Palestra da Profª e Drª Wilma Therezinha Fernandes de Andrade*,
proferida em 25 de agosto de 2005 na CEV (Comissão Especial de Vereadores) dos Canais.
Queremos
agradecer o convite da Comissão Especial de Vereadores, cujo objetivo é preparar as comemorações do Centenário dos Canais. Foi-nos solicitado
que falássemos sobre a obra em Santos de dr. Saturnino de Brito, obra que iniciou uma nova fase de nossa história.
Há algumas propostas para festejar esse evento importantíssimo para
Santos, São Paulo e Brasil, porque significou a melhoria de condições de vida da população, e também progresso para a economia paulista.
Gostaríamos de começar com as homenagens que já existem ao dr. Saturnino
de Brito. Em Santos há uma rua com seu nome, desde 1929. Para lembrar, em 1964, o Centenário do seu nascimento, várias comemorações foram
preparadas e colocadas em prática: a Ponte Pênsil, em São Vicente recebeu o nome Saturnino de Brito e, ali próximo, há uma Avenida com o seu
nome, no Parque Prainha. Também, em Santos, uma ponte entre o canal 1 – Av. Pinheiro Machado - e a Av. Floriano Peixoto recebeu seu nome; uma
estátua foi colocada nos jardins da praia do José Menino, próximo ao canal 1, em que ele aparece de pé, abrindo um mapa, mostrando o
planejamento dos canais; o edifício da Sabesp é Palácio “Saturnino de Brito”; e, no mesmo prédio, existem placas em sua homenagem; e na sede da
Sociedade Amigos da Cidade, um retrato foi colocado; as suas obras completas (24 volumes) foram doadas à Biblioteca Municipal.
Obra importante, especialmente um livro polêmico: “A Planta de Santos”, a
qual comentaremos adiante. Também foi criada a Medalha Saturnino de Brito, muito bonita, nela lê – se no anverso: /“Patrono da Engenharia
Sanitária Brasileira/ 1864 – 1964/. Repartição /de /Saneamento de/ Santos.”
No reverso: /“ 14-07-1964 /Comemoração do/ Centenário /do/ nascimento/ do
ilustre engenheiro/ Francisco Saturnino/ Rodrigues de Brito/ saneador da cidade de Santos/ pelo governo do Estado/ Adhemar de Barros
/Governador.”
Essas são homenagens que conhecemos, foram prestadas em Santos e São
Vicente, ao grande engenheiro e sanitarista.
Segunda metade do século XIX
Mas o porquê das obras dos canais? O problema todo ocorreu por causa das péssimas condições ambientais de Santos, na segunda metade do século
XIX. A cidade tornava-se o “porto do café”, suplantando a exportação de açúcar, mas não estava preparada para isso: não tinha infra-estrutura
para agüentar o volume de exportação de café trazido pela estrada de ferro.
Como havia muito trabalho, ocorreu uma super-população de imigrantes e
brasileiros – na área chamada pelo povo, até hoje, de “cidade”–, embora oficialmente seja Centro. A cidade que se estendia, do Outeiro de Santa
Catarina até o Valongo, sofreu um “inchaço” populacional; usava–se a força animal - cavalos, burros, mulas -, que faziam, antigamente, o papel
hoje dos caminhões. As sacas de café, vindas da estação do Valongo, constituíam estoques nos vastos armazéns, para depois serem embarcadas. A
cidade torna-se poluída, porque é preciso criar numerosas cocheiras. Os animais são alimentados com milho, alfafa e feno, alimentos que também
atraem os ratos e transmitem a peste bubônica. Mas o pior de tudo foi a febre amarela.
Santos é cidade quente, úmida, chuvosa e plana. Havia o encharcamento da
planície, tornava–se o “paraíso” dos mosquitos da febre amarela, principalmente no verão. E aí tem um problema. Hoje, qualquer criança do curso
fundamental sabe que é o mosquito que transmite a febre amarela, mas, naquele tempo, não. Havia muita ignorância sobre a questão. O dr. Carlos
Juan Finlay, médico cubano, já havia alertado para a verdadeira razão da epidemia, mas não foi aceito. Finlay publicou, em 1886, um trabalho e
foi levado a sério pelas autoridades militares norte-americanas que estavam em Cuba. E em 1900 finalmente foi executado um plano de combate à
epidemia de febre amarela, pelo extermínio do mosquito transmissor. Em 1902, Havana já estava livre da mortífera epidemia.
