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TRILHOS (85)
Nem para o museu
A ordem era destruir tudo, como relata o jornal Cidade de Santos, na edição de 15 de julho de 1973 - páginas 1 e 3:


"BONDES VENDIDOS COMO SUCATA - Toneladas de peças dos antigos bondes, agora transformados em sucata, foram retiradas na sexta-feira, dos pátios da SMTC, na Vila Matias. Além das peças, foram vendidos vários bondes inteiros e 40 ônibus"

Foto e legenda publicadas com a matéria, na página 1

SMTC vendeu seus bondes como sucata

Os candidatos aos exames de Madureza, inscritos no GE da Vila Matias, assistiram, sexta-feira, à retirada de toneladas de peças dos antigos bondes, agora desmontados e transformados em sucata. Os trabalhos de remoção começaram às 8 horas e, logo no início da tarde, três jamantas já carregadas levaram o material para São Paulo.

Às 16 horas, o FNM WC-0184, de Santa Cecília (Santa Catarina) também já estava pronto para partir, em frente à SMTC, na Vila Matias. Dentro da autarquia, na Rua 1º de Maio, o Mercedes OS-0803, de São Paulo, e o Chevrolet de Santos, placa WP-3353, vidros, madeira, ferro, rodas dos antigos bondes.

O material está indo para usinas do Rio Grande do Sul, enviado pelo comprador, a firma Navarro Comércio Ferros Metais Ltda., de São Paulo, com exceção da madeira, que está sendo doada ao Asilo dos Inválidos.

A Navarro Comércio Ferros Metais Ltda. adquiriu os 46 bondes inteiros (o desmonte está correndo por conta da firma) em lotes que incluíram vários equipamentos como tambores e maquinários. Destes, apenas três (2 para Curitiba e um para Santa Bárbara do Oeste). Vinte já foram desmontados para revenda, como sucata, enquanto os outros começarão a ser desmanchados esta semana.

O SMTC está exigindo a retirada do material já transformado em sucata com urgência. A limpeza total deverá terminar até o fim de agosto.

Desafio de Fabiano - Apesar do desafio lançado em plenário ao interventor, pelo vereador Nelson Fabiano Sobrinho, do MDB, sobre a venda dos bondes. "Se não há nada a esconder que responda às minhas perguntas" até hoje não houve qualquer pronunciamento da interventoria. Em requerimento aprovado pela própria Arena, o vereador Nelson Fabiano queria saber, entre outras coisas, quais as firmas que se habilitaram na concorrência aberta pelo SMTC para a venda dos bondes; qual a firma vencedora da concorrência; qual o valor arrecadado com a venda dos bondes, por unidade, quantos foram vendidos como sucata e qual a importância arrecadada com essa venda.

Sobre a importância paga ao SMTC, ninguém soube informar, "porém, dará um bom dinheiro. Tudo isso que está no pátio, aqui - Rua 1º de Maio - e lá atrás foi vendido". O proprietário da firma também não quis informar a quantia paga à autarquia, mas afirmou que, incluindo suas despesas (desmonte dos bondes e transporte da sucata) gastou 400 mil cruzeiros.

Quarenta ônibus já inutilizados também foram vendidos, para uma firma de Campinas. Dentro da autarquia, já se fala na abertura de nova concorrência pública, daqui a 4 ou 5 meses, para a venda de mais sucata.


Foto publicada com a matéria, na página 3

Dando nome aos bois

Os cobradores de ônibus do SMTC estão devolvendo à circulação os passes que recebem, sonegando o troco aos passageiros. Essa prática é abusiva e criminosa, uma vez que a devolução de passes à circulação disfarça uma emissão de dinheiro.

A sonegação do troco por tais servidores, já a comprovei por mais de uma vez, só não conseguindo identificar cobradores por falta do quepe e seu número, que antes usavam para isso.

Uma das causas da sonegação de troco nos ônibus, está no bom negócio que cobradores fazem levando as moedas a estabelecimentos comerciais dos quais recebem ágio ou mercadorias de graça, na transação. Sei de um desses estabelecimentos, aonde vão, à noite, cobradores de ônibus fazer sua operação de troca de moedas.

Um outro aspecto da irregularidade, acredito que esteja em instruções dos encarregados da arrecadação das férias dos coletivos, levando os cobradores a se desfazerem das moedas antes do recolhimento para evitarem o trabalho de sua contagem e empacotamento, para depósitos em bancos.

