ALEMOA E A VOCAÇÃO PARA PÓLO INDUSTRIAL RETROPORTUÁRIO - O bairro, de 150 anos de existência, já
teve uma grande área de mangue e muitos sítios e chácaras. A construção da Pista Sul da Via Anchieta, inaugurada em 1953, foi fundamental para a
expansão do bairro. Hoje, a área é um importante pólo industrial retroportuário. Mas, para os moradores, o trânsito pesado é ameaça à segurança.
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 19/7/2010
Tudo começou com as chácaras
A forte presença de indústrias logo na entrada de Santos quase não dá espaço à
lembrança dos tempos em que ali havia criações
Luiz Gomes Otero
Da Redação
Quem
passa de carro pela Via Anchieta, mesmo de forma apressada, logo percebe vários tanques e reservatórios de produtos químicos naquele núcleo
próximo da entrada de Santos.
O que talvez poucos imaginem é que aquela área, hoje
passagem de milhares de veículos, ao lado de um distrito industrial importante para a atividade do porto, já foi um bairro com sítios e chácaras.
O historiador José Dionísio de Almeida, da Fundação
Arquivo e Memória de Santos (FAMS), cita que o bairro, de 150 anos de existência, tinha uma grande área de mangue.
"A
Avenida Bandeirantes era a principal via que ligava a região de Cubatão a Santos. Nesse trecho que hoje é cortado pela Via Anchieta, existiam
propriedades como sítios, que tinham até criação de animais", conta o historiador.
A construção da Pista Sul da Via Anchieta, inaugurada em
1953, é apontada como um fator que contribuiu para a expansão do setor industrial naquela área.
Acesso – Embora já existissem indústrias no local
antes da rodovia, é inegável que o acesso mais fácil para veículos permitiu a ampliação do setor.
"Houve uma conseqüente separação das partes residencial
e industrial. E creio que a vocação da área como pólo industrial retroportuário, pelo que vem acontecendo, deve ser consolidada de forma gradativa
nos próximos anos", afirma Almeida.
O que resta de habitação residencial está concentrado na
parte do bairro conhecida como Vila Alemoa, onde predomina a falta de infra-estrutura urbana.
Até mesmo a frente do centro comunitário local, junto à
Avenida Marginal da Via Anchieta, carece de pavimentação adequada.
Intransitável – Em dias de chuva, a área fica
intransitável. Pode-se dizer que a comunidade que reside no local está isolada pela atividade comercial retroportuária. Por todos os lados, o que
se vê são caminhões transportando cargas dos mais variados tipos.
O Distrito Industrial da Alemoa concentra 72 empresas.
Neste ano, o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) vai arrecadar R$ 8,2 milhões naquela área.
Em 2009, o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza
(ISS) arrecadou o equivalente a R$ 20,2 milhões com as atividades desenvolvidas na Alemoa. Esse total representou 9,35% do total arrecadado com o
tributo na Cidade.
Os serviços compreendem terminais retroportuários. Eles
armazenam toneladas de produtos químicos em estado líquido ou a granel, que chegam ao Porto de Santos ou são exportados.
Uma das empresas é a Stolthaven. Com 84 tanques e
capacidade para 125.025 metros cúbicos, sua estrutura pode armazenar uma ampla variedade de produtos, tais como matéria-prima orgânica, derivados
de petróleo, ácidos, graxas, óleos lubrificantes e vegetais, gordura animal, etanol, metanol e muitos outros.
Cortada pela Via Anchieta, a Alemoa é passagem diária de milhares de veículos. O ISS arrecadado
naquela área foi de R$ 20,2 milhões em 2009
Foto: Walter Mello, publicada com a
matéria
Antigos problemas na área industrial
Na área industrial da Alemoa, os antigos problemas ainda
persistem. Embora as obras de pavimentação e drenagem tenham sido executadas, ainda há pontos que precisam ser trabalhados. Entre eles,
intensificar a fiscalização do trânsito e ordenar o serviço de logística, que precisa ser adequado à estrutura atual das empresas ali
estabelecidas.
Gerente geral da empresa Stolthaven, Mike Sealy alerta
para a saturação da entrada e saída do Distrito Industrial. Ele entende que é preciso criar uma nova alternativa para o sistema viário do bairro.
Presidente da Associação das Empresas do Distrito
Industrial e Portuário da Alemoa (AMA), João Maria Menano disse que a Prefeitura apresentou projeto que contempla uma ligação das duas avenidas
marginais e cria essas alternativa de acesso. A proposta depende do aval do Governo do Estado.
"Além disso, é preciso reavaliar a situação da área do
entorno do viaduto próximo, onde um comércio informal acabou se estabelecendo de forma desordenada", aponta Menano.
O presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego
(CET), Rogério Crantschaninov, explica que um projeto para um novo acesso já foi encaminhado à Ecovias e ao Governo do Estado. A proposta cria
apenas mais um viaduto interligando as duas avenidas marginais.
