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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/19/01 13:10:24
FEBEANET
Adevogado da Estássio

Esta história entra com "menssão onroza" neste Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet), versão 2001, por chegar durante o período em que os internautas já estão votando nas besteiras do ano. Mas chega com o diploma a que tem direito (ou será o Direito a quem tem diploma?), enviado de Praia Grande/SP pelo internauta Franz Joseph Hildinger, em 15/12/2001, em mensagem eletrônica devidamente intitulada "Diproma pro Encino do Brazil":

Este texto foi bastante difundido na Internet brasileira, logo após a notícia de um analfabeto que conseguiu ser aprovado no exame vestibular para Direito da universidade carioca Estácio de Sá: :
 
Pagou, passou 

Osiris Lopes Filho (*)
Na minha época de estudante universitário, no Rio de Janeiro do início da década de 60, sentia um certo orgulho de ser aluno da Faculdade Nacional de Direito da antiga Universidade do Brasil. Vestibular difícil, com muitas matérias, duplo exame, com provas escritas e orais, com banca composta por professores do Colégio Pedro II, gratuidade do ensino, localização no centro da cidade e restaurante próprio, com refeições baratas e de boa qualidade, tudo isso provocava grande disputa seletiva entre os candidatos, ocasionando uma concorrência acirrada.

Embora houvesse grandes juristas entre os professores - era tempo dos catedráticos -, regra geral aprovados em concursos rigorosos, cumpridores do seu dever de ministrar as aulas, desde então começou-se a sedimentar minha convicção de que quem faz a escola é o aluno, e, em menor importância, o professor.

A escola envolve uma relação dialética entre o ensino e o aprendizado. Fora de dúvidas que bons professores transmitem melhor o conhecimento que dispõem. Todavia, o aprendizado depende decisivamente do nível intelectual dos alunos, do interesse que possuem, da capacidade de absorção do que lhes é transmitido, da vontade de aprender, seja pelo que os professores ensinam, seja pelo estudo e pesquisa que realizam.

Chocou-me recente notícia de que o cidadão Severino da Silva, padeiro, de 27 anos, analfabeto, foi aprovado no vestibular de direito da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Ele cravou as alternativas "A" e "B" da prova de múltipla escolha, onde estavam concentradas as opções corretas, entregou em branco a redação, e, mesmo assim, foi aprovado no vestibular dessa instituição, hoje uma das universidades com maior número de alunos, cerca de 34 mil.

Tenho visto muita coisa estranha nestes muitos anos de vida, mas esta aprovação constitui recorde histórico a marcar a trajetória do ministro Paulo Renato. Conseguiu a abertura total da universidade, reformou-a, em tal profundidade, que até os analfabetos conseguem obter ingresso nos seus bancos. É a democratização do ensino propiciada por dois professores, ocupantes dos mais importantes cargos da República na área: a presidência e o ministério da Educação.

Conseguiu-se, na gestão governamental desses dois docentes, realizar a grande revolução na universidade. Erodiu-se a universidade pública, e o ensino privado expandiu-se, ocupando a área, sedimentando-se no ensino superior as regras do mercado, dando não apenas oportunidade, mas acesso efetivo, ao deserdado das letras, o analfabeto.

Em plena República restabeleceu-se o direito de o mais humilde  intelectualmente dos nossos compatriotas ingressar na universidade, antes restrita aos dotados de boa escolaridade, e obter o título de "doutor", versão neoliberal da democratização do ensino superior submetido às regras do mercado. O ministro Paulo Renato, revolucionário educacional, conseguiu a proeza: um analfabeto ingressou na próspera universidade privada democratizada, aberta para todos, desde que cumpram o pacto educacional básico - pagou, passou.

(*) Osiris de Azevedo Lopes Filho, advogado, professor de Direito na Universidade de Brasília (UnB) e Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-secretário da Receita Federal.

Tal informação chega sincronizada com outra, de que o Brasil ficou em último lugar no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que aplicou uma prova a estudantes brasileiros de 15 anos, mostrando que, para eles, textos escritos em português simples são como se estivessem em latim ou grego: os estudantes simplesmente não foram capazes de entender o texto, como no exemplo: "A enfermeira aplicou a injeção no paciente" - questionados sobre quem havia aplicado a injeção, após a leitura dessa frase, responderam que foi o médico.

