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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
No tempo dos zeppelins - II

Com novo gás que evita os temidos incêndios, os dirigiveis voltaram a freqüentar os céus, inclusive de Santos, no final do século XX
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A era dos balões dirigíveistes pode ser dividida em duas partes, a primeira correspondendo às primeiras décadas do século XX e a segunda ao final desse século, em que o uso de novas tecnologias permitiu proporcionar maior segurança às viagens. A principal mudança foi a substituição do hidrogênio (altamente inflamável) por gás hélio (um gás mineral, 100% inerte e de custo elevado). Ainda assim, no início do terceiro milênio, continuam sendo tais viagens verdadeiras aventuras, e os raros dirigíveis nos céus de Santos não se comparam em tamanho e luxo ao Hindenburg e ao Graf Zeppelin.

Esta notícia registrou a passagem por Santos de um dirigível de nova geração, sendo publicada em 21/1/1995 pelo jornal santista A Tribuna:


A aeronave sobrevoou ontem vários pontos de Santos e de Guarujá
Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria

Dirigível realiza sobrevôo na Baixada Santista

Da Editoria Local

A Baixada Santista recebeu ontem a visita do primeiro dirigível iluminado da América do Sul. A aeronave, do tipo zepelim, sobrevoou vários pontos de Santos e do Guarujá, e a expectativa é que hoje ele faça também um vôo noturno. A confirmação fica por conta das condições climáticas.

Depois de voar sobre Santos e Guarujá por cerca de uma hora, o zepelim foi até a Base Aérea, onde uma equipe de apoio havia preparado um esquema para que ele parasse. Ao contrário de outras aeronaves, o dirigível não chega a tocar o solo, ficando atrelado a uma torre.

A empresa responsável pela parte técnica do aparelho é a Lightship, que deslocou 14 integrantes para a Baixada. Vários são estrangeiros, incluindo os dois pilotos: Jonathan Martin-Hale (inglês) e Rafael Arroyo, de Porto Rico.

De acordo com Mitchel Sorenson, um dos técnicos da Lightship, o dirigível tem 43 metros de comprimento e 13,5 de altura. Sorenson esclarece que a aeronave tem autonomia de vôo de 13 horas e é inflada com gás hélio inerte (não inflamável). Seu peso total chega a 1.900 quilos e ele conta ainda com a gôndola para abrigar o piloto e mais quatro passageiros.

O capitão Rogério da Silva Paraná, da Base Aérea, disse que o dirigível voa em qualquer condição, sob as nuvens, com chuva e à noite.

A vinda da aeronave é de responsabilidade do bicampeão brasileiro de vôo livre, Paul Gaiser, que trabalhou dois anos para viabilizar a idéia. O sobrevôo contou com o apoio do Ministério da Aeronáutica, da Prefeitura do Rio de Janeiro e de diversas empresas, como a Pepsi-Cola, White Martins, Petrobrás, Varig e outras.

Noturno - O aparelho fica até amanhã na Baixada. Hoje, além do vôo da manhã e da tarde, haverá um passeio à noite, para que seja vista a sua iluminação.

O dirigível deve realizar um passeio noturno, para que a sua iluminação possa ser apreciada (Foto: Paulo Freitas, 'A Tribuna', 21/1/1995)
O dirigível deve realizar um passeio noturno, para que a sua iluminação possa ser apreciada
Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria

Dois dias depois, em 23/1/1995, nova matéria no mesmo jornal A Tribuna:

Brasileiros virão de Montreal ao Rio, de dirigível

Expedição vem sendo planejada pela dupla há cerca de dois anos

Da Editoria Local

Trazer voando um dirigível da cidade de Montreal, no Canadá, até o Rio de Janeiro. Esse é o objetivo da expedição que o engenheiro Paul Gaiser e o navegador Amyr Klink estão programando, com partida para o primeiro semestre deste ano.

Fruto da dedicação de dois anos de trabalho para a viabilização de uma idéia que vem alimentando sonhos e expectativas de muitos empresários, pilotos e técnicos há mais de três décadas, o Projeto Dirigível finalmente está se concretizando no Brasil.

O blimp, ou dirigível, ou lightship - algumas das várias formas que pode ser chamada a aeronave -, encerra hoje seu período de permanência na Baixada Santista, onde esteve desde o último dia 14, utilizado pela Pepsi Cola, como estratégia de marketing. Trata-se de uma das etapas do projeto de custeio da expedição, que exigirá a construção do primeiro dirigível de grande capacidade no Brasil.

Navegador de vôo livre, o engenheiro mecânico Paul Gaiser, brasileiro, que acompanhou ontem, da Base Aérea de Santos, os passeios do dirigível pelas praias da região, falou um pouco do projeto dos seus sonhos.

