HISTÓRIAS E LENDAS DE
SANTOS - TELEVISÃO
Ivani Ribeiro, a novelista
A muralha que a Serra do Mar representava para os colonizadores, no litoral paulista, foi o tema
desta novela apresentada em 1958, 1963, 1968 e nesta versão, refeita em 2000 pela TV Globo
Imagem: TV Globo - Rio de Janeiro/RJ
Ivani Ribeiro
Nascida
em 1922 em São Vicente, Ivani Ribeiro foi a grande recordista entre os autores da telenovela brasileira, com cerca de 40 títulos de sucesso. O que
poucos lembram é que também foi compositora de sambas, radioatriz, cantora, criadora de programas de variedades. Em seu livro Telenovela
Brasileira - Memória (Ed. Brasiliense, São Paulo/SP, 3ª edição, 1994), Ismael Fernandes relata:
"Com um diploma da Escola Normal de Santos, Ivani chegou a São Paulo para cursar a Faculdade de
Filosofia. O rádio era uma de suas metas de trabalho. Uma oportunidade surge na Rádio Educadora, como intérprete de canções folclóricas e sambas -
alguns de sua autoria. Logo alcança notoriedade no rádio, através dos programas de sua criação: Teatrinho da Dona Chiquinha, As Mais Belas
Cartas de Amor. O sucesso chega com a radiofonização de filmes famosos - onde atuava como autora e radioatriz - e com suas novelas, que a
tornaram célebre no rádio.
"Chega à televisão, na recém-inaugurada TV Tupi, para escrever a série Os Eternos
Apaixonados. Em 1963 escreve sua primeira telenovela diária, Corações em conflito, transpondo para o vídeo uma de suas histórias que o
rádio havia consagrado. Com a adaptação de A Moça que Veio de Longe, Ivani deixa claro aos profissionais de tevê que o gênero chegara para
ficar. Ganha grande projeção com o seu horário das 19h30 na TV Excelsior, na segunda metade dos anos 60, quando escreve treze novelas consecutivas -
aproximadamente 1.600 capítulos -, todas com sucesso.
Carlos Zara e Eva Wilma - no papel duplo das gêmeas de
caráter oposto - protagonizaram a primeira versão de Mulheres de Areia na TV Tupi, em 1973.
A TV Globo refez essa novela 20 anos depois, com outros atores,
também sendo ambientada na cidade litorânea de Itanhaém/SP
Imagens: arquivo da TV Globo - Rio de Janeiro/RJ
"Com o fechamento da TV Excelsior, Ivani se revezou - sempre com seu incrível potencial de
boas idéias - entre a TV Tupi, TV Record, SBT, Rede Bandeirantes. Em 1982, com Final Feliz, finalmente estréia na Rede Globo" (onde
permaneceu até sua morte, em 1995, aos 73 anos de idade).
Ivani escreveu e/ou adaptou para a televisão: Corações em Conflito (1963/1964),
Ambição, Alma Cigana, A Moça que Veio de Longe, A Gata, Se o Mar Contasse, A Outra Face de Anita (1964),
Onde Nasce a Ilusão, A Indomável, Vidas Cruzadas, A Deusa Vencida (1965), A Grande Viagem (1965/1966), Almas de
Pedra, Anjo Marcado (1966), As Minas de Prata (1966/1967), Os Fantoches (1967/1968), O Terceiro Pecado (1968), A
Muralha (1968/1969), Os Estranhos, A Menina do Veleiro Azul (1969), Dez Vidas (1969/1970), As Bruxas (1970), O
Meu Pé de Laranja Lima (1970/1971).
Cena da novela A Viagem, refeita em 1994 pela TV Globo
Imagem: TV Globo - Rio de Janeiro/RJ
E também: Nossa Filha Gabriela (1971/1972), O Leopardo (1972), Camomila e
Bem-me-quer (1972/1973), Mulheres de Areia (1973/1974), Os Inocentes (1974), A Viagem (1975/1976), O Espantalho
(1977), O Profeta (1977/1978), Aritana (1978/1979), Cavalo Amarelo (1980), Os Adolescentes (parcial - 1981/1982),
Final Feliz (1982/1983), Amor com Amor se Paga (1984), A Gata Comeu (1985), Hipertensão (1986/1987), O Sexo dos Anjos
(1989/1990).
Antônio Fagundes e Christiane Torloni na novela A
Viagem, refeita em 1994 pela TV Globo
Imagens: TV Globo - Rio de Janeiro/RJ
Várias dessas novelas tiveram segunda
produção, como Mulheres de Areia (em 1993), A Deusa Vencida (em 1980), O Meu Pé de Laranja Lima (em 1980), A Muralha (em
2000, afora as apresentações de 1958 e 1963), A Viagem (em 1994), além das inúmeras reapresentações dos trabalhos gravados.
