A Codesp desenhou um
projeto de torre para abrigar o relógio
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PORTO & MAR
Codesp repara relógio de valor histórico
A Codesp está recuperando o histórico
relógio de torre da Western Telegraph & Co., que funcionou durante quase seis décadas. A montagem e recuperação começaram no dia 20 de março deste
ano. Em um ou dois meses, será feito um teste do mecanismo
Armando Akio
Editor
As
informações são de Antônio Roberto Almeida Coutinho, supervisor de Oficinas, que comanda uma equipe de 120 homens, responsáveis pelo quebra-cabeças
que é remontar o relógio.
São bastante escassos os dados históricos a
respeito do relógio. A Tribuna, na edição de 30 de janeiro de 1973, cita que ele começou a funcionar em 1914 e foi desativado em 25 de abril
de 1973, cita que ele começou a funcionar em 1914 e foi desativado em 25 de abril de 1973, ao meio-dia. Dois meses antes, a companhia britânica de
telégrafos anunciara que encerraria as atividades em todo o Brasil.
Docas de Santos
– Julio Marcus Vilella Blanco, da Comissão de Eventos Especiais da Codesp, 51 anos, 32 de porto, diz que o prédio da Western foi comprado (com o
relógio incluído) pela Companhia Docas de Santos (CDS), concessionária particular.
Era necessário ampliar a faixa portuária. O
progresso, mais uma vez, apagou registros da história. Os trabalhadores do porto e os cidadãos santistas, de modo geral, acertavam a hora pelo
relógio da Western.
Ele estava cronometrado pelo tempo da British
Broadcastig Company (BBC), de Londres, Inglaterra, e recebia informação auxiliar da Rádio-Relógio Federal do Rio de Janeiro.
Aquisição
– A compra do prédio da Western pela CDS foi efetivada no dia 8 de agosto de 1973, segundo documento em poder da Codesp. O edifício tinha o
pavimento térreo e três andares superiores, além da torre.
O contrato de aquisição diz que o relógio tem
quatro faces e diâmetro de 2,40 metros. O endereço era Largo Senador Vergueiro, nº 1/2, na esquina da Rua Frei Gaspar com o cais em frente aos
armazéns 2 e 3.
A fábrica foi a Gillet & Johnston, da cidade de
Groydon, Inglaterra, e o nº de produção, 9.070. No coração do relógio, está escrito que ele tem garantia do rei George V, que nasceu em 1865, foi
coroado em 1892 e morreu em 1936.
Sem resposta
– Julio Blanco diz que a Codesp, alguns anos atrás, chegou a escrever para a fábrica, na Inglaterra, solicitando dados sobre o relógio, mas não
obteve resposta. Blanco não se recorda com precisão do ano em que a empresa enviou o pedido de informações.
O cabo para dar corda no relógio tem 28 metros
de extensão, segundo dados da Supervisão de Oficinas da Codesp. O material básico são o bronze e o ferro fundido. Quando desativado, ele foi
colocado em 22 caixas, com um peso total de 2.522 quilos. Quando a remontagem começou, as cenas foram registradas em vídeo, para criar uma memória
sobre ele, conta Julio Blanco, da Comissão Especial de Eventos da Codesp.
Para o teste de funcionamento, a Codesp
instalará um andaime especial de quatro metros de altura. Para isso, não será necessária uma torre como a do prédio da Western, pois o diâmetro do
relógio é de 2,40 metros.
O artífice Carmelo Sousa Santana instala o ponteiro de 1,5 metro
Foto Reinaldo Ferrigno, publicada com a matéria
Paulistano fez consertos
O relojoeiro Augusto Fiorelli, 80 anos, desde
os 15 em atividade, chegou a fazer alguns reparos no relógio da Western, apesar de ser estabelecido em São Paulo. Ele se lembra de que o relógio é
do tipo mecânico, mas não se recorda se tinha um ou dois pesos.
Se ele era bipeso, tinha um peso para a corda e
outro para anunciar a hora, de 60 em 60 minutos. Se dispunha de apenas um peso, este servia apenas para dar a corda, Fiorelli atesta a qualidade do
relógio, mas não recorda detalhes. O relojoeiro nega que ele fosse semelhante ao Big Bem, de Londres – existe um similar em Paranapiacaba, cidade
que tem a reprodução de uma estação de trem inglesa.
Fiorelli é o relojoeiro do Mosteiro de São
Bento e tem loja na Rua Benjamin Constant, 80, sala 62, na região da Praça da Sé, em São Paulo.
