Imagem: reprodução parcial da matéria original
A FRATERNIZAÇÃO DE DOIS POVOS
Homenagem a s. a. o príncipe Aimone e ao comandante Capon
O chá dançante no Grand Hotel de La Plage, no Guarujá - O chá dançante na sede do Palestra
Italia - Espetáculo de gala no Guarany - Outras notas
Cada dia que passa é um novo acontecimento que se registra
nos anais da sociedade santense, com a estadia, em nosso porto, do couraçado Roma, da marinha de guerra italiana.
Esta semana tem sido repleta de sucessos. Recepções
solenes, banquetes, bailes, etc., tudo correndo às mil maravilhas, sob uma atmosfera de indizível alegria, e na mais admirável cordialidade.
Quer s. a., quer o comandante Capon, oficialidade e maruja,
todos têm sido alvo da mais profunda manifestação de carinho,não só por parte dos nossos patrícios, como da honrada e distinta colônia italiana aqui
domiciliada.
Os dois povos irmãos congregaram-se e na mais perfeita
comunhão de vistas promovem em honra aos nossos prezados hóspedes toda a sorte de homenagens, que têm significação eloqüente.
Para completar a série de festejos organizados, registramos
hoje a notícia do chá-dançante ontem levado a efeito nos luxuosos salões do Grande Hotel de La Plage, no
Guarujá.
Foi uma tarde adorável. E tão encantadora a festa, que se
prolongou até o último minuto da noite, sempre com o mesmo entusiasmo, com a mesma expansão. Nada faltava ali. Tudo havia e em abundância. por toda
a parte flores, iluminação farta e polícroma, toilettes belíssimas, jóias raras e preciosas, em todos os lábios se esboçava um leve sorriso,
grupos de gentis senhoritas palestravam animadamente, um sutil perfume pairava no ambiente dos salões, a música completava, com a sua suave melodia,
a felicidade que todos experimentavam naquele recanto.
Digna, por todos os títulos, de honrosa menção a velada
dançante, que logo se transformou em soirée.
Às 16,10, uma lancha da Companhia Guarujá partia do cais da
Guardamoria, levando a seu bordo, além dos oficiais do estado-maior do Roma, inúmeros convivas, entre eles elegantes
e graciosas senhoritas.
Noutra lancha da mesma companhia seguiam o corpo consular e
pessoas gradas.
A apreciada banda de música do Corpo
de Bombeiros, que nestas festas tem uma parte dos sucessos obtidos, alegrava os viajantes com a execução de modernas peças.
Desembarcados no Itapema, seguiram os convivas, em trem
especial, para o Hotel de La Plage, onde se realizou o chá-dançante.
Às 17 horas, o príncipe Aimone chegava ao local da festa em
automóvel do Parque Balneário Hotel, onde se acha hospedado, em companhia dos srs. comandante capon, cav. Augusto
Marinangeli e comendador João Manoel Alfaya Rodrigues.
Levados para o salão de danças, sua alteza e o comandante
Capon foram recebidos sob uma prolongada salva de palmas.
Daí a momentos teve início a vesperal, dançando s. a. com a
gentil senhorinha Baby Ford.
Daí por diante o entusiasmo chegou ao auge. Era um contínuo
e desenfreado movimento de danças, volteando pelos salões elegantes pares, ao som da magnífica orquestra especialmente contratada pela empresa do
Hotel.
No alpendre ficou situada a magnífica banda do Corpo de
Bombeiros, que sucedia à orquestra, não dando tréguas aos convidados.
A simpática e distinta oficialidade do Roma
espalhou-se por todo o salão, dando-lhe, a par das ricas toilettes ali apresentadas, um belíssimo aspecto.
No salão contíguo ao das danças, foi localizado o buffet.
Originais mesas de vime, bem colocadas, ficaram repletas.
O serviço foi excelente e muito recomenda a empresa do
Hotel de La Plage.
Do cardápio constava o seguinte:
Thé Caffé, Cioccolato, Sandwichs assortiti, tatines al
burro, biscoitti, petits fours, pasticeria, plum-kake, bombons finissimi, Limonate, aranciate, gamberi imbottiti, Gelati di cioccolata, crema e
limone, acque minerali, liquori, sciroppi.
Deixamos de publicar os nomes dos presentes, porque essa
tarefa se nos apresenta árdua e difícil numa festa como a de ontem, em que predominava o melhor elemento do escol santense e paulistano.
Autoridades civis e militares, estaduais, federais e
municipais, parlamentares, representantes do comércio e da indústria, pessoas gradas, exmas. famílias e imprensa formavam a seleta e avultada
assistência.
Cerca das 20 horas, o príncipe Aimone retirou-se para o
Parque Balneário, sendo acompanhado no automóvel pelo cav. sr. Augusto Marinangeli.
O comandante Capon, demais oficialidades e convidados
prosseguiram na festa.
Às 21 horas, foi servido um lauto jantar ao comandante,
oficiais, autoridades e pessoas gradas, no salão de refeições do hotel.
Oito mesas, artisticamente adornadas com flores naturais
pela Flora Santista, foram ocupadas imediatamente.
Na mesa central o comandante Capon ocupou o lugar de honra,
tendo aos seus lados, respectivamente, as senhoras Anna Marinangeli e Anna Bastos Montenegro.
Durante o ágape, estabeleceu-se cordial causerie.
A orquestra, sob a direção do maestro Andolfi, executou o
seguinte programa:
1 - Marcia della Marina italiana - Cerato.
2 - Cavalleria Rusticana - Intermezzo - Mascagni.
3 - La Tosca - Phantasia - Puccini.
4 - Serenata - Toselli.
5 - I Pagliacci - Phantasia - Leoncavallo.
6 - Mamma mia, che vó sapé - Canzone napolitana -
Natile.
7 - Gioconda - Danza delle ore - Ponchielli.
Foi servido o seguinte menu:
Crostini "Delizia"
Crema alla Solferino
Dentice alla "Plage Hotel"
"Fundua" alla Piemontese
Filetto de manzo alla R. M. Roma
Asparagi Salsa Ausonia
Tacchino arrosto com prosciutto
Cuori di lattuga
Bomba "Tutti frutti"
Meringhe alla panna
Frutta - Café
Vini
Martini Secco
Chianti Bianco
Rufino
Neblolo "Mirafiore"
Grande Spumante
"Gancia"
Liquori - Sigari
Ao champanha foram levantados brindes em todas as mesas,
reciprocamente, todos em honra aos nossos visitantes.
Esse banquete terminou pouco antes das 23 horas,
dançando-se novamente até a hora 0, quando a banda do Corpo de Bombeiros, em galope final, anunciou a terminação daquela estupenda festa, que ficará
registrada nos anais dos nossos acontecimentos.
Os convivas regressaram a Santos em trem e barca especiais,
sempre sob o mesmo entusiasmo e cordialidade.
A sauterie do Parque Balneário Hotel -
Bastante animada decorreu a sauterie de ontem, no Parque Balneário Hotel, em homenagem à oficialidade do couraçado Roma.
A empresa Fraccaroli proporcionará ainda hoje à distinta
oficialidade mais uma velada dançante.
Palestra Italia de Santos - A sua festa de ontem em
homenagem aos sub-oficiais do Roma - Apesar da chuvinha importuna que caiu durante quase toda a noite de ontem, a festa que esta
conceituada sociedade esportiva ofereceu aos sub-oficiais do couraçado Roma não podia ter sido mais significativa e mais atraente.
Já às 20 horas, começavam a chegar os convidados, compostos
não somente dos valentes marujos italianos, como também de sócios e exmas. famílias, que deram à festividade uma feição muito simpática.
Estavam presentes quase todos os sub-oficiais a quem era
dedicada a homenagem.
Os presentes foram todos gentilmente recebidos à porta por
uma comissão assim constituída:
Luís La Scala, Bruno Bezzi, Augusto Marcilio, Guilherme
Barbaresi, Ernesto Bruno, Teseo Maranti, Antonio Pasquarelli, João Moalli, Vecio Romitti, Miguel Cyrillo e Paulo Bocudo.
