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TRILHOS (87)
Saudade, apenas três anos após o fim
Após a extinção do serviço santista de bondes, em 1971, a população começou a verificar que as alternativas não eram melhores como se dizia, e a perceber que outras razões influíram na decisão de acabar de modo tão intempestivo com esse transporte. Este sentimento, apenas três anos depois, era registrado pelo jornal santista A Tribuna, na edição de quinta-feira, 28 de fevereiro de 1974, página 3:

Bondes lembrados com saudade, 3 anos depois

Há três anos, nesta data, era extinto o serviço de bondes do SMTC. Segundo os arquivos da autarquia, o último bonde a recolher foi o de prefixo 253, da linha 42, exatamente à 1,40 hora do dia 28 de fevereiro de 1971.

Para o SMTC, "a extinção do serviço de bondes em Santos tornou-se fato irreversível a partir do momento em que os elétricos passaram a acusar déficit operacional, acusando receita inferior à despesa. O progresso decorrente da implantação da indústria automobilística foi outro fator importante, porque à medida em que o setor de autopeças de veículos diesel e a gasolina ganhava desenvolvimento (com maiores facilidades para peças de reposição), ficava cada vez mais difícil a importação de peças para os bondes".

Outra justificativa do SMTC: "A modernização dos transportes em todo mundo, com a introdução de veículos mais confortáveis e mais rápidos no transporte das massas. Os bondes, limitados aos trilhos e à baixa velocidade, nunca teriam condições de concorrer com os ônibus diesel, mais rápidos e com raio amplo de ação, o que lhes proporciona maior mobilidade, podendo fugir aos congestionamentos e seguir itinerários diferentes dos costumeiros, de acordo com as necessidades".

Começo do fim – O primeiro golpe contra os bondes, segundo consta dos arquivos do SMTC, partiu do ex-prefeito de São Vicente, Orlando Intrieri, que solicitou a retirada dos elétricos das praias do vizinho município, "atendendo a imperativos do progresso". O golpe, entretanto, só foi consumado na administração do interventor Lincoln Feliciano, depois de o prefeito Charles Alexandre de Souza Dantas Forbes haver "proibido o tráfego de bondes do SMTC pela orla marítima de São Vicente".

Há 15 anos, conforme consta dos arquivos da autarquia, foi expedido aviso ao público sobre a retirada dos bondes das linhas 2, 12,22 e 23, que deixaram de circular numa tarde de segunda-feira, dia 16 de outubro. O mesmo aviso dava conta de que "os bondes passam a fazer ponto final na divisa com São Vicente, no bairro do José Menino, dali retornando para o Centro. Os carros da linha 32 serão absorvidos pela linha 33, recém-criada, enquanto os da linha 2 serão absorvidos pela linha 3, que faz ponto final no José Menino".

Depois do fim dos bondes Santos-São Vicente, via praia, foi a vez dos elétricos da linha 1, via Matadouro, que um mês antes de serem extintos oficialmente não puderam circular pela Avenida Nossa Senhora de Fátima: ficaram bloqueados por milhares de automóveis da Capital que, procedentes de São Vicente, rumavam para a Via Anchieta.

A outra face – Os arquivos do SMTC, entretanto, não rgistram um outro fato irreversível: enquanto o bonde transportava 300 passageiros em cada viagem, para transportar idêntico número de usuários havia e há necessidade de, pelo menos, quatro ônibus diesel ou dois trólebus, desses que estão em uso pela autarquia. Outra diferença: na operação dos bondes eram necessários paenas o condutor e o motorneiro, enquanto que para quatro ônibus diesel – além dos diferentes custos entre o diesel e a energia létrica – são necessários quatro motoristas e quatro cobradores.

Até agora, a população santista que conheceu o serviço de bondes da ex-Cia. City, e sofre nas filas à espera dos ônibus diesel e dos trólebus, não entende a extinção dos street-cars, de saudosa memória. Nem a sua retirada das praias, onde deveriam ser conservados ao menos como atração turística. Esta afirmação baseia-se nos esforços da Cidade para promover turismo, principalmente o chamado turismo doméstico proporcionado pelos visitantes dos fins de semana e dos feriados prolongados.

Melhor ou pior? – Quando os bondes foram extintos, o SMTC assumiu compromisso com a população, até agora não concretizado: o de substituir por ônibus diesel, em igual número, aquele meio de transporte. Quando da retirada dos bondes Santos-São Vicente, a autarquia possuía perto de 120 elétricos em circulação e hoje, mais de dez anos depois, dificilmente estão nas ruas mais de 120 ônibus diesel.

Esse déficit vem sendo suprido por empresas particulares que, rotuladas de intermunicipais, fazem serviço tipicamente urbano, prejudicando a Municipalidade com a concorrência desleal, mas servindo à população com transporte razoável, na falta dos coletivos do SMTC.

A direção atual do SMTC talvez não possa confessar que houve precipitação quanto ao término dos serviços dos bondes. Quando muito, o SMTC dirá na atualidade que "foi aplicada uma filosofia da época, executando-se um plano que não chegou a ser completado por motivos diversos, já conhecidos da população".

Para os 40 mil motoristas de carros particulares de Santos, os bondes já acabaram tarde: só serviam para atrapalhar o trânsito. Os outros 350 mil moradores da Cidade, que não possuem carro e enfrentam as filas nos pontos terminais dos coletivos, viajam apertados nos diesel fumarentos ou recorrem aos "amarelinhos" que cobram mais, certamente pensam de forma diferente quanto aos bondes.
(N. E.: "amarelinhos" eram os ônibus interurbanos, assim apelidados pela sua cor predominante).


A retirada dos bondes foi imposição do progresso

Foto publicada com a matéria


O bonde santista trafegou também pelos trilhos do idioma...

Carlos Pimentel Mendes