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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
A cidade no folclore político nacional

 

Verdades ou não, fazem parte do folclore político brasileiro e foram coletadas pelo deputado e jornalista Sebastião Nery, que as publicou em sua série de livros Folclore Político, pela Editora Record, do Rio de Janeiro, por volta de 1976-1982:

Folclore Político 3 - 1ª edição, 1978 - capítulo São Paulo, referência 112 - páginas 40-41

Siqueira Campos, chefe da conspiração revolucionária em São Paulo, chamou Oscar Pedroso Horta, redator do Estadão (N.E.: jornal O Estado de São Paulo) nos primeiros dias de 1930:

- É preciso renovar os códigos de comunicação entre nós e Prestes (N.E.: Luís Carlos Prestes, que seria depois conhecido como o Cavaleiro da Esperança), que está em Buenos Aires; trazer de lá um aparelho de rádio mais possante e levar uma série de mapas para ele organizar os planos de levante. Mas não esqueça: são mapas de guerra, privativos das Forças Armadas. Você vai cometer um crime de alta traição à Pátria. Topa?

- Topo.

Pedroso Horta pegou de manhã um avião da Nirba numa praia de Santos, chegou a Porto Alegre ao anoitecer, almoçou em Montevidéu e na noite seguinte estava em Buenos Aires com aquele rolo imenso de mapas debaixo do braço. Foi para o hotel. De manhã procuraria Prestes.

De repente, um homenzinho muito magro e muito feio, calçado com botinas de elástico, bate na porta do quarto:

- Sou o comandante Luís Carlos Prestes. O senhor não é Oscar Pedroso Horta? Trouxe uma encomenda de São Paulo para mim?

- Não o conheço. Vim a negócios e não trouxe nada para ninguém.

O homenzinho muito magro e muito feio foi embora. Pedroso Horta trocou logo de hotel, pegou um táxi e foi ao endereço de Prestes, que Siqueira Campos lhe tinha dado. Bateu na porta. Alguém abriu. Era exatamente o homenzinho muito magro e muito feio, Prestes.

Siqueira Campos se comunicava toda noite com ele, pelo rádio.

Folclore Político 1 - 4ª edição - capítulo Rio Grande do Norte, referência 7- página 65

Alcântara era contínuo do palácio do governo do Rio Grande do Norte. Afonso Pena, presidente da República, ia visitar o Estado. Alcântara pediu para fazer parte da comitiva oficial que ia esperar o presidente na estação ferroviária de Nova Cruz, fronteira da Paraíba com o Rio Grande do Norte.

O governador deixou. Mas o secretário do governador achou um absurdo. Onde se viu contínuo esperando presidente? Chamou o Alcântara:

- O governador deixou, você vai. Mas antes do trem chegar na estação, você salta no triângulo (Triângulo é o ponto de manobra dos trens, na entrada das estações).

O trem do governador chegou na frente. Alcântara saltou no triângulo. Daí a pouco o trem do presidente entra no triângulo para fazer manobra. Alcântara sobe, vai entrando, dá com o presidente, é o primeiro habitante do Estado a dar as boas-vindas a Sua Excelência. E vai mostrando a cidade da janela.

Quando o trem do presidente chega à estação, o governador, o secretário do governador, os puxa-sacos do governador, todos levam o maior susto. É Alcântara quem aparece na porta, ao lado do presidente, apresentando-o às autoridades estaduais.

Seguem para Natal. Cansado, o presidente chega ao palácio e pede logo um banho. De repente, abre a porta do banheiro, mete a cabeça:

- Onde está o Alcântara?

Alcântara aparece, entra, sai. Ninguém entendia mais nada. E Alcântara sendo chamado, e Alcântara atendendo.

No dia da partida, à beira do cais (o presidente voltou de navio), Afonso Pena chama Alcântara, dá-lhe um abraço e lhe fala alguma coisa ao ouvido. Alcântara sorriu, saiu, não disse nada a ninguém.

Um mês depois, o Diário Oficial publicava um ato de Afonso Pena nomeando Alcântara administrador do Porto de Santos. Foi um escândalo no Rio Grande do Norte.

