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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa

A defesa dos idiomas no mundo - Alemanha

Texto publicado por Carlos Pimentel Mendes na lista de debates Fórum do Idioma, em 13/8/2000:

"Transcrevo do livro "A Aventura das Línguas", de Hans Joachim Störig, Editora Melhoramentos, página 140. Sugiro que leiam os dois primeiros parágrafos como curiosidade (aliás, considero o livro todo muito interessante, inclusive por incluir estatísticas do uso de nosso idioma no mundo, análise sobre a razão biológica e climática - isso mesmo - das diferenças de pronúncia entre Brasil e Portugal e dentro do Brasil etc.). No último parágrafo, façam um paralelo com a situação brasileira e/ou colham subsídios para enriquecer o debate, pois até agora temos usado bastante como referência os exemplos da defesa dos idiomas espanhol e francês.

------------INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO-----------

Até 1700 o inglês exerceu pouca influência sobre o alemão, limitando-se a fornecer palavras para a língua naval e mercantil. A partir do século XIX afluem várias palavras inglesas da área esportiva: a própria palavra Sport, e entre outras Training, Start, Jockey, Hockey, Match, fair. Então a Inglaterra se torna um centro difusor de hábitos sociais e da moda, e assim os alemães adotam palavras como Gentleman, flirten, Dandy, Cut, Ulster, Raglan, Pullover. O Império Britânico, em sua extensão mundial, vê o inglês englobar palavras de línguas exóticas, que então passam para o alemão: Punsch ("ponche") vem do hindu (e se chama assim por causa dos "cinco" ingredientes), tal como Pyjama e Dschungel ("Selva"); outras como Khaki e Schal ("xale") vêm do persa. O holandês continua a enriquecer a linguagem marítima com palavras como Kai ("cais"), Küste ("costa"), bugsieren ("rebocar"), baggern ("dragar").

As inclusões exóticas no alemão provêm de tantas línguas que é praticamente impossível enumerá-las. Alguns exemplos: aos árabes o alemão deve Gamasche ("polaina"), Sofa, Razzia; aos turcos Kaviar e Joghurt ("iogurte"); das línguas indígenas da América antiga vêm Tabak, Kautschuk ("borracha"), Kanu ("canoa"), Tomate, Schokolade, Mahagoni ("mogno"), Zigarre ("charuto"); de línguas africanas vêm Gnu, Schimpanse, Zebra; da Austrália, Känguruh; do Japão, Bonze e Harakiri.

Durante algum tempo, palavras estrangeiras chegavam à Alemanha em tal quantidade que se temia viesse a língua a perder suas características próprias. Contra isso lugaram muitas personalidades importantes, chamadas então de "puristas", que eram até mesmo ironizadas. O próprio Goethe zombou do purista J.H. Campe, que, por volta de 1800, procurou e propôs substitutos alemães para vários estrangeirismos. Com o decorrer do tempo, muitas de suas novas criações acabaram por ser aceitas. Ele substituiu Ghillotine por Fallbeil, Rendez-vous por Stelldichein e Bittsteller por Supplikanten; ele tornou a língua corrente (Umgangssprache, palavra criada por ele) mais rica e mais bonita. O Romantismo e o crescimento do nacionalismo provocaram uma tomada de consciência a respeito do passado nacional e da língua ancestral, e assim antigas palavras alemãs meio ou totalmente esquecidas como Minne ("amor cortês"), Fehde ("conflito"), Recke ("herói") e Kür ("eleição") foram revividas. Também agiu nessa direção Richard Wagner.

O texto a seguir, extraído de "Mozart - Crônica de Vida e Obra", livro de Kurt Pahlen publicado pela Ed. Melhoramentos, se refere ao famoso compositor, como destaca Franz Hildinger, membro do MNDLP, em 7/8/2000, na lista de debates Idioma:

Se em suas viagens anteriores como criança-prodígio e Signore Cavaliere Wolfgang foi exposto a numerosas impressões de caráter geral e sugestões artísticas duradouras, os meses passados em Mannheim deixaram traços indeléveis em sua alma e direcionaram de maneira decisiva sua vida e obra futuras. Aqui em Mannhein ele foi tomado pelas primeiras e mais profundas aventuras da alma, cujos efeitos artísticos somente revelariam em toda a sua força nos anos seguintes.

A primeira grande experiência de Wolfgang em Mannheim foi a ópera nacional alemã. Após o trabalho precursor das comédias musicais de Hiller, as tentativas rebeldes de uma ópera alemã contra o predomínio italiano arrebataram o jovem compositor de óperas e despertaram seus sentimentos patrióticos. A partir daí a idéia de uma ópera nacional alemã não mais o abandona, e o acompanhará por toda a vida.

Nos anos seguintes, em Paris e Viena, seus sentimentos nacionalistas o levam a fazer as seguintes declarações: "Peço todos os dias a Deus que me conceda a graça... que eu honre a mim mesmo e a toda a nação alemã", "mas o que mais me consola e mantém meu bom humor é pensar... que sou um alemão autêntico". "Cada nação tem sua ópera - por que nós alemães não a teremos?"

E em uma carta de 21 de março de 1785 a Anton Klein, em Mannheim, escreve: "Se houvesse mais um único patriota arriscando-se - a coisa teria outra cara! - Então talvez o teatro nacional que ainda está germinando florescesse, e por acaso seria uma mácula eterna para a Alemanha se nós, alemães, com seriedade começássemos a pensar em alemão - a negociar em alemão - a conversar em alemão e até mesmo - a cantar em alemão?!!" Para ele é totalmente indiferente se a ópera nacional despontar em Viena, Mannheim ou outro lugar do sul da Alemanha, desde que ela desperte para uma nova vida e possa afirmar-se perante a arte estrangeira. E mais tarde, no início e no fim de seus anos de grande mestre, ele mesmo atentará erguer o palco da ópera nacional, e com o Rapto do Serralho e A Flauta Mágica criará obras que finalmente libertarão o teatro de ópera alemão das garras italianas.