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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Terra roubada ao mar, como na Holanda

Na Holanda, são famosos os diques para conter o mar, criando atrás dessas construções espaços de terra para cultivo e moradia. Santos também teve importantes áreas conquistadas ao mar, destacando-se o atual trecho Paquetá-Outeirinhos (Macuco), outrora um golfo, aterrado com pedras transportadas em uma linha férrea especialmente construída para transportá-las desde a pedreira do bairro Jabaquara. Tal história é narrada neste artigo publicado no Almanaque da Baixada Santista 1976, editado pelo jornalista e pesquisador Olao Rodrigues em Santos/SP:


Golfo Paquetá-Outeirinhos, já aterrado, cerca de 1980
Foto: Companhia Docas de Santos

Terra conquistada ao... mar

Bandeira Júnior

Certo dia Deus enviou três emissários à Terra, a fim de verificar a sua situação. No seu retorno, dois deles puderam relatar somente desgraças, fome, pestes, guerras, crimes etc., enquanto o terceiro reportou-se, com entusiasmo, ao que havia presenciado: paz, saúde e amor.

- Onde você esteve? - quis saber o Todo Poderoso.

- Na Holanda, respondeu o espião celestial.

- Ora! - exclamou Deus, desapontado, você esteve no único lugar que eu não criei...

Tal como ocorre nos Países Baixos, a Companhia Docas de Santos pode ufanar-se de, eliminando brejos inúteis, pestilentos e insalubres, ter "criado" espaço imprescindível às suas instalações portuárias e, ainda, prover o município dos excedentes dessa conquista territorial.

Assentando a amurada do cais, em distância apreciável da margem natural - a fim de permitir a atracação de navios de grande calado - o corajoso empreendimento dos sócios Gaffrée e Guinle proporcionou a Santos o início do seu saneamento e consolidou alguns quilômetros quadrados úteis à sua expansão urbana.

Senão, vejamos:

Com o aterro do famoso Porto do Bispo, cuja margem atingia a atual Rua Tuiuti - muito a propósito chamada da Praia - a Companhia Docas cedera ao município parte do Largo Marquês de Monte Alegre, e da Rua Dr. Antônio Prado. Nesta via, antigo Pátio dos Gusmões, a vetusta Capela do Terço (ou do Carvalho) precisou ser demolida, por ter ficado, seu piso, muito abaixo do nivelamento externo.

Mais adiante, a construção do cais transformou em praça (Azevedo Júnior) a então tradicional Banca do Peixe, e do aterro, no Arsenal de Marinha (defronte à Igreja do Carmo) resultou a arborizada e bela Praça Barão do Rio Branco, que, justamente, ostenta o monumento erigido em homenagem aos dois insignes fundadores daquela grande empresa portuária.

Entre o Arsenal e a velha Alfândega, onde o mar banhava os quintais dos prédios da rua Setentrional (lado direito da Praça da República), surgiu o armazém 5, justaposto à continuação da Rua Dr. Antônio Prado até a esquina da Rua Senador Feijó e, prosseguindo o nivelamento do cais, alargou e pavimentou a Rua dos Quartéis, antiga do Mar e atual Xavier da Silveira.

Entre a Ponta do Camarão (hoje Escritório do Tráfego da C.D.S.) (N.E.: defronte ao final da Rua General Câmara), onde se supõe ter existido uma fortaleza colonial, e os Outeirinhos (antiga chácara do Patriarca José Bonifácio de Andrada e Silva), a margem do canal descrevia uma espécie de parábola, com vértice situado à altura do Hospital do Isolamento (atual Centro de Saúde, na esquina formada pelas ruas Silva Jardim e D. Luiza Macuco) que comunicava-se com o mar, através de um ancoradouro, destinado a receber doentes diretamente dos navios fundeados no porto [1].

Sobre esse golfo soterrado, os técnicos da Companhia Docas conseguiram construir: 12 armazéns externos, os prédios da Tecelagem e do Ministério da Agricultura; abriram ao tráfego urbano as seguintes vias: avenidas Álvaro Fontes, Dr. Carvalho de Mendonça, Princesa Isabel, Ulrico Mursa e Gaffrée e Guinle, ruas Chile, Uruguai, Antenor da Rocha Leite, Anhanguera, Osório de Almeida, Silvério de Souza, Guilherme Weinschenck, Eduardo Guinle (de intenso tráfego), Cândido Gaffrée, o prolongamento das ruas Manoel Tourinho, Silva Jardim e D. Luiza Macuco, e parte da Praça Iguatemi Martins, a qual inclui a Bacia do Mercado.

Com o desmonte dos dois Outeiros, a ativa engenharia da C.D.S. nivelou o trecho do armazém 25 até o início da Av. Rodrigues Alves (antiga Avenida Taylor), no qual ergueu os armazéns 26 e 27, silos de trigo e vários prédios para a administração portuária, entre eles o da Inspetoria Geral e o Parque Industrial.

Daí em diante, até a Ponta da Praia, o aterro de mangues para as obras do cais tem prosseguido numa extensão superior a três quilômetros, conquistando terreno para a futura Av. Oswaldo Aranha, que contornará toda a faixa portuária até o Valongo. Também as obras do outro lado do estuário (Ilha de Santo Amaro), local denominado Conceiçãozinha, constituem admirável técnica da engenharia dessa empresa genuinamente nacional.

NOTA:
[1] Pesquisando num pequeno laboratório desse nosocômio, em 1899, o insigne cientista brasileiro Dr. Vital Brasil descobriu, para surpresa geral, que a epidemia manifestada no litoral paulista nessa época era de origem bubônica. Ante a incredulidade do comércio e do povo, foi solicitada a opinião de uma autoridade de fama mundial (dr. Chapot Prévost), então no Rio de Janeiro, que simplesmente confirmou o diagnóstico do jovem médico sanitarista, futuro criador do Instituto Soroterápico, hoje Instituto Butantã.


O mar avançava até a atual Rua Silva Jardim. A seta indica a ferrovia da CDS
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