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Notícias do bonde:

19/JUL/2000

ANTIGOS FUNCIONÁRIOS DO SMTC VÃO ATUAR NO BONDE TURÍSTICO

Dos 12 antigos motorneiros e condutores de bondes que se inscreveram no Projeto Vovô Sabe Tudo, da Secretaria de Ação Comunitária e Cidadania (Seac), quatro foram selecionados para atuar como instrutores do bonde turístico, que começa a funcionar no centro histórico de Santos em meados de agosto. São eles, por ordem de classificação: Airton Silva Reis, 69 anos; Adhemar Erico do Nascimento, 64 anos; Aderbal de Godoy, 70 anos, e José Soares Fontes, 73 anos. Também foram aprovados na avaliação realizada na semana passada, na sede da Companhia de Engenharia de Tráfego, os ex-motorneiros Josué Jerônimo de Campos e Antônio da Silva, que aguardarão a ampliação do projeto.

A comissão de avaliação foi integrada por representantes da Seac, da Secretaria de Esportes e Turismo (Setur) e  da CET. A lista dos aprovados foi publicada no Diário Oficial de Santos de terça-feira (18). A notícia foi recebida com muita alegria pelos idosos, que garantem estar dispostos a contribuir com sua experiência e conhecimentos sobre Santos e o serviço de bondes. Nos próximos dias, eles serão chamados para fazer um treinamento, devendo receber ajuda de custo da Prefeitura de um salário mínimo mensal. Na rápida entrevista que concederam, contaram um pouco de suas vidas e do trabalho ao qual dedicaram amor e profissionalismo por muitos anos.

Airton Silva Reis, que pela sua baixa estatura era apelidado de salário mínimo, trabalhou no Serviço Municipal de Transportes Coletivos (SMTC) de 1956 até 1970. É solteiro e ainda trabalha como autônomo. Entrou na empresa na função de condutor de bonde, que era quem cobrava as passagens e dava a ordem para o bonde sair ou parar numa emergência qualquer, e nessa função ficou só por oito meses. Progrediu e passou a fiscal de linha. Quando o serviço de bondes terminou, em fevereiro de 1971, seo Airton passou para almoxarife e trabalhou em vários setores da empresa. Ele recorda o rigor das chefias da época, quando andava pendurado nos estribos: "Elas diziam perdoar tudo, menos perder a hora de pegar a escala. Na primeira vez, o empregado era suspenso, na segunda era demitido".

Adhemar do Nascimento, viúvo, também foi condutor de bonde de 1959 até 64, com a chapa nº 394. Trabalhou em todas as linhas, mas gostava mais da 19, que fazia o trajeto do cais. "O percurso era mais longo, portanto fazíamos menos viagens e era menos cansativo". Lembranças tristes para ele foram alguns colegas que sofreram acidentes de trabalho, "porque passavam do bonde para o reboque, e vice-versa, e acabavam caindo no meio. Morreram vários", lamenta.

Na SMTC, Aderbal de Godoy foi motorneiro da linha 10 por 16 anos, até 1970. "Estou muito feliz, depois de 30 anos, voltar a subir num bonde de verdade para contar a sua própria história", confessa. Como tantos outros companheiros da época do serviço de bondes, Aderbal transportava jornais, nas primeiras horas da manhã, e ia deixando nas bancas conforme parava o elétrico. Conta que fez grandes amizades entre os muitos fregueses que tinha na linha 10, e ainda festeja a vez que achou dentro de um bonde uma bolsa de dinheiro com valor equivalente ao preço de uma casa. "Entreguei na SMTC e o dinheiro ficou no cofre até aparecer o dono, que aliás eu conhecia. O assunto mereceu destaque no Repórter Esso".

José Soares Fontes, 73 anos, trabalhou como motorneiro, de 1959 até 1971, na linha 13, que fazia o trajeto Ponta da Praia/São Vicente. Depois que acabou o serviço de bondes, e para não perder o costume de dirigir, foi ser manobrista na garagem de ônibus do Jabaquara, até se aposentar em 1983. Uma época que trabalhou na linha 4, na Rua Alexandre Martins com a praia, seo José viu cair do braço de uma freguesa a mais bela pulseira de ouro que já vira. Apanhou rápido a jóia e entregou à dona.