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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BOLSA DO CAFÉ
Um palácio para o Rei Café (5)

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O prédio da Bolsa de Café de Santos teve seu projeto divulgado para o público em 1920, como noticiou o jornal santista A Tribuna, em 27 de abril de 1920 (ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria

PALÁCIO DA BOLSA OFICIAL DE CAFÉ
O lançamento da pedra fundamental do grandioso edifício

A cerimônia terá a assistência do exmo. sr. presidente do Estado, membros do governo, do Congresso, alto comércio da capital e desta cidade e autoridades - Outras notas

Conforme foi antecipado, dá-se hoje, com a assistência do presidente do Estado, altos membros do governo, do Congresso, das autoridades locais, estaduais e federais e de representantes do comércio de Santos e S. Paulo, o lançamento da pedra fundamental do palácio da Bolsa Oficial de Café desta praça.

Em sucessivos editoriais, tivemos oportunidade de demonstrar quão necessária se fazia a construção de um edifício destinado ao valioso fator de nosso aparelhamento comercial, que é a Bolsa Oficial de Café, e que condignamente se harmonizasse com a extraordinária importância de nossa praça.

Apraz-nos registrar agora que, com o lançamento, hoje, da primeira pedra, o palácio da Bolsa será, dentro em pouco, uma brilhante realidade, honrando os nossos foros de segundo porto da República e constituindo para o governo do dr. Altino Arantes mais uma inestimável prova de sua ação fecunda e frutuosa.

Mas, incontestavelmente, não fora o infatigável labor, alta visão de progresso e extraordinário espírito de iniciativa do dr. Roberto Simonsen, e, certo, o acariciado projeto não entraria em execução com a rapidez que prazerosamente registramos.

Em verdade, foi s.s. que, pondo mãos à obra por sua própria conta e sem olhar a dispêndios, traçou os planos do grandioso edifício, afirmando a sua alta competência profissional e o seu acendrado entusiasmo pelo progresso desta terra, que é a sua, e que tanto deve já aos empreendimentos de elite com que s.s. se vem impondo à admiração e à simpatia do nosso público.

E, apresentado o projeto do dr. Roberto Simonsen ao governo, tanto ele mereceu, técnica e economicamente, do estudo de nossos dirigentes, que aceito desde logo, foi o respectivo contrato de sua execução assinado com a importante Companhia Construtora de Santos, que o ilustre engenheiro superintende brilhantemente.

São iniciativas, essas, cujo mérito deve ser proclamado bem alto, visto como afirmam a cultura e o valor do meio em que nascem e se corporificam.

Felicitando, pois, o dr. Roberto Simonsen, congratulamo-nos com o nosso governo e alto comércio pelo auspicioso acontecimento que tanto vem dignificar a nossa praça e o município de Santos.

Descrição do edifício - O projeto obedeceu, naturalmente, ao programa indicado pelas necessidades do funcionamento da Bolsa e às prescrições derivadas da situação do local onde vai ser o edifício erigido.

A entrada mais acessível da Bolsa está situada em uma posição, que é como que o prolongamento do trecho da Rua 15 de Novembro, onde se efetua a maior parte das transações de café - e é assinalada por um pórtico dórico-romano.

Entra-se para um hall de conversação, onde se estabelecerá um sistema completo de informações comerciais, contidas em quadros apropriados.

Este hall é circundado de dependências indispensáveis, como salas para correspondência, telefone, correios e telégrafos, vestiário e instalações sanitárias. Recebe luz suficiente pelas aberturas da fachada e por um rico jogo de vitraux que o separa de uma área interior.

À direita do hall de conversação fica a sala destinada ao funcionamento da Câmara Sindical de Fundos Públicos.

À esquerda, o hall dá acesso ao grande salão da Bolsa de Café. Neste salão terão lugar as sessões da Bolsa. O presidente ficará ao centro, bem visível por todos; os corretores, confortavelmente instalados, se podem ver mutuamente, e receber as ordens dos negociantes, que se espalham pela ampla galeria, que envolve a parte que lhes é reservada.

