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Originalmente publicado pelo autor em 4/2/1992 no caderno
semanal Marinha Mercante do jornal O Estado de São Paulo
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/03/01 22:02:36
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História
do porto
de Santos
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CDS cresce com o porto

"A história da Companhia Docas de Santos, responsável pela construção, organização e administração do porto de Santos, está intimamente ligada à história do desenvolvimento nacional. A empresa nasceu do pioneirismo de gente que, no final do século passado, acreditava no futuro do país, e aplicou técnicas e recursos nacionais, contribuindo com vultosos investimentos para a instituição de um dos mais importantes serviços públicos do país.

O porto era reclamado pelo comércio paulista – São Paulo surgia como o pólo de riqueza do novo país, independente em 1822 e tornado República em 1889 -, que sofria prejuízos econômicos consideráveis com a perda das mercadorias nas ruas santistas. Com o problema da febre amarela, marcando Santos como lugar maldito nos portos de todo mundo, avolumavam-se as queixas dos transportadores marítimos.

Obras de ampliação do porto, no início do século XX
Santos era então um lugarejo de 20 mil habitantes – a capital paulista não contava com mais de 150 mil habitantes -, com vida tumultuada em função do embarque e desembarque de mercadorias em trapiches.

O registro da Gazeta de Notícias de 30 de maio de 1896 mostra o clima com relação ao porto: “É bem conhecida a história do porto de Santos, que desde 1856 até 1888 procurou o Governo melhorar, tudo envidando para isso já por meio de diversas concorrências e estudos a que mandou proceder, já fazendo concessões a particulares e à então Província de São Paulo por decretos em que foram consignadas vantagens que bem remunerassem os capitais empregados em tão útil quanto inadiável melhoramento. Infelizmente, todas estas concessões caducaram, e o porto de Santos foi piorando até tornar-se o espantalho da navegação de longo curso pelas suas péssimas condições higiênicas e o fato de pagar-se quase o dobro do frete exigido para o Rio de Janeiro aos navios destinados àquele porto”.

O trabalho para a construção dependeria do saneamento do estuário de Santos. Estudos realizados pelo engenheiro inglês Minor Roberts, com alterações introduzidas pelo engenheiro Domingos Sérgio de Sabóia e Silva, foram a base para a concorrência e serviram como ponto de apoio à realização das obras que a concessionária iniciou em 1888.

O primeiro trecho de cais, com 260 metros, foi entregue ao tráfego em 2 de fevereiro de 1892, com a atracação do navio inglês Nasmyth. Devido à sua vital importância para o surto econômico do estado, as obras prosseguiram dentro dos prazos estabelecidos, sob a orientação técnica do engenheiro Weinschenk. No ano seguinte, foi aberto o restante do cais contratado, perfazendo 846 metros, e nesse mesmo ano, a 27 de julho, a São Paulo Railway ligou seus trilhos aos da CDS.

Os construtores do porto brindam a mais uma etapa do trabalho, no início do século XX
Ainda em 1893, a Associação Comercial de Santos assim comentou o trabalho desenvolvido: “Pelo relevante serviço que já está prestando o trecho em tráfego (260 metros), podemos ajuizar as vantagens, as facilidades e os lucros que nosso comércio auferirá, quando todo ele estiver construído, e quando tal se der, poderemos nos orgulhar de possuir o melhor porto da América do Sul e um dos mais notáveis, senão igual, aos mais afamados do mundo. Também poucas vezes tem-se visto, entre nós, executar-se com tanta perfeição e propriedade uma obra de tão elevado valor; é esta a opinião dos competentes”.

Abertura do capital – Consolidada poucos anos depois, e já inexistindo dúvidas sobre o sucesso do empreendimento, a Companhia Docas de Santos abriu seu capital, até então constituído exclusivamente pelas quantias aplicadas pelos sócios fundadores. Por subscrição em dinheiro, o capital social foi em 1897 elevado para mais de 68 mil contos de réis. Confrontando-se dados da CDS com os do então Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, pode-se avaliar a magnitude dos valores envolvidos nos anos considerados: a imobilização do capital da empresa, que em 1888 era de 3.851:505$570, passou em 1892 para 19.067:131$043 e em 1897 para 68.233:363$875. Nos mesmos anos, o orçamento federal, a dotação orçamentária e a taxa do dólar eram, respectivamente: 1888 – 141.230:104$834, dotação de 35.177:042$344, dólar a 2$270; 1892 – 205.948:264$128, dotação de 67.172:576$355, taxa de 3$700; 1897 – 313.169:790$036, dotação de 72.205:864$166, taxa do dólar a 8$176.
 

Ano Capital 
da CDS
Orçamento 
federal
Dotação orçamentária Dólar/EUA 
1888 3.851:505$570
141.230:104$834
35.177:042$344 2$270
1892 19.067:131$043
205.948:264$128
67.172:576$355
3$700
1897 68.233:363$875
313.169:790$036
72.205:864$166
8$176

Ao mesmo tempo em que a empresa se capitalizava, com aumentos sucessivos do capital social, as obras de ampliação do porto prosseguiam. Paralelamente, e até como conseqüência, foi melhorando a situação sanitária de Santos.

Isso foi atestado pelo próprio órgão do Partido Republicano Paulista, o Correio Paulistano, na edição de 4 de janeiro de 1911: “Dois elementos com especialidade têm concorrido, e poderosamente para isso, as Docas e as obras de saneamento, por meio de drenagem. Não há muito tempo, o nosso principal porto ainda se nos apresentava em condições bem precárias... Santos era um foco de febre amarela e de bexigas, que todos temiam. Só residiam lá as pessoas a isso obrigadas pelos seus próprios interesses”.

Cábrea Samsão movimentando bloco para a construção do porto, em 1901
Pouco antes, na edição de 26 de dezembro de 1909, o Times de Londres analisava o empreendimento portuário: “Em 1892, duzentos metros de cais, construídos por uma firma local e com capitais próprios, foram entregues ao tráfego. Dois anos depois, mais mil metros estavam concluídos para o serviço do porto. Hoje, há uma muralha de cais que se estende desde a estação da São Paulo Railway, até os Outeirinhos, numa extensão de 4.800 metros, com espaço amplo para os grandes transatlânticos que partem da Europa com destino à América do Sul. O belo cais de granito está aparelhado com os últimos e melhores guindastes hidráulicos. O navio, trazendo ou levando 12.000 toneladas de carga, pode ser despachado em dez dias. A cidade de Santos, que em 1892 não passava de vestígio malsão dos tempos coloniais, transformou-se com as obras do cais em conhecido porto de saúde, com belas ruas e avenidas, bonitos edifícios e trens elétricos”.
Obras do Canal do Mercado, pela CDS. Ao fundo, bonde 19 e as cantinas de madeira