Às 21 horas, foram servidas diversas mesas onde se
agrupavam os hóspedes marujos, a diretoria do Palestra Italia, representantes de clubes de futebol desta cidade, da Associação Santista e da
imprensa.
Ao champanha, os representantes da imprensa e o sr. Vicente
Garcia, em nome da A. S. S. A. (N.E.: sigla de Associação Santista de Sports Athleticos),
saudaram a diretoria do Palestra, salientando a significação daquela prova de fraternidade e congratulando-se com esse clube esportivo por tão
auspiciosa e oportuna iniciativa.
Respondeu, agradecendo, o secretário do Palestra, sr. Luiz
La Scala, que proferiu bem feito improviso.
Em meio de entusiasmo geral, travou-se animada palestra
entre os presentes, fazendo-se ouvir alguns marinheiros graduados que contavam suas façanhas praticadas durante a guerra. Houve também referências,
aliás, muito lisonjeiras, sobre o acolhimento recebido durante a longa estadia do Roma no Rio de Janeiro.
Logo após passaram todos ao grande salão de baile, onde os
distintos homenageados tiveram ocasião de bailar com inúmeras senhoritas presentes.
Durante o baile tivemos ocasião de falar com o valente
marujo Armando Gori, cabo timoneiro de 1ª classe, o herói de Plimonda de que tanto se ocuparam os jornais de todo o mundo, devido à sua grande
façanha.
Como é sabido, este cabo-marinheiro, comandando em 10 de
junho de 1918, em plena guerra, a lancha blindada M.A. S. 15, rumou às 3,25 horas para as águas da Dalmácia, onde estavam ancorados 12 dos
mais poderosos couraçados austríacos. Com uma audácia inaudita, Armando Gori aproximou-se sorrateiramente do inimigo, conseguindo, num arrojo
supremo, torpedear o dreadnought austríaco Santo Estevão e metê-lo ao fundo.
Mau grado estar apenas a 250 metros do navio torpedeado, o
herói de Plimuda conseguiu fugir ileso, servindo-se para isso de bombas submarinas.
Este feito valeu a ele e a seus companheiros de aventuras a
medalha de valor militar, promoção por ato de bravura e o prêmio de uma avultada cifra de liras. Tem também a cruz de guerra francesa.
Em um dos primeiros intervalos do baile, tomou a palavra o
sr. Ligli Giuseppe, 1º sub-oficial da nave real italiana, que proferiu com grande eloqüência o seguinte discurso:
"Goventú
d'Italia - Dall'unione del nome di Roma con la Regia Marina d'Italia sorge la promessa di non permettere la menomessione di quei destini che la
vittoria á tracciato per la gloria imperitura della nostra madre Patria. La fortuna e l'insistenza benevola dei miei colleghi ánno voluto che io
ripetessi in questo locale favorito ai nemici dei fiaccidi ozii, l'orazione che suona in tutti i cuori direta dal ritmo di una povera parola che á
la sola virtu' di essere sincera.
"Allor che salpammo da Genova alla volta del Brasile,
sembrava nella bazze dello spazio che innumerevoli famiglie richiamassero al loro seno i volentierosi partenti; sola nell'alto s'ergeva in tutta sua
maestá la figura d'Italia che indicava risoluta la missione da compiere. Oh! non vi dispiaccia l'allegoria se io vi presento in quell'ora il sua
petto sanguinante di ferite quali non seppe inferirle il nemico disfatto! Purtroppo si verificó il ripetersi delle gesta di Caino nell'alba
maledetta quando l'orribile legge della blandizie vigliacca consenti che si vituperasse e si percuotesse un mutilato di guerra senza temo di
punizione. Erano questi figli prediletti avvinti al suo corpo cosi forte che lo strappo violento causó quelle ferite che non rizaneranno, che il
giorno in cui i beffatori degli eroi verranno fuori dalla sezzura a liberare colle unghie la pelle ricoperta dal manto di Taide.
"Chi doveva, adunque, mandare la madre vituperata nei figli
devoti, per ridonare ai figli lontani la scossa speranza fatta gigante dalla strrepitosa vittoria? Doveva mandare dei ciarlatani che durante la
lotta adoprarono la lingua per deporre la spada? Ella mandó i figli che combatterono in silenzio, quelli che videro nello spazio silente la morte
vicina e non paventarono in tanta giovinezza il riposo eterno sul letto dei flutti.
