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BICO-DE-PENA
Desenhos de Francisco Carballa

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O professor Francisco Carballa registrou no papel, com lápis e caneta esferográfica, imagens de uma cidade que aos poucos foi desaparecendo, com ênfase nos detalhes arquitetônicos, característicos de um encontro de culturas que se manifestou na primeira metade do século XX.

São edificações de uso comum, comerciais e residenciais, muitas delas demolidas, raramente preservadas, e que nesses detalhes captados pelo professor revelam aspectos curiosos de uma época já desaparecida. Quando existente, a linha do bonde é registrada nos desenhos, e uma marca registrada desses trabalhos costuma ser a existência de um vidro quebrado numa janela, sempre da mesma forma. Em 23/9/2007, quando Novo Milênio começou a publicar seus trabalhos, o professor explicou:

"Os desenhos aqui mostrados são cópias dos originais de uma coleção de cerca de 300 figuras, desenhadas em folhas comuns de caderno com pauta, caderno de desenho e papel canson que foram roubados em 1991. Apenas 70 deles apareceram, anos mais tarde, nas mãos de um colecionador, que gentilmente, me cedeu as cópias que novamente foram reproduzidas, mas com datas mais recentes, sendo que existem menções das verdadeiras datas das demolições nas reproduções atuais.

"A técnica usada para produzir essas figuras consiste em fazer um esboço com lápis no endereço, observando o prédio; esses dados possibilitam a produção da primeira figura, para depois retornar ao local e corrigir as eventuais falhas olhando a construção, o que me força a fazer um segundo desenho e depois verificar o mesmo, produzindo assim o terceiro e último desenho, para finalmente arquivar. Ocorre que muitas vezes essa demolição é tão acelerada que prejudica registrar os detalhes do prédio, motivo pelo qual tenho recorrido a fotografar e esboçar o mesmo, surgindo atualmente, ao contrário dos anos 1978 a 1991, um arquivo fotográfico.

"Também passei a identificar o terreno e a numeração do imóvel, como forma de situá-lo no espaço geográfico urbano, inclusive notificando quando existem construções associadas e idênticas formando um conjunto. Curiosamente, apenas uma delas terá data gravada na fachada, ficando as demais apenas como referência, porque quase sempre terão motivos arquitetônicos e artísticos distintos, sendo apenas semelhantes entre si. Isso era muito comum na construção civil brasileira, desde o período colonial, quando as capelas e casas de pedra eram semelhantes, quase sem distinção entre si. Ainda hoje, essa forma de construir está destinada a produzir conjuntos habitacionais populares com edificações idênticas".

Matéria publicada nas versões impressa (página 4) e eletrônica do jornal santista Diário do Litoral, em 15 de dezembro de 2014:

Imagem: reprodução parcial da página com a matéria no site do Diário do Litoral

Cotidiano

15 de dezembro de 2014 às 10h18
Atualizado em 15 de dezembro de 2014 às 10h58

Historiador redesenha história de Santos há mais de 30 anos

Francisco Carballa, que há 30 anos atua na profissão, percorre pontos históricos e construções antigas da Cidade desde 1981, e registra, segundo ele, "tudo o que o rodeou um dia"

por Pedro Henrique Fonseca

"Redesenhar e registrar para não que não se perca a memória da Cidade". Assim o historiador Francisco Carballa define o trabalho que vem executando há mais de 30 anos com as construções históricas e antigas de Santos. Ele explica que os desenhos também são parte de uma Santos que o rodeou um dia.

Os registros começaram em 1981 e a primeira leva de desenhos acabou sendo furtada após ser emprestada pelo historiador. Fato o que fez pensar em desistir. "Cheguei a parar, mas cinco ou seis anos depois voltei a desenhar uma parte dessa leva que foi roubada. Na época pensei em abandonar o trabalho", conta.

 

"Não sei até quando vou continuar o trabalho.

Acho que até quando eu morrer"

 

Desde então, Carballa continuou a tarefa que se propôs a fazer, mas explica um pouco das dificuldades que já passou ao longo dos anos.

"Já tomei muita corrida por causas destes desenhos. Antes você tinha que ir à frente da casa, fazer um desenho, voltar lá, corrigir e fazer um terceiro desenho. Nesse meio tempo, eu tomava corrida dos donos das casas e de vigilantes, porque eles não entendiam direito o que eu estava fazendo ali e vinham atrás de mim".

Atualmente a forma de trabalho mudou, conta o historiador, mas a falta de informações atrapalha.

"Agora eu tiro uma foto, mas mesmo assim as vezes eu tenho problema. Eu tenho em casa um vasto arquivo de registros. Tenho desenhos que ainda não foram publicados por estar faltando apenas um detalhe. Devido a isso, tento vasculhar em fotos antigas para ver se eu acho o que falta e completar o máximo possível o desenho".

Carballa diz se preocupar mais com as casas da década de 1920 e anteriores, e revela qual a construção mais antiga que conseguiu recuperar em seus desenhos.

"Tem muitas casas de 1920 ainda em Santos. Por meio de uma foto eu consegui redesenhar a Capela de Nossa Senhora da Graça, essa foi a mais antiga. Atualmente estou fazendo também a Capela de Jesus, Maria e José. Ela tem muitos detalhes e as pessoas ignoram isso. As imagens dessa igreja ainda estão disponíveis em outras igrejas de Santos".

ARTE - Carballa diz não querer expor seus desenhos

Foto: Matheus Tagé/DL

Evolução x Preservação

Engana-se quem pensa que o historiador é favorável à preservação total das construções antigas que ainda resistem ao tempo.

"Não é tudo que deve ser preservado. É uma ou outra coisa que esteja mais intacta. E mesmo assim, só a fachada, que é como fazem na Europa", conta.
Para Carballa, a preservação total do Centro Histórico seria um erro. Ele defende a utilização do espaço em detrimento a construções em áreas verdes.

"Preservar tudo é errado. Estaríamos brecando a evolução do centro urbano. O certo seria avançar o Centro da Cidade com prédios e moradias. Aproveitar os locais onde já existem esgoto, energia e condução, para não precisar destruir a natureza, que é o que estão fazendo. Eu moraria no Centro de Santos", afirma.

Ainda sobre essa parte de seu trabalho, ele resume. "O que eu faço é registrar uma cidade de Santos que está sumida e que tem que sumir. Se ela não sumir, não se renova e fica estagnada".

Francisco Carballa iniciou os trabalhos em 1981

Foto: Matheus Tagé/DL

Historiador não pensa em exposição

Francisco Carballa diz não querer realizar uma exposição de seus desenhos ou algo do tipo, mas diz o que pretende fazer com os registros da Cidade.

"Pretendo mandá-los ou para o Arquivo Público do Estado de São Paulo ou para alguma outra instituição que realmente os preserve".

Desenhos estão na internet

Quem quiser conferir o trabalho feito pelo historiador, os desenhos estão disponíveis no site Novo Milênio, nas abas ‘O bonde’ e ‘Bico-de-pena’.

"Quem quiser pode utilizá-los como quiser. A única coisa que peço para quem for utilizá-los é que citem meu nome e mais nada. Não sei até quando vou continuar o trabalho. Acho que até quando eu morrer. Só espero não deixar nenhuma inacabada", diz.

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Imagem: reprodução da página 4 do jornal Diário do Litoral de 15 de dezembro de 2014

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