HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
Clubes
Decadência e dificuldades (2)
A crise econômica que atingiu a Baixada Santista na
última década do século XX, com reflexos também nos primeiros anos do século XXI, também se abateu sobre a atividade clubística na cidade. Várias
agremiações centenárias ou pelo menos de grande tradição passaram a enfrentar severas dificuldades financeiras, e uma delas foi o Caiçara Clube, que
teve de vender sua sede no José Menino, como registrou o jornal A Tribuna em 9 de dezembro de 2004:
Agremiação do José Menino interessa à rede de hipermercado
Foto: Carlos Marques, publicada com a matéria
Hipermercado Wal-Mart tenta adquirir área do Caiçara Clube
A Lei de Uso e Ocupação do Solo de Santos foi o obstáculo ao interesse da rede de
hipermercados Wal-Mart de construir um empreendimento na área do Caiçara Clube, no José Menino. Apesar disso, o assunto ainda não está encerrado,
porque a Câmara vai apreciar mudanças na legislação. Uma eventual reclassificação pode garantir o hipermercado no local.
HIPERMERCADO
Rede Wal-Mart pode se instalar no José Menino
Da Reportagem
A rede norte-americana de hipermercados Wal-Mart sondou
a diretoria do Caiçara Clube, no José Menino, com o objetivo de construir o primeiro empreendimento da rede em Santos, na área da agremiação, de
quase 12 mil metros quadrados. A negociação, entretanto, emperrou na Lei de Uso e Ocupação do Solo do Município, que veta a instalação de
estabelecimentos do tipo no local.
A mudança na lei para acomodar a instalação do hipermercado, inclusive, chegou a ser
proposta ontem pelo secretário municipal de Turismo, Eduardo Conde Bandeira, na reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU).
A idéia não foi acatada pelos conselheiros. A rejeição no CMDU, porém, não coloca um
ponto final na discussão. A Câmara, quando for apreciar as alterações na Lei de Uso e Ocupação do Solo, pode aprovar a reclassificação para garantir
o hipermercado no local.
De acordo com o presidente do Caiçara, Antônio Di Luca, representantes do Wal-Mart
chegaram a vistoriar a área, com o objetivo de adquirir o terreno em sua totalidade. O imóvel está avaliado em R$ 12 milhões. "Sequer houve proposta
financeira pela inviabilidade legal da construção do hipermercado no terreno", esclareceu Di Luca.
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Empresa diz não ter notícia a respeito
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Desde o início de 2001, quando uma assembléia aprovou a colocação do imóvel à venda,
algumas sondagens foram realizadas, sem, entretanto, um acordo comercial.
Em agosto do ano passado, foi divulgada uma negociação para a venda de uma parcela do
imóvel, onde seria construído um hotel da rede francesa Accor. Na ocasião, a negociação giraria em torno de R$ 2 milhões, apenas para uma parte
ociosa do terreno. O acordo com a Construtora Villela & Martins não evoluiu e o negócio não se concretizou.
Também foi comentada a possibilidade de o Caiçara se associar a outro clube para uso
compartilhado de suas estruturas social e esportiva. A proposta seria de união com o Santos Futebol Clube, mas o acordo também não foi finalizado.
Esta não é a primeira tentativa do Wal-Mart de se instalar na Cidade. Anteriormente, o
grupo havia assinado contrato com a empresa TPS para construir uma loja no terreno do terminal de pesca, mas a negociação acabou desfeita pela
Justiça.
Prós e contras - A mudança na lei foi defendida pelo secretário Conde Bandeira,
que confirmou o interesse empresarial pela área do clube. "Os moradores reclamam que o José Menino está esquecido pela Administração. O hipermercado
poderia ajudar na recuperação".
Todos os representantes da Prefeitura no Conselho, inclusive o secretário de
Planejamento e presidente do CMDU, Márcio Lara, votaram contra a proposta. "Não é o momento mais adequado para se discutir o assunto", justificou
Lara.
Representante do Sindicato dos Arquitetos no CMDU, José Marques Carriço também
criticou a proposta. "Se for aprovada a mudança na lei, será possível construir até hipermercado nos morros".
Atualmente, a legislação permite para o José Menino o funcionamento de supermercados.
Porém, na reunião de ontem, os representantes da Prefeitura no CMDU não souberam dizer, com clareza, as diferenças técnicas e legais entre
hipermercado e supermercado.