A rota, a partir de Montreal ou Toronto, será feita por toda a costa Leste americana. Na Flórida, iniciará a travessia do Mar do Caribe até Nassau, Porto Rico, Martinica, Trinidad-Tobago, Georgetown, Cayenne, Belém, Fortaleza, Natal, Recife, Aracaju, Salvador, Porto Seguro, Vitória, Juiz de Fora, São Paulo e Rio de Janeiro.

Segundo Paul Gaiser, a expedição tem um sentido especial para ele e para Amyr, pois será feita lentamente, por regiões desconhecidas do grande público, que exigirão bons controles de navegação aérea, bom apoio de solo nas paradas e muito preparo físico. O comando desse dirigível, destacou, é bastante primário (para evitar mecanismos pesados) e exige grande esforço físico. Os fortes ventos que predominam nas regiões do percurso deverão ser administrados de forma muito precisa.

Para ele, a participação de Amyr Klink dá um sentido muito especial ao projeto, não só pelo lado científico, como também pelo lado humano, "quando um grande senhor dos mares se lançará ao ar e verificará, de cima, a enormidade e beleza do mundo, tendo a seu favor o mesmo amigo e incrível companheiro de sempre, o vento".

Projeto - A dupla Paul & Amyr já esteve junta na maior expedição do mundo, em um triciclo a vela (windcar), num percurso de 670 km, da cidade de Torres, no Rio Grande do Sul, até La Corunija, no Uruguai.

No caso dessa expedição, haverá apoio de um avião fretado, que fará, em escalas pré-determinadas ou não, a preparação para pousos de emergência ou de rotina, plantando as torres de sustentação.

Para seguir um roteiro de escalas o mais perfeito possível, considerando dificuldades políticas e econômicas de cada país visitado, além de dificuldades técnicas - com a a predominância maior ou menor de determinados ventos - a dupla contratou profissionais de logística para a aviação de baixa velocidade.

A expedição contará com câmaras de 16 mm, vídeos Beta e máquinas fotográficas para a cobertura de cada etapa. A necessidade de grande quantidade de combustível a bordo obrigará à economia de pesos de alimentação e supérfluos. Toda a economia será dirigida e balanceada para a expedição.

Será criada uma escola de pilotagem de dirigível e uma fundação para custear o projeto e a construção da aeronave, em conjunto com engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Toda a operação e projetos serão utilizados com autorização do Centro Tecnológico da Aeronáutica, Clube da Aeronáutica e Departamento de Aviação Civil.

O dirigível será muito utilizado para coberturas aéreas de grandes eventos, podendo levar, além do equipamento de filmagem, toda a ilha de direção e montagem. Segundo Paul, a idéia é ficar com o dirigível permanentemente voando por todo o Brasil, não só para fins publicitários e turísticos, como também para pesquisas e levantamentos ecológicos em regiões como a Amazônia, o Pantanal, o Cerrado e as regiões pré-Andinas. A intenção é visitar outros países da América do Sul, como o Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile.


O dirigível, que chegou no dia 14, encerra hoje as suas aparições na região,
onde atraiu a atenção de moradores e turistas
Foto: Édison Baraçal, publicada com a matéria

Menos de um mês depois, nova passagem do dirigível causou confusão na Baixada Santista, como anotou em 11/2/1995 o mesmo jornal A Tribuna:

Dirigível iluminado faz vôo noturno na região e é confundido com disco-voador

Da Editoria Local

O primeiro dirigível luminoso da América do Sul, que ontem à noite tornou a sobrevoar alguns municípios da Baixada Santista e Litoral Sul, chegou a ser confundido com um disco-voador. A aeronave, do tipo Zepelim, já esteve na região em janeiro e circulou em São Paulo e Rio de Janeiro, comandado pelo bicampeão brasileiro de vôo livre, Paul Gaiser, e divulgando empresas como a Pepsi-Cola, White Martins, Petrobrás e Varig.

A causa da associação com um objeto não identificado foram as luzes, que o tornam prateado e dão a impressão de que ele é feito de acrílico.

A dona de casa Lázara de Camargo Gáudio, moradora no Catiapoã, em São Vicente, avistou o dirigível às 20 horas e garantiu, em telefonema à Redação de A Tribuna, depois de fazer descrição detalhada: "Eu não acredito em disco-voador, mas o que eu estou vendo é um".

Em Mongaguá, Gabriela Ramanzini Santana, de 16 anos, também acompanhou os movimentos do dirigível, chegando a filmá-lo, em companhia da vizinha Ana Maria. Ela, que já tinha visto o aeróstato, sem a iluminação, estava certa de que não se tratava de algo conhecido, mas de um OVNI (objeto voador não-identificado).

Às 21 horas, a Base Aérea confirmou o vôo do dirigível pela região, assim como Henrik Gaiser, da equipe de manutenção do aparelho. Meia hora depois, ele podia ser visto sobrevoando a Catedral, no Centro de Santos. (...)