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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/07/01 13:47:16
FEBEANET
Laranjas na Amazônia

 E tu dormes, ó Piaga divino!
 E Anhangá te proíbe sonhar!
 E tu dormes, ó Piaga, e não sabes,
 E não podes augúrios cantar?!  
 (De: O Canto do Piaga, de Gonçalves Dias)
 Sobre imagem da TV Espanha com helicóptero dos EUA aplicando o herbicida na Colômbia

O mesmo país - Estados Unidos - que brada ao mundo pela necessidade de se conservar intacto o ecossistema da Amazônia (ao mesmo tempo que se recusa a assinar o Protocolo de Quioto sobre a não-emissão de gases poluentes, com a desculpa de que isso prejudicaria sua indústria) está praticando uma grande agressão ambiental justamente contra a biodiversidade da Floresta Amazônica, e não se observa a mesma ênfase - tanto no Brasil como nos países vizinhos, e por parte das organizações ambientalistas de todo o mundo - no trato desse problema. Como sempre, dois pesos e duas medidas, o que faz torna tal história merecedora da inscrição neste Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet).

Um dos primeiros a chamar a atenção para o caso nas listas de debates foi o recentemente falecido Aristóteles Gomes, que residia em João Pessoa, na Paraíba. Seu alerta, em 8/10/2001, como tema "fora do tópico" na lista de debates Idioma:
 

Alguns rios da Amazônia estão sendo contaminados por agente laranja. Muitos de nós estamos morrendo. Mas os nossos mortos são menos importantes que os mortos dos outros. 

Veja abaixo:

Herbicidas envenenam a vida na Amazônia 
Antonio Avellar (*)

Como era esperado e sabido, o Plano Colômbia começou a vazar água para o território brasileiro. E não é uma água saudável, como a que sacia a nossa sede e que passarinhos podem até beber. 

Mas um tipo parecido com aquele "agente químico laranja", que as  tropas americanas usaram na Guerra do Vietnã, e que deixou seqüelas terríveis em pelo menos 500 mil crianças vietnamitas.

Financiado pelo governo norte-americano, a um custo de US$ 1,3 bilhão - a pretexto de, ao mesmo tempo, combater a guerrilha colombiana e as plantações de coca e papoula -, o que se verificou até agora, nestes primeiros 10 meses de operação, é que o solo do país andino está sendo bombardeado diariamente por sete toneladas de herbicidas, deixando um rastro de destruição ambiental. Que atinge desde a população até rios, fauna e flora. 

Um fato revelador nesta megaoperação é que o principal fornecedor do agente químico glifosato, para fumegação das plantações que dão origem às drogas, é nada menos que a Monsanto, também uma das financiadoras da campanha "vitoriosa" do presidente Bush. 

Que é a mesma multinacional das lavouras de soja transgênica do Rio Grande do Sul. (Que provocou toda aquela confusão, quando o francês José Bové arrancou com as próprias mãos alguns feixes. Agora se entende melhor o porquê da santa ira do criador de ovelhas das bretanhas francesas. Na realidade ele é que estava sabendo das coisas e os jornalões brasileiros, nos seus respectivos jeitos de serem subservientes ao capital estrangeiro, o atacaram impiedosamente.)

A Monsanto de santo só lembra o nome, porque no resto é apenas uma marca de fantasia, interessada tão somente em faturar fortunas, fabricando e vendendo agentes químicos ecologicamente incorretos e que comprometem seriamente o meio-ambiente dos países subdesenvolvidos. Nos Estados Unidos, onde tem sua matriz, é submetida a rigores bem maiores.

As toneladas do herbicida glifosato que já foram jogadas no solo colombiano, por conta de uma verdadeira guerra biológica, também conhecida como Plano Colômbia, chegaram mais cedo ao território brasileiro, especialmente na região amazônica, do que a vã filosofia das autoridades brasileiras pensava a respeito. Os riscos são reais, admite o cientista colombiano Richard Vargas, para quem os rios Japurá e Içá, no Estado do Amazonas, estão ameaçados.

Um outro cientista, o biólogo holandês Martin Jelsma, do Instituto Transnacional - que se dedica à pesquisa do narcotráfico em todo o mundo -, com sede em Amsterdã, afirma que o efeito imediato dos agentes químicos nos rios é que espécies inteiras de peixes desaparecerão. E alerta que a ingestão da água ou alimentos naquelas condições tem provocado na população local vômitos, diarréia, dores de cabeça e náuseas. E, ainda segundo ele, sabe-se lá que outras moléstias virão disto.

Informações recentes do Sul da Colômbia, das áreas que estão sendo 
bombardeadas com glifosato, dão conta de que centenas de pessoas estão enfermas, em razão de algum tipo de contato que tiveram com o agente químico. Que motivou, por parte de seis governadores das províncias contaminadas, um pedido ao presidente colombiano, Andrés Pastrana, para que suspendesse de imediato os bombardeios intoxicantes. Ele não só lhes negou atender as justas reivindicações, como alegou que uma das exigências do governo americano, para aprovar a ajuda no combate às plantações de coca e papoula, era continuar com os lançamentos aéreos de herbicidas. 

O governo Pastrana levou US$ 1,3 bilhão do governo norte-americano para envenenar os rios, as florestas, os povos ribeirinhos e nativos do seu país.
 
Os objetivos iniciais que anunciaram ao mundo para justificar tão elevados investimentos - a erradicação do plantio de coca e de papoula - , não estão sendo alcançados. Mas o mal já foi feito e é irreversível. Quanto deve ter custado o silêncio do presidente Fernando Henrique Cardoso, que em momento algum levanta sua voz para defender a Amazônia dos riscos de também ser envenenada?

São por essas e outras coisas piores que o Brasil, no seu governo, tornou-se colônia das potências estrangeiras. E em razão deste seu desapreço pela própria soberania é que elas insistem tanto neste alto negócio de internacionalização da Região Amazônica.

(*) Antonio Avellar é jornalista

No dia 6/12/2001, a emissora de televisão espanhola TV Espanha Internacional, em programa sobre Ecologia (do qual foram colhidas as imagens desta página), entrevistou autoridades colombianas que protestam contra o uso desses produtos químicos pelos estadunidenses, lembrando que o mesmo efeito poderia ser obtido com outros produtos que só destruiriam tais plantações, sem acabar com uma das áreas de maior biodiversidade do planeta...
 

 Fugireis procurando um asilo,
 Triste asilo por ínvio sertão;
 Anhangá de prazer há de rir-se,
 Vendo os vossos quão poucos serão. 

 Vossos Deuses, ó Piaga, conjura,
 Susta as iras do fero Anhangá.
 Manitôs já fugiram da Taba,
 Ó desgraça! ó ruína!! ó Tupá! 

 (De: O Canto do Piaga, de Gonçalves Dias)
 Sobre imagem da TV Espanha com helicóptero dos EUA aplicando o herbicida na Colômbia

Caro Aristóteles, se aí no andar de cima encontrar com o saudoso Stanislaw Ponte Preta, por gentileza transmita-lhe a certeza de que, infelizmente, continua sendo necessário neste mundo manter algo como sua genial criação Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País) - agora adaptada aos novos tempos da Internet, mas ainda com o mesmo objetivo. Ao Barão de Itararé, diga que a batalha que não houve ainda assim continua. Ao Chacrinha, velho guerreiro, mande "aquele abraço" e diga que, como "quem não se comunica se trumbica", vamos comunicando, para ver se alguém ouve o que dizemos e evita que o Brasil se trumbique (ainda mais)...