O serviço de transportes coletivos, explorado por empresa sob controle acionário da municipalidade, não pode ficar exposto a irregularidades, quaisquer que sejam, menosprezando o direito do usuário e, em última análise, contribuinte do erário do município.

E a administração indireta do serviço público, tem o dever de dar boas contas ao povo, sob pena de responsabilidade além das provavelmente previstas pelo seu regulamento interno.

O Legislativo Municipal, abúlico e inoperante, não tem condições de dar cumprimento a uma fiscalização que seria de suas atribuições legais, e, por isso, o interesse público não dispõe de outros meios de reclamação que o da veiculação pela imprensa, como o tenho feito.

Se se repetir o fato a que assisti, no dia doze, no ônibus 550, da linha 40, horário das 14,20, na
Praça Mauá, quando vi o cobrador recolher moedas aos bolsos e em seguida sonegar o troco a um passageiro, obrigando-o a receber passe, voltarei ao exercício do meu direito. Decidi dar nomes aos bois, porque não me agrada não assumir responsabilidade pelo que faço. (L. D.).

Após a extinção do serviço santista de bondes em 1971, um museu norte-americano quis comprar alguns exemplares dos bondes que circulavam em Santos. A resposta foi negativa, como relata o jornal santista A Tribuna, na edição de 9 de abril de 1976, página 5:


Dos velhos bondes não restou sequer o consolo da eternização num museu norte-americano, com honra e glória

Foto publicada com a matéria

Museu dos EUA queria ter bondes do SMTC

Cinco anos após a extinção do serviço de bondes em Santos, um museu dos Estados Unidos está propondo ao SMTC a compra dos antigos veículos, ou o que deles sobrou. A proposta é do Midwest Trolley Museum, Inc., de Milwaukee, estado de Wisconsin, EUA, e chegou ontem à superintendência da autarquia.

O Midwest Trolley Museum, Inc., na sua carta em inglês, diz que tomou conhecimento da extinção do serviço de bondes em Santos, mas não menciona como nem quando o fato chegou aos Estados Unidos. Por isso, Eduardo Rocha Júnior, superintendente do SMTC, determinou providências para responder ao museu, praticamente com uma frase lacônica: a proposta chegou tarde, porque todos os bondes do extinto serviço, ou foram doados ou vendidos como sucata.

Um patrimônio - A extinção do serviço de bondes em Santos, pelo SMTC, ocorreu durante a gestão do ex-interventor Clóvis Bandeira Brasil, quando respondia pela superintendência da autarquia o falecido general Aldévio Barbosa de Lemos.

Mas o primeiro bonde foi subtraído do patrimônio do SMTC durante a gestão do ex-prefeito Sílvio Fernandes Lopes, que fez a doação de um dos coletivos à cidade de Campo Limpo. A Prefeitura daquele município instalou o veículo numa das praças da cidade, e ainda o conserva até hoje como atração aos visitantes.

Paulatinamente, a partir do início de 1971, o SMTC foi extinguindo os serviços de bondes, substituindo-os por ônibus diesel. Em 14 de fevereiro daquele ano, deixaram de circular os bondes das linhas 19 e 39, entrando em atividade, basicamente com os mesmos itinerários, os ônibus das linhas 39 e 93. Os dois últimos bondes que circularam pertenciam às linhas 17 e 42. Isso ocorreu no dia 20 de fevereiro de 1971.

Defensor - Enquanto milhares de santistas pareciam aborrecidos com o desaparecimento dos bondes em 1971 - apontados como saudosistas -, um santista, J. C. Vieira da Cunha, moveu ação popular contra a Prefeitura e o SMTC. Mas em 24 de março daquele ano, o juiz Olavo Zanpol, da Vara dos Feitos da Fazenda Pública Estadual, considerou inepta a inicial da ação, e J. C. Vieira da Cunha foi obrigado, ainda, a promover o pagamento das custas.

Segundo consta dos registros do SMTC, alguns bondes foram doados para fins culturais a outros municípios (Curitiba, por exemplo). Outros foram transferidos ao patrimônio da Sectur, que os conserva até hoje nos parques infantis e centros de recreação dos bairros.

Mas a grande maioria foi vendida como sucata: as concorrências para venda integral dos veículos foram anuladas, por falta de interessados. Isso obrigou o SMTC a desmontá-los e vendê-los por peso. O mesmo foi feito com a rede aérea e, mais recentemente, com os trilhos.


O fim dos bondes começou em 1968, com a extinção dos bondes abertos...

Carlos Pimentel Mendes