Por iniciativa do sanitarista Oswaldo Cruz, o Congresso
Nacional aprovou em 31/10/1904 uma lei que tornava obrigatória a vacina contra a varíola, que era encarada com desconfiança pelo povo brasileiro. As
Brigadas Sanitárias, acompanhadas por policiais, entravam nas casas e vacinavam os moradores à força.
Dez dias depois, isso gerou uma revolução, com lojas depredadas, postes de iluminação
destruídos, bondes incendiados pela população do Rio de Janeiro, incitada por políticos contrários ao governo de Campos Salles, que pretendiam
derrubar.
O governo agiu rápido: em uma semana, capturou os amotinados e embarcou-os com
destino ao território do Acre, recém-anexado. Com a vacinação em massa, em poucos meses a varíola desapareceu do Rio de Janeiro.
A notícia a seguir reproduzida foi publicada no Jornal do Commercio de
15/11/1904:
"Cheio de apreensões e receios despontou o dia de ontem . (...) As arandelas do gás,
tombadas, atravessavam-se nas ruas; os combustores da iluminação, partidos, com os postes vergados, estavam imprestáveis; os vidros fragmentados
brilhavam na calçada; paralelepípedos revolvidos, que serviam de projéteis para essas depredações, coalhavam a via pública.. em todos os pontos,
destroços de bondes quebrados e incendiados, portas arrancadas, colchões, latas, montes de pedras, mostravam os vestígios das barricadas feitas pela
multidão agitada. (...) Muito cedo tiveram início os tumultos e as depredações (...)
"Começaram como na véspera: apedrejamentos aos combustores restantes da iluminação
pública, hostilização a qualquer facção da força policial e ataques aos bondes, que eram virados, quebrados e incendiados. (..) Pela rua Senhor dos
Passos, às 7 horas, numeroso grupo de mais de quinhentas pessoas desceu em direção à praça da República, prorrompendo em gritos hostis à polícia e à
vacina obrigatória e assaltando os bondes que, nessa ocasião, ainda chegavam àquele ponto. Os veículos de nºs 113, 27, 55, 105, 87, 104, 38, 41, 85,
56, 31, 13, 129, 101, 130, 95 e 140 foram virados, sendo alguns incendiados. (...) Foi grande o tiroteio que se travou, caindo logo ao chão, feridas
e ensangüentadas, diversas pessoas. (...)
"Estavam formadas em toda a rua do Regente, estreita e cheia de casas velhas, grandes
e fortes barricadas feitas de montões de pedras, sacos de areia, tábuas de portas arrancadas, colchões, bondes virados, latas, fios de arame, postes
e pedaços de madeira arrancados às casas e às obras da Avenida Passos, ali perto. (...) Um robusto homem de cor, que vestia calça e camisa pretas,
achava-se no alto, numa pequena janela, atirando. Ali o alcançou uma bala de carabina que lhe varou o crânio, prostrando-o instantaneamente morto.
(...)
"Duas outras vítimas tombaram mortas nesse embate: um infeliz menino de 12 anos de
idade, de nome Eustachio Maria, que era aprendiz da colchoaria da rua Senhor
dos Passos, nº 262, chegou à janela na ocasião do conflito e logo foi morto por um tiro que lhe varou a carótida. (...) Outro morto, um homem de cor
branca, de bigodes curtos, que vestia camisa de lã, calça de algodão azul e paletó preto, é (...) desconhecido. A bala que o matou penetrou-lhe no
meio da testa. (...) À noitinha, vários ataques à propriedade particular foram levados a efeito. Às 6 e meia, numeroso grupo atacou a fábrica de
velas da Companhia Luz Stearica, em S. Cristóvão, destruindo vidraças, e praticando graves depredações. (...) Também atacaram o Moinho Inglez, na
Gamboa, quebrando vidros (...) e praticando enormes danos." |