No domingo seguinte à sua morte (ocorrida em
17 de julho de 1995), o caderno Telejornal de O Estado de São Paulo publicou (em 23/7/1995) entrevista com uma colaboradora da
novelista, Solange Castro Neves: |
Flash Back
Ivani Ribeiro fez do trabalho a sua vida
Autora, que morreu na noite de segunda-feira, escreveu 39 novelas e milhares de contos
Júlio Gama
Ivani Ribeiro não temia a morte, mas reprovava a forma como os
ocidentais a tratavam. Por isso, em suas 30 novelas, nunca escreveu cenas de enterro, que mostrassem o corpo dentro da urna. "Ela achava horrível
mostrar a pessoa nessa situação", diz Solange Castro Neves, que há dez anos colaborava com Ivani. "Respeitava a dignidade do morto". Solange fez de
tudo para impedir que os fotógrafos registrassem o velório. "Era um desejo dela", desculpou-se, emocionada, no dia seguinte à cerimônia de cremação
do corpo da escritora.
Na sexta-feira, 14, quatro dias antes de morrer, Ivani conversou pela última vez com Solange. No
Hospital Sírio e Libanês, onde estava internada há 25 dias, o assunto era trabalho. Falou com Solange sobre a minissérie O Sarau, que estava
escrevendo, baseada na obra de Machado de Assis. Falava pausadamente, o corpo não mais acompanhava o raciocínio. Sofria de insuficiência renal
provocada pela diabete. No início da noite, despediu-se, otimista, de Solange. "Ela me disse: 'semana que vem estou em casa e conversamos melhor'".
Três dias depois, não resistiu a três paradas cardíacas. Morreu 20 dias depois do marido, o escritor Dácio Moreira Alves Ferreira, deixando dois
filhos, Luís Carlos, de 45 anos, e Eduardo, de 40.
O Sarau é baseado no conjunto de obras que formam o universo de Machado de Assis. "Trata-se de
uma história fictícia, na qual passearão personagens das várias obras de Machado de Assis", explica Solange. A Globo encomendou a história com 12
capítulos para dezembro.
Ivani e Solange escreviam também a próxima novela das sete da Globo, para janeiro de 1996, cujo
título provisório é Os Caminhos do Vento. Nessa novela, pela primeira vez, Ivani criou um núcleo da terceira idade. Aos 73 anos, considerava
ser esse o momento de entreter os mais velhos e, sobretudo, conscientizar os mais novos sobre a necessidade de respeitar o idoso. "Mas não é um
núcleo triste, nem ocioso", ressalta Solange.
Na sinopse, um grupo de amigos convive com harmonia numa casa de repouso. Jorge Dória foi um dos
atores cogitados por Ivani para alegrar o grupo. Na cabeça da escritora, o idoso não deveria parar de trabalhar. Era o que ela fazia desde os 16
anos.
Novelista estava escrevendo próxima trama das sete e queria Jorge Dória no elenco
Foto publicada com a matéria
Por trás do pseudônimo Ivani Ribeiro, escondia-se a identidade de Cleyde Alves Ferreira, nascida em
São Vicente, Litoral Sul de São Paulo. Em 1938, antes de terminar o magistério e ingressar na faculdade de Filosofia, a adolescente começou a cantar
músicas folclóricas na Rádio Educadora. Cantou sambas também, mais de 50 compostos por ela. Já era vasto seu universo musical. Uma vez se referiu
dessa forma às suas composições: "Pode ter certeza de que bons pedaços de alma eu deixei nesses versos".
Devia ser enorme aquela alma, porque rendeu outros bons pedaços nas novelas que escreveria. A
primeira foi Corações em Conflito, em 1963, na verdade uma transposição para a TV de uma de suas radionovelas. A última foi Hipertensão,
em 1986. Em 57 anos de carreira, Ivani deixa clássicos para TV brasileira como Mulheres de Areia (1973/74) e A Viagem (1975/76), ambas
adaptadas e reprisadas nos últimos anos pela própria Ivani, com auxílio de Solange.
Na mesma Rádio Educadora fez o programa Hora Infantil, com músicas e poemas. Foi para a Rádio
Difusora, onde cantava acompanhada por uma orquestra. O próximo passo foi a Rádio Tupi. Como radioatriz, Ivani Ribeiro interpretou a personagem
feminina em As Mais Belas Cartas de Amor. Em 1940, já estava na Rádio Bandeirantes onde, além de atuar como atriz, começou a adaptar peças
para o Teatro Bandeirantes.
Na Rádio Bandeirantes, Ivani esteve à frente de muitos programas, entre eles, Os Grandes Amores da
História, dramatização da vida amorosa de personalidades históricas; Teatro Romântico, baseado em poemas da literatura brasileira e A
Canção Que Viveu, dramatização de canções brasileiras. Até a década de 80, Ivani havia escrito e adaptado para o rádio e a TV exatos 2.922
contos, média de um por dia; além de 1.300 peças para rádio. Sozinha, Ivani escrevia diariamente dois capítulos de novela, o dobro do que uma equipe
de quatro novelistas escreve hoje.