No Salão da Bolsa há um ambiente propício ao desenvolvimento e à magnitude dos negócios que ali se devem realizar.

No fundo do salão, à esquerda, está a sala destinada ao funcionamento da Câmara Sindical dos Corretores de Café, com capacidade mais que suficiente para as suas necessidades, permitindo que os seus membros possam ali se reunir comodamente.

Desenvolve-se, depois, a parte destinada ao funcionamento da Secretaria Geral da Bolsa - com as proporções suficientes para os seus serviços no pavimento térreo.

A secretaria, além de ficar ligada ao salão da Bolsa, tem comunicação para o exterior, pela entrada do edifício sob a torre da praça Azevedo Júnior, por onde tem acesso o pessoal e por onde serão feitas as entregas das amostras de café.

Por esse mesmo pórtico, sob a torre, fica a entrada da Caixa de Liquidação, e das pessoas que procuram o presidente da Bolsa nas horas de seu expediente.

Todos os departamentos que devem funcionar no pavimento térreo serão providos de gabinetes sanitários em número suficiente para as suas necessidades.

Quatro escadas e três ascensores dão acesso aos pavimentos superiores do edifício.

No primeiro andar, sobre o Salão da Bolsa e correspondente ao pórtico monumental da Rua Frei Gaspar, existe uma galeria que se presta admiravelmente para um museu comercial, e de onde se poderá assistir às reuniões da Bolsa.

O resto do andar foi dividido em salas e salões que se prestam para dependências da Caixa de Liquidação, Câmara Sindical de Fundos Públicos, e para sede de firmas comissárias.

No segundo andar, em local isolado, está situada a grande sala de classificação da Bolsa de Café, que se acha ligada à secretaria por um elevador especial para amostras de café.

O resto do segundo andar é destinado especialmente à sede de firmas exportadoras, pela facilidade que há no estabelecimento de clarabóias especiais para a classificação do café.

O terceiro andar foi projetado mais especialmente para escritórios de intermediários, podendo dispor-se, ali, de mais de 30 compartimentos.

A maior parte da fachada desse andar está recuada da fachada principal do edifício, em obediência aos preceitos da higiene contidos no regulamento municipal, que determinam a altura máxima dos edifícios em função da largura das ruas.

Esta exigência deu lugar às fachadas e ao terraço, de onde se desfrutam golpes de vista admiráveis sobre o porto e sobre a cidade.

A arquitetura exterior da construção é inspirada no Renascimento Italiano, e está tratada de um modo severo e rico, ao mesmo tempo, a fim de dar ao edifício todo o caráter da importância que convém a um Templo do Comércio em uma cidade próspera, cuja potência comercial se impõe cada vez mais ao mundo.

E é para fazer ainda mais sobressair toda a solenidade deste palácio, que ele é flanqueado de uma torre de 40 metros de altura, que, elevada ao canto da Praça Azevedo Júnior e da Rua Frei Gaspar, isto é, em frente ao porto, chamará a atenção dos viajantes que demandarem este porto e afirmará orgulhosamente toda a prosperidade alcançada pela cultura e pelo comércio de café.

Essa torre finda por um belvedere ornado de quatro gênios, simbolizando a Indústria, o Comércio, a Lavoura e a Navegação, e terá nas suas quatro faces um grande mostrador, que indicará a hora oficial a grande parte da cidade e do porto de Santos.

Sobre a cúpula, coberta de folhas de cobre, ergue-se um mastro, para nele ser hasteada a nossa bandeira nacional.

Do lado da Praça Azevedo Júnior observa-se o terceiro andar da construção que, somente nesse lado, é visto em conjunto e em harmonia com os demais pavimentos. A fachada, nesta praça, assim elevada, apresenta um belo caráter monumental, de uma importância um tanto especial, pois que se acha em face do porto e bem destacada pela larga zona de recuo que a precede.

Seria desejável que essa fachada pudesse ser isolada das pequenas construções vizinhas por um espaço livre, plantado com arbustos e fechado na frente da rua por um grande pórtico que, esposando o caráter do conjunto da fachada, com ela fizesse corpo.

O alinhamento da fachada do 3º andar está, em geral, separado da linha da fachada restante por terraços, em sua maioria de 6 metros de largura, que o tornam invisível das ruas estreitas que circundam o prédio.

O campo de vista que oferecem as ruas Frei Gaspar e 15 de Novembro é muito pequeno - o que dificultava sobremodo o realce necessário ao edifício. Resolveu-se esse difícil problema criando o pórtico monumental no ângulo Frei Gaspar e 15 de Novembro.

De fato, o espectador que procure, vindo da cidade, o edifício da Bolsa, terá sua atenção atraída pelo caráter grandioso do pórtico de entrada da Bolsa, construído inteiramente em granito, ornado de oito colunas dóricas e de um entablamento encimado por um frontão flanqueado de duas estátuas deitadas, representando Mercúrio, Deus do Comércio, e Ceres, Deusa da Agricultura, simbolizando a riqueza e fecundidade de nossa terra.

Assim, será realçada, no lado da cidade, a importância do edifício, reafirmada ainda pela presença do peristilo circular à cúpula de cobre, a cavaleiro da citada entrada e que serve de abrigo coberto aos terraços superiores.

Do canto da Rua Frei Gaspar e Rua 15 de Novembro, a vista do espectador se poderá estender livremente pelas duas fachadas do palácio, permitindo observar o aspecto majestoso do motivo central na frente Frei Gaspar e sua arquitetura ricamente característica.

Nesta parte central, cujas arcadas se acham abundantemente decoradas de guirlandas de folhas e grãos da rubiácia, se traduz a importância do intenso movimento das transações do café.

No frontão, essa significação se completa com os atributos aí esculturados, simbolizando a cultura, a colheita e a venda do precioso produto.

A planta do arruamento da cidade, que acompanhou o relatório, demonstra que a grande fachada da Rua Frei Gaspar só poderá ser vista em conjunto do canto da Rua 15 de Novembro ou da Praça Azevedo Júnior.


Visto da Rua Frei Gaspar, 7o metros de extensão.
Torreão grande do lado da Praça Azevedo Júnior e torreão menor do lado a Rua XV
Imagem publicada com a matéria

Outras notas - Pelo trem das 10h07, chegará hoje a esta cidade, a fim de assistir à cerimônia do lançamento da primeira pedra do edifício para a Bolsa Oficial de Café em Santos, o sr. dr. Altino Arantes, presidente do Estado, que vem acompanhado dos srs. drs. Cândido Rodrigues, vice-presidente do Estado; Herculano de Freitas, secretário da Justiça e interino da Fazenda; presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados; membros das comissões de Finanças das duas casas do Congresso; dr. Thyrso Martins, delegado geral; presidentes da Junta Comercial, Associação Comercial e Bolsa de Mercadorias de S. Paulo; drs. Cardoso de Almeida e Eloy Chaves, ex-secretários do governo; deputado Sampaio Vidal, ex-secretário da Fazenda do governo passado, e outras pessoas gradas, para esse fim especialmente convidadas.

Na estação, s. exa. será aguardado pelos membros do diretório do Partido Republicano Municipal, membros da nossa edilidade, autoridades municipais, estaduais e federais, representantes do alto comércio e pessoas gradas.

Da estação, seguirão o sr. presidente do Estado e sua comitiva, para o Hotel Parque Balneário, onde, às 12 horas, será oferecido a s. exa. um almoço de 150 talheres, pela Associação Comercial de Santos.

Após, de volta à cidade, realizar-se-á então a cerimônia do lançamento da pedra fundamental do Palácio da Bolsa, devendo, por essa ocasião, usar da palavra o dr. Gabriel Junqueira, presidente da Bolsa Oficial de Café de Santos.

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