Lembre-se de que, no Rio de Janeiro, em Campinas, Recife, Belém do Pará e
em outras cidades, também houve o flagelo da febre amarela. No Rio de Janeiro, o governo produziu um documento, a título de divulgação, tentando
esclarecer a população, como evitar a doença. Dezesseis recomendações para evitar a febre amarela, entre elas: tomar banho, trocar de roupa,
varrer a casa... Muito interessantes do ponto de vista higiênico, mas nada tinham a ver com a transmissão da moléstia. E havia um alerta muito
curioso: não comer salada! Esse fato mostra o grau de ignorância da época, de como era transmitida a febre e como proceder para evitá-la.
Felizmente, o dr. Oswaldo Cruz aceita a idéia de que era um mosquito que
transmitia a doença e consegue convencer o presidente Rodrigues Alves a evitar medidas demagógicas. Desesperado por causa da epidemia que
assolava o Rio de Janeiro, Rodrigues Alves chamou Oswaldo Cruz ao Catete e pediu-lhe que, ao lado das medidas contra o mosquito, queimasse, em
praça pública, colchões e travesseiros poluídos, para acalmar a grita geral e para que o povo não acusasse o governo de inoperância. Oswaldo
Cruz mostrou ser profissional muito sério e recusou atender ao presidente com delicadeza, porém firme. Rodrigues Alves retirou o pedido e deu
apoio às medidas de Oswaldo Cruz, sentindo que ele tinha razão.
No Estado de São Paulo, a moléstia foi combatida com êxito pelo médico dr.
Emílio Ribas, na passagem do século XIX para o XX.
Santos tinha uma série de epidemias: a febre amarela; mais a peste
bubônica - transmitida pelos ratos -; impaludismo; malária; varíola e a tuberculose, que matavam muito por causa da falta de higiene, da
escassez de água e sistema inadequado de esgoto; a poluição e o adensamento populacional; o desconhecimento de terapias corretas por alguns
médicos; o hábito de as pessoas dormirem com tudo fechado e quando alguém tinha o bacilo da tuberculose transmitia para todos e assim, famílias
inteiras morreram.
No verão, quando a febre amarela devastava a população, as pessoas que
podiam, abandonavam as cidades da Ilha de São Vicente. Carroças percorriam as ruas para recolher os mortos. As epidemias ocorreram de Meados do
século XIX a 1910, aproximadamente, 60 anos fazendo sofrer dia a dia a população e perturbando os negócios do café.
A febre amarela flagelou Santos 31 vezes! A epidemia de 1889 causou 750
óbitos em 15 mil habitantes. A de 1891 ocasionou mil mortes, quase 9,8% da população santista.
O cemitério do Paquetá tornou-se insuficiente e foi necessário abrir um
novo cemitério, bem maior, o da Filosofia (Saboó), em 1892. Por isso o governo resolveu sanear a cidade. Houve até uma proposta de retirar de
Santos o porto do café, para que a produção do planalto paulista fosse escoada através de São Sebastião. O poeta Vicente de Carvalho -
Secretário de Estado - combateu tal idéia, mas sabia-se que alguma coisa tinha que ser feita para que Santos se tornasse viável, do ponto de
vista econômico. Situação desesperadora.
Quando chegavam os navios estrangeiros, ao porto de Santos, para
carregarem o café e outras mercadorias, as companhias armadoras retiravam suas tripulações e mandavam-nas para lugares distantes da cidade. Na
Ilha da Palmas, ficava a tripulação de um determinado navio; outra ia para Ribeirão Pires, outros para a área continental de Santos e só
voltavam para o navio, quando estava pronto para zarpar. E quem trabalhava? Portugueses, espanhóis, italianos, brasileiros - e negros libertados
pela Lei Áurea - que precisavam de empregos. Os que mais facilmente contraíam a doença eram os estrangeiros. Santos tornou-se o “porto maldito”.
Havia anúncios das companhias armadoras, na Europa, que anunciavam que seus navios não paravam no Porto de Santos, como quem diz: pode embarcar
tranqüilo.
Naturalmente as armadoras e empresas comerciais, as casas comissárias
exportadoras começaram a reclamar. Santos estava cheia de casas comissárias, exportadoras assim como a Associação Comercial de Santos (de 1870),
em representação ao presidente da Província de São Paulo resumiu a situação em 8 de maio de 1889.
“O saneamento de Santos torna-se uma necessidade inadiável para garantir
não só a vida da população, mas altos interesses de ordem econômica”.
Pressionado, o governo paulista toma providências. Três comissões projetam
o saneamento de Santos que iniciam seus trabalhos em 1882 e vão até 1885: a Comissão Ferraz; a Comissão Cochrane, a Comissão Lisboa, mas o
projeto escolhido foi o de Saturnino de Brito.
Engenheiro sanitarista
Francisco Saturnino Rodrigues de Brito nasceu em Campos, então Província do Rio de Janeiro, em 14 de julho de 1864 e faleceu em Pelotas (R.S.),
em março de 1929. Engenheiro sanitarista apresentou um projeto que, em linhas gerais, previa o sistema separador absoluto, isto é, propunha a
construção de canais de drenagem superficial e o sistema de esgotos, sem ligações entre si. Os canais seriam para drenar a planície encharcada
de excesso de chuvas e deveriam, também, recolher as águas, através de emissários que correriam ao redor dos morros.
Propunha canais de mar a mar o que quer dizer: eles atravessariam a ilha
de São Vicente, cortando a cidade de Santos. Haveria, também, o sistema de comportas para regular o vai e vem das águas. Na sua genialidade,
previu que o sistema iria depender da ação política e da ação humana, para ligar e desligar as comportas. Mas a maré não tem nada com isso. O
oceano, duas vezes por dia, sobe e duas vezes, desce. Então, o próprio regime das marés oceânicas faria com que as águas dos canais não ficassem
paradas, justamente o que ele queria evitar: o criadouro dos mosquitos.
No início do século XX, em Santos, existiam dois grandes desafios: um, o
saneamento da cidade para acabar com a série epidêmica; o segundo, preparar a cidade para exportar o lucrativo café, que aumenta cada vez mais
com a construção do cais do porto pela Companhia Docas de Santos (CDS), inaugurado em 1892. O que era Santos na ocasião? O Valongo; o Centro e o
Paquetá, na época, uma área residencial fina. O primeiro palacete de Santos foi construído no Paquetá no início da Conselheiro Nébias.
Para combater as epidemias e tornar a cidade saudável, havia duas
comissões, ambas do final do século XIX: A Comissão do Saneamento, chefiada pelo engenheiro Saturnino de Brito; a Comissão Sanitária, dirigida
pelo Dr. Guilherme Álvaro, médico e pessoa extraordinária, que com uma equipe com poder de polícia, esvaziava a super população dos cortiços do
Centro, usando, se preciso, a força. Os dois trabalharam juntos e contribuíram para a salubridade da região.
Outro projeto de Saturnino gerou uma prolongada polêmica com a Câmara
Municipal de Santos. Saturnino elaborou um plano de expansão urbana, seguindo idéias de Camilo Sitte, um italiano que defendia propostas
humanísticas; assim a ordenação urbana deveria respeitar os obstáculos naturais: morros, rios, as edificações históricas e os espaços públicos
antigos, mesmo de traçados irregulares. Saturnino seguiu esses princípios e fez a proposta dos canais, examinando as condições geográficas da
ilha.
Por exemplo: o percurso do “Rio dos Soldados” foi por ele aproveitado para
fazer o traçado do canal 1: começa na bacia do Mercado, atravessa uma parte da cidade, na Av. Rangel Pestana e depois entra na Av. Pinheiro
Machado e atinge a praia do José Menino. Assim o canal 1, de mar a mar, parcialmente, documenta o “Rio dos Soldados” canalizado.
Outro exemplo: no local, onde há Avenida Washington Luis, quando atinge a
praia - separando o Boqueirão do Gonzaga -, existia um rio chamado “Dois Rios”, que ele aproveitou para o traçado do canal 3. Observa-se que
quando chove muito, ele chega a transbordar.
Saturnino fez um plano inspirado na hidrografia dos morros e da planície,
corrigindo a deficiência da drenagem mal resolvida. Constrói os canais de concreto com uma característica interessante: dentro deles, coloca uma
faixa de gramado (que hoje não existe mais) para melhorar as condições da elevada temperatura. Planejou pontes para os veículos e passadiços
para os pedestres para facilitar o trânsito e a travessia dos canais.
No sistema separador absoluto, Saturnino propôs lançar os esgotos. Chegou
-se a sugerir, antes dele, que os mesmos deveriam ser lançados na Ilha Porchat! O sanitarista sugeriu que os mesmos fossem lançados, além da
Ponta de Itaipu, hoje Praia Grande, naquela época, São Vicente. Saturnino estudou o sistema das marés da área e colocou a tubulação em uma
distância tal, de modo que as marés que ali circulavam, não permitissem que o material, lá depositado, voltasse para as praias.