O relógio da Western tem garantia do rei George V, da Inglaterra
Foto Reinaldo Ferrigno, publicada com a matéria
Projeto custará Cr$ 25 mi
Construir uma torre de 27 metros de altura, ao
custo de Cr$ 25 milhões a preços de maio, para abrigar o relógio. O empreendimento está aberto à participação da iniciativa privada. Este é um dos
sonhos da Codesp, revela Julio Blanco, da Comissão Especial de Eventos. Ele diz, porém, que o assunto não é prioritário, porque a empresa precisa
investir primordialmente no porto.
Blanco ressalva que o custo de Cr$ 25 milhões
seria para uma torre simples, de concreto, sem nada de excepcional. Lembra ele que outros projetos, mais ambiciosos, foram colocados no papel, como
uma torre de 35 metros, nos anos de 83 e 84.
A Codesp tem pedras que poderiam ornamentar a
torre, como as antigas construções, observa Blanco. Mas o problema esbarra no elevado custo dos artesãos para trabalharem o material. A lapidação é
uma verdadeira obra de arte, comenta Blanco, acrescentando que os profissionais desse ofício, os canteiros, são raríssimos – tanto quanto o relógio.
Quatro no mundo
– Julio Blanco ouviu de um relojoeiro antigo a informação de que o relógio da Western seria um dos quatro existentes no mundo inteiro. O da Estação
Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, é idêntico. Outro relógio igual existiria em Londres e o quarto em algum país da Europa.
Blanco tem sonhos fantásticos para a torre que
poderia abrigar o relógio da Western. Ele acredita que o empreendimento deveria ser de alto nível, atraindo turistas nacionais e estrangeiros. Um
restaurante de classe internacional e um mirante não estariam descartados, para complementarem o projeto.
O membro da Comissão Especial de Eventos
acredita que somente grupos econômicos fortíssimos teriam condições de suportar um investimento de tal porte. Ele crê que basicamente os setores de
cigarro e bebida estariam à altura do projeto.
Carmelo e Orlando Monteiro consertam o coração do aparelho
Foto Reinaldo Ferrigno, publicada com a matéria
Cassino
– Outra possibilidade seria a liberação do jogo no Brasil, segundo Blanco. Ele argumenta que algum empresário do setor de entretenimento (ou de
qualquer outra área) poderia bancar a construção da torre, que abrigaria, além do histórico relógio, um cassino – uma atração turística nacional e
até em nível mundial.
Deixando de flutuar nas nuvens e colocando os
pés muito bem firmes no chão, Julio Blanco aponta a chance de o projeto da torre ser financiado por passeios de barco pelo estuário para turistas.
As viagens gerariam uma fonte de recursos para a Codesp.
A torre ainda teria espaço para uma biblioteca
específica de porto, conteria parte da documentação histórica do cais e teria outras atrações de interesse público.
Até 65 metros
– A altura da torre, por mais mirabolante que seja o projeto, não poderá superar 65 metros. Esta é a altura dos silos verticais que armazenam trigo
e outros grãos, no porto.
O Ministério da Aeronáutica, que controla o
tráfego aéreo, não permitirá uma construção superior a 65 metros, na área do porto.
Rodas do equipamento têm cerca de 2,5 metros de diâmetro
Foto Reinaldo Ferrigno, publicada com a matéria
Um resgate da memória
O conserto do relógio da Western é o resgate da
memória de Santos, é um religamento com o passado, segundo a professora de História, Wilma Therezinha de Andrade, da UniSantos, doutorada na
disciplina pela USP.
Ela recorda que a hora da torre da companhia
britânica de telégrafos era considerada como a certa, pelos santistas. As pessoas acertavam seus relógios de pulso ou de bolso pelo da Western.
Wilma diz que é muito importante recuperar a
tecnologia histórica do relógio da Western e colocá-lo à disposição do público. "Considero a idéia da torre uma ótima idéia, porque o relógio é um
dos símbolos contemporâneos, tanto que a USP criou um Centro de Estudos do Tempo para pesquisar tudo sobre o tempo".
Em consulta a alguns livros sobre o passado de
Santos, Wilma encontrou no Dicionário de Curiosidades, do jornalista Olao Rodrigues, algumas breves referências ao relógio da Western, considerado
bastante popular e de pontualidade britânica.
Uma das pioneiras
– Sobre a Western, Wilma descobriu que a empresa se instalara em 1873 em Santos, bem como em outros centros urbanos do País. A Cidade foi uma das
primeiras do Brasil a receber as atividades da companhia britânica.
Clóvis Bandeira Brasil, nomeado interventor no Município de
Santos, interessou-se pelo relógio da Western, em 1973, quando ela encerrou as atividades no Pais, mas não houve avanços no intento.
Wilma: recuperando o passado
Foto: Irandy Ribas/Arquivo, publicada com a matéria |