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Notícias do bonde:

A TRIBUNA, 21/MARÇO/2012 (página A-8)


Ainda não há uma foto do novo bonde, que é vermelho e branco. Fabricado em 1913 em Graz, na Áustria, circulou em Viena até 10 anos atrás

Imagem publicada com a matéria

Da Áustria a Santos, nos trilhos do bonde

Cidade receberá um veículo austríaco, que será o sétimo em circulação. A expectativa agora é trazer também um da República Tcheca

Ronaldo Abreu Vaio

Da Redação

A Áustria vai entrar nos trilhos santistas. Um bonde fabricado na cidade de Graz, mas que rodou pela capital do país, Viena, será o sétimo carro circulando na frota de Santos. O veículo deve entrar em operação na próxima temporada.

"Ele é perfeitamente acoplável ao circuito de Santos e está em ótimas condições", adianta o presidente do Santos e Região Convention & Visitors Bureau, Luiz Dias Guimarães, representando a Prefeitura na Áustria.

A nova estrela do circuito é vermelha e branca – as cores de Viena e da bandeira do país. Segundo a descrição de Guimarães, ele é uma espécie de bonde camarãozinho, ou seja, todo fechado, como os bondes portugueses que já circulam em Santos. A diferença é que o espaço reservado ao motorneiro também é fechado – o que não acontece nos portugueses.

Ele foi fabricado em 1913 e circulou até aproximadamente 10 anos atrás. Hoje, está em um museu próprio, em Graz, na companhia de outros 36 bondes, a maioria austríacos.

O museu concorda em ceder o seu bonde, mediante a doação de 10 mil euros. Mas essa exigência não deve fazer o acordo descarrilar. "Estamos vendo se uma empresa austríaca mesmo faz a doação. Inclusive, o cônsul geral da Áustria em São Paulo está ajudando nisso", diz.

De férias na Europa, Guimarães resolveu unir o útil ao agradável. Intitulando-se coordenador – informal – do projeto dos bondes, esteve também em Barcelona. "Lá (em Barcelona) eles têm apenas quatro ou cinco bondes históricos; e são muito apegados. Em princípio, não existe vontade de doar. A única forma seria a cessão por comodato. Mas aí teria de ser por um período longo para valer a pena".

A próxima parada de Guimarães seria em Praga, capital da República Tcheca. Lá ele deve conhecer um modelo T3 de bonde, de origem e tecnologia soviéticas. Se o exemplar puder se adequado às condições santistas, há boas possibilidades de que venha integrar a frota local. "A preocupação é ter uma diversidade de equipamentos que contemple a evolução tecnológica ao longo das épocas".

 

5 quilômetros é a extensão da malha de trilhos do bonde turístico santista

10 mil euros é a doação pedida pelo museu de Graz para ceder o bonde

 

Várias bitolas – Na Companhia de Engenharia de Tráfego de Santos (CET-Santos), o engenheiro elétrico Marcos Rogério Gonçalves Nascimento é o homem dos bondes. Envolvido no restauro do bonde 32 – o primeiro a circular na linha turística –, ele ainda não sabia da nova aquisição santista. "É mesmo? Fechou?", reagiu ao saber, por A Tribuna, do bonde austríaco. E já começou a imaginar o trabalho que terá pela frente.

"Não é só quando o bonde está em mal estado (que precisa de intervenção). É preciso fazer a transposição do bonde, para que ele possa circular na nossa linha". Por "transposição do bonde" entenda-se o estreitamento das rodas. Isso porque, como ele explica, as bitolas – a diferença de espaço entre os trilhos – difere de lugar para lugar.

Essa discrepância tem uma origem histórica e comercial, segundo Nascimento explica. Em 1871, quando surgiram os primeiros bondes a tração animal em Santos, havia muitas concessões.

Eram linhas curtas, às vezes restringindo-se a apenas um bairro, e os trilhos de cada trajeto tinham medidas diferentes, para que os concessionários de outras linhas não conseguissem usar os que não fossem seus.

No final do século 19, algumas linhas ficaram mais fortes do que outras e cresceram. Curiosamente, a medida padrão santista – de 1,35 m – começou na verdade por São Vicente.

"Uma linha importou uma locomotiva alemã, para puxar mais carros ao mesmo tempo, que usava essa bitola. E depois ela se espalhou".


"É preciso fazer a transposição do bonde, para circular na nossa linha" – Marcos Rogério Gonçalves Nascimento, engenheiro elétrico da CET

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

Outros cuidados – A alma de um bonde são as rodas. É nessa estrutura que estão os motores e, lógico, o sistema de freios. Também é pelas rodas que o bonde se mantém no trilho nas curvas.

O sistema que faz isso é composto pelos frisos, construído como se parte dos lados das rodas fosse escavada. Em Santos, esse escavado deixa bordas de 20 milímetros. Com o tempo, é claro, há o desgaste. E, com o desgaste, a necessidade de manutenção. "Imagine um pneu que vai desencapando. É a mesma coisa. No caso, a duração é de uns dois anos".

A diferença em relação a outras praças, especialmente as europeias, é o calor. No verão abrasante dos trópicos, os trilhos muitas vezes se dilatam. Por isso, o sistema aqui também tem que ser adaptado.

Em linha reta, os trilhos recebem uma espécie de tala nas junções, que absorvem a dilatação. O problema são as curvas.

"Você não tem junção nas curvas, é sempre um trilho só. Se a curva tem 30 metros, o trilho também. Isso é feito com uma solda especial, luminotérmica, que faz com que os pedaços de trilho se fundam em um só".

Os santistas


40 – É o atual "carro do Santos" (estilizado com as cores e motivos do Santos F. C.). O truque é da fabricação da escocesa Hurst Nelson, mas a carroceria é daqui, do antigo SMTC (Serviço Municipal de Transporte Coletivo). Na ativa desde 2002

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria


38 – Originário de Santos, esteve durante muito tempo em São Paulo, ornando a entrada do Museu do Imigrante, onde era usado por usuários de crack para consumir drogas. Foi reincorporado à Cidade e entrou em operação em 2010

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria


32 – É o bonde aberto, escocês, importado por Santos em 1911. Foi o primeiro a começar a operar na linha turística, em setembro de 2000. Está desde 2009 passando por restauro. Deve voltar aos trilhos ainda no primeiro semestre deste ano
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

Os estrangeiros



Os dois portugueses, da cidade do Porto. São da década de 20, fabricados pela norte-americana J. G. Brill – uma das maiores fábricas do mundo. Começaram a operar em 2004 e 2005

Fotos: Davi Ribeiro, publicadas com a matéria


O italiano entrou na linha santista em 2010. Foi fabricado pela Fiat Master Fer (Material Ferroviário), em 1958. Isso mesmo: uma divisão da Fiat, que fabricava trens e chegou a fornecer locomotivas a Buenos Aires, desenhou o bonde para a cidade de Turim

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria