Clique aqui para voltar à página inicial  http://www.novomilenio.inf.br/humor/0202f002.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 06/29/03 11:18:32
FEBEANET
Minervino me enerva...

"Quem conta um conto aumenta um ponto..." (ditado popular)

Brasília continua postulando o título de capital do besteirol nacional, para não dizer coisa pior. É tanta besteira junta que elas já começam a colidir e se misturar na Internet: a mãe de um índio queimado vivo em 1997 por parentes ricos e desocupados de juízes federais vira homem, na pele de um juiz que beneficia irregularmente seu filho com um alto cargo público em 2001 (justamente na mesma época em que o caso do índio massacrado foi julgado). E a história embolada sai circulando pela Internet, vira lenda e, de tanto repetida, quase vira verdade, sendo repassada por pessoas indignadas e de boa fé. Eis a prova, na forma de uma mensagem que circula em diversas listas de debates na Internet (com o detalhe de que nas versões recebidas por Novo Milênio até 29/1/2002 ainda não aparecia a caracterização de Bruno como ligado à morte do índio pataxó):
 

----- Original Message -----
From: Marcelo Gatti <mpgatti.rlk@terra.com.br>
To: <photosynthesis@centroin.com.br>
Sent: Monday, February 11, 2002 12:36 PM
Subject: [photosynt] NOMEADO COM LOUVOR

Um dos abastados jovens que tocou fogo no pataxó Galdino poucos anos atrás já ganha salário de gente bem grande no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, coincidentemente presidido por seu papai...

 "NOMEADO COM LOUVOR"

Este foi o título da reportagem do Correio Braziliense do dia 22/12/01 a respeito da seguinte situação: O filho do presidente do TJDF, Bruno (aquele marginalzinho que pôs fogo no índio pataxó), fez concurso público para o cargo de segurança (12 vagas disponíveis; salário de R$ 1.300,00; nível exigido 2º grau) e ficou em 65º lugar. 

Depois do resultado do concurso, o número de vagas aumentou para 70! Após 12 dias no cargo, ele foi promovido a dentista do TJDF para ganhar R$ 6.600,00. O presidente do TJDF, Edmundo Minervino, ainda teve a cara-de-pau de afirmar na entrevista: "Não houve ato ilegal nenhum." 

Algumas questões que nós, cidadãos, perguntamos: 

- Se Bruno é tão bom assim, por que não fez concurso para o cargo de dentista? 

- Por que aumentar o número de vagas exatamente para 70? Poderia ter aumentado para 66, que o Bruno entraria... 

- Como estão se sentindo as outras pessoas que foram mais bem colocadas que Bruno no concurso? Será que, algum dia na vida, estas pessoas vão ganhar R$ 6.600,00? E os outros profissionais que já estão trabalhando há mais tempo no TJDF? 

Enquanto a marca Minerva limpa as nossas roupas, o sr. Minervino suja nosso país com muita lama... 

O objetivo deste e-mail é tentar alcançar o maior número de pessoas possível para mostrar como o coronelismo e paternalismo ainda existem fortemente no serviço público brasileiro. Tomara que este e-mail chegue até o sr. Minervino ou ao Bruno ou a algum promotor de Justiça para impedir essa baixaria...

Quem quiser repassar para frente, será um favor para o País...

M.Gatti

Agora, começa a investigação de Novo Milênio:

Conforme os termos do processo 17.901/97, o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos foi morto quando dormia em um ponto de parada de ônibus em Brasília, por um grupo de jovens da alta sociedade local, na madrugada de 20/4/1997. Agindo com requintes de perversidade, eles jogaram dois litros de álcool combustível sobre a pessoa adormecida e ao redor e atearam fogo, deixando em seguida o local sem socorrer a vítima de seu crime. Depois de presos, ainda apresentaram o argumento de que não sabiam ser a vítima um índio, pensando tratar-se de "apenas" um mendigo.

Devido à elevada condição sócio-econômica dos acusados, ocorreu intensa pressão das elites brasilienses para subtraí-los ao rigor da lei, para que seu crime não fosse qualificado como hediondo, o que levaria à condenação com penas maiores. Isso talvez acontecesse, caso a vítima não fosse um índio, massacrado justamente após o Dia do Índio, levando a história às manchetes internacionais. Os autos do processo - disponíveis no site Jus Naviganti - mostram os argumentos usados pela defesa dos jovens, que quase tiveram sucesso: os criminosos ainda foram condenados, em 10/11/2001, a 14 anos de prisão, por homicídio qualificado. Pena bem mais longa do que teriam se não houvesse a pressão popular nacional e internacional, exigindo o rigor da Justiça contra os criminosos. Mesmo assim, com os recursos para redução de pena, a previsão é que estejam nas ruas apenas três anos após o julgamento.

Conforme relatou a publicação Último Segundo em 29/12/2001 (em página não mais disponível no site original, mas recuperada via memória do serviço de buscas Google), "(...) Os quatro jovens condenados a 14 anos de prisão pelo homicídio qualificado do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, em Brasília, também vão passar o Ano Novo na prisão. Os primos Eron e Tomás de Oliveira, Antônio Novély Vilanova e Max Rogério Alves. Antônio é filho do juiz federal Novély Vilanova e Max é enteado do ex-ministro Walter Medeiros, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na madrugada de 20 de abril de 1997, os quatro atearam fogo no índio, que dormia em uma parada de ônibus de uma das principais avenidas de Brasília e morreu 24 horas depois, com a totalidade do corpo queimado. Eles já cumpriram quatro anos de prisão, enquanto aguardavam julgamento, e devem ficar mais três anos presos, pelos cálculos dos advogados. (...)". (grifo nosso).