"Ed ecco in una sera di questo memore settembre riunirsi la
gioventu' marinara reduce della inescrivibile lotta colla gioventu' italiana residente in Santos; corpi cestretti all'inazione delle membro purché
nella nava vibri normalmente ogni fibra, corpi elastici, liberamente lanciati alle risorse dell'azione. Gesta diverse e unisono di cuori. Com me,
adunque, e che l'eco dell'orazione rimanga ricordo granitico per le volte di questa palestra:
"- Roma come nacque disse: io sono il cuore d'Italia e
siccome l'Italia si scioglie dal groviglio dei terreni confini per lanciarzi libera nel mare del mondo, io sono il cuore dzi mundo. Da me nacque la
sinceritá, da me nacque la forza in mansctudine, da me nacque l'amore.
"E noi senza superbia indichiamo, con eguale dottrina, la
via al superbi del ravvedimento. E noi senza odio lasciamo ao Caini il tempo per il rimorso; e noi loviamo al sole la fronte serena e:
'per ridonarti, o Patria, il sorriso radioso, sogno e idolatria dell'esotiche genti',
gridiamo: siam pronti a ripetere, per te con te ora e sempre".
Logo a seguir falou o 1º secretário do Palestra, sr. Luiz
La Scala, saudando os marinheiros da Itália, sendo seguido nesse gesto pelo sr. Saturno Otello, 3º oficial do vapor mercante Monte Bianco,
também surto neste porto.
Falou também o sr. Raphael Noschese, presidente das
assembléias gerais do Palestra Italia, que, saudando os distintos homenageados, referiu-se com muito calor ao Brasil e à sua imprensa ali
representada, sendo ao terminar muito aplaudido.
A convite de alguns colegas de nossa imprensa orou o
representante desta folha, sr. Ulysses Freire, que se refere primeiramente ao gesto do Palestra promovendo a aproximação ítalo-brasileira de uma
maneira tão simpática e oportuna, citando o que nesse sentido já tem sido feito entre os dois povos. Cita os serviços da imprensa por uma causa tão
oportuna e necessária e termina a sua oração fazendo a apologia do povo italiano, que pode ser igualado mas nunca superado no trabalho.
O representante desta folha é vivamente aplaudido por todos
os presentes, que levantaram constantes vivas e hurrahs ao Brasil, à Itália e à imprensa santista e brasileira.
Em seguida recomeçou o baile, apresentando o salão um
aspecto grandioso até a madrugada de hoje.
Récita de homenagem a s. o príncipe Aimone - A
Companhia Dramática Francesa do Teatro Nacional do Odeon, de Paris, que ontem fez a sua estréia no Teatro Guarany, organizou
para amanhã um grandioso espetáculo em homenagem a s. a. o príncipe Aimone, comandante Capon e distinta oficialidade do couraçado Roma.
Será esse o último espetáculo da companhia, subindo à cena
a linda peça de Henri Murger - La Vie de Boheme.
Este espetáculo de gala revestir-se-á de raro brilhantismo,
e terá a assistência de s. alteza e demais oficialidades italianas.
Os bilhetes serão postos à venda hoje durante o espetáculo,
no Guarani, e as encomendas podem ser dirigidas, durante o dia, para a Confeitaria Santista.
A ida de s. a., o príncipe Aimone, a S. Paulo -
Segundo conseguimos saber, o duque de Spoleto e o comandante Capon, em companhia do estado-maio do Roma, deverão embarcar no próximo domingo
para S. Paulo, em visita à capital paulista e à colônia italiana ali domiciliada.
Os distintos viajantes terão ali uma recepção
imponentíssima, que alcançará as raias do maior entusiasmo.
Almoço íntimo no Parque Balneário - O sr. conde
Ottavio Gloria, vice-cônsul da Itália, nesta cidade, oferece amanhã, às 12,30 horas, no Parque Balneário Hotel, um almoço a s. a. o príncipe Aimone
e ao comandante Capon.
Esse almoço terá um caráter de absoluta intimidade. |