Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0036.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/28/02 21:43:57
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
O mais caro poema

A triste história da perna que reapareceu

Foram dois dias de choro seguido na Câmara de Santos, como relata a matéria do jornal santista A Tribuna em 22/8/1985, na página 34 (última):

Todos choraram no Gabinete

Aconteceu há um mês, quando um senhor forte, de muletas e uma perna amputada, apareceu na Câmara, à procura do presidente Roberto Bonavides. Foi recebido como desempregado, dos muitos que têm aparecido lá todos os dias.

E contou uma história triste: foi picado por cobra e teve que amputar a perna. Tinha dor, e desabafou: "Vou morrer. Mas quero morrer junto com meus filhos, no Ceará".

Bonavides e seus assessores ficaram sensibilizados com o caso. Logo, surgiu um papel, transformado em lista de adesões. Bonavides abriu a lista e fez outros vereadores assinarem. Os assessores também deram algum dinheiro, tudo para comprar a passagem de ônibus até Fortaleza. O homem queria ir morrer com os filhos.

"Peguei dinheiro até do Justo (N.E.:o prefeito Oswaldo Justo), o que é jogo duro", contou Bonavides, gabando-se de ter arrancado uma nota do prefeito.

Mais: arrumou uma ambulância com a Secretaria de Saúde e o homem foi examinado enquanto a lista corria. "Dei café, almoço e janta e nos despedimos quando entreguei a passagem para Fortaleza", acrescenta Bonavides, que conseguiu arrecadar mais Cr$ 450 mil par despesas extras com a viagem até o Ceará (N.E.: para comparação, o salário mínimo era de Cr$ 333.120,00 e os Cr$ 450 mil valeriam cerca de US$ 75, dólar oficial/venda).

O homem chorou. Bonavides também chorou. Nem os assessores conseguiram conter as lágrimas. "Estávamos todos com os olhos marejados", lembra Bonavides. No dia seguinte, a coisa foi pior. O homem apareceu para entregar, com pompa, ao presidente da Câmara, um poema que ele mesmo havia escrito. Um poema de agradecimento, com boa caligrafia e uma mensagem que fez todo mundo chorar novamente.

"Foi uma choradeira só", diz Bonavides, para emendar: "Ninguém escapou, nem a minha irmã (chefe do Gabinete), nem os outros assessores e nem alguns amigos que estavam aqui naquele dia". O presidente ficou tão agradecido que abraçou o homem, confortando-o na sua dor.

No outro dia, Bonavides, ainda emocionado, ligou para o hotel que tinha arrumado para o homem permanecer até o dia da viagem. Queria dar-lhe boa-viagem. Mas o homem já tinha ido para São Paulo. Então, ligou para a empresa do ônibus, no horário da saída, dando o número da poltrona: o funcionário da agência disse que o homem não tinha aparecido.

"É um senhor forte, de muletas, sem uma perna", identificou Bonavides, que pediu ao funcionário que dissesse ao homem para telefonar para a Câmara.

Nada, Passou a hora da partida e o homem não ligou.

Bonavides estranhou o fato e ligou novamente ao funcionário:

"Olha, eu conferi a poltrona, mas quem viajou foi um rapaz com as duas pernas", disse o funcionário, para espanto de Bonavides. Ou seja, o homem vendeu a passagem para outra pessoa, embolsou o dinheiro e também os Cr$ 450 mil das despesas extras.

"Deve ser um vigarista muito fino, porque ele fez todo mundo chorar dois dias seguidos no Gabinete", lamenta Bonavides, para emendar:

"Foi o poema mais caro que já vi...".

Trecho da notícia publicada em A Tribuna de 22/8/1985

QR Code - Clique na imagem para ampliá-la.

QR Code. Use.

Saiba mais