A Revista Commercial foi o primeiro jornal publicado tipograficamente na cidade de Santos, lançado oficialmente num domingo, no dia 2 de setembro de 1849. Acanhado no início,
tinha apenas duas páginas, ou uma só folha, o que o tornava praticamente um sumário. Os primeiros exemplares circularam somente aos domingos, contendo pouco noticiário, mas um número razoável de informações comerciais e marítimas. Seu fundador, o
médico alemão Guilherme Delius era naturalizado brasileiro e professor do Colégio Alemão e intérprete e tradutor juramentado da Alfândega de Santos.
Após alguns meses de experiência, a Revista Commercial passou a ser publicada com quatro páginas e, a partir de abril de 1858, duas vezes por semana, nas terças e sextas-feiras. Em 1861 começou a circular terças, quintas e sábados. Para
facilitar a distribuição e aumentar as vendas, Delius iniciou um sistema de assinatura, onde o interessado desembolsava 5$000 (cinco mil réis) por semestre.
O alemão também comercializava espaços publicitários, que se tornou rapidamente um sucesso na cidade, embora a maior parte dos anúncios era, na verdade, declarações de ordem pessoal:
pessoas que se despediam dos amigos antes de viajar ou mudar de cidade, donos de escravos anunciando sua fuga e até mesmo reclamações públicas contra a Municipalidade ou contra outros indivíduos (vide página ao lado). Normalmente os anúncios eram
cobrados por linha, e custavam cerca de cem réis cada uma.
O primeiro jornal santista era diagramado e impresso numa tipografia pertencente a Delius, localizada na Rua do Rosário (atual João Pessoa). Apesar das boas idéias e do excelente know-how que o alemão trouxe de Hamburgo, sua cidade natal, a
situação não era fácil devido ao alto custo do papel e a ausência de mão-de-obra qualificada, isso sem falar que era reduzido o número de público leitor.
O jornal topou com sérias dificuldades, sobretudo no serviço de distribuição. Via de regra, Delius tinha que se virar para resolver problemas na entrega de jornais, mais notadamente aos
assinantes. A arrecadação não era suficiente para girar o negócio, o que obrigou o pioneiro da imprensa santista a apelar para os bancos. O buraco não parava de aumentar e Delius chegou a hipotecar sua tipografia por duas vezes antes de jogar a
toalha, em 2 de novembro de 1865, quando vendeu sua empresa para uma das figuras mais influentes da cidade: Dr. Antônio Pereira dos Santos, primo de Vicente de Carvalho.
Contudo, o jornal ficou nas mãos de Pereira dos Santos apenas por três anos. No dia 13 de fevereiro de 1868 o empresário vendeu-o, como também a tipografia, aos drs. José Antônio de Magalhães Castro Sobrinho, Ignacio Wallace da Gama Cochrane e
coronel Antônio Ferreira da Silva. Neste período o jornal passou a circular doze dias durante o mês, em datas fixas.
Em 17 de abril de 1872, a Revista Commercial e a Typographia Commercial eram novamente vendidas, desta vez para os irmãos João Carlos e Jorge Elias Behn. Esses, da mesma forma que os anteriores, também não foram bem sucedidos na empreitada.
Assim, naquele mesmo ano de 1872, o jornal pioneiro da cidade encerrou suas atividades. O acervo gráfico foi vendido para o capitão Nolasco Rodrigues Paz, de Rio Claro, que, em janeiro de 1873, passou a publicar o jornal Eco do Povo, naquela cidade
do interior.
Anúncios Curiosos da Revista Commercial
A Revista Commercial tinha uma seção intensa de classificados, com anúncios das mais variadas naturezas: Desde a venda de medicamentos até informações sobre movimentação portuária. Entretanto, o que chamava muito a atenção era o fato de que
o jornal era amplamente utilizado pela população para literalmente passar o recado a alguém, ratificando acordos comerciais, expondo publicamente queixas, etc.
Aqui dois exemplos retirados de jornais da década de 1850.
Anúncio de um sujeito revoltado com a classe médica da cidade
Imagem publicada com a matéria
Anúncio ao lado de um dono de escravo ratificando que não se responsabilizará pela saúde do mesmo, já que o comprador não aceitara os termos
de devolução
Imagem publicada com a matéria
Capa da edição de 20 de janeiro de 1851
Capa da edição de 3 de novembro de 1851
Imagem: Hemeroteca Municipal Roldão Mendes Rosa, de Santos/SP