"A concessionária demonstrou interesse porque a idéia é
dar fluidez de tráfego para o transporte de carga", diz Crantschaninov.
O secretário municipal de Infra-estrutura e Edificações,
Antônio Carlos Silva Gonçalves, informa que as obras de pavimentação estão em fase final. "Temos que concluir algumas frentes na Rua Alfredo das
Neves e aguardamos uma autorização da empresa Transpetro para realizar uma intervenção em um trecho próximo. Tão logo isso seja equacionado,
tocaremos os serviços até zerar o cronograma".
Emergência |
"Se houver um acidente em uma empresa, o Corpo de Bombeiros terá problemas para chegar
até aqui. É preciso uma alternativa para facilitar o acesso". |
Mike Sealy, gerente geral da Stolthaven |
Indústrias pedem projetos para facilitar o acesso nas emergências
Foto: Walter Mello, publicada com a
matéria
Trânsito pesado ameaça a segurança
Quem mora na Alemoa já perdeu as contas de quantas vezes
presenciou atropelamentos e acidentes próximo da área residencial do bairro. E nem mesmo a colocação de um semáforo na Rua Bóris Kauffmann foi
capaz de proporcionar uma sensação de segurança para centenas de jovens que atravessam a via com destino ao colégio municipal.
Líder comunitária do bairro, Maria Lúcia Cristina de
Jesus Silva, a Cris, explica que o maior fluxo de pedestres é observado próximo da Avenida Marginal. "Infelizmente, os motoristas não respeitam o
direito do pedestre ali".
As reivindicações não param por aí. A comunidade também
reclama da falta de espaços para o lazer das crianças, como uma quadra poliesportiva para a prática de futebol de salão e playground.
"A escola mais próxima (UME Oswaldo Justo) precisa de
pintura, apesar de ser relativamente nova. Mas nós precisávamos mesmo é de espaços independentes da escola, para poder fazer com que as nossas
crianças tenham um local adequado para praticar esporte ou ter momentos de lazer", assinala.
Ainda está na memória o incêndio que desabrigou centenas
de famílias no dia 19 de dezembro de 2006. O problema ainda persiste, pois há muitas submoradias no núcleo habitacional.
O presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego
(CET), Rogério Crantschaninov, explicou que a posição atual do semáforo da Rua Boris Kauffmann foi definida depois de constatar o fluxo diário de
pedestres no bairro. "Mais próximo da Avenida Marginal não seria viável, porque a gestão daquela área cabe à Ecovias".
O secretário municipal de Infra-estrutura e Edificações,
Antônio Carlos Silva Gonçalves, informa que estão previstas manutenções na pavimentação da Rua Bóris Kauffmann e em outras vias do núcleo.
Curiosidade |
A origem do nome Alemoa é cercada de histórias curiosas. Uma freqüentemente contada é a
de que Maria Margarida Kunem, mulher do imigrante alemão Adão Kunem, teria comprado o Sítio da Vargem por volta de 1841. Com a morte de
Adão, em 1852, o Sítio do Alemão passou a ser chamado de Sítio da Alemoa ou Alamoa, forma incorreta de se referir à viúva. |
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Falta de área de lazer é problema que moradores querem extinguir
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Ex-lixão pode ser ocupado
Até janeiro de 2002, a Alemoa abrigava um aterro que
recebia todo o lixo doméstico recolhido na Cidade. Hoje em dia, a Prefeitura vive o desafio de recuperar a antiga área conhecida como Lixão da
Alemoa.
No momento, está sendo preparada uma licitação, para que
a área seja estudada em detalhes. O trabalho definirá protocolos e critérios técnicos para o uso do terreno do antigo lixão.
O secretário municipal de Meio-Ambiente, Fábio Alexandre
Nunes, o professor Fabião, diz que ainda não há uma proposta definida.
Já houve interesse de aproveitamento da área para
atividades retroportuárias, que seguiria uma vocação natural dada pelo distrito industrial.
"O setor habitacional popular também pode ser
incrementado com a construção de unidades. E mesmo a transformação do espaço em um parque público não pode ser descartada. Existem muitas
propostas que podem vir a ser implementadas no futuro", conclui Fabião.
PERSONAGEM
Maria Lúcia Cristina de Jesus Silva – 37 anos
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Nascida e criada na Vila Alemoa, Cris, como é conhecida
no núcleo, é uma das lideranças comunitárias mais atuantes no bairro. E luta para ver as benfeitorias realizadas, como a construção de áreas de
lazer e quadras de esporte para crianças. Segundo ela, os jovens se ressentem da falta desses espaços e acabam permanecendo ociosos durante boa
parte do dia. "A criança precisa ter a mente ocupada com coisas positivas, como o esporte". |