Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/trilho63b.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/21/11 23:48:14
Clique na imagem para ir ao índice de O Bonde/Index: click here
TRILHOS (63)
A história do 38 (B)


Imagem: reprodução parcial da página C4 da Folha de São Paulo de 1/5/2011

O bonde com prefixo 38 tem toda uma história, documentada com fotos, que se entrelaça com o processo de declínio e restauração desse sistema de transporte. Com o fim das linhas de bondes em Santos, este exemplar foi levado para a capital paulista, onde também fez história, como registrou o jornal paulistano Folha de São Paulo, na edição de 1º de maio de 2011, página C4:

Veículo que circulava pelo Brás, no centro, foi levado para Santos onde está sendo restaurado e vai permanecer

São Paulo perde seu último bonde

Na capital, sem ser cuidado, o bonde 38 virou abrigo de usuários de crack, além de passar por cheias e furtos

Cristina Moreno de Castro

De São Paulo

Bancos originais de 1917, feitos, como as colunas, do resistente pinho de Riga. Teto e assoalho de rara cabreúva. Detalhes em bronze, cobre e latão e pintura original de tom verde-musgo.

Eis o bonde prefixo 38, de 94 anos, o último a circular na cidade de São Paulo.

No final de fevereiro, ele voltou a Santos para ser restaurado e passar a funcionar em sua cidade natal. Lá, ele circulou entre 1917, vindo da Escócia, e 1971.

Na capital, fazia o pequeno trecho entre o Memorial do Imigrante, na zona Leste, e a estação de metrô Bresser-Moóca, a 500 metros dali.

Nada a ver com os longos trajetos que os bondes da cidade faziam entre 1900 e 1968, movidos a eletricidade – o 38 tinha sido transplantado com um motor do carro Tempra na primeira restauração por que passou.

Nos últimos dois anos, depois que um problema mecânico o imobilizou e sua proprietária, a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, não conseguiu verba para a manutenção, o tempo passou a ser implacável.

Depois de proporcionar passeios entre 1998 e 2008, viu-se como abrigo de usuários de crack, virou vítima de enchentes constantes, teve baterias e outras peças de pouco valor furtadas, viu cerca de um terço de sua madeira original se depredar.

"Quer preservar um bem histórico? Põe pra funcionar", justifica o diretor-administrativo da ABPF-SP, Carlos Alberto Rollo.

Em Santos, o bonde ganhou um banho de loja, para ser oficialmente apresentado ao povo em um desfile no próximo sábado, que vai comemorar um milhão de passageiros desde que a cidade decidiu criar um museu vivo de bondes, em 2000.

Ele terá de andar rebocado em outro dos cinco bondes que funcionam na cidade, até receber um motor e voltar a funcionar, com 42 lugares. Está cedido em comodato por dez anos, renováveis.

Em seu lugar, em São Paulo, a Secretaria de Estado da Cultura cogita colocar um bonde como "elemento cenográfico" quando o Memorial voltar a funcionar.

OPINIÃO

Fomos tolos, eles poderiam estar por aí rodando, mas só nos resta a saudade

Ralph Giesbrecht

Especial para a Folha

Há cerca de um mês, o bonde que estava encostado sobre os trilhos da Rua Visconde de Parnaíba, à frente da antiga Hospedaria dos Imigrantes, foi colocado sobre um caminhão e levado dali para sempre.

Ele havia vindo de Santos, onde teve a mesma função até 1971, quando foi retirado de circulação.

Porém, ele nada tinha a ver com a cidade de São Paulo, que teve seus bondes elétricos como transporte urbano por 68 anos, de 1900 a 1968. Estes bondes da Light e depois da CMTC que circularam aqui, foram quase todos desmontados após seu fim.

Alguns poucos foram doados. Um deles está no Clube Pinheiros, outro em Bertioga, no SESC, e outro no museu do Transporte Coletivo na Avenida Cruzeiro do Sul, todos parados e maltratados.

Finalmente e felizmente, alguém conseguiu devolvê-lo a cidade praiana.

Hoje, está sendo restaurado para rodar com poucos irmãos sobreviventes pelo centro da cidade.

Cidade plana, Santos sempre admirou os bondes, mais ainda do que São Paulo. Sua retirada em 1971 foi pressionada pelo lobby rodoviário.

