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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/21/02 18:47:02
FEBEANET
Palmas para o candidato onipres(id)ente...-I

A desculpa apresentada pela Agência Estado, a agência de notícas do jornal O Estado de São Paulo, até que seria compreensível, se já não existisse uma ampla suspeita de parcialidade desse e de outros grandes - em tamanho - jornais brasileiros na cobertura da campanha eleitoral, como as apontadas na revista CartaCapital apenas dois dias antes. 

O fato é que no dia 20/9/2002, às 13h07, aquela agência informou aos leitores, com inúmeros detalhes, sobre a "vitoriosa chegada" a Palmas, no Tocantins, do candidato apoiado pelo governo federal, José Serra, e horas depois soube-se do cancelamento da viagem. Imediatamente, o candidato oposicionista Ciro Gomes abriu suas baterias, apontando o caso como uma prova indiscutível da parcialidade da grande imprensa a favor do candidato governista.

À noite, a Agência Estado retirou do sistema a notícia errada e colocou um pedido de desculpas
Então, ou ocorreu uma lamentável falha jornalística - que não deixa de ser uma formidável besteira, aumentada devido ao momento em que se verificou - ou surgiu uma bela prova da acusada estreita ligação entre os "donos" do poder e os dos grandes jornais, deixando-a ainda mais evidente.

É normal, por exemplo, agências de notícias manterem prontos no arquivo, com atualização constante, os obituários de todas as grandes personalidades, faltando apenas acrescentar dia, hora, local e circunstâncias do falecimento. Isso permite que, em tais casos, seja possível distribuir esse material de pesquisa rapidamente, momentos após a confirmação do falecimento. Em algumas situações, porém, esse material não é bem controlado, acontecendo então de um veículo de comunicação "furar" todos os outros com uma extensa reportagem sobre o falecimento... que não ocorreu.

Também é normal que um jornalista repasse à redação informações apuradas no local, antes do clímax do acontecimento, para agilizar a montagem da notícia e chegar primeiro ao leitor com os detalhes. O problema é que se isso não é muito bem controlado, causa situações como essa de 20/9/2002... 

Um detalhe importante é que a agência noticiou como ocorrido, às 13h07, um fato que só estava programado para ocorrer duas horas depois, às 15 horas. Isso é ponto a favor da explicação dada pelo jornal, quanto à liberação errada da notícia. Mas é também ponto contra, ao se constatar que várias horas antes (considerando o tempo necessário à redação do texto, transmissão à central e tramitação interna para a entrega aos leitores) já havia um texto pronto com detalhes do evento que, de tão variáveis, nem compensaria deixar no texto pronto, como o número de participantes da carreata. 

Agência Estado noticia o cancelamento da viagem, quatro horas depois de divulgar a falsa chegada
Seria compreensível que a jornalista deixasse pronta com antecipação a parte "fria" da notícia (que pode ser apurada com antecedência), mas o primeiro parágrafo (o "lead", no jargão jornalístico) só deveria ser feito no momento apropriado, constatados os fatos - as pessoas, mais de duas horas antes, ainda estavam indo para o aeroporto, então é um belo exercício de adivinhação calcular quantas estariam no local no momento da chegada do candidato à Presidência.

Bem, que foi uma besteira do jornal, não há dúvida. E mais grave besteira é alguém pensar que pode esconder a verdade para sempre, no caso das ligações espúrias entre imprensa e governo. Se a alma do negócio, no jornalismo, é a credibilidade, vender a alma, manchando a reputação de forma que muitos anos depois isso seja lembrado, é como dar um tiro no próprio pé.

Que o diga a Rede Globo de Televisão, sempre lembrada - como neste momento - por suas ligações com a empresa Proconsult, no escândalo da apuração dos votos em uma eleição no Rio de Janeiro, cerca de duas décadas antes, e por ter ignorado como "inexpressivo" o fato de a Praça da Sé, no centro da capital paulistana, estar completamente tomado por manifestantes exigindo as eleições diretas no País - clímax de uma série de outras manifestações conhecidas como "Diretas Já" que marcaram a história nacional.

Página principal de notícias do grupo Estado com a correção da notícia, em 21/9/2002
Agora, o presidente Fernanto "Dois Mandatos" Henrique Cardoso usar tão abertamente a máquina oficial em favor do candidato governista já não é uma besteira apenas - é uma grande imoralidade, que por si só justificaria medidas mais sérias do Tribunal Superior Eleitoral - não tivesse esse tribunal também pés de barro, devendo ao país explicações sobre sua absurda posição no caso das urnas eletrônicas com segredos inconfessáveis - explicações que a História um dia cobrará dos protagonistas...

Independentemente das besteiras isoladas, vale portanto a inclusão desde já das eleições 2002 como uma das grandes besteiras nacionais, com lugar de (des)honra na edição 2002 do Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet), pelo nível a que chega o desrespeito ao leitor/eleitor - o "voto de cabresto", do tempo dos coronéis do sertão, pelo menos era claro, sem hipocrisias...
 


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