Clique aqui para voltar à página inicial  http://www.novomilenio.inf.br/humor/0206f003.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/05/02 13:36:09
FEBEANET
Palpiteiros criminosos regem mercado mundial

Um dos mentores deste Febeanet, o famoso animador de televisão Abelardo Barbosa, o Chacrinha, já dizia que "quem não se comunica, se trumbica". Mas também, não vamos exagerar. Depois da multinacional estadunidense Enron enrolar todo mundo com suas contas malucas, com a especial contribuição da empresa de auditoria Andersen Consulting - que acabou enrolada por completo nessa malha contábil, praticamente falindo junto com sua cliente -, agora é a vez da MCI WorldCom, multinacional das telecomunicações, ser comunicada pelo governo dos Estados Unidos de que terá de comunicar muito, para tentar convencer os investidores e as autoridades de que 2+2=5.

Sede do grupo MCI-WorldCom (Captura de tela - Rede Globo de Televisão - 26/6/2002 - 23h39) Instalações do grupo MCI-WorldCom (Captura de tela - Rede Globo de Televisão - 26/6/2002 - 23h39)
E a Embratel tem de se virar para dizer que não depende da controladora MCI-Worldcom para sobreviver, como no comunicado que emitiu logo após estourar o escândalo nos EUA. 

E a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) - que deveria ter analisado muito bem os números apresentados na época por aquela multinacional concorrente à compra da Embratel - vai ter de pular miudinho para provar que - pelo menos agora - está acompanhando atentamente o que ocorre no mundo que pode afetar profundamente o setor sob sua responsabilidade.

O português da anedota, mais competente que Wall Street (Captura de tela - Rede Globo de Televisão - 26/6/2002 - 23h40)
Pois, o que a MCI foi apanhada fazendo é algo que nem o português padeiro da anedota, lápis preso na orelha, faria enquanto retorce seus fartos bigodes: lançar débito como crédito. Seu exército de contadores - decerto recrutados entre os melhores maquiadores dos estúdios de Hollywood - aplicaram um golpe cinematográfico, durante anos, lançando as despesas normais de manutenção das linhas de telecomunicação como se fossem investimentos na estrutura, o que permitia apresentar um soberbo balanço, como se a MCI estivesse fazendo grandes investimentos e portanto aumentando seu patrimônio - quando, na verdade, estava se atolando em dívidas que agora fazem o preço de suas ações ir direto para o brejo - para fazer decerto companhia às ações da Enron.
Instalações do grupo MCI-WorldCom (Captura de tela - Rede Globo de Televisão - 26/6/2002 - 23h39) Instalações do grupo MCI-WorldCom (Captura de tela - Rede Globo de Televisão - 26/6/2002 - 23h39)
Incompetentes - Os analistas da Rua do Muro (Wall Street), em New York, devem estar batendo com a cabeça no muro, de vergonha por não terem detectado a trapaça, tão óbvia para quem mergulhe nos números da MCI como eles têm obrigação de fazer.

O curioso é que são esses mesmos incompetentes que deram como ótimos os papéis da Enron e da MCI nas bolsas de valores, mas se consideram em condições de avaliar o risco de investir no Brasil ou em qualquer outro país. Não enxergam o que acontece no próprio quintal e querem ser gurus palpitando no que se passa no resto do mundo.

Queda nas ações do grupo MCI-WorldCom (Captura de tela - Rede Globo de Televisão - 26/6/2002 - 23h39) Sede da Enron, protagonista do escândalo anterior (Captura de tela - Rede Globo de Televisão - 26/6/2002 - 23h45)
Seria divertido acompanhar suas mancadas, se não houvesse tanto em jogo, pois os palpites desses irresponsáveis é que definem se todo o trabalho dos brasileiros tem ou não valor: ao piorarem o chamado Risco Brasil, fazem com que os investimentos em nossas empresas sejam paralisados ou reduzidos, com que os produtos brasileiros percam valor no mercado internacional, com que aumente o desemprego no Brasil em razão direta da redução do menor giro de capital no Brasil.

Agora, o mais grave é que meia dúzia de incensados consultores divulgam pelos meios de comunicação que o risco do Brasil é pior que o da Nigéria, mas ao pé do ouvido de alguns seletos clientes eles recomendam investir no Brasil, o que prova sua má fé, além da irresponsabilidade. Como aconteceu com representantes em Wall Street do banco estadunidense Merrill Lynch, descobertos em meio a essa manobra fraudulenta, e que deveriam ser processados pelo governo brasileiro pelos prejuízos que causaram ao Brasil.

Junto com eles, também deveriam ser processados pelo governo brasileiro o banco holandês ABN Amro e o banco estadunidense Morgan Stanley, pela irresponsabilidade demonstrada perante o sistema financeiro internacional e pelas perdas que causaram ao Brasil. No mínimo, como lição para que outros aventureiros não se atrevam a brincar de novo dessa forma criminosa com a economia brasileira.

Risco Brasil e dólar pioram, 'graças' aos conselhos dos magos de Wall Street (Captura de tela - Rede Globo de Televisão - 4/6/2002 - 20h35) Risco Brasil e dólar pioram, 'graças' aos conselhos dos magos de Wall Street (Captura de tela - Rede Globo de Televisão - 4/6/2002 - 20h35)
Pelo conjunto de trapaças e incompetências demonstradas na análise da economia estadunidense e mundial, esses analistas financeiros travestidos de gurus da Economia merecem não só processo judicial como um lugar de destaque na galeria dos candidatos ao título de Besteira do Ano, neste Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet). 


