Ainda não há uma foto do novo bonde, que é vermelho e branco.
Fabricado em 1913 em Graz, na Áustria, circulou em Viena até 10 anos atrás
Imagem publicada com a matéria
Da Áustria a Santos, nos trilhos do bonde
Cidade receberá um veículo austríaco, que
será o sétimo em circulação. A expectativa agora é trazer também um da República Tcheca
Ronaldo Abreu Vaio
Da Redação
A
Áustria vai entrar nos trilhos santistas. Um bonde fabricado na cidade de Graz, mas que rodou pela capital do
país, Viena, será o sétimo carro circulando na frota de Santos. O veículo deve entrar em operação na próxima temporada.
"Ele é perfeitamente acoplável ao circuito de
Santos e está em ótimas condições", adianta o presidente do Santos e Região Convention & Visitors Bureau, Luiz Dias Guimarães, representando a
Prefeitura na Áustria.
A nova estrela do circuito é vermelha e branca – as
cores de Viena e da bandeira do país. Segundo a descrição de Guimarães, ele é uma espécie de bonde camarãozinho, ou seja, todo fechado, como os
bondes portugueses que já circulam em Santos. A diferença é que o espaço reservado ao motorneiro também é fechado – o que não acontece nos
portugueses.
Ele foi fabricado em 1913 e circulou até
aproximadamente 10 anos atrás. Hoje, está em um museu próprio, em Graz, na companhia de outros 36 bondes, a maioria austríacos.
O museu concorda em ceder o seu bonde, mediante a
doação de 10 mil euros. Mas essa exigência não deve fazer o acordo descarrilar. "Estamos vendo se uma empresa austríaca mesmo faz a doação.
Inclusive, o cônsul geral da Áustria em São Paulo está ajudando nisso", diz.
De férias na Europa, Guimarães resolveu unir o útil
ao agradável. Intitulando-se coordenador – informal – do projeto dos bondes, esteve também em Barcelona.
"Lá (em Barcelona) eles têm apenas quatro ou cinco bondes históricos; e são muito apegados. Em princípio, não existe vontade de doar. A única forma
seria a cessão por comodato. Mas aí teria de ser por um período longo para valer a pena".
A próxima parada de Guimarães seria em Praga,
capital da República Tcheca. Lá ele deve conhecer um modelo T3 de bonde, de origem e tecnologia soviéticas.
Se o exemplar puder se adequado às condições santistas, há boas possibilidades de que venha integrar a frota local. "A preocupação é ter uma
diversidade de equipamentos que contemple a evolução tecnológica ao longo das épocas".
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5
quilômetros é a extensão da malha de trilhos do bonde turístico santista |
10 mil
euros é a doação pedida pelo museu de Graz para ceder o bonde |
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Várias bitolas – Na
Companhia de Engenharia de Tráfego de Santos (CET-Santos), o engenheiro elétrico Marcos Rogério Gonçalves Nascimento é o homem dos bondes.
Envolvido no restauro do bonde 32 – o primeiro a circular na linha turística –, ele ainda não sabia da nova aquisição santista. "É mesmo? Fechou?",
reagiu ao saber, por A Tribuna, do bonde austríaco. E já começou a imaginar o trabalho que terá pela frente.
"Não é só quando o bonde está em mal estado (que
precisa de intervenção). É preciso fazer a transposição do bonde, para que ele possa circular na nossa linha". Por "transposição do bonde"
entenda-se o estreitamento das rodas. Isso porque, como ele explica, as bitolas – a diferença de espaço entre os trilhos – difere de lugar para
lugar.
Essa discrepância tem uma origem histórica e
comercial, segundo Nascimento explica. Em 1871, quando surgiram os primeiros bondes a tração animal em Santos, havia muitas concessões.
Eram linhas curtas, às vezes restringindo-se a
apenas um bairro, e os trilhos de cada trajeto tinham medidas diferentes, para que os concessionários de outras linhas não conseguissem usar os que
não fossem seus.
No final do século 19, algumas linhas ficaram mais
fortes do que outras e cresceram. Curiosamente, a medida padrão santista – de 1,35 m – começou na verdade por São Vicente.
"Uma linha importou uma locomotiva alemã, para
puxar mais carros ao mesmo tempo, que usava essa bitola. E depois ela se espalhou".
"É preciso fazer a transposição do bonde, para circular na nossa linha" –
Marcos Rogério Gonçalves Nascimento, engenheiro elétrico da CET
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria
Outros cuidados – A
alma de um bonde são as rodas. É nessa estrutura que estão os motores e, lógico, o sistema de freios. Também é pelas rodas que o bonde se mantém no
trilho nas curvas.
O sistema que faz isso é composto pelos frisos,
construído como se parte dos lados das rodas fosse escavada. Em Santos, esse escavado deixa bordas de 20 milímetros. Com o tempo, é claro, há o
desgaste. E, com o desgaste, a necessidade de manutenção. "Imagine um pneu que vai desencapando. É a mesma coisa. No caso, a duração é de uns dois
anos".
A diferença em relação a outras praças,
especialmente as europeias, é o calor. No verão abrasante dos trópicos, os trilhos muitas vezes se dilatam. Por isso, o sistema aqui também tem que
ser adaptado.
Em linha reta, os trilhos recebem uma espécie de
tala nas junções, que absorvem a dilatação. O problema são as curvas.
"Você não tem junção nas curvas, é sempre um trilho
só. Se a curva tem 30 metros, o trilho também. Isso é feito com uma solda especial, luminotérmica, que faz com que os pedaços de trilho se fundam em
um só". |