O Pisa aplicou prova semelhante a 265 mil alunos de 15 anos de idade, estudantes em escolas públicas e particulares de 32 países (no Brasil, foram 4,8 mil estudantes). O Brasil conseguiu ficar em último lugar, atrás de países como Letônia, Rússia e México, enquanto as melhores notas foram obtidas por jovens de Finlândia e Canadá, entre outros países desenvolvidos.

Bem a propósito, foi divulgada no Jornal do Brasil, que circulou no Rio de Janeiro em 14/12/2001 esta informação:
 

Brasil: só 26% dos alfabetizados 
sabem o que lêem e escrevem

Além de 9% de analfabetos, o País tem 65% de alfabetizados com deficiências

LUCIANA MIRANDA

Só 26% dos brasileiros entre 15 e 64 anos dominam completamente a leitura e a escrita. Outros 65% são alfabetizados, mas têm deficiência nessas habilidades. O analfabetismo brasileiro atinge 9% da população. Os dados são os primeiros resultados de uma pesquisa feita pelo Instituto Paulo Montenegro, entidade ligada ao Grupo Ibope que se dedica a projetos sociais na área da educação, em parceria com a Organização Não-Governamental Ação Educativa. 

Foram entrevistadas e avaliadas 2 mil pessoas em todo o País. A amostra foi calculada para ter representatividade nacional. Os dados compõem o 1.º Indicador de Alfabetismo Funcional do País. A idéia é refazer a pesquisa a cada ano, para avaliar a evolução da alfabetização. 

A pesquisa dividiu o alfabetismo em três níveis. Quem só consegue ler textos muito curtos, como títulos ou anúncios, se encaixa no alfabetismo nível 1. O nível 2 inclui essa habilidade e ainda a capacidade de compreender textos maiores, como uma reportagem pequena de jornal. O indivíduo que se encaixa no alfabetismo nível 3 domina a leitura de textos longos. 

Segundo Vera Masagão, da Ação Educativa, o ensino fundamental (que inclui da 1.ª à 8.ª série) deveria dar condições para que o indivíduo dominasse as habilidades de escrita e leitura e se enquadrasse no nível 3. Mesmo assim, a pesquisa detectou que apenas 42% das pessoas com ensino fundamental completo ou ensino médio incompleto dominam escrita e leitura. O restante se enquadra no alfabetismo nível 1 (13%) e nível 2 (44%). 

Tarefas - Para aplicar os testes, os pesquisadores usaram uma revista especialmente produzida para o estudo. Uma das tarefas mais simples exigia que o leitor identificasse, em um anúncio, a data de início de uma campanha de vacinação. Em uma tarefa mais difícil, a pessoa tinha de saber consultar a programação de filmes na TV. 

Vera explica que quem está no nível 1 ou 2 não é analfabeto funcional. "Essas pessoas usam o que sabem no dia-a-dia, conseguem acompanhar o texto da missa ou ler um pequeno recado. O problema é que o uso das habilidades fica muito restrito em algumas situações, comprometendo até o patamar mínimo que a pessoa precisa ter para continuar se aprimorando." 

"Não basta erradicar o analfabetismo", afirma Fábio Montenegro, secretário-executivo do Instituto Paulo Montenegro. "Precisamos sofisticar o olhar sobre a alfabetização, para ver quais as reais habilidades do brasileiro e investir na correção das deficiências."

E esta é do Correio Braziliense, que circulou em Brasília em 15/12/2001:
 


Língua portuguesa 
difícil de entender

Guaíra Flor
Da equipe do Correio

Fomos todos reprovados. Dentro e fora do país, justamente na área que deveríamos dominar melhor: a língua portuguesa. Foram duas notas baixas, em provas diferentes, confirmando a dificuldade do brasileiro em compreender e escrever textos. Na primeira, ficamos com a pior nota entre 32 países. Na segunda, o desempenho deixou muito a desejar. Reflexo de um péssimo hábito do brasileiro: não ler. 

