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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Chaguinhas, o Tiradentes santista (3)

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No dia 27 de julho de 1821, irrompeu em Santos a revolta nativista chefiada pelo soldado Francisco das Chagas, mais conhecido por Chaguinhas. Sobre ele o professor e pesquisador da História santista, Francisco Carballa, escreveu (em fevereiro de 2008) esta monografia, especialmente para Novo Milênio:

Chaguinhas

Francisco Carballa

Tornou-se, devido à sua inocência, o cabo Francisco José das Chagas - o popular Chaguinhas -, um santo popular (não oficializado pela igreja), reconhecido pelo povo. Na igrejinha dos Aflitos, pode-se ver muitas pessoas fazendo preces diante da porta que restou da estrutura da antiga cela, batendo três vezes e fazendo pedidos; tão logo sejam atendidos, novamente elas vêm fazer suas orações e bater três vezes para agradecer, depositando flores, bilhetes de papel encaixados nas frestas, fitas e demais objetos como ex-votos.

É possível que ali, embaixo do atual piso desse pequeno cômodo colonial, estejam ainda os restos mortais dos enforcados, e entre eles os do paulista Chaguinhas. Segundo as afirmações de um senhor muito devoto de Chaguinhas, "os pesquisadores atuais que não devem nem temem as antigas autoridades da época" podem agora, com isenção, relatar que ele teria sido usado como uma queima de arquivo ou fato consumado, para demonstrar que não seriam permitidas revoltas e que os oficiais controlavam bem a população da colônia em tempos pré-Independência.

Essas ações eram muito importantes e garantiriam uma boa reputação das autoridades coloniais frente ao rei dom João VI, em Portugal. E o dinheiro vindo de Portugal referente aos cinco anos de soldo dos soldados amotinados - que passaram de 100 revoltosos -, nunca foram pagos, esse dinheiro foi parar na mão de quem? Todas essas questões ainda carecem de esclarecimentos.

A população de São Paulo teve de certa forma contato com o cabo Chaguinhas e o conhecia, pois sua família tinha residência na Rua das Flores (atual R. Silveira Martins), que ficaria situada na rua posterior à Rua do Carmo, terminando na Rua Tabatinguera. Talvez por ser paulistano de nascimento, Chaguinhas foi levado serra acima, numa penosa caminhada, até a então São Paulo de Piratininga, e seus familiares devem ter escutado sua afirmação de inocência, mesmo que sob torturas as pessoas confessem qualquer coisa que as autoridades queiram ouvir.

Quando a corda no patíbulo de enforcamento veio a se partir três vezes, sendo a mesma do justiçado anterior (Joaquim José Cotindiba), o povo intercedeu pelo condenado, como era o costume, sendo possível que a irmandade da Misericórdia ainda interviesse no caso, pedindo o perdão da pena, depois de jogar por ele a bandeira da misericórdia.

Mas, a insistência das autoridades militares, com ordens de enforcar o cabo, teve sua consumação numa ensolarada quinta-feira, usando-se uma peça de couro. Ao ter sido Chaguinhas justiçado, conta-se que, ao ser retalhado o seu corpo, sua cabeça rolou pela Ladeira da Forca (local que foi depois aplainado), indo parar justamente dentro da capela de Nossa Senhora dos Aflitos, caindo dentro do buraco onde eram depositados os corpos dos condenados. Tal fato marcou e deixou a população com motivos para estender suas conversas durante muito tempo.

O cemitério dos aflitos, que ocuparia a quadra inteira, hoje não existe mais, e sua igrejinha já sofreu um incêndio que, segundo alguns, foi criminoso, perdendo parte de suas talhas barrocas do século XVIII. Algumas imagens foram levadas para o Museu de Arte Sacra de São Paulo e outros elementos artísticos foram incorporados à construção. O altar na parede da capela, situado à direita do altar-mor, logo após o arco que a separa da nave, não tem as mesmas características do outro altar que está à esquerda, supondo-se portanto que teria sido colocado ali posteriormente, e seu estilo artístico é do final do século XIX.

Seria lógico que na cela de um condenado não existisse altar, apenas uma cruz ou crucifixo, preso à parede, de forma que suas paredes de taipa não fossem esburacadas para uma tentativa de fuga usando partes do mesmo, motivo pelo qual também estariam agrilhoados e com sentinelas nas portas do templo, onde os condenados passariam a noite anterior ao suplício em vigília.



Trono do altar da igreja de Santa Cruz dos Enforcados (bairro da Liberdade, na capital paulista).

O nome surgiu da mesma cruz mantida no templo e que pode ser ali observada



Cruz fincada no Largo da Forca (SP), a mesma assinalou por muitos anos o local do suplício de Chaguinhas, junto à Igreja dos Enforcados, no bairro da Liberdade (na capital paulista)
 


Presbitério da igreja paulistana de Santa Cruz dos Enforcados (foto em 17 de janeiro de 2008)

 

Fotos feitas em 2008 e cedidas a Novo Milênio pelo professor e pesquisador Francisco Carballa

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