No dia 21 de junho de 1906, com ato público, foi oficialmente constituída a Sociedade de Navegação Lloyd Sabaudo, tendo como sede legal a cidade de
Torino e como porto de registro de seus futuros navios a cidade de Gênova. Os acionistas da nova companhia eram homens de negócios italianos, que agiam por intermédio de dois bancos bem conhecidos na
época: Banca Italiana di Sconto e Banco di Roma. Mas o principal acionista era também o mais potente da península: a própria família real, Casa Savoia - como era conhecida a dinastia que havia presidido, durante séculos, o destino dos italianos,
antes e depois da unificação do país.
O próprio nome da companhia revelava as nobres origens do capital, e o primeiro Conselho de Administração era composto por homens ilustres, como o presidente, conde Tulio Pinelli, e os conselheiros Henry Calame,
Edoardo Canali, Emilio Ferro e Pietro Lagomaggiore.
A primeira viagem de um navio do Lloyd Sabaudo para a América do Sul, na Rota de Ouro e Prata, foi feita em outubro de 1907 pelo transatlântico Regina D'Italia, seguido em novembro do mesmo ano pelo
Tomaso di Savoia e, em março do ano seguinte, pelo Principe di Udine.
Conte Rosso e Conte Verde, da armadora italiana Lloyd Sabaudo Società Anonima di Navigazione, em postal da época do lançamento (foram lançados ao mar respectivamente em
1921 e 1922)
Foto: acervo do cartofilista Laire José Giraud,
publicada na rede social Facebook em 4/8/2014
Expansão - Em 1913, a expansão do Lloyd Sabaudo e o aumento do tráfego de passageiros nas linhas do Atlântico Norte e Atlântico Sul consentiam à direção da empresa projetar a construção de dois navios,
maiores e mais luxuosos do que os existentes. O estaleiro escocês W.Beardmore & Company foi encarregado de desenhar os dois novos transatlânticos, dos quais um começou a ser construído antes do início da Primeira Guerra Mundial. Com o eclodir do
conflito, o Almirantado britânico requisitou o navio em construção e o transformou, ainda em fase construtiva, no porta-aviões Argus, da Marinha de Sua Majestade.
Foi necessário esperar pelo armistício de novembro de 1918 antes que o Lloyd Sabaudo pudesse reordenar seus novos navios. O estaleiro escolhido para construí-los? W. Beardmore & Company. Os nomes escolhidos? O
primeiro receberia o nome de Conte Rosso e o segundo, Conte Verde, em uma alusão às cores da bandeira da Itália.
O Conte Verde tinha um salão de música de majestade e luxo espetaculares
Luxo - No dia 21 de outubro de 1922, foi lançado ao mar o Conte Verde. O navio realizou suas provas de mar nos dias 8 e 9 de abril de 1923, alcançando nesta oportunidade uma velocidade máxima
ligeiramente superior a 20 nós. Suas máquinas, de quatro turbinas a vapor, e seus dois hélices, permitiam-lhe uma potência de 22 mil CV e uma velocidade máxima de 18 nós com carga plena. No dia 10, saiu do Rio Clyde com destino a Gênova, na viagem
de posicionamento.
A decoração artística interna estava, por estilo e grandeza, na categoria luxo e com todo o refino que a casa Coppede, de Florença - tradicionais decoradores navais - era capaz de produzir.
O vestíbulo e a biblioteca foram decorados em estilo renascentista; o salão musical, em estilo pompeano (relativo à cidade de Pompéia, perto de Nápoles, cidade da civilização romana que foi destruída pelo vulcão
Vesúvio), com escadas de acesso em mármore rosa e cúpula de cristal. O salão para fumantes era em estilo mouro, copiando o famoso Alcazar de Sevilha; a varanda era em estilo moderno (liberty, na denominação da época), e os dois grandes
salões de refeições também eram em estilo renascentista.
Primeiras viagens - No dia 21 de abril de 1923 foi realizada a viagem inaugural, ligando o porto de Gênova a Buenos Aires, via Vilefranche (próximo a Nice), Barcelona, Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu,
sob o comando do capitão-de-longo-curso Amedeo Pincetti.
Em junho do mesmo ano, realizou a primeira viagem entre Gênova e Nova Iorque via Nápoles. Nessa linha norte-americana, seria empregado até setembro de 1925, quando retornou à linha sul-americana.
Entre essa última data e 1932 (ano da fusão do Lloyd Sabaudo à Italia Flotte Riunite), o Conte Verde realizou um sem-número de travessias sul-americanas entre a Itália, o Brasil e o Prata, praticamente sem
acidentes dignos de registro.
Cabe assinalar, porém, que foi no Conte Verde que regressaram, do Brasil para a Itália, os tripulantes sobreviventes do naufrágio do Principessa Mafalda, aportando em Gênova no dia 11 de outubro de
1921. Na ocasião, o marquês Renzo de La Penne, representando o Conselho Administrativo do Lloyd Sabaudo, subiu a bordo do Conte Verde para agradecer pessoalmente a seu comandante, o Cav. Cap. Rizzo, e seus homens.
As escalas eram sempre as mesmas, ou seja, Villefranche, Barcelona, Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e Buenos Aires, e a viagem completa, de ida e volta, levava 45 dias.
O Conte Verde, em rara imagem de 1932, já com as cores da Italia Flotte Riunite,
antes de passar para o Lloyd Triestino
Novas cores - Em 1932, como consequência da reorganização da nova companhia, a Italia Flotte Riunite, o Conte Verde foi designado ao Lloyd Triestino, uma das companhias italianas amalgamadas pela
fusão.
Sob a bandeira e as cores do Lloyd Triestino, o Conte Verde foi empregado na linha de maior prestígio dessa companhia, ligando Trieste a Xangai (China), via portos de Veneza, Brindisi (Itália), Port Said
(Egito), Bombaim (Índia), Colombo (Sri Lanka), Cingapura e Hong Kong.
A primeira viagem nessa nova linha iniciou-se em 6 de outubro de 1932, e nesse emprego o Conte Verde permaneceu até a entrada da Itália no segundo conflito mundial (junho de 1940).
Surpreendido no porto de Xangai, ocupado pelos japoneses, no dia da declaração de guerra da Itália aos países aliados (10 de junho de 1940), o Conte Verde ali permaneceu bloqueado até 9 de setembro de 1943
(data do armistício da Itália), quando - para impedir a tomada do transatlântico pelas tropas japonesas - a tripulação corajosamente sabotou o próprio navio, afundando-o.
Reflutuações - A Marinha Japonesa conseguiu, porém, fazê-lo flutuar novamente e, depois de vários meses de reconstrução, o ex-Conte Verde foi rebatizado Kotobuki Maru e empregado pelos
nipônicos como navio-transporte de tropas até dezembro de 1944, quando, nas proximidades do porto de Maizuru, foi atingido e afundado por aviões bombardeiros dos Estados Unidos, indo a pique em águas não muito profundas.
A carcaça do Conte Verde-Kotobuki Maru - foi recuperada do fundo das águas do mar do Japão em 1948 e, em 1949, restituída ao antigo proprietário, o Lloyd Triestino, que por sua vez a vendeu como
ferragem a uma empresa japonesa.
Assim terminou a longa existência de um dos mais belos navios que sulcaram a Rota de Ouro e Prata, transatlântico em cujas pontes e luxuosos salões haviam transitado e vivido tantos de nossos antepassados;
salões que, de uma estética decorativa anglo-saxônica, passaram nos fins da década de 20 a receber os toques de elegância e conforto do famoso arquiteto naval italiano, Gustavo Pulitzer, mestre na arte da decoração naval de interiores.
"Conte Verde - A história deste navio é bastante interessante, pois ele foi afundado e reflutuado por duas vezes. Foi construído pela armadora italiana Lloyd Sabaudo, nos estaleiros de
W. Beardmore & Co., de Glasgow, Escócia, e lançado ao mar em 1923, na linha entre Gênova e Buenos Aires. Tinha 18.383 toneladas, 173,78 metros de comprimento, duas chaminés e dois mastros. Seus camarotes tinham capacidade para 336 passageiros na
primeira classe, 198 na segunda e 1.700 na terceira. O mesmo estaleiro construiu seu irmão-gêmeo Conte Rosso. Ainda em 1923 foi desviado para a rota Gênova-Nova York, onde ficou por dois anos. Retornou em 1925 para a América do Sul e em 1932
foi passado para a nova companhia Itália, formada com a união de armadoras italianas. No mesmo ano foi vendido para o Lloyd Triestino, que o manteve na rota até Buenos Aires. Durante a II Guerra Mundial, em 1943, foi afundado em Shangai, para
evitar que fosse capturado pelos japoneses. Depois foi reflutuado e acabou se transformando no navio japonês de tropas Kotobuki Maru. Em 1944 foi bombardeado e afundado perto de Kioto. Com o fim da guerra, em 1949 foi reflutuado e comprado
pela empresa Matsui Line. Em 1951 foi demolido".
Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso:
13/3/2006)
"Este cartão-postal oficial da armadora Lloyd Sabaudo, de 1926, mostra uma das varandas da primeira classe do navio Conte Verde, cuja história foi publicada anteriormente nesta página.
Note-se a decoração luxuosa e o conforto oferecido aos passageiros. O navio tinha acomodações para 336 pessoas na primeira classe. Estas varandas ficavam nos dois lados do navio. É interessante que o leitor, por meio desta imagem, tenha uma uma boa
noção de como eram as acomodações nos navios do passado".
Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso:
13/3/2006)
Varanda do navio Conte Verde, em cartão postal original
Foto: acervo do cartofilista Laire José Giraud,
publicada na rede social Facebook em 12/11/2014 |