O maior vexame veio do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). O exame testou o conhecimento de milhares de jovens entre 15 e 16 anos, em 32 países. No Brasil foram aplicados quase cinco mil testes. Vá lá, competimos com nações ricas como Estados Unidos e Finlândia, mas o resultado não podia ser pior. Em uma escala de um a cinco em interpretação de texto, ficamos no nível mais baixo. Pouco acima dos analfabetos. Ou seja, segundo o Pisa, o brasileiro decifra as letras, lê frases, mas não compreende os significados das mesmas. Como quem se depara com uma placa ‘‘Cuidado com o cão’’, lê, mas entra na casa calmamente por não entender o risco de ser mordido. O resultado coincide com uma pesquisa inédita do instituto IBOPE. Nela, apenas 26% dos brasileiros interpretam corretamente o que lêem. 

A outra ‘‘bomba’’ é resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), divulgado no início do mês. Depois de, no mínimo, onze anos na escola, somente 11% dos estudantes avaliados conseguiram boas notas em redação. Pior! A maioria (57%) teve péssimo desempenho em interpretação de texto. ‘‘Nossos estudantes fazem uma leitura rápida e superficial nas provas’’, explica Maria Inês Fini, diretora do Enem e do Pisa no Ministério da Educação. ‘‘Eles respondem as questões baseados nas próprias opiniões, não no que está escrito.’’ 

É consenso entre os educadores: quem não lê, tem problemas para lidar com as palavras. E sente dificuldade para entender a lógica dos textos ou para organizar as próprias idéias coerentemente. Prova disso é o desempenho sofrível de nossos estudantes. Também pudera, o brasileiro lê pouco. Quando muito, um livro por ano. Nos países da Europa, a média é dez vezes maior. 

Dos 86 milhões de brasileiros alfabetizados e com mais de 14 anos, apenas 30% fazem parte do grupo de leitores assíduos. Entrar nessa categoria não exige tanto esforço. Basta ter lido um livro nos últimos três anos. Seja ele um clássico russo ou um daqueles manuais de auto-ajuda. Os dados fazem parte da pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, divulgada este ano pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). 

De quem é a culpa? Os especialistas se dividem. Para uns, o fato de o brasileiro não ler é um problema cultural. A imprensa só foi autorizada no país a partir de 1808, três séculos depois do descobrimento. ‘‘Não fomos acostumamos a ler, por isso quando os livros chegaram ao Brasil, a sociedade achou a novidade dispensável’’, explica Regina Zilberman, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e uma das maiores especialistas em literatura do país. 

Um segundo grupo aponta outro culpado: a escola. Livros, no colégio, tendem a ser sinônimo de problemas para meninos e meninas. Eles são obrigados a ler para responder fichas literárias, resumos da história ou pequenas provas. ‘‘As crianças vêem o livro como castigo, não como algo prazeroso, por isso não gostam de ler’’, argumenta Célio da Cunha, assessor especial da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) para área de educação. 

‘‘Os professores não estão preparados para ensinar os alunos a gostar de ler’’, lamenta a diretora do Enem. Eles próprios não têm tempo para ler nem acesso aos livros. ‘‘É uma vergonha, mas eu não leio há mais de um ano’’, conta C.A, professora de uma escola pública da Asa Norte. 

Preço alto - Há ainda um terceiro motivo para o brasileiro não ler. Os livros são caros. Para quem não tem dinheiro até mesmo a assinatura de um jornal ou revista pesa no fim do mês. ‘‘Recuso-me a acreditar que o brasileiro não goste de ler, o problema é ter acesso a bons livros’’, afirma Célio da Cunha. Livros no Brasil não saem por menos de R$ 20. Em países como Estados Unidos e Cuba, os preços de títulos populares giram em torno de R$ 5 a R$ 14. 

Se serve de consolo, o número de leitores aumentou nos últimos anos. Cerca de 70% da população alfabetizada se interesse em ler mais (leia quadro). Essa mudança de perfil deve-se, em muito, a escritores como Jorge Amado, Carlos Drumond de Andrade e Clarice Lispector. Eles alavancaram o mercado editorial brasileiro e estimularam a população a pelo menos passar o olhar pelas letras. Escritores do século XIX, como Machado de Assis e Olavo Bilac, não tiveram a mesma sorte e eram mais lidos na Europa que no Brasil. 

