Comércio intenso de veículos, autopeças e material para construção, teatro, hospitais, lojas de decoração, bibliotecas, tapeçarias e universidades. Uma região onde o velho e o novo se fundem, num contraste entre construções grandiosas e modernas e antigos chalés, sobradinhos, casas geminadas e igrejas históricas. Assim é a Vila Mathias, o mais extenso bairro da cidade, que completa 120 anos na terça-feira (14).

Conhecido como um pólo comercial de grande variedade desde a década de 1980, o bairro expande seu potencial comercial a cada ano. Mas quem vê o aglomerado de lojas, restaurantes, concessionárias de veículos e tantos outros pontos comerciais não imagina que a Vila já foi um pacato bairro residencial. Os que lá moram há tantos anos não pensavam que sua antiga e simples propriedade seria hoje um cobiçado terreno, disputado por comerciantes e empreendedores, que oferecem quantias generosas para poder transformá-lo em mais um grande negócio.

Mas o bairro tipicamente comercial ainda preserva um pouco do espírito de outros tempos. Entre as grandes avenidas e ruas movimentadas, encontram-se pequenas ruas residenciais, onde antigos moradores ainda lembram do extinto Morro do Lima, da biquinha do Monte Serrat, e dos campos de futebol espalhados pelo bairro.

 

Vila Mathias: Avenida Pinheiro Machado, defronte ao Centro de Cultura

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Na Rua Silveira Lobo, o silêncio e a tranqüilidade parecem ser os mesmos do início do século, quando existia ali um campo de futebol cercado pelo lamaçal do mangue, e apenas três casas, entre elas a da família da aposentada Cidália Rosa Gouveia, 59.

Ela conta que, quando criança, passava todos os dias pelas estreitas vielas entre os chalés a caminho da Avenida Ana Costa, onde pegava o bonde camarão, rumo ao colégio Liceu Feminino Santista, na Rua da Constituição. "Eu ia sempre no reboque (um veículo sem motor, puxado pelo bonde principal), pra não pagar. Como o colégio era perto, até o condutor chegar lá para cobrar, eu já tinha descido. Coisa de criança, né?".

Perto dali, na esquina da extensa Rua Lucas Fortunato com a Avenida Pinheiro Machado, encontra-se o antigo Lanus Bar, que recebe fregueses do bairro e de outras regiões da cidade, cheios de história para contar. O nome do boteco é uma homenagem ao extinto time de futebol do bairro, Clube Atlético Lanus, que foi campeão da divisão varzeana em 1944 e, no mesmo ano, campeão dos campeões. O atual proprietário do local, Welton Pereira dos Santos, diz que o time foi o primeiro a jogar na Vila Belmiro na estréia dos primeiros refletores, quando venceu o Portuários por 1 a 0.

Na Rua Lisboa, restam poucos moradores antigos, mas o sossego também está presente. A criadora de cachorros Parecida Delurds, 64, mora ali há 15 anos, e diz que gosta muito do local, pois a vizinhança é muito cordial e unida. Ela conta que houve um episódio em que uma casa da rua ficou abandonada, e que, aos poucos, o local se transformou em um abrigo de mendigos e usuários de drogas. A vizinhança então se reuniu e chamou a polícia para resolver a situação, que localizou a proprietária e exigiu providências.

O fato de a região ter se tornado um centro comercial não incomoda os moradores. Na verdade, a variedade de produtos, preços e serviços fazem da Vila Mathias um bairro auto-suficiente, um benefício para os que não querem ir longe para encontrar o que precisam. À noite e nos finais de semana, quando o comércio fecha as portas, as ruas ficam extremamente silenciosas, deixando o ambiente ainda mais aconchegante, com jeito de interior. Todos adoram morar na Vila Mathias, seja pela diversidade, pela nostalgia, tranqüilidade ou um pouco dos três. E, se depender da vizinhança, as residências não vão desaparecer da região. "Eu só sairia daqui se encontrasse um lugar mais sossegado que esse. Mas acho que, por aqui, é impossível", afirma dona Parecida.