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BONDES NO BRASIL
Curitiba/PR

Foto: Carlos Pimentel Mendes, em 22/1/1983

Estacionado na confluência da Avenida Luiz Xavier com a Rua 15 de Novembro (Rua das Flores), este bonde - que antes circulou pelas ruas de Santos/SP - é uma das atrações turísticas de Curitiba, a capital do estado do Paraná. No final do século XX, era usado para a realização de atividades artísticas com crianças, como trabalhos de pintura e desenho:

Foto: cartão postal Mercator número 32

Lá vinha o bonde
No sobe e desce ladeira
E o motorneiro
Parava a orquestra um minuto
Para me contar
Casos da campanha da Itália
E de um tiro que ele não levou (...)

(Conversando no Bar, de Mílton Nascimento/Fernando Brant)

Foto: cartão postal Paraná-Cart número 119, de Curitiba

 

Nos primeiros anos do século XXI, esse bonde já se apresenta bastante descaracterizado e com outra pintura:

 

Foto: divulgação, publicada no semanário Jornal da Orla, de Santos/SP, em 22-23/12/2007

 

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra é ricamente ilustrada (embora não identificando os autores das imagens), incluindo esta foto:

 

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Bonde com tração animal para passageiros e carga, defronte do engenho de mate Leão Junior
Foto publicada na página 965 da obra de 1913

 

Aquela publicação de 1913 cita ainda:

"The South Brazilian Co. Ltd. - Esta empresa, de que é diretor o sr. Ed. Fontaine de Laveleye, é proprietária dos bondes e da iluminação elétrica da cidade de Curitiba. Para os bondes, é atualmente empregada a tração animal; em breve, porém, será esse sistema substituído pela tração elétrica. Acham-se também em construção 7 quilômetros de novas linhas, o que elevará a rede de viação urbana em Curitiba a 25 quilômetros. A empresa vai receber 26 novos carros para o serviço de passageiros, ficando os carros atuais para reboque. Haverá também 16 carros para cargas, 3 para carne verde, 1 para o correio, todos eles providos de motores elétricos. As linhas da empresa devem ser inauguradas em setembro."

Bonde de tração animal em Curitiba
Citam os especialistas Emídio Gardé (de Portugal) e Allen Morrison (dos EUA): A primeira linha de transporte coletivo de Curitiba - os bondes puxados a cavalos, que ligavam o bairro do Batel ao Fontana (imediações do Passeio Público) foi inaugurada em 8/11/1887.

Teve características internacionais: o estadunidense Boaventura Clapp fundou a Ferro Carril Curitibano, que inaugurou o primeiro trecho e em 1895 passou o controle ao italiano Santiago Colle, e este, em 1905, vendeu a companhia ao francês Eduardo de la Fontaine Laveleye. A companhia anglo-francesa South Brazilian Railways comprou o sistema em 7/5/1910. Em 1911, a firma suíça Brown Boveri iniciou a construção de uma linha de bondes elétricos, com 29 veículos encomendados a Les Ateliers Métallurgiques de Nivelles, na Bélgica, que começaram a ser testados em 8/1912, sendo a linha inaugurada em 7/1/1913.

Em 1912 assumiu a prefeitura municipal, pela segunda vez, Cândido de Abreu, que, com poderes especiais autorizados pela Câmara Municipal, implementou uma série de reformas modernizadoras inspiradas pelos movimentos urbanísticos da época na Europa: foi assim implantado o bonde elétrico e construído o Palácio da Liberdade, sede do Executivo Municipal (hoje Museu Paranaense), e o Passeio Público recebeu obras de melhoramento. Nesse mesmo ano surgem em Curitiba os primeiros automóveis.

Bonde Birney na Rua XV em Curitiba, em 2/12/1936

O sistema passou para a South Brazilian Railways em 1924 e para a Companhia Força e Luz do Paraná (uma subsidiária da Electric Bond & Share) em 1928. Esta empresa importou em 1931 diversos bondes Birney de segunda mão (usados em Boston/EUA) e complementou a frota com veículos desse tipo que trafegavam antes em Porto Alegre em 1937.

Em 1952 foi retirada de circulação a última linha de bondes (Portão-Tiradentes). A partir desta data, toda a prioridade em termos de transportes públicos foi centrada nos ônibus. Desapareceu, assim, uma das últimas características da tecnologia de gestão urbana inglesa, dando-se inicio à influência norte-americana.

Os bondes belgas aparentemente foram destruídos, mas um bonde Birney sobreviveu em um abrigo na Rua Barão do Rio Branco, sendo restaurado para fins turísticos. Mas, o bonde que os curitibanos mais conhecem é um modelo fechado que trafegou em Santos e agora permanece estacionado para fins turísticos na Rua das Flores, no centro da cidade.

A viagem pelos trilhos do Brasil continua...

Carlos Pimentel Mendes