A rede Wal-Mart informou, por meio de sua Assessoria de Imprensa, que não tem qualquer
notícia para divulgar sobre a possibilidade de implantar uma unidade em Santos.
Caiçara Clube enfrenta dificuldades financeiras há vários anos
Foto: Carlos Marques, publicada com a matéria
Agremiação não arrecada o suficiente para se manter
A situação financeira do Caiçara não é confortável e
piora continuamente, com déficits mensais que chegam a R$ 6 mil. A agremiação chegou a ter cinco mil sócios, mas hoje tem menos de mil, sendo cerca
de 150 pagantes e 800 remidos.
"A receita não é suficiente para manter o clube", diz seu presidente, Antônio Di Luca,
que atualmente não tem um cálculo do valor total das dívidas do clube.
Cada associado paga mensalidade de cerca de R$ 50,00. O clube também arrecada com o
aluguel dos salões sociais para festas e com o arrendamento de uma área que abrigava o estacionamento, onde hoje funciona o show-room
(N.E.: exposição) de uma empresa de piscinas de fibra.
A venda do imóvel será a solução para as finanças do Caiçara. A diretoria do clube
aceita negociar propostas de compra de toda a área ou de uma fração. "Tudo vai depender das propostas".
Segundo Di Luca, caso o Wal-Mart compre a sede do clube, na Avenida Presidente Wilson,
200, com 96 metros de frente, o Caiçara deverá ser deslocado para outro imóvel, de tamanho mais condizente com o atual quadro associativo do clube.
Adaptação - Mesmo a venda do imóvel, que acabaria com a crise financeira do
Caiçara, não resolve o principal problema para sobrevivência do clube, fundado em 21 de janeiro de 1958: como manter um clube sem associados?
"O Caiçara não vai terminar, mas o clube precisa se adaptar", avalia Di Luca,
lembrando que, na fase áurea, as famílias passavam o dia inteiro no clube. "Hoje a concorrência é difícil, as pessoas viajam ou ficam na Internet". |
Publicado nas edições impressa e eletrônica do jornal santista A Tribuna em 24 de agosto de 2006:
Moradores do José Menino reclamavam do barulho
nas festas realizadas no salão de eventos do clube
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria
POLUIÇÃO SONORA
Quinta-feira, 24 de
Agosto de 2006, 08:24
PMS embarga eventos musicais no Caiçara
Medição acusou ruídos de 63 decibéis, quando limite da ABNT é de 49
Da Reportagem
O Caiçara Clube está proibido de realizar eventos
musicais em seu salão até que providencie as mudanças acústicas necessárias ao local. O edital de embargo foi publicado ontem pela Secretaria
Municipal de Meio-Ambiente (Semam) no Diário Oficial de Santos.
Em atendimento a queixas feitas por moradores do José Menino, onde se localiza a
agremiação, técnicos da Semam constataram que as festas promovidas no clube estavam gerando poluição sonora em excesso. Uma medição feita no local
dimensionou o ruído em 63 decibéis, quando o limite estabelecido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é de 49.
De acordo com o secretário de Meio-Ambiente, Flávio Rodrigues Correa, a diretoria do
Caiçara vem sendo advertida sobre o problema desde meados de 2005. A primeira intimação, segundo ele, foi feita em outubro daquele ano.
Como a poluição persistiu, o Município expediu novos autos de infração, em maio e
junho deste ano. No primeiro, o clube foi multado em R$ 1 mil; no segundo, em R$ 2 mil. "Como esta é a terceira vez, determinamos o embargo das
atividades até que se atendam as exigências da Prefeitura, isto é, se providencie a proteção acústica do salão", explica o secretário.
Em caso de descumprimento do embargo, a Semam encaminhará o caso à Procuradoria Geral
do Município, que estudará as medidas jurídicas cabíveis contra a entidade.
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Primeira intimação foi feita em outubro de 2005
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Castigo - Com a sanção, o Caiçara junta-se ao Clube
Sírio-Libanês, que também teve as atividades musicais suspensas após ser alvo de queixas relacionadas a um baile funk realizado na
agremiação.
A situação do Sírio, porém, é um pouco mais tranqüila, uma vez que, segundo Correa, a
diretoria já teria providenciado um revestimento acústico em seu salão de eventos. "Estamos avaliando o local, e a situação caminha para uma
solução", disse.
