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HISTÓRIAS E LENDAS DE S. VICENTE - RELIGIÃO
Procissões e festas religiosas vicentinas (2)

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Da mesma forma que em outras cidades da região, as manifestações religiosas em São Vicente passam por significativas mudanças, como o encurtamento das procissões para não prejudicar o trânsito de veículos. Uma dessas procissões é a de São Vicente Mártir, a seguir descrita pelo professor e pesquisador de História Francisco Carballa:

Procissão de São Vicente Mártir, em 22 de janeiro de 1996, às 18 horas

Foto: Francisco Carballa

Festa de São Vicente Mártir
Dia 22 de janeiro


Sua festa sempre foi realizada no dia 22 por ser feriado na cidade e o dia em que esta recebeu o foral de Vila em 1532, sendo na verdade o seu reconhecimento ou oficialização perante Portugal.

Nesse dia havia missa festiva na velha Matriz, no período da tarde, onde a relíquia do mártir ficava em uma caixa de madeira toda trabalhada, semelhante à que se encontra na igreja do mesmo nome na Ilha da Madeira. Depois da procissão, ficava sobe um baldaquino de tecido adamascado vermelho.

Às vezes, a missa era depois da procissão, mas quase sempre ocorria antes de procissão, quando saía à frente a cruz processional colonial, toda feita em prata, ladeada de duas lanternas de procissão. As filas dos fiéis seguiam uma de cada lado, e crianças vestidas de anjos acompanhavam no meio, seguidas do estandarte do Sagrado Coração de Jesus, tendo logo atrás o do Sagrado Coração de Maria e finalmente o de Nossa Senhora do Rosário de Pompéia.

A relíquia de São Vicente o Mártir de Saragoça era transportada quase sempre por monsenhor Borosqui, debaixo de uma umbela dourada. Finalmente, o andor, adornado com ricos damascos vermelhos, pingentes gigantes dourados e flores vermelhas delicadas, tendo a imagem do padroeiro com seu rico resplendor e palma de prata (objetos muito antigos de arte vindos de Portugal no período colonial).

A procissão seguia por ruas vizinhas até a frente da Prefeitura, onde era feita a benção com o relicário, retornando em seguida. Quando o cortejo chegava quase defronte da Matriz, passava por ricos tapetes de serragens e flores, elaborados pela família Missé. Ainda recordo de sempre prevalecer o desenho do mártir e da fachada da matriz. Nesse ponto, começavam a repicar os sinos para a entrada triunfal da procissão na igreja.

Em um ano, quando foi fundada a Matriz em Humaitá (de que o beato e padre José de Anchieta é o orago), a sua relíquia (osso do fêmur) foi também levada debaixo da umbela dourada pelo monsenhor Borósqui.

Curiosamente, havia uma senhora que só cantava nesse dia justamente o hino do Mártir, contando-se que ela se guardava o ano inteiro para isso. Sendo soprano, atingia alta nota musical. Ela dizia que a imagem de São Vicente foi colocada no baldaquino do altar mor, somente no inicio do século XX, quando tiraram a imagem da Nossa Senhora da Assunção (hoje ela se encontra no Museu de Arte Sacra de Santos). Tais lembranças mostravam sua idade avançada.

Particularidades da Matriz entre 1977 a 1987:

Existiam duas imagens do padroeiro: uma feita em madeira (que nunca saía do altar-mor) e a cópia feita em gesso (que ainda hoje é usada no dia da festa).

Na sacristia também se pode ver, ainda hoje, o antigo lavabo feito em pedra que tem uma carranca; encontramos outro semelhante na matriz de Itanhaém, mas sem a carranca. Igualmente, nos três nichos da sacristia estavam as imagens de Nossa Senhora da Conceição (imagem de barro do século XVI venerada com o título da Assunção), a imagem de Nossa Senhora do Rosário (em madeira) Colonial e Santa Ana Mestra (em pé, com a Virgem Maria ao colo, que hoje também se encontra no MASS). Num canto, ficava a imagem do Senhor dos Passos, ainda hoje usada na Procissão do Encontro no domingo de Ramos; entre todas essas belas obras antigas, ficava um crucifixo de altar muito lindo, do século XVIII.

A igreja Matriz sofreu mais uma grande reforma (após o incêndio que destruiu seu presbitério na última década do século XX), que tirou as características do início daquele século - entre elas, os quatro altares laterais que mostravam (do lado esquerdo) a imagem do Sagrado Coração de Maria próximo do presbitério, Nossa Senhora do Rosário próximo da porta. Do lado direito estava o altar do Sagrado Coração de Jesus, próximo à porta e Nossa Senhora das Dores, próxima ao presbitério (pode haver discordância quanto à posição dos altares, mas as devoções eram as aqui citadas).

O piso foi recolocado ao nível antigo, feito em madeiras muito grandes e grossas, e dos quatro altares restou apenas um nicho de cada lado com as imagens do Coração de Jesus e Maria; no lugar de Santo António (que é a imagem mais antiga do Brasil), foi colocada a imagem da Senhora da Conceição do início do século XX (quando teria saído da antiga matriz de Santos em procissão para a matriz de São Vicente). Havia no teto da nave e do presbitério lindas pinturas que diziam ser de Bendito Calixto.

No presbitério estavam representados os números em algarismos romanos do Decálogo em tábuas acinzentadas, distribuídas pelo forro e no meio os instrumentos do martírio, entre eles as unhas de ferro, os archotes, o látego, a assadeira e finalmente o corvo em cima de uma embarcação em referência ao milagre dos mesmos pássaros que ficaram sobre o corpo de São Vicente no manguezal (evitando que os animais chegassem perto, até este ser recolhido e sepultado pela comunidade cristã de Saragoça).

No teto da nave, que era visto de fora através de suas janelas, havia uma pintura gigante do mártir com sua dalmática vermelha, tendo nas mãos a palma e a representação da embarcação com o corvo. Ao seu lado direito estava a assadeira romana de carneiros e porcos (usada no martírio) e aos seus pés os demais objetos de tormento. Triunfante, ele olhava para a frente com certa confiança e sorriso, como uma mensagem positiva para os fiéis, sendo muito procurado em casos de fraturas (para cuja cura é invocado, o que está associado aos seus ossos - quebrados no cavalete devido à sua recusa em renegar Jesus Cristo e sua fé em Deus).

Depois do incêndio da década de 1990, essas pinturas sobre tecido desapareceram: as do presbitério, danificadas durante o incêndio, e a do mártir, durante a restauração.

Procissão de São Vicente Mártir, em 22 de janeiro de 1996, às 18 horas

Foto: Francisco Carballa

HINO DE SÃO VICENTE MÁRTIR

I
Não conseguiu o tirano;
O governador Daciano;
Perverte o ardor de São Vicente;
Multiplicou os seus tormentos;
Requintou os seus inventos;
De torturas só em vão, só em vão.

Ó São Vicente, martirizado;
Ó São Vicente, martirizado;
A fé ardente;
A fé ardente;
Foi teu cajado, teu cajado.

II
Os seus membros; se distenderam;
Num cavalete seus ossos romperam;
Deram-te um leito de brasas;
Mas suas carnes se reergueram;
Com furor e com ardor;
Na fé de Nosso Senhor, Nosso Senhor.

Ó São Vicente, martirizado;
Ó São Vicente, martirizado;
A fé ardente;
A fé ardente;
Foi teu cajado, teu cajado.

São Vicente martirizado,
São Vicente martirizado,
São Vicente Viva, Viva, Viva!

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