Foto: Luiz Fernando Menezes, publicada com a matéria
A volta do fantasma do Paquetá
Vitor Gomes de Andrade Silva
Após exatos 107 anos sem dar as caras, o fantasma do
Paquetá "reaparece" no mais nobre cemitério da cidade. Trata-se de um curta-metragem, simulando uma suposta manifestação do ser evanescente que
assombrava as imediações do cemitério do Paquetá no início do século passado.
Suas supostas aparições já renderam diversos comentários na Cidade, o que lhe deu
grande fama. E esta popularidade lhe garantiu textos no Almanaque de Santos (1970), na Cartilha da História de Santos (1980) e, até
mesmo, em várias matérias de jornais locais. No entanto, de acordo com o historiador e pesquisador santista Francisco Vazquez Carballa, a verdadeira
história de vida do fantasma nunca foi apresentada, e ele diz conhecê-la.
Há cerca de dez anos, Vazquez Carballa iniciou um trabalho de registro de dezenas de
histórias e lendas relacionadas aos fantasmas santistas, todas baseadas em documentos e entrevistas de pessoas que presenciaram e viveram na época
dos acontecimentos. Mas, de todas elas, a que mais lhe chama a atenção é a do fantasma que vagava no mais nobre cemitério da Cidade. "Tenho um
carinho muito especial pela narrativa de vida e de morte de Maria M., popularmente conhecida como o fantasma do Paquetá. Ela é fantástica, pois
envolve um amor proibido, muitos mistérios e tabus sociais", conta o historiador.
O historiador Francisco Vazquez Carballa pesquisa a sina do fantasma do Paquetá há dez
anos: narrativa envolve amor proibido, mistérios e tabus sociais
Foto: Luiz Fernando Menezes, publicada com a matéria
Conforme Vazquez Carballa, o corpo áureo, que, na época de suas aparições provocou
grande alvoroço, foi da jovem beata Maria M., que viveu em Santos, no final do século 19. "A moça teve um filho com um clérigo ligado à Velha Igreja
Matriz de Santos. Pouco tempo depois de seu nascimento, a criança faleceu (na época havia alto índice de mortalidade infantil). E, por vergonha do
modo como foi gerada, ela foi discretamente enterrada", revela Vazquez Carballa.
"Algumas pessoas que viveram nas imediações do cemitério (como a centenária Matilde
das Neves, que morou na Rua Dr. Cócrane, 179; Maria do Rosário e Clovis Benedito de Almeida), disseram que, naquela época, como se fosse um ritual,
a mulher religiosa ia, diariamente, ao cemitério chorar a morte da criança, sempre por volta da meia-noite. Este momento era o mais apropriado, já
que, neste horário, a maioria das pessoas estava dormindo no aposento de suas casas", explica o historiador.
Conforme Carballa, a devota mulher vinha da esquina da Rua São Francisco de Paula,
seguia vagarosamente pelo gradil do cemitério, na Rua Dr. Cócrane, dirigia-se até o portão principal. Lá, ajoelhava-se, trajando seu típico vestido
da época. Lentamente, ela levantava o seu grande véu (semelhante ao de Verônica, da Semana Santa), com um lenço enxugava as lágrimas e acenava para
dentro do cemitério, em direção à capela. E era exatamente ali que ficava a quadra dos túmulos de crianças.
Ele diz, ainda, que na época não havia velório na capela do cemitério. Desta forma, a
beata, assim que acabava sua manifestação de dor, retirava-se rapidamente para a Rua Bittencourt e, logo, desaparecia. "Pouco tempo depois da morte
de seu filho, a pobre mulher faleceu de tristeza e solidão", conta.
No entanto, mesmo após o sigiloso enterro às pressas de Maria M., muitas pessoas ainda
viam a beata no cemitério. E foi nas frias e escuras noites de julho de 1900 que a população local notou estranhas e macabras características na
mulher, típicas de um espírito evanescente. "A partir deste momento, o que as pessoas viam não era a mulher, mas sim as aparições de seu fantasma",
explica Carballa.
Para conferir o curta, acesse o site Novo Milênio (http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0014.htm).
Foto: Luiz Fernando Menezes, publicada com a matéria
Episódio virou caso de polícia
De acordo com os relatos do jornalista Olao Rodrigues, na Cartilha da História de
Santos (1980), em meados de 1900, um fantasma de uma mulher de longos cabelos negros, que caíam sobre as costas, fazia o mesmo trajeto realizado
por Maria M., quando, em vida, visitava o Paquetá. O assunto foi tão comentado que as queixas na repartição policial aumentavam a cada dia.
Com a intenção de pôr fim àquelas histórias de aparições, o então chefe da repartição
policial, o major Evangelista de Almeida, ordenou que um pelotão de praças da cavalaria fizesse plantão durante a fria noite de 27 de julho de 1900,
em frente ao portão do cemitério.
Naquela madrugada, não houve aparições fantasmagóricas. No entanto, uma platéia de
munícipes curiosos, que desejava presenciar a captura do fantasma, acabou sendo expulsa do local a chicotadas, porretadas e, até mesmo, golpes de
espadas dos cavalarianos. No dia seguinte (28 de julho de 1900), os jornais A Tribuna e Cidade de Santos publicaram textos sobre o
fato.
Imagem: reprodução da primeira página do Jornal da Orla de 28 e 29/7/2007
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