Para levar os esgotos era preciso um enorme e largo tubo, que atravessasse
da Ilha de São Vicente para a área continental, pois ela fica aninhada entre a Ilha de Santo Amaro (Guarujá) e a Ponta de Itaipu, no continente
(Praia Grande hoje). Daí a necessidade de construir uma ponte para sustentar a grande tubulação, surgindo a Ponte Pênsil, intimamente ligada ao
projeto de Saturnino de Brito.
Encomendada na Alemanha, é a segunda ponte pênsil do Brasil. Durante muito
tempo, pensamos que fosse a primeira, mas depois descobrimos que a pioneira foi a de Caxangá, uma ponte menor, em Pernambuco. A Ponte Pênsil
pode ser considerada a primeira pelo grande porte. Ela chegou desmontada e engenheiros vieram para erguê-la. Inaugurada em 1914, permanece em
funcionamento até hoje (2005), tornando ainda mais bela a Baía de São Vicente, motivo de cartão postal.
Ele desenhou as estações de recalque, aquelas construções revestidas de
azulejos verdes e brancos das quais ainda existem algumas, como na Av. Conselheiro Nébias com a Av. Campos Sales.
O custo do projeto de saneamento foi financiado pelo Estado de São Paulo,
porque a Prefeitura santista não tinha recursos suficientes para uma obra de tal magnitude. Qual a verba que o Estado destinou? Á Comissão de
Saneamento foi de quinhentos e cinqüenta mil contos de réis. E quanto foi gasto? Quinhentos e quarenta e quatro mil oitocentos e noventa e oito
contos, trezentos e trinta e nove réis! Sobrou dinheiro da verba!
O engenheiro sanitarista idealizou oito canais aos quais foi acrescentado
mais um. Constituindo o canal 1, a linha mestra de um conjunto com outros cinco canais: o dois (Av. Bernadino de Campos); o três (Av. Washington
Luiz); o sete (Av. Fransisco Manoel); o oito (Av. Moura Ribeiro) e o nove (Av. Barão de Penedo). Estes três últimos recolhem as águas dos morros
do Jabaquara; Marapé e José Menino. Os canais quatro (Av. Siqueira Campos); cinco (Av. Almirante Cochrane) e o seis (Av. cel. Joaquim
Montenegro) vão de mar a mar, independentes do conjunto formado pelo canal 1.
A inauguração do primeiro canal foi em 27 de agosto de 1907, com uma
grande festividade, fotografada, documentada, com ata de inauguração, mostrando grande afluência da população no evento. As pessoas colocaram
barcos dentro do canal 1, e muita gente perguntava se eles foram construídos para transporte, mas o objetivo dos mesmos era a drenagem do solo.
Logo após o início da drenagem superficial, a epidemia de febre amarela foi declarada extinta. Felizmente!
O dr. Saturnino de Brito não pôde ficar aqui os 20 anos que durou a
construção dos nove canais, terminados em 1927, pois como profissional, realizou saneamento em outras cidades como Recife e Belém do Pará. No
início a abertura dos canais ficou sob a direção dele e depois do engenheiro Miguel Presgrave e o encarregado do trabalho foi outro engenheiro:
Joaquim de Oliveira Penteado.
Por volta de 1910, Santos já era uma cidade saneada em grande parte e
todos se convenceram de que o mosquito era o grande vilão da história. Outras providências foram tomadas. O serviço sanitário melhorado;
construíram-se hospitais; isolamentos; foi edificado um novo Matadouro, na Zona Noroeste, dentro de padrões modernos de higiene.
Quando a “cidade”, ou seja, os bairros do Centro, Paquetá e Valongo
tornam-se super povoados e poluídos, com cocheiras, e muitos ratos, as pessoas - que podiam mudaram–se para a Barra, que hoje nós chamamos de
orla da praia, indo morar em chácaras aprazíveis. Grandes chalés dos abastados, construídos como se fossem mansões, projetados por
profissionais, começaram a aparecer junto com os cassinos e grandes casarões. Não devem ser confundidos com os chalés de madeira, casa da classe
pobre e média erguidos muitas vezes clandestinamente.
A ligação entre a área antiga e nova era feita pelos bondes de burros.
