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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/21/02 18:49:12
FEBEANET
Palmas para o candidato onipres(id)ente...- III

Leia agora o que afirmou na edição de 18/9/2002 - apenas dois dias antes do incidente jornalístico em Palmas - a revista CartaCapital:

Página Web de CartaCapital com a chamada da matéria e a capa da revista de 18/9/2002

E A MÁQUINA AVANÇA

As ações e reações de Fernando Henrique, Nelson Jobim... e, mais uma vez, o embarque da mídia numa candidatura oficial.

Por Bob Fernandes

Fato. Segunda semana deste setembro. O presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, telefona para o dono de um jornal. Apela para que não publique uma notícia sobre o candidato do governo, José Serra, e acrescenta: Isso seria muito ruim para o Serra nesta hora. Para preservar a fonte, omite-se o nome do jornal. Se o presidente assim desejar é possível avançar; incluindo-se os fatos, inconclusivos até a madrugada da sexta 13. Mas nem isso ofusca a importância do telefonema.

Fatos. Fernando Henrique Cardoso é presidente do Brasil. Na primeira porção do seu governo, e até abril de 1997, Nelson Jobim foi ministro da Justiça. Depois, por indicação do presidente da República, tornou-se ministro do Supremo Tribunal Federal. Jobim é casado com Adrienne Senna, que no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) é detentora do poder de puxar ou não puxar o fio do fluxo e contrafluxo financeiro, em especial o ilegal, que circula, entra e sai do País. Quando Jobim e Adrienne se casaram, o padrinho foi José Serra que um dia com Jobim já dividiu apartamento em Brasília. Serra, candidato à Presidência da República pelo PSDB, partido que tem Serra, Fernando Henrique, e Nelson Jobim, entre os fundadores. Jobim, hoje, preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o processo eleitoral.

Na sexta-feira 2 de agosto, o colunista Luís Nassif revelou, em longo artigo na Folha de S.Paulo: com a intermediação de um amigo da família Bush, o empresário Mario Garnero, eleito Bush Jr. presidente dos Estados Unidos, "montou-se uma operação meticulosa para aproximá-lo de Fernando Henrique Cardoso".

Fatos, outros fatos, impediram uma relação mais amistosa, mas, relata Nassif, "a data final foi fechada entre Garnero e Jobim em uma reunião no Plaza Athénée de Paris". Condoleezza Rice era a ponte do lado de Bush Jr, o ministro Jobim, o interlocutor de Fernando Henrique Cardoso.

Quando fez seu relato da operação diplomática envolvendo o trio FHC-Garnero-Bush, Nassif referiu-se a Jobim como "o então ministro da Justiça". A CartaCapital, disse Nassif: "Nem me passou pela cabeça que à época ele já era ministro do STF". Mas já era.

A colunista da mesma Folha de S.Paulo, Mônica Bergamo, detectou a impropriedade e reescreveu a história. Já ministro do STF, Nelson Jobim teria participado de articulações e de uma missão, informal, em nome do governo de Fernando Henrique. O relato de Nassif, depois de publicado, não foi contestado. 

CartaCapital perguntou a Nassif: "O que você publicou merece ou mereceu algum reparo? É aquilo mesmo?" Nassif respondeu: "Não teve reparo algum à época, pelo contrário. E a única coisa que não estava certa foi eu ter afirmado que ele ainda era ministro da Justiça. Eu nunca iria imaginar..." Nunca iria imaginar um ministro da mais alta corte do País a cumprir uma missão em nome do Estado do qual deve, constitucionalmente, independer. 

CartaCapital procurou também o ministro Jobim para esclarecimentos. Seu assessor de comunicação, Armando Cardoso, infirmou que o ministro rumava naquela noite, quarta-feira 11, para Londres e que suas explicações já haviam sido dadas.

O ministro Jobim, em resumo, disse ao UOL News que "soube do assunto" pela reportagem na Folha de S.Paulo do domingo 8 de setembro. E ponto. Desde então, na mídia, necas de pitibiribas. Não se falou mais no "assunto". 

Imaginemos então o seguinte cenário: Lula é o presidente do Brasil. Jobim Nelson, que foi seu ministro da Justiça, é indicado para o STF (O que não diria a mídia?). Jobim Nelson e Adrienne se casam e João é padrinho do casório. João e Jobim Nelson, de tão amigos, já dividiram apartamento em Brasília. Mais tarde, João Encerra candidato a presidente da República, Jobim Nelson é alçado à
presidência do TSE. (O que não diria a mídia?) E Jobim Nelson muda a legislação, em pleno ano eleitoral, para tentar impingir uma verticalização a obrigatoriedade de, feita uma aliança no plano nacional,ela ter de se repetir no plano regional.

