No Centro Português - Após a inauguração da placa comemorativa
da visita do general Craveiro Lopes...
Foto e legenda: reprodução de A Tribuna de 18/6/1957
(Acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)
Recebido apoteoticamente...
[...]
Imponente solenidade - Culminando de modo eloqüente e altamente expressivo a
série de inequívocas demonstrações de simpatia e de entusiasmo luso-brasileiro, realizou-se no Centro Português uma imponente cerimônia. Ali estavam
reunidos os representantes de todas as agremiações portuguesas, brasileiras e luso-brasileiras desta cidade, incluindo numerosos sindicatos, que
foram levar a sua solidariedade à jornada de luso-brasilidade que ontem se desenrolou em nossa cidade.
O vasto salão camoniano achava-se repleto, enquanto que, nas demais dependências da
coletividade da Rua Amador Bueno se encontravam numerosíssimas outras pessoas, ao passo que compacta multidão se aglomerava em frente ao edifício.
Acompanharam o presidente de Portugal até aquele local numerosas autoridades civis,
militares e eclesiásticas, as quais, juntamente com os representantes do governo federal e estadual, assistiram também todas as demais cerimônias.
Saudação do presidente do Centro Português - Fez uso da palavra, inicialmente,
saudando o presidente da República de Portugal, o sr. Domingos Cândido da Silveira, presidente daquela instituição, que pronunciou um discurso que
há algumas dezenas de anos devia aquela sociedade receber a visita do então chefe da nação portuguesa, dom Carlos de Bragança. Agora, entretanto,
vivia essa casa dos portugueses um dos mais altos momentos de sua vida.
Continuando, disse o orador:
"Fundado há 62 anos por um pequeno grupo de portugueses,
chegou hoje este Centro ao seu maior dia de glória. Templo santista da nacionalidade portuguesa, aqui se procura lembrar e venerar a pátria-mãe.
"Entre os 40 mil portugueses que trabalham nesta cidade, coube-me a honra sem par,
como presidente desta casa, de dirigir a v. excia. as nossas sinceras e entusiásticas boas-vindas. E estas palavras não são mais do que o reflexo do
sentimento de todos. De vibrante alegria e de extrema felicidade.
"Há meio século que emigrei para Santos. Aqui constituí família e com ela me integrei
também na vida e nos destinos do Brasil. Passei então a amar duas pátrias, como todos aqueles que aqui vieram aportar. Por um lado: um profundo e
indestrutível sentimento de amor a Portugal. Por outro lado: gratidão e ternura pela terra que nos acolheu.
"E a realidade espetacular é a que procuramos oferecer aos olhos de v. excia.: uma
comunidade luso-brasileira viva e presente hoje nesta casa. Todas as agremiações de Santos aqui vieram prestar respeitosa homenagem a v. excia.; das
faculdades aos sindicatos, e das associações culturais às sociedades recreativas, assim como as personalidades mais gradas da cidade, todos
acorreram a este velho Salão Camoniano para demonstrar a v. excia. que o sangue que nos corre nas veias é um só, que falamos a mesma língua, e que
queremos construir um futuro comum.
"A cidade de Santos veio em peso a esta sala demonstrar a v. excia. a sua perfeita
unidade luso-brasileira, numa única homenagem de todos os espíritos e de todos os corações. O distinto professor brasileiro e nosso querido amigo,
sr. dr. Amazonas Duarte, dará a v. excia. a interpretação perfeita da verdadeira união de todos os santistas. Esta é a imagem da cidade de Santos
que oferecemos a Portugal na pessoa de v. excia.".
Saudação do dr. Amazonas Duarte, em nome dos brasileiros - Em nome dos
brasileiros fez uso da palavra o dr. Cleóbulo Amazonas Duarte, que pronunciou eloqüente oração, em que se referiu às origens brasileiras do general
Craveiro Lopes, bisneto de um general do Exército, nascido em Campo Maior, no estado do Piauí, dizendo da cordialidade espontânea existente entre
brasileiros e portugueses. Reportou-se à viva expressão que na atualidade assumia a Comunidade Luso-Brasileira, como diretiva dos dois povos unidos
para os grandes destinos comuns no presente e no futuro.
No Centro Português - ... flagrante da cerimônia realizada no Salão Camoniano,
quando o presidente agradecia à menina que descerrou a placa
Foto e legenda: reprodução de A Tribuna de 18/6/1957
(Acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)
Resposta do general Craveiro Lopes - O presidente da República de Portugal,
que, antes de entrar no Salão Camoniano, inaugurara uma placa com os seguintes dizeres: "Homenagem da Comunidade
Luso-Brasileira a Sua Excia. o Presidente da República de Portugal, Senhor General Francisco Higino Craveiro Lopes, que, em 17/6/1957, visitou esta
casa", iniciou seu discurso de agradecimento dizendo da excelente impressão que lhe causara a legenda dessa placa, uma
vez que ela significava que o Centro Português, sendo casa de portugueses, era também casa de brasileiros. Pôs ainda uma vez em realce o brilho sem
par das manifestações que recebera em Santos, para continuar nos seguintes termos:
"Minhas senhoras e meus senhores. Profundamente comovido
pelas palavras que acabo de ouvir e que tanto me sensibilizaram, e pelo vosso afetuoso carinho, desejo agradecer a todo o entusiasmo com que vieram
a esta reunião tão significativamente luso-brasileira. Vejo assim com enorme satisfação, dentro deste Centro Português, de tão nobres tradições, a
presença viva da comunidade luso-brasileira.