Verifica-se então a origem do comentário sobre os filhos de juízes federais. A ligação entre o caso do índio e o do filho de juiz beneficiado com cargo público está no nome da mãe do índio massacrado: a mãe do índio Galdino era Minervina de Jesus. Em poucas semanas, uma falha de memória transformou o nome feminino Minervina no sobrenome do juiz envolvido em outra besteira: Edmundo Minervino, presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Na verdade, não consta em nenhum dos documentos relativos ao caso a presença do jovem Bruno Minervino na história do índio massacrado. Em toda a documentação pesquisada surgem apenas os nomes de Max Rogério Alves, Antônio Novely Cardoso Vilanova, Tomás Oliveira de Almeida e Eron Chaves de Oliveira, e ainda o então menor de idade G.N.A.J., primo de Eron.

A outra besteira citada na nota espalhada pela Internet se refere às manobras nepotistas de um juiz de Brasília. Eis a notícia original, publicada em jornal da capital federal:
 


Brasília, sábado, 22 de dezembro de 2001 
Cidades
Serviço público
Nomeado com louvor

Filho do presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal passa em concurso para segurança, mas é promovido a dentista e conquista a mais alta gratificação do fórum brasiliense



Da Redação

De segurança, cujo salário é de R$ 1.300, para o cargo de dentista do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF), ganhando R$ 6.600. A promoção ocorreu apenas 12 dias após a aprovação no concurso público. Graças a decisões de colegas de trabalho do pai, Bruno Minervino conquistou assim a mais alta gratificação do fórum brasiliense. Bruno é filho do desembargador Edmundo Minervino, presidente do mesmo Tribunal em que foi nomeado para a Função Comissionada (FC)-09.

Bruno foi aprovado em concurso público para a vaga de técnico judiciário na área de Segurança e Transporte em 10 de agosto. O filho do presidente do TJDF ficou entre os últimos selecionados para preencher as 70 vagas disponíveis. Ficou em 65º lugar no processo de seleção, realizado pela Universidade de Brasília (UnB), que exigiu o 2º grau completo. Mesmo sendo um dos últimos da fila dos novos servidores do TJDF, Bruno conquistou a gratificação mais alta depois de contratado.

Menos de duas semanas depois de ser nomeado como segurança do Tribunal, Bruno foi agraciado no Diário Oficial com outra nomeação. No dia 20 de agosto, foi designado a assumir função de assessor do Secretário-Geral, Leodito Faria. A portaria nº 377, que o promoveu, não foi assinada pelo pai, mas pelo vice-presidente do TJDF, desembargador José Campos do Amaral, no exercício da presidência naquela data. Entretanto, no mesmo dia, Edmundo Minervino, assinou outras portarias conforme está divulgado no Diário da Justiça do dia 3 de setembro.

Depois de ser requisitado como assessor do Secretário Geral, Bruno Minervino acabou remanejado para o Serviço Odontológico. Bruno é dentista e tem mestrado em Ortodontia. Antes da promoção, o filho do desembargador já tinha sido beneficiado por outra medida administrativa. Ele só pôde ser convocado pelo Tribunal porque foi ampliado o número de vagas para seguranças.

O edital do concurso previa apenas 12 vagas para a área de Segurança e Transporte. Mas foram ampliadas para 70 depois da realização do concurso. O Tribunal alegou que teve de cancelar o contrato com a empresa particular de segurança que prestava serviço ao Fórum e assim substituir os funcionários terceirizados por concursados. Segundo o desembargador Edmundo Minervino, o Tribunal de Contas da União proibiu o Fórum de contratar empresas particulares de segurança.

Assim, Bruno Minervino conseguiu retornar à função que já havia assumido no Tribunal, mas teve de deixar exatamente por ser filho de desembargador. Foi obrigado a largar o emprego em 1996 por causa da aprovação da lei que proibiu o nepotismo no Judiciário. Na época, Minervino trabalhava como dentista, ocupando cargo de confiança.

Ganho salarial

R$ 1.300 era o salário de Bruno Minervino, filho do presidente do TJDF, quando ele ingressou no fórum para trabalhar como segurança

R$ 6.600 passou a ser a remuneração do dentista após ser remanejado por
meio de portaria do tribunal



Quatro vagas para dentista


Segundo a lei que proíbe o nepotismo, parentes de juízes e desembargadores só podem assumir cargos nos tribunais se forem aprovados em concurso público. Para preencher a vaga no quadro de dentistas do TJDF, entretanto, Bruno Minervino teria de passar em concurso específico para o setor, que tem hoje quatro vagas em aberto. O exame seria mais difícil pois exigiria nível superior. Com a nomeação pelo vice-presidente do TJDF, Bruno não precisou fazer a prova.

O presidente do Tribunal, Edmundo Minervino, informou por meio da sua assessoria de imprensa que vai manter o filho no cargo em que está porque não houve irregularidade alguma na sua nomeação. Também negou qualquer influência junto ao vice-presidente do Tribunal para promover o filho. ‘‘Não houve ato ilegal algum. Bruno é concursado. Não foi beneficiado porque é filho do presidente, mas porque tem qualificação profissional para estar assumindo a função’’, disse a assessora de imprensa do Tribunal, Adriana Jobim.

O desembargador também sustentou que a nomeação do filho para o cargo de dentista foi vantajosa para o TJDF porque sairia mais caro pagar clínicas particulares para atender os funcionários.

Bem, já foi devidamente ampliada a versão 2002 do Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet) para incluir a história do Bruno e seu meritíssimo papai. Que fique bem claro, entretanto: "Não houve ato ilegal algum" na ampliação deste festival, pois aquela besteira tem todas as qualificações para participar do Febeanet, não só pelo nepotismo "legal" como pela própria confusão armada na Internet pelos que indevidamente ligaram essa besteira ao massacre do índio pataxó...