A modificação nas regras do jogo, ainda que embalada em anunciadas boas intenções, ajuda, não há como negar, a candidatura do amigo João. Empurra para o seu palanque o PMDB, que não tem alternativa uma vez que Gomes Ciro montou seu jogo com PTB e PDT, e faz crescer o tempo de João no horário eleitoral. (O que não diria a mídia?).

Não apenas isto: Jobim Nelson é, através de Mario, o amigo empresário, escalado para, sem deixar o Supremo Tribunal, servir como interlocutor na montagem de uma operação diplomática que envolve o presidente da República do mesmo partido do seu candidato, o João, e o presidente de um outro país, o mais poderoso da face da Terra. (O que não faria a mídia?).

CartaCapital, na vida real, ouviu também um grande amigo de Mario Garnero. Que foi categórico: Essa história é isso mesmo. O Mario, como brasileiro, trabalhou para ajudar o Brasil e o interlocutor comum entre Bush e o presidente Fernando Henrique foi o ministro Jobim.

A mídia, no mundo de Fernando Henrique, José Serra e Nelson Jobim, tirante a Folha no domingo 8, o UOL News no dia seguinte e o Correio Braziliense, mal registrou. E ponto. Seqüência ao caso? Investigações? Nadinha. É absorvente, extenuante, a tarefa de liquidar Ciro Gomes e mirar em Lula. Dada por encerrada a primeira parte do serviço, preparava-se, anotem, aquele que será o maior bombardeio de que já se teve notícia num ano eleitoral. Bombardeio contra o candidato Lula.

Em 1989, campanha a ser tratada ao final deste arrazoado, Fernando Collor de Mello foi assimilado. José Serra não. Ele é o candidato visceral do establishment, inclusive, e, em especial, o midiático. 

Note-se o levantamento de exposição dos candidatos, feito não por Ciro Gomes, mas pela assessoria do candidato Lula. Exposição nos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil e O Globo entre os dias 31 de agosto e 6 de setembro. Notícias negativas sobre Ciro Gomes: 106. Notícias negativas sobre Lula: 90. Notícias negativas sobre José Serra: 43. Notícias positivas sobre Ciro Gomes: 42. Notícias positivas sobre José Serra: 71. 

Antes de adentrarmos a história do bombardeio que já se anuncia, e a de outros a que o País já assistiu entre pasmo alguns poucos e cúmplice muitos, vale reler o que dizem alguns ilustres personagens sobre o processo eleitoral ou uma porção dele em curso.

Escreve, em 4 de setembro, Luis Fernando Veríssimo na crônica O Serra Sambando: (...) Quem nos assegura que não está nessa sua disposição (do Serra) de ser ridículo pelo Brasil, de ser desengonçado pela democracia e atravessar o ritmo por uma missão maior e não, como estão dizendo, no claro favorecimento da sua candidatura pela grande imprensa a explicação de sua subida nas pesquisas?

Escreve, em 3 de setembro, Jânio de Freitas, na Folha de S.Paulo, no artigo intitulado Ciro e Serra: (...) Em todas as redações há sempre algum novo episódio a comentar, na relação conflituosa de José Serra com jornalistas. Ninguém telefona mais, todos os dias, para dirigentes de mídia e editores do que Serra. A crônica lhe debita prejuízos sofridos por profissionais sérios... Sobre José Serra e Ciro Gomes, Jânio nota: Bem, há uma diferença adicional, esta por parte da mídia: é a diferença de tratamento entre a tolerância silenciosa e o rigor.

Escreve o ombudsman da Folha de S.Paulo, Bernardo Ajzenberg, no domingo 8 de setembro, sob o título Reta final: Foi uma semana em que serristas somaram motivos para comemorar, enquanto lulistas e ciristas acabaram "maltratados".
A longa e cirúrgica coluna do ombudsman é toda dedicada a, com exemplos, mostrar o claro favorecimento a José Serra em desfavor de Ciro Gomes e Lula.

É notável o fato no restante da mídia absolutamente incomum de a Folha de S.Paulo assegurar espaços para tão contundentes autocríticas. Recorde-se também o trecho em que Jânio de Freitas se refere a telefonemas para "dirigentes de mídia e editores". É aí que o jogo se resolve.

Escasso é o poder real da patuléia das redações. Quem, redações Brasil afora, der sinais de que não tem bom faro para o rumo dos ventos estará condenado ao degredo. Como está, de resto, quem ouse dizer aquilo que qualquer foca sabe, mas que não pode e nem há espaço para ser dito. De mais a mais, já dizia Karl Marx: "A ameaça de desemprego é um fator de disciplina no chão da fábrica". Imagine-se então nestes tempos de crescente desemprego no setor.

Antes de chegarmos ao bombardeio que se promoverá contra Lula, um pouco da metodologia. Primeiro, há que ser pragmático, e cínico. De um lado, visceralmente identificados, estão os interesses dos dirigentes das empresas, dos seus porta-vozes numa redação. De outro, os interesses de quem tenha, ou busque, um espaço privilegiado. A moeda do, ou da, escriba, na boa hipótese costuma ser a informação. Aposta-se sempre em que está, ou estará no poder.

É garantia segura de, acredita quem assim age, boa informação. Quando, já no poder, alguém dá mostras de estar em queda, ou liquidado, prepara-se rapidamente o grande salto em direção ao futuro; sempre haverá espaço para a meia-trava e a recueta; quem está no poder assimila, só chegou lá porque sabe como é esse jogo.

É da boa prática também a defesa prévia com ataques. Tome-se o caso da sucessão presidencial em curso. Desmonta-se quem aparecer pela frente da candidatura oficial e, depois, antes do desmonte seguinte, busca-se colar um rótulo em quem resista. Quem resista, seja lá por qual motivo for: princípios, mero impulso, ou mesmo as ânsias que o espetáculo costuma provocar.

A tática foi empregada pelo Chefe, Fernando Henrique Cardoso, quando do primeiro mandato em busca do segundo. Quem não se recorda dos seus adjetivos, repetidos ad infinitum pelos porta-vozes do governo em emissoras de televisão, rádio, jornais e revistas? Pessimistas, catastrofistas, primários, caipiras, radicais, atrasados, neobobos, nhenhenhém...

Bem, de repente o laureado governo teve de, num curto espaço de quatro anos, passar o pires e pedir US$ 70 bilhões ao FMI. Some-se a dívida interna de R$ 819 bilhões, o desemprego de 11 milhões de cidadãos... mas não há problema.

Quem está no poder conhece o jogo, sabe que, para salvar a face, alguma crítica sempre poderá ser feita por seus porta-vozes nos momentos mais dramáticos. Nada que não se esqueça pouco depois.

Nesta segunda semana de setembro, o cardápio do prato seguinte, Lula, já estava nas páginas: MST, muito MST, Santo André, Olívio Dutra, Zeca do PT... Para ser servido fartamente. 

Eis que reaparece a reencarnação do inominável: José Rainha! Amigas, amigos, por onde andava José Rainha? Por que só agora, como se viu também às vésperas da reeleição em 98, José Rainha reaparece nas páginas, nos telejornais? Por que, ao comando vocal de José Serra, manchetes buscam, cobram, apontam ligações entre o PT e o MST? Por que, enquanto se demonizava Ciro Gomes, desapareceram Rainha, o MST? Porque, ali, a hora era de matar Ciro.

Não por acaso, consumados e atestados os fatos, via pesquisas, o próprio candidato oficial prega e as páginas, colunas, manchetes, vibram na reverberação do que virá: Agora é o Lula!

Por que Santo André é um caso que esfria e esquenta no noticiário? O método é o de sempre. Nas colunas, nas notas, planta-se a intenção, com muita pimenta. Bate-se até ficar bem moído. A seguir, depois do fogo lento, coloca-se no noticiário, nas manchetes. Repete-se a operação tantas vezes quantas forem necessárias. Depois é só enfiar na gráfica, ou no ar... e servir. O filé irá para as manchetes e ao repasto no horário eleitoral gratuito. Ou para os debates, quando eles acontecem.

A propósito de debates, Renata Lo Prete, na Folha, Ricardo Noblat, no Correio Braziliense, e uma pequena matéria em O Globo noticiaram o cancelamento do debate no SBT. Vamos aos bastidores, significativos, do cancelamento. José Serra, depois de acuado por Ciro, Lula e Garotinho no debate da TV Record, temia a repetição do esquema 3 contra 1 e não queria o debate a ser mediado por Silvio Santos no SBT. Silvio Santos, patrão de Gugu Liberato, estrela da campanha de Serra no horário eleitoral gratuito. Gugu, que recebeu Serra domingos e domingos, quando a sucessão ainda se iniciava. Serra não queria o debate e Silvio não queria desagradar a Serra, mas, sendo Silvio, não queria desagradar a ninguém. O que fez Silvio? Tirou uma do baú. Numa reunião com assessores dos candidatos, impôs uma condição de última hora: não seria permitido atacar o presidente da República nem o seu governo. Ah, não aceitamos, foi a resposta dos candidatos de oposição. Então cancele-se o debate, encerrou o patrão do Gugu. 

Dirão, com razão, que Ciro Gomes cometeu erros que o levaram para o alvo. Lembrarão ACM, Bornhausen, o PFL oligárquico... (Mas o que dirão as manchetes agora, quando o mesmo PFL anuncia o embarque na candidatura Serra?).

Ciro, além de permitir dúvidas reais e legítimas quanto à hegemonia em seu projeto, cometeu o pecado do excesso de auto-suficiência. Imaginou ser possível enfrentar A Máquina apenas com seu verbo e suas intenções. 

Descuidou-se, se expôs, fez frases diante de quem estava pronto para trucidá-lo. Ciro, em determinado momento, trocou a crítica às estruturas pelo combate direto, nominal, pessoalizado. E trocou num crescendo de temperatura verbal. 

Anotava o diretor do Correio Braziliense, Ricardo Noblat que vive e conhece Brasília há 20 anos, em 18 de agosto, na sua Carta ao Leitor: A maioria dos donos de veículos de comunicação quer a vitória de Serra. A maioria dos jornalistas se divide entre Lula e Serra. Ciro virou um incômodo para Lula, Serra, donos de mídia e jornalistas. O modo como trata os jornalistas piora o tratamento que recebe deles. Uma eventual vitória de Ciro obrigaria os jornalistas a renovarem suas agendas de fontes de informação e a voltarem a cultivar fontes que já tinham descartado, como o ex-senador Antônio Carlos Magalhães...

Parece tão pouco, não é, caro leitor, cara leitora? Mas é assim mesmo. Boa porção de colunistas e/ou importantes jornalistas que das informações de ACM se alimentaram por anos e anos, de repente, não mais que de repente, descobriu ser Antônio Carlos um oligarca.

Quando da desgraça daquele que, sob silêncio obsequioso, foi sócio do governo de FHC desde sua gestação, desceram-lhe o malho, ajudaram a encaminhá-lo de volta para a Bahia de onde agora retornará. Daí, ao notar o fechamento do cerco, a ferina, histórica e minimalista constatação de Antônio Carlos no dia em que sentiu no lombo a volta do cipó de aroeira: A mídia é safada.

Talvez seja necessário ocupar os microfones do Maracanã, ou do Morumbi, num dia de Fla x Flu ou Palmeiras e Corinthians, e perguntar a quem dispõe de grandes redações, de recursos para investigar em larga escala e continuamente: Onde está Ricardo Sérgio, aquele que foi tesoureiro de campanhas de José Serra e personagem central no processo de privatização do Sistema Telebrás??? Como anda o inquérito que, na Polícia Federal, do Rio, apurava suas peripécias no processo de privatização??? Por que o delegado que apurava o caso foi afastado??? O que foi feito da denúncia, de Benjamin Steinbruch, de que propinas foram cobradas (R$ 15 milhões) na privatização da Vale do Rio Doce??? Pagaram ou não pagaram??? Quem recebeu??? Em nome de quem??? Quem financia, quanto custam as campanhas presidenciais??? Todas!? Por que sumiram, na Sabesp, a companhia de águas de São Paulo, os adendos que tratavam do bilionário projeto de despoluição do Rio Tietê? Projeto que teve na gestão a empresa do falecido Sérgio Motta.

Por que, um dia, o ministro Paulo Renato sentiu-se alvo de um conjunto de informações que ligava o alto tucanato ao bilionário empréstimo do BID para a despoluição do Tietê? (Que uma década e centenas e centenas de milhões depois segue poluído.)

É certo, seguro, que uma frase infeliz de Ciro Gomes sobre o papel de sua mulher deve ser alvo de críticas, talvez até de dias e dias de manchetes, como foi, mas o que dizer do escandaloso silêncio diante, por exemplo, dessa pautaria aí acima?

É do bom jornalismo investigar, repisar, mais uma vez, as ligações do PT com o MST, mas e as imbricadas ligações entre o mundo da política e o processo de privatizações no Brasil, onde andam?

Por que o lado obscuro das privatizações sumiu das páginas, das manchetes, dos telejornais? Se tudo aquilo era ficção, por que um dia foi notícia? Se não era, por que não é mais notícia, enquanto Santo André, o Zé Rainha e o Olívio voltam às manchetes?

Qual foi, como se deu, a ascensão econômico-financeira de cada um dos candidatos? Como ganharam a vida, em que instante deram o salto, se é que deram? O que dizem, disseram, seus pares ao longo da caminhada na vida pública? CartaCapital já respondeu a muitas dessas indagações em seus oito anos de existência. 

Por que razão grupos de mídia que têm repórteres qualificados em quantidade suficiente para tal missão que é árdua, onerosa e lenta não esclarecem, ou não retomam esses pontos, básicos, para o eleitorado? Quiçá porque uns terão mais explicações a dar do que outros.

Por que razão a mídia, que vive quase toda ela uma situação de extremada penúria, não levou à população, aos seus telespectadores, ouvintes e leitores, o debate sobre o ingresso ou não de capital estrangeiro para as atividades no setor? Não levou porque esse é, foi, um jogo e um acerto de portas fechadas, entre meia dúzia de senhores. A sobrevivência da maior parte dos grandes grupos dependeu, depende, dependerá, da vontade, da caneta e dos cofres de quem estiver na Presidência da República, de quem mandar no BNDES, no Banco do Brasil, uma vez que o ansiado capital estrangeiro anda escasso, pode nem desembarcar. Para tanto, é preciso apostar, confiar em quem for chegar lá. É preciso história, convivência, compromisso de classe. Esse é o jogo.

A Máquina se move, como já se moveu em tantas outras ocasiões. Em 1998, quase solitário, no telejornal da Band, Paulo Henrique Amorim anunciava, dia a dia: "Hoje o Brasil perdeu 900 milhões... perdeu 1 bilhão... perdeu 700 milhões... a mudança do câmbio é inevitável..."

Manteve-se a farsa até que se encerrasse o segundo turno. O País sangrou em US$ 39 bilhões e, no 13º dia depois da posse, fez-se a inevitável desvalorização.
Por que a mídia, em especial a eletrônica, calou-se diante da obviedade? Basta conferir quem ganhou concessões na telefonia, nas tevês a cabo, nos satélites, nas listas telefônicas, nos guichês do BNDES ou do Banco do Brasil. Lá estarão as digitais e mais um capítulo da história do Brasil. 

Que Lula coloque suas grisalhas barbas de molho. A Máquina se move, e tem sede, fome de manter-se à frente do poder. A título de ilustração, recordemos alguns de seus grandes momentos.

Setembro de 1994, edição 567, a revista Exame, em 14 páginas, faz uma reportagem e entrevista Fernando Henrique Cardoso. Título da reportagem: "Nunca foi tão fácil fazer a opção certa". Capa da revista com o rosto do candidato e a manchete, garrafal: Por que Fernando Henrique é melhor

Cinco anos antes, novembro de 1989, a três semanas do 17 de dezembro, data do segundo turno entre Fernando Collor de Mello e Lula. A revista Veja, em sua matéria de capa, traz Lula e o capitalismo. À página 53, em matéria de sete páginas, caracteriza-se o PT: (...) se abrigam sindicalistas com variados graus de agressividade, líderes grevistas e seitas esquerdistas que adoram fazer elogios ao sandinismo da Nicarágua, ao comunismo cubano de Fidel Castro e à luta de classes.

Ao lado de Collor havia de tudo um pouco, inclusive um bando que iria assaltar os cofres públicos, mas aquilo não era importante naquele momento decisivo.
Segue a matéria, aterrorizadora: Aquela fatia da população que é dona do seu próprio negócio tem a impressão de que vai ficar muito mais difícil trabalhar, investir e ganhar dinheiro caso a hipótese Lula se transforme no presidente Lula. 

Não era o suficiente. Havia mais: As pessoas que conseguiram formar um pequeno patrimônio ao fim de uma vida de trabalho, mesmo que seja uma casa posta para alugar, perguntam-se o que pode lhes acontecer. Há advogados querendo saber se sua clientela terá dinheiro no bolso para pagar seus honorários. Profissionais bem-sucedidos alimentam dúvidas sobre a possibilidade de ficar sem as promoções que esperam, sobre as nuvens que passam a cercar suas carreiras ou mesmo sobre as chances de perder o emprego.

Quarenta e cinco dias depois, Collor e os seus assaltavam a poupança de um país inteiro. O que se vê e o que se verá daqui por diante, embora mais sutil, mais sofisticado pelas experiências anteriores, é mais do mesmo. Em quantidade amazônica.

Veja mais:
Palmas para o candidato onipres(id)ente... (I)
Palmas para o candidato onipres(id)ente... (II)