‘‘Se investirmos na formação de novos leitores, temos condições de reverter esse quadro nos próximos vinte anos.’’, diz Zilberman. ‘‘Afinal, quem descobre o prazer da leitura não abre a mão de um bom livro por nada.’’

O que esse espelho nos mostra

Ana Maria Machado (*)

Em primeiro lugar, para falar de quem tem problemas de leitura, compreensão e interpretação de textos, nós temos é que ter cuidado com a nossa leitura (e compreensão e interpretação) do noticiário sobre essa questão. É fundamental entender que esse teste comparou jovens da mesma idade em diferentes países — não jovens na mesma série escolar. 

No Brasil, em média, devido à repetência, os adolescentes de 15/16 anos não estão no segundo grau — como era de se esperar por sua idade. Se conseguiram driblar o outro flagelo, que é a evasão escolar, e ainda continuam estudando, estão na 6ª e na 7ª séries. Isso desloca o problema. A pergunta deixa de ser: por que um adolescente brasileiro lê mal ou tem pouca intimidade com a palavra escrita? Passa a ser: por que na escola brasileira é tão arraigada a noção de se repetir ano? 

Além disso, nosso ensino privilegia as ciências exatas e não as humanidades. É omisso no que se refere às artes. Não se estuda desenho ou música na escola, por exemplo. A literatura, se ainda está presente de 1ª à 4ª série — não apenas nas aulas, mas nas salas de leitura e bibliotecas escolares — se afasta muito do mundo escolar daí por diante, porque deixa de haver aquela professora que conta histórias e mostra livros. 

Via de regra, professores de adolescentes são especializados e só tratam de sua matéria. Não lêem literatura e não falam com entusiasmo de suas leituras. Não andam de ônibus ou trem mergulhados num romance ou num volume de contos. As avaliações do aprendizado não valorizam narrativas ou dissertações, mas procuram medir objetivamente a matéria dada. Entregues a um magistério que se forma sem ao menos ler Monteiro Lobato, os jovens se vêem num ambiente educacional sem qualquer intimidade com a leitura. 

É claro que a situação é complexa e não há receitas simples para saná-la. Mas qualquer análise séria tem de levar em conta o universo em que esses jovens estão imersos. A Finlândia — primeiro colocado na pesquisa — se orgulha de ser o país do mundo que tem maior consumo per capita de material impresso. Nós nos orgulhamos do tetracampeonato de futebol, do Ayrton Senna, da beleza das mulheres. 

Para chegarmos a alguma explicação convincente para tantas dificuldades de leitura, talvez fosse útil comparar os níveis de compreensão do material lido por professores dos 32 países. Ou por jornalistas em todos eles. Só então poderíamos saber se os jovens brasileiros não entendem o que lêem porque apenas a escola é péssima ou porque a sociedade não dá a mínima importância para isso, a não ser na hora de se olhar no espelho quando aparece um teste desses. Mas imediatamente finge que não está se vendo, está vendo apenas o reflexo dos meninos de 15 e 16 anos. Uns ignorantes, coitados... 

(*) Ana Maria Machado é escritora de livros infantis

Mas, não bastavam tais (des)classificações, ainda precisávamos ouvir o professor Paulo Renato, ministro da Educação, praticamente se dizer satisfeito com tal resultado. E o professor aposentado Fernando Henrique Cardoso, autor de tristemente célebre comentário sobre serem vagabundos os aposentados (como ele, aliás duplamente), coroou a história dizendo em uma universidade dos Estados Unidos que professor (como ele, novamente) é cientista fracassado. Transcrevendo as declarações feitas pelo presidente brasileiro em 27/11/2001: "Se a pessoa não consegue produzir, coitado, vai ser professor. Então fica a angústia: se ele vai ter um nome na praça ou se ele vai dar aula a vida inteira e repetir o que os outros fazem...". 

Besteira sobre besteira, só podia dar nisso, um universitário analfabeto e um presidente que, aplicando os conceitos que ele mesmo expressa, é "aposentado" e "professor"...