P.S.: registrem-se, por oportunos, dois comentários divulgados via Internet sobre o tema das adulterações contábeis em companhias estadunidenses:

Rio de Janeiro - 01/07/2002 - Artigos - Número 165

A FRAUDE TEM DIVERSOS SABORES

Paul Krugman (*)

Então você é o gerente de uma sorveteria. O negócio não é muito lucrativo, então como enriquecer? Cada um dos grandes escândalos corporativos revelados até agora sugere uma estratégia diferente para tirar proveito dos negócios.

Em primeiro lugar, há a estratégia da Enron. Você fecha contratos para fornecer aos clientes um sorvete de casquinha por dia nos próximos 30 anos. Você deliberadamente subestima o custo do fornecimento de cada casquinha; então contabiliza todos os lucros projetados para essas vendas futuras no balanço do ano corrente. De repente, parece que o seu negócio é extremamente lucrativo, e você pode vender ações da sua loja a um preço inflacionado.

Há a estratégia da Dynegy. As vendas de sorvete não são lucrativas, mas você convence os investidores de que elas o serão no futuro. Então você fecha um acordo com a outra sorveteria da sua rua: cada um vai comprar centenas de casquinas do outro todos os dias. Ou melhor, fingir que compram. O resultado é que você se transforma em um grande competidor num negócio em expansão e pode vender ações a preços inflacionados.

Ou então a estratégia da Adelphia. Você assina contratos e chama a atenção dos investidores para o volume dos contratos, em vez da lucratividade deles. Dessa vez você não apela para transações imaginárias: simplesmente inventa pencas de clientes imaginários. Com o aumento da sua base de assinantes, os analistas de crédito lhe dão boas notas, e você consegue vender ações a preços inflacionados.

Finalmente, há a estratégia da WorldCom. Aqui não há vendas imaginárias; você desaparece com os custos, fingindo que despesas operacionais — creme de leite, açúcar, calda de chocolate — fazem parte do preço de compra de um novo congelador. De forma que seu negócio parece, no papel, ser altamente lucrativo, só precisando de empréstimos para financiar a compra de novos equipamentos. E você pode vender ações a preços inflados.

Ah, quase esqueci: como enriquecer? A maneira mais fácil é dar a si próprio inúmeras opções de compra de ações, assim você se beneficia dos preços inflacionados. Mas você também pode apelar para a criação de afiliadas, ao estilo Enron; para empréstimos pessoais, à Adelphia, e por aí vai. É bom ser diretor-executivo.

Há duas coisas preocupantes sobre este cardápio de tramóias. A primeira é que cada um dos escândalos revelados até agora usou um ardil diferente. Então não se pode nem dizer que poucas empresas teriam usado os mesmos truques da Enron ou da WorldCom — com certeza, outras companhias descobriram outros truques.

A segunda é que não era assim tão difícil perceber os esquemas fraudulentos. Por exemplo, a WorldCom diz agora que 40% de seus investimentos ano passado eram de araque, na verdade eram despesas operacionais. Como as pessoas que deveriam estar atentas à possibilidade de fraude — auditores, banqueiros e governo — não viram algo tão grande? A resposta, claro, é que eles não queriam ver ou foram impedidos de tomar uma providência.

Não estou dizendo que todas as empresas americanas são corruptas. Mas os executivos que querem ser corruptos encontram poucos obstáculos. Os auditores não estavam interessados em dificultar a vida das empresas que lhes garantiam uma gorda renda em consultoria; o mesmo em relação aos banqueiros, que, como no caso Enron, se beneficiavam dos lucrativos acordos. 

E os políticos, mantidos na linha com contribuições de campanha, impediam as autoridades reguladoras de trabalhar, reduzindo o orçamento das agências e criando “buracos negros” na legislação. Há seis meses, eu disse em um artigo que o escândalo Enron seria um marco para os EUA mais importante que 11 de setembro. Isso hoje soa implausível?

(*) Paul Krugman é colunista do jornal estadunidense The New York Times

e:
Mário Persona (*)

O recente escândalo de mais uma empresa, uma gigante das telecomunicações nos EUA, me deu uma idéia. Comecei a lançar, no canhoto do talão de cheques, os meus investimentos. O cheque para pagamento de água e luz entrou como investimento em infra-estrutura. Telefone e Internet, investimentos em telecomunicações. Gasolina? Investimento em transportes. O supermercado entrou como investimento em barriga. O departamento que mais cresce hoje, sem nenhum sinal de recessão em curto prazo.

Infelizmente o banco parece não entender minha contabilidade moderna, e enquanto as ações de minha empresa crescem em valor, meu saldo no banco diminui. Talvez seja apenas um problema de comunicação entre as diferentes empresas de consultoria que eu e o banco contratamos. Um problema que poderá confundir meus investidores. Se o banco contratar os consultores certos, tudo estará resolvido. Não é um problema de números, mas de ponto de vista ou, falando mais bonito, do método de análise adotado. E tem gente que ainda chama isso de capitalismo selvagem. Eu chamo de criativo.

Numa visita a um site para entender como foram feitos os efeitos de "Senhor dos Anéis", fiquei impressionado com o número de pessoas envolvidas com miniaturas. Que miniaturas? Seriam os anéis? Ou os baixinhos? Não eram. Todas aquelas construções imensas podem ser medidas em palmos. Sem contar as que são medidas em bits. O que parece grande nem sempre é. A arte está em parecer que é, não em ser. Ou parecer que tem, quando o que se tem são números apenas. Muitos com valor nominal, porém poucos em essência real.

O problema começa quando quem trabalha demais na construção dos cenários acaba acreditando que eles existam de verdade.

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante.