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Edição 138 - Fev/2005
Editorial 

Só uma vida

Luiz Carlos Ferraz

A imagem do circuito interno de tevê do supermercado da pequena Sobral, no Pernambuco, parece não querer sair da lembrança e, entre um pensamento e outro, ela volta, perturbadora, transcendendo ao próprio fato. Afinal, queira ou não, tratou-se tão-somente de uma morte, consumada num único tiro, ainda mais disparado por uma arma com porte autorizado, quem sabe até acidentalmente, por um juiz de Direito. 

Recentemente, num condomínio de luxo em Bertioga, no Litoral de São Paulo, um promotor de Justiça também matou um rapaz; acidente não foi porque foram vários disparos. 

Quase que diariamente nas grandes cidades brasileiras, a vida de homem ou mulher, criança ou adulto, trabalhador ou marginal... é interrompida numa ação criminosa. Ou, como já se admitiu, de forma "acidental". 

Outros fatos, contudo, foram notícia nos últimos dias. Como o casamento de Ronaldo O Fenônemo e Daniela Cicarelli; a eleição dos novos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara Federal, Severino Cavalcanti - este, aliás, que tanto espaço tem conquistado na Imprensa, até mesmo por causa de seu umbigo -; a repressão à pirataria no Porto de Santos. E ainda as homenagens ao Dia Internacional da Mulher... frisem-se, merecidas - ainda que sempre haverá quem pergunte quando é mesmo o Dia Internacional do Homem -, o aniversário deste ou daquele amigo... 

Mas, volta, perturbadora, a imagem da morte via circuito interno de tevê. A morte, não, a execução sumária de um trabalhador, que apenas cumpria ordens e não sabia com quem estava falando; pela qual, apesar de todas as evidências, o juiz talvez ficará impune.