Do plano à ação, há uma grande distância. Ou: na teoria a prática é outra, como diriam os mais experientes. O fato é que em princípios de 1943 se planejava a construção de um estádio municipal na Ponta da Praia. Os planos foram divulgados na edição 60/Ano V da revista paulistana de arquitetura, urbanismo e decoração Acropole, em abril de 1943 (páginas 405 a 412, exemplar no acervo da Hemeroteca Municipal de Santos) - ortografia atualizada nesta transcrição:

"Resolvendo um velho problema e atendendo às mais sadias aspirações do povo de Santos, o prefeito municipal, dr. Antonio Gomide Ribeiro dos Santos, determinou as providências necessárias para ser construído o Estádio Municipal, no mais curto prazo possível.

"A juventude esportiva, por certo, receberá muito mais do que almejava, pois a obra será grandiosa e completa em todos os seus aspectos e esse grande melhoramento resolverá de uma vez para sempre, em nossa cidade, o problema de acomodação para o público, aparelhamento perfeito e completo e as mais modernas, higiênicas e confortáveis instalações para os esportistas.

"Muitos pretendem que essa obra poderia ser feita em tal ou qual prazo, outros acham que a Prefeitura está se demorando na execução do prometido. A título de satisfazer a muitas perguntas que são feitas nesse sentido, vamos rapidamente descrever as providências necessárias para levar avante o empreendimento.

"1 - Escolha do local - Quando se projetou o arruamento da Ponta da Praia, foi prevista uma grande área para uma futura praça de esportes. O local estava, assim, naturalmente indicado. Com a abertura de grandes vias de acesso, inclusive a Avenida Saldanha da Gama, o Estádio ficará numa situação privilegiada.

"2 - Levantamento da zona - Foi feito o levantamento de toda a zona, demarcando-se, o quanto possível, as propriedades existentes, para os efeitos declaratórios de utilidade pública e desapropriações e projetos de drenagem.

"3 - Desenhos topográficos - Esta fase vem depois do levantamento e vem dar a última demão na localização exata em planta.

"4 - Elaboração do decreto-lei e aprovação dos departamentos competentes - Elaborado o projeto do decreto-lei, é ele submetido à aprovação do Departamento das Municipalidades e Administrativo, depois do que é sancionado pelo prefeito. A Prefeitura encontrou a melhor boa vontade dos poderes competentes, que nenhuma objeção opuseram à aprovação do projeto de decreto-lei.

"5 - Declaração de utilidade pública - Aprovado e publicado o decreto-lei, o prefeito, mediante decreto-executivo, declara, como declarou, de utilidade pública as áreas necessárias à construção.

"6 - Anteprojeto e projeto - Definitivamente assentadas as providências legais, foi feito um concurso entre arquitetos nacionais de nomeada, sendo então escolhido o anteprojeto que melhor atendeu às exigências estabelecidas pela Prefeitura, no sentido de bem servir ao esporte, de autoria dos arquitetos srs. Gregório Warchavchick e Isaías de Carvalho Whitaker.

"Para a elaboração do projeto definitivo, depois de muito bem estudado o anteprojeto e consultada a Diretoria de Esportes e Comissão Central de Esportes, assinou-se o contrato e foram tomadas as providências para a sondagem do terreno e o seu nivelamento e projeto de drenagem.

"7 - Desapropriação - A Prefeitura está agindo com toda a presteza, a fim de serem desapropriadas as áreas no menor prazo possível, para o que está certa de contar com a boa vontade e espírito de colaboração dos srs. proprietários.

"Terminada esta última fase, a obra poderá ser iniciada imediatamente.

"Espera-se que brevemente será iniciada a construção.

Imagem: revista Acropole, abril de 1943, página 406

"O conjunto das instalações abrange a área de 76.000 metros quadrados.

"As construções principais compreendem a praça de esportes com capacidade para 26.700 espectadores sentados, piscina coberta e mais dois pavilhões para a prática de tênis, voleibol e bola-ao-cesto.

"Na praça de esportes foi projetada uma pista para corridas de motocicletas, calculada para a velocidade máxima de 160 km/hora, com sobrelevação  nas curvas de 43 graus. Como a velocidade das bicicletas é muito inferior a essa, nas curvas a pista se alarga, apresentando esse aumento inclinação conveniente à velocidade de 60 km horários.

"A construção das arquibancadas, em balanço, resolve o duplo problema da criação de um abrigo externo para o público, à volta de toda a praça de esportes, e a eliminação de espaços internos inúteis.

"O desenvolvimento das arquibancadas atinge, na linha média, 620 metros de extensão. Para evitar aglomeração e congestionamento do público, essa extensão foi dividida em 20 setores, possuindo cada qual a sua entrada independente, bilheteria, instalações sanitárias, bares etc. As bilheterias foram colocadas sob as escadas externas, de ingresso, e as demais peças na passagem de distribuição, situada à altura média das arquibancadas. Na parte inferior foram distribuídas as peças destinadas ao uso dos esportistas etc.

"Os pavilhões são constituídos por pórticos tri-articulados de 45 metros de vão. Na cobertura há uma parte móvel acionada por motores elétricos, que, deslizando sobre trilhos de ferro, pode deixar a descoberto 1/3 da superfície do recinto. Sob as arquibancadas foram colocadas as diversas peças de utilidade para o público e esportistas.

Imagem: revista Acropole, abril de 1943, página 407

"Materiais - Estrutura de concreto armado; paredes de divisão entre os cômodos e externas, de alvenaria de tijolos e entre os w.c., chuveiros e cabines, de placas de granilite; parte móvel da cobertura dos pavilhões, em chapa ondulada de cimento amianto sobre armação metálica; esquadria externa de cabriúva e interna de peroba e cedro; gradis e grades de proteção de ferro; muro de fecho de alvenaria de tijolos com grade de concreto.

"A maquete do Estádio Municipal de Santos foi executada em madeira compensada sobre uma prancha de 1,60 x 2,20 pela firma Orellana & Souza, com escritório à R. São Bento, 309, 1º and. sala 16 - Fone 2-2307 e Studio à Rua Guiará nº 33."