"Na verdade, não é possível distinguir os dois povos que de tal maneira se encontram
definitivamente ligados por tantos e tão fortes laços. Essa é a certeza que eu levarei comigo do Brasil e de que a cidade de Santos me dá uma tão
eloqüente demonstração. É-me sumamente grato verificar como os quarenta mil portugueses que aqui se radicaram se encontram integrados na sociedade
brasileira, formando com ela uma comunidade com os mesmos hábitos, as mesmas aspirações, o mesmo destino.
"Saúdo calorosamente as associações santistas aqui presentes e tão dignamente
representadas".
Condecorações e comendas a cidadãos de Santos - O prof. dr. Paulo Cunha,
ministro dos Estrangeiros de Portugal, falou a seguir para dizer da impressão que recolhera das manifestações que vinha de assistir, referindo-se às
duas instituições por onde acabava de passar, a Sociedade Portuguesa de Beneficência e a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia. Anunciou que o sr.
presidente da República de Portugal houvera por bem testemunhar o agradecimento de seu governo a diversas instituições e cidadãos de Santos,
portugueses e brasileiros, pelo muito que têm feito pelo fortalecimento das relações luso-brasileiras e pela benemerência que realizam.
"A Cruz de Cristo - disse -
passará agora a fulgir merecidamente no peito de três brasileiros ilustres: o prefeito desta cidade, sr. Sílvio
Fernandes Lopes; o prefeito de S. Vicente, sr. Luís B. Ferreira; e o ex-prefeito de Santos, sr. Antônio Feliciano da Silva".
Uma salva de palmas coroou o pronunciamento do nome de cada um desses cidadãos, sendo nitidamente demorada quanto ao último.
O prof. Paulo Cunha passou a anunciar os nomes de instituições e cidadãos que foram
contemplados com a comenda da Ordem da Benemerência, a saber: Sociedade Portuguesa de Beneficência, Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, Centro
Português, e os srs. Francisco Lourenço Gomes, Bernardino Pereira Leite, Domingos Cândido da Silveira, Antônio Dinis, Antônio Sarabando, Adriano
Dias dos Santos, coronel Cícero Bueno Brandão e o cônsul de Portugal, dr. Manuel Emídio da Silva.
Uma senhorinha santista entregou duas valiosas águas-marinhas às senhoras d. Berta
Craveiro Lopes e d. Maria Amélia Pita Cunha, às quais foram também oferecidas flores.
Encerrada essa cerimônia, em meio de grandes manifestações de entusiasmo, o general
Francisco Craveiro Lopes e sua comitiva deixaram o edifício do Centro Português, rumando imediatamente para S. Paulo, onde à noite se realizaram
novas solenidades.
Várias notas - Durante a formatura escolar, a exma. senhora consulesa ofereceu
às crianças 6 mil garrafas de Guaraná Caçula, que foram distribuídas por intermédio da Cia. Antárctica.
- À entrada do Centro Português, as crianças da Escola Portuguesa cantaram com muita
afinação os hinos do Brasil e de Portugal.
- Durante os festejos ontem realizados, destacou-se a profusão de fogos, que foram
obtidos por uma comissão presidida pelo sr. José de Souza, presidente da Casa da Madeira e constituída por várias pessoas, inclusive moradores dos
morros de Santos.
- O general Francisco Higino Craveiro Lopes assinou a seguinte mensagem aos
brasileiros e portugueses radicados no Brasil:
"Mensagem do gal. Francisco Higino Craveiro Lopes aos
brasileiros e portugueses radicados no Brasil.
"Ao povo brasileiro e portugueses radicados no Brasil, transcorrendo hoje o 35º
aniversário do 1º vôo transatlântico, realizado por Sacadura Cabral e Gago Coutinho, venho por intermédio do Jornal de Aeronáutica
congratular-me com o povo brasileiro e a colônia portuguesa, por sermos as nações que tiveram a honra de contribuírem para mais um dos feitos que
trouxeram o progresso para o mundo.
"Santos, 17 de junho de 1957.
"Ass. - General (Aviador) Francisco Higino Craveiro Lopes".
- Durante a recepção ao general Craveiro Lopes na sede social do Centro Português, o
Lions Clube, por intermédio do dr. Rubens Fernandes Gonzalez, prestou expressiva homenagem à exma. sra. Berta Craveiro Lopes, esposa do general
Francisco Higino Craveiro Lopes, oferecendo-lhe três moedas, acondicionadas em três artísticos estojos. A primeira moeda é da última emissão do
Império e as duas outras da emissão final da República.
Foi oferecido ainda à primeira dama de Portugal um
pergaminho exaltando as virtudes da mulher portuguesa, representada na ilustre visitante.
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