert V. Wallis, adido naval junto à embaixada dos Estados Unidos. Os oficiais norte-americanos expressaram ao presidente da República sua satisfação em visitar nosso país nessa missão de boa vizinhança.

Declaração do almirante Wooldridge

O contra-almirante Edmund Wooldridge reuniu hoje na praça das armas do encouraçado Missouri a imprensa carioca a fim de conceder uma entrevista coletiva.

Dirigindo-se aos jornalistas, através de um microfone, o almirante americano, antes de entregar uma declaração escrita e de responder às perguntas dos repórteres, exaltou a beleza da baía de Guanabara e os encantos da entrada do Rio, visto de bordo do seu navio. Logo depois, leu a declaração, que é a seguinte:

"Embora eu há muito tempo desejasse visitar o Brasil, esta é a primeira oportunidade que se me apresenta nos meus longos anos de serviço na Marinha. Nesta primeira visita, sinto-me muito feliz e honrado pela oportunidade de trazer comigo, nos navios da Marinha dos Estados Unidos da América do Norte, cerca de 14.000 oficiais, guardas-marinha e marinheiros. Nossa visita permitirá que esses oficiais, guardas-marinha e marinheiros sintam pessoalmente como o povo de uma outra grande República americana vive e trabalha. Tenho a certeza de que esta visita dará a esses homens, que algum dia comandarão nossos navios e esquadras, uma melhor compreensão daquilo que nós, americanos do Norte e do Sul, sabemos muito bem, isto é, que as democracias e os princípios em que acreditamos valem a pena ser mantidos para as gerações futuras.

"Sei que, para os nossos homens, representantes típicos dos Estados Unidos, esta oportunidade de entrar em contato com o povo brasileiro, estreita mais ainda os laços que já existem entre nossas duas grandes Repúblicas.

"Lutamos como aliados nas duas últimas guerras, ambos levados à luta não por desejos egoístas de expansão territorial à custa das nações mais fraas, mas, simplesmente, pela conservação de nossos ideais de liberdade e pela segurança de nossas pátrias. Neste mundo agora tão cheio de lutas e tumultos, os esforços de nossas duas pátrias nas mesas de conferências internacionais são feitos em uníssono em apoio da causa das nações mais fracas e dos seus desejos de preservação da liberdade. Nós, que tivemos de lutar para obter o que hoje possuímos, compreendemos perfeitamente o valor da liberdade e temos o firme propósito de conservá-la".

O almirante Wooldridge participou da Segunda Guerra, comandando o encouraçado New Jersey, e esteve no tombadilho do Missouri, assistindo à cerimônia de assinatura do termo de rendição do Japão.

Aviões conduzidos pelo Saipan
Foto publicada com a matéria, na página 5 (cor acrescentada por Novo Milênio)

Aviões conduzidos pelo Saipan
Foto divulgada na rede social Facebookperfil Santos Antigamente (acesso em 22/7/2011)

 

A esquadra americana no porto, tendo ao fundo o guindaste flutuante (cábrea) Sansão, da Companhia Docas de Santos (CDS)
Foto divulgada pelo cartofilista Laire Giraud na rede social Facebook en 27/9/2013

O mesmo jornal Folha da Manhã, em 30 de junho de 1953, registrou, na página 8, a visita dos marinheiros estadunidenses à capital paulista:

Imagem: reprodução da página 8 da Folha da Manhã de 30 de junho de 1953

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