Em São Paulo, a última linha, praça João Mendes-Santo Amaro (zona Sul), havia terminado melancolicamente, no ano de 1968.

Eu, ainda criança e adolescente, andei nos bondes de São Paulo, que tinha os "camarões" (fechados) e os abertos, onde o cobrador andava pelos trilhos com as notas de cruzeiros dobradas entre os dedos das mãos.

Os bondes foram uma tradição forçada a acabar depois de uma campanha de morte, onde se os culpavam por tudo de ruim no trânsito.

Injustiça e morte de algo que, ao contrário do que se apregoava então, nada tinha de obsoleto. Poderiam estar rodando até hoje, com adaptações e modernizações, como ocorre em inúmeras cidades européias.

Como fomos tolos. No litoral, a cidade litorânea de Santos os colocou de volta. Nós nem isso: somente ficamos com a saudade.

Ralph Giesbrecht é pesquisador ferroviário e da história de São Paulo e edita o site estacoesferroviarias.com.br.

Em Santos, restauradores trabalham na reforma de bonde que veio de SP

Foto: Moacyr Lopes Nunes/FolhaPress, publicada com a matéria

SAIBA MAIS

Frota na cidade chegou a ser de 472 veículos circulando

De São Paulo

Além do bonde 38, que funcionou no Memorial do Imigrante, não se sabe de outros bondes mantidos na cidade para fins de turismo.

"Infelizmente não pensaram no potencial turístico. Essa desativação radical deixou um vazio", lamenta Henrique Di Santoro, 62, administrador do Museu dos Transportes Públicos da Prefeitura de São Paulo.

Ele defende a criação de um circuito de bondes nos locais históricos do centro de São Paulo, a exemplo do que ocorre no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. "Seria uma forma de deixar uma lembrança inesquecível daqueles tempos".

No museu é possível resgatar um pouco dessas memórias. Ali há, por exemplo, uma fotografia do primeiro bonde que circulou em São Paulo, em 1872, usando tração animal.

E outra da multidão atraída pelo bonde elétrico de 1900, apesar do temor geral de que poderia dar choque.

A frota de bondes da capital chegou a ter 472 veículos. Eles cruzavam toda a cidade a 60 km/h.

A viagem final ocorreu em 27 de março de 1968. (CMC).

A notícia, na edição Web do jornal santista A Tribuna de 31/3/2011:
Quinta-feira, 31 de março de 2011 - 21h10

Até 42 passageiros

Santos ganha novo bonde para integrar frota que circula pela linha turística

César Miranda

Mais um bonde passará a compor a frota de veículos que circulam pela linha turística de Santos. O equipamento, que circulou como meio de transporte entre 1912 e 1971, foi trazido do Memorial do Imigrante, em São Paulo.

Em bom estado de conservação, o veículo tem capacidade para transportar 42 passageiros. Ele é igual ao bonde camarão, porém, hoje ele está aberto.
No Memorial do Imigrantes, o veículo ganhou um motor movido a gasolina de um Tempra, da Fiat, e até circulou por lá. “É o primeiro bonde que eu tenho notícia que era movido com esse combustível”, disse o coordenador de projetos dos bondes, Luiz Dias Guimarães.

Aqui, voltará a funcionar como bonde reboque. Futuramente, serão feitas novas intervenções para circular movido à energia elétrica.

Agora o acervo do Museu Vivo de Bonde tem 12 bondes. Além dos nacionais, alguns são originários de Portugal, Itália, Estados Unidos e Escócia. Dessa frota, a equipe da CET já reconstruiu cinco bondes e um reboque.

1 milhão de passageiros

Um cortejo de bondes para comemorar a marca de 1 milhão de passageiros está previsto para acontecer na segunda quinzena de abril. A ideia da Prefeitura é que quatro ou cinco bondes circulem pela linha turística com passageiros a bordo.

Trata-se de um fato inédito desde que os veículos começaram a circular em 2000 em Santos. Sem data ainda definida do cortejo, os detalhes da festividade serão fechados nos próximos dias. A previsão é que o desfile ocorra num fim de semana.

Foto publicada com a matéria

Vejam, a seguir, algumas anotações do tempo dos bondes...

Carlos Pimentel Mendes