Na época, não recorria a colaboradores para o texto, mas buscava ajuda de especialistas para os
assuntos sobre os quais escrevia. Em O Profeta (1977/78), em que Carlos Augusto Strazzer interpretava o paranormal Daniel, Ivani pediu
assessoria a um psiquiatra, um sacerdote católico, um mentor espírita e um orientador de candomblé. Em Aritana (1978/79), recorreu aos irmãos
Villas-Boas. O psiquiatra Paulo Gaudêncio foi quem a auxiliou no entendimento dos jovens, na novela Os Adolescentes (1981/82). Em As
Bruxas (1970), Ivani freqüentou sessões de terapia para compreender a popularização da análise de grupo.
Ivani era incansável. chegou a escrever o roteiro de um filme dirigido pro Roberto Santos -
Pantomina. Ganhou projeção no horário das 19h30 na TV Excelsior. Na segunda metade da década de 60, ela escreveria 13 novelas consecutivas,
cerca de 1.600 capítulos. Chegou na Globo em 1982, com Final Feliz.
Na quarta-feira passada, às 8 horas, Solange sentou-se em frente ao computador e retomou as
histórias. Tinha a voz embargada ao telefone. "Não se perde uma mãe impunemente". Não era filha de sangue, ma de coração. Mesmo emocionada,
recomeçou a escrever. Seguia um dos mandamentos da mestre. "Depois de viver uma grande emoção, nada melhor do que sentar e escrever", ensinou-lhe,
um dia, a escritora que entendia de emoções.
Novelas de Ivani Ribeiro foram grandes sucessos na
televisão brasileira
Imagens: arquivo da TV Globo - Rio de Janeiro
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Por sua vez, o radialista e escritor Reynaldo C. Tavares, na obra Histórias que o Rádio Não Contou
(Negócio Editora, São Paulo/SP, 1997), destaca (citando todavia que ela teria nascido em 1916, e não em 1922, falecendo portanto com 79 e não com 73
anos de idade):
A Viagem, na primeira apresentação pela TV Tupi
e na versão refeita em 1994 pela Globo
Imagens: arquivo da TV Globo - Rio de Janeiro/RJ
Ivani Ribeiro (Cleide de Freitas
Alves Ferreira) é outro nome intimamente ligado ao radioteatro, posteriormente radionovela, e à telenovela.
Nascida em 1916, em São Vicente, litoral paulista, iniciou sua carreira aos 17 anos de idade, como
cantora de música popular brasileira, na PRA-6 Rádio Educadora Paulista. Naquela emissora conheceu o locutor e escritor Dárcio Alves Ferreira, com
quem veio a se casar, nascendo dessa união dois filhos.
Ivani, poetisa notável, locutora, radioatriz e cantora, no início dos anos 40, após uma curta
passagem pela PRG-2 Rádio Tupi de São Paulo, transferiu-se com seu marido, Dárcio Ferreira, para a PRH-9 Rádio Bandeirantes de São Paulo, onde ambos
tiveram uma participação das mais importantes no desenvolvimento da nossa radiofonia, mais especificamente na emissora que os contratara.
Dárcio, além das apresentações que habitualmente fazia - era um excelente locutor várias vezes
premiado pela crítica especializada - assumiu a direção de broadcasting da PRH-9, onde lançou vários programas, dando uma nova dinâmica ao
veículo; entre as inovações, Dárcio lançou um programa de calouros dedicado à garotada, a Hora dos Neófitos, enquanto sua mulher, Ivani,
tornar-se-ia uma das mais completas redatoras dos meios radiofônicos e televisivos de nossa terra.
Em 1985, Christiane Torloni protagoniza outra novela de Ivani Ribeiro
Imagem: arquivo da TV Globo - Rio de Janeiro
Ivani
Ribeiro foi a primeira mulher no Brasil a ter um programa diário de radioteatro só seu. Ivani escrevia e produzia uma peça radioteatral completa por
dia, apresentando-a todas as tardes pelas ondas da Rádio Bandeirantes e o programa levava o seu nome, Teatro Ivani Ribeiro.
Ao todo, Ivani escreveu mais de 350 obras e um sem-número de folhetins.
Em 1963, ingressou na Televisão Tupi - canal 4, do grupo dos Diários e Emissoras Associadas,
onde produziu sua primeira telenovela Corações em Conflito. Entre os seus primeiros trabalhos para a televisão destacaram-se Mulheres de
Areia e A Viagem.
Ivani Ribeiro faleceu aos 79 anos de idade no dia 17 de julho de 1995 e deixou prontas uma novela
e uma minissérie de 12 capítulos baseada em obras de Machado de Assis.
Cleide de Freitas Alves Ferreira (Ivani Ribeiro) se foi sem saber da morte do seu marido. Ela já
se encontrava em estado crítico, quando Dárcio Alves Ferreira faleceu, no dia 27 de junho, vinte dias antes dela; os dois estavam internados no
mesmo hospital em São Paulo.
Essas são realmente as grandes ironias da vida, ou simplesmente mais uma das muitas histórias que
o rádio não contou...
Cena da novela A Viagem, refeita em 1994 pela TV Globo
Imagem: TV Globo - Rio de Janeiro/RJ
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