Foram abertas as Avenidas. Conselheiro Nébias e D. Ana Costa. A Câmara trabalhou bastante, na época, porque alguns proprietários não queriam
ceder os terrenos para a construção dos canais e abertura das Avenidas, que precisavam atravessar terras particulares. Mais de quarenta
proprietários tiveram que entrar em acordo com a Prefeitura e a Câmara para serem liberados os espaços. Isto não foi nada fácil. Lendo as atas
da Câmara, vê-se que ela trabalhou muito no sentido de atender ao ordenamento de expansão santista. Quem podia transferia -se para a Barra, para
longe da área ocupada nos séculos anteriores. Uma nova Santos surgia. O espaço entre a área antiga e a Barra foi ocupado em terceiro lugar.
Entretanto, Saturnino ficou tão feliz e entusiasmado com o êxito do
saneamento, que resolveu fazer algo mais: preparou um projeto de expansão urbana, em 1910, e o apresentou à Câmara Municipal. Olhando o mapa de
Santos, hoje (em 2005), percebe-se claramente o ordenamento urbano. Aquele canal que chamam de canal 7 da Ponta da Praia é um equívoco da
Prefeitura. Segundo informações da Sabesp, é o canal 1 da Prefeitura que não tem nada a ver com a Sabesp. Ele foi construído, em 1968, atendendo
à necessidade de sanear a Ponta da Praia, o último bairro a ser ocupado pelo avanço imobiliário.
Do ponto de vista de adensamento urbano, o sistema de Saturnino de Brito,
de certa forma, já dera as linhas mestras da expansão. A cidade crescia cada vez mais. Com esse desenvolvimento, Saturnino ficou tão
entusiasmado que elaborou um projeto completo e até os jardins da praia que foram executados muito depois, na década de 1930, no governo do
prefeito Aristides Bastos Machado.
Mas Saturnino, que projetou tudo isso, apresentou seu plano de expansão
urbana à Câmara Municipal, que não gostou, pois tinha um projeto anterior, de 1896, que ignorando as idéias de Camilo Sitte, tomaram toda a área
a ser ocupada e a quadricularam, com todos os quadradinhos iguais. De quadrinho em quadrinho, aqui e ali, colocaram uma letra “p”, que quer
dizer “praça”. Toda cidade seria quadriculada e, em todos os lugares, haveria uma praça, todas sempre iguais, todas do mesmo tamanho. Em suma,
era um primor de mediocridade. Uma coisa horrorosa. Se olharmos o projeto de Saturnino, veremos que ele idealizou grandes avenidas, praças,
jardins, com espaços públicos arejados.
A comparação é inevitável e não deixa dúvidas quanto à excelência do 2º
projeto. Entretanto, a Câmara recusou-o dando origem a uma polêmica. Saturnino, como já vimos, já não morava mais em Santos; mas defendia seu
projeto pela imprensa. Era assim: a Câmara, através de seu jornal, publicava algo contra o projeto e Saturnino respondia pelo jornal “O Estado
de São Paulo”.
A Câmara contratou um grande jornalista, escritor e historiador, Alberto
de Souza, para a réplica. Foi publicado um livro (hoje raro), em 1914, chamado O município de Santos, perante a comissão de saneamento, onde há
um parecer jurídico pelo dr. Nilo Costa e um parecer técnico pelo engenheiro Silva Teles. O engenheiro, que já tinha respondido a todas as
objeções, publicou A Planta de Santos com todas as respostas e documentos anexos, em 1915.
Finalizando, consideramos: é uma das maiores figuras da história de
Santos, porque conseguiu a melhoria das condições de vida, dos seus habitantes, viajantes, tornando a cidade limpa, saudável e bonita.
Ele também viabilizou, economicamente, não só Santos, como também São
Paulo e o Brasil.
Os canais, marca registrada da cidade, com sua extensão, largura, favorecendo a entrada das brisas marítimas, direcionando avenidas, com
frondosas árvores que se refletem nas suas águas, nos passam sensação de tranqüilidade e beleza. Podemos dizer que admiramos Saturnino de Brito
por sua competência e amor a Santos, porque também admiramos e amamos a cidade.
*Dra. Wilma Therezinha Fernandes de
Andrade
Professora de História do Brasil e História Regional, Coordenadora do CDBS – Centro de Documentação da Baixada Santista - da UniSantos; membro
da AFCLAS – Academia Feminina de Ciências, Letras e Artes de Santos -; e da ASL – Academia Santista de Letras; Vice-presidente do MASS – Museu
de Arte Sacra de Santos |