Contatada por A Tribuna, a diretoria do Caiçara Clube informou que já está
providenciando a defesa da agremiação junto à Prefeitura. |
Publicado nas edições impressa e eletrônica do jornal santista A Tribuna em 13 de setembro de 2006:
Em 2005, proposta do mesmo empresário Viegas, de R$ 7,5 mi por toda a área,
chegou a ser aceita pelo Conselho Deliberativo
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria
VENDIDO
Quarta-feira, 13 de
Setembro de 2006, 08:17
Sede do Caiçara é arrematada por R$ 11 mi
Marcel Cordella
Da Reportagem
A sede do Caiçara Clube, no José Menino, foi arrematada
ontem, em leilão da Justiça Federal, pelo empresário Rubens Flávio de Siqueira Viegas Júnior, por R$ 11 milhões. Mantenedor da Universidade
Metropolitana de Santos (Unimes), Viegas mostrava interesse na área desde 2000. O imóvel foi leiloado por conta do Processo 2003-486-9, do Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS), no valor de R$ 351.801,69.
Dos 12,8 mil metros quadrados do terreno, pouco mais de 9 mil foram a leilão e
acabaram arrematados pelo empresário. Segundo o presidente do Conselho Deliberativo do Caiçara, Samir Jorge Abdul-Hak, restaram aos associados a
área do campo de futebol e um terreno lateral, na Rua Santa Catarina.
Em outro leilão, também na tarde de ontem, promovido pela Justiça do Trabalho, o
Caiçara perdeu ainda uma parte do terreno da Rua Santa Catarina, avaliado em R$ 370 mil e arrematado por R$ 151 mil. A ação 0594/1999 é de autoria
de Josias Alves de Lima.
No ano passado, uma proposta de Viegas, de R$ 7,5 milhões, chegou a ser aceita pelo
Conselho Deliberativo do clube para venda da área total. Posteriormente, porém, a negociação foi cancelada sob a alegação de irregularidades
estatutárias na assembléia que aprovou a negociação.
Abdul-Hak considerou positivo o desfecho do processo, com o arremate em leilão. "Há
alguns meses o negócio era de R$ 7,5 milhões, e agora o valor chegou a R$ 11 milhões". Ele ainda vai aguardar a formalização do negócio, que
ocorrerá hoje, com a emissão do auto de arrematação pela Justiça, para começar a definir o que será feito. "Só adianto que o clube não vai acabar",
garante.
Segundo o juiz substituto da 6ª Vara Federal, Décio Gabriel Gimenez, que conduz o
processo do leilão, existe a possibilidade de parte do pagamento ficar retida para a quitação de outras penhoras sobre o terreno.
Abdul-Hak avisa que a diferença do valor entre a dívida com o INSS e o arremate do
imóvel vai servir para que o clube acerte suas finanças, quitando dívidas de tributos e fornecedores que chegam a R$ 4 milhões. "Vamos colocar o
clube em dia e decidir futuramente sobre uma nova sede. Ainda não há um plano definido, o leilão foi hoje (ontem)", diz o presidente do conselho.
"Com o negócio concretizado e o recebimento dos valores, a assembléia vai decidir o que será feito".
Estrutura - A área adquirida por Viegas conta com um salão de festas com 1,2
mil metros quadrados, quadras poliesportivas e piscina, além de estacionamento e estrutura administrativa. Com 48 anos, o clube chegou a ter mais de
5 mil associados. Hoje é mantido por 60 sócios pagantes e pela renda de aluguel dos salões de festas.
A Tribuna tentou contato com Rubens Viegas na noite de ontem. Na Unimes, a
informação foi de que ele estava em uma reunião. Até as 21 horas de ontem, o empresário não havia retornado a ligação. |
MEMÓRIA |
As discussões sobre a venda da área do Caiçara Clube
se arrastam desde 2000, quando a crise financeira da agremiação se acentuou. Desde então, foram cogitadas diversas soluções para a área, como a
fusão com um outro clube da Cidade, a construção de um hotel ou de um hipermercado. No ano passado, a diretoria recebeu propostas de compra de
Rubens Viegas e do banco Banif Primus, ambas de cerca de R$ 7,5 milhões. Uma assembléia chegou a autorizar a venda para Viegas, mas a negociação foi
cancelada posteriormente. |
Fotos: Carlos Pimentel Mendes, em
23/4/2008 |
Em 4 de dezembro de 2009, o clube publicou o seguinte edital:
Caiçara Clube - edital
(N.E.: erro no mês, correto é dezembro de 2009)
Publicado no jornal santista A Tribuna, em 4 de
dezembro de 2009, pág. A-5 |
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