É que no bolso do paletó, tamanho portátil, Alcântara carregava uma garrafinha de conhaque francês. E Afonso Pena era maluco por um golinho de conhaque francês.

Folclore Político 4 - 1ª edição, 1982 - capitulo São Paulo, referência 226 - página 64

Na manhã de 11 de novembro de 1955, quando o general Lott derrubou Café Filho e Carlos Luz, para assegurar a posse de Juscelino, o coronel Sizeno Sarmento não chegou a tempo para pegar o Tamandaré (N.E.: navio cruzador de guerra), que zarpou do Rio para Santos levando civis e militares do comando da UDN (N.E.: partido político União Democrática Nacional).

Fardado, pegou um táxi, foi para São Paulo e parou no Palácio, onde Afrânio de Oliveira (depois chefe da Casa Civil de Paulo Egídio) era secretário particular de Jânio Quadros.

- Afrânio, preciso de um carro para ir agora para Santos esperar o Tamandaré lá.

- Pois não, Sizeno. Vá no meu.

- Mas eu não devo ir fardado. O que é que eu faço?

- Venha cá.

Entraram no banheiro e saíram trocados. Sizeno com o terno de Afrânio, Afrânio com a farda de Sizeno.

Sizeno foi para Santos, Afrânio entrou fardado no gabinete de Jânio, que pensou que ele estava louco. Quer dizer, que tinha entrado para o time dele.

Folclore Político 4 - 1ª edição, 1982 - capitulo Rio Grande do Sul, referência 266 - página 73

Em 1963, a Câmara dos Vereadores de Santos deu a Brizola o título de Cidadão Honorário. Fez-se uma comissão, chefiada pelo vereador Antônio Rodrigues, para ir a Porto Alegre comunicar o título a Brizola.

No mesmo avião, seguia uma delegação de voleibol de Santos, chefiada pelo secretário de Esportes e Turismo da Prefeitura, José Bechara. Quando desceram no aeroporto Salgado Filho, souberam que havia morrido o presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre. Os vereadores de Santos foram direto para o velório. José Bechara também.

Madrugada alta, todos com sono, José Bechara exausto, barriga enorme, cochilava a um canto, estirado numa poltrona. Começou a correr uma cuia de chimarrão. Chegavam a José Bechara, pulavam. Ele dormia profundamente. Antônio Rodrigues resolveu acordá-lo.

- Bechara, não fica bem.

- Não fica bem o quê?

- Você dormindo aí o tempo todo. Tome, para acordar.

José Bechara pegou a cuia, olhou, não entendeu, ficou pensando, levantou, foi até junto do cadáver e aspergiu o chimarrão no rosto do defunto.

Pensou que era água benta.

Folclore Político 4 - 1ª edição, 1982 - capitulo São Paulo, referência 287 - página 79

No dia 3 de maio de 1933, logo depois da Revolução de 32, Getúlio Vargas, pressionado por todo o país, foi obrigado a realizar eleições para uma Assembléia Nacional Constituinte. Os dois principais partidos paulistas (PRP - Partido Republicano Paulista, e o PD - Partido Democrático) aliaram-se na Chapa Única por São Paulo Unidos e elegeram 17 dos 22 constituintes do estado.

Instalada a Constituinte no dia 15 de novembro, a bancada paulista foi recebida debaixo de palmas pelas galerias. Empolgado, o líder Alcântara Machado foi para a tribuna e fez longo discurso sobre o papel de São Paulo na História do País e acabou dizendo a frase famosa: "Paulista sou, há 400 anos".

Osvaldo Aranha, gaúcho, amigo de Vargas e contra São Paulo em 1932, não era constituinte, mas era ministro da Fazenda e o regimento interno permitia que os ministros participassem dos trabalhos. Estava lá no fundo do plenário, ficou irritado com a empáfia quatrocentona de Alcântara Machado, lembrou-se de seus antepassados paulistas e gritou:

- Quando os antepassados de V. Ex.ª chegaram ao porto de Santos, lá encontraram os meus antepassados, que perguntavam entre si: "De onde são esses forasteiros?"

O plenário explode, Antônio Carlos encerra a sessão. E foi assim que nasceu a expressão "Paulista de 400 anos".

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