FEBEANET
Petrobrax
Nos dias
finais de dezembro de 2000, quando já ninguém acreditaria
que o governo brasileiro, por mais que tentasse, conseguiria produzir mais
alguma bobagem, uma empresa pública conseguiu fechar o ano, o século
e o milênio com uma estultície impressa em letras garrafais
nas principais páginas pagas dos grandes jornais brasileiros. Só
não foi gozação nacional por terem os brasileiros
sentido que no final, de alguma forma, quem vai pagar a conta somos todos
nós, com um daqueles aumentos nos preços dos combustíveis,
que ocorrem sempre que o preço do barril sobe lá fora, mas
não têm a contrapartida da redução quando compramos
o petróleo a preço menor no mercado mundial...
Imagine, caro leitor que uma empresa
de consultoria chamada Und (nome que em inglês corresponde a um radical
associado a coisas como apagar, desfazer) foi contratada pela empresa brasileira
de petróleo para desfazer a ligação entre o nome dessa
empresa e o do Brasil. Cândida explicação do francês
e notório genro Reichstul, então no cargo de presidente da
empresa: o termo "brás", constante no nome da empresa Petrobrás,
é associado a Brasil, os consumidores por isso vêem essa empresa
como um daqueles mastodontes estatais. Daí, a iluminada idéia
de mudar o nome da empresa para Petrobrax, com X no final.
Bem, eu me considero insultado como
BRASileiro, você não? Se você, Fulano, Sicrano ou Beltrano,
recebesse um visitante de longínquas paragens em sua casa, e ele
dissesse que você deveria mudar seu nome para uma forma sofisticada,
explicando que "ano", no final do seu nome, é inaceitável,
você ouviria isso tranqüilamente? E mesmo que você não
o chutasse porta afora imediatamente, aceitaria que o forasteiro lhe cobrasse
uma pequena fortuna para sugerir que seu nome deveria receber uma apresentação
mais sofisticada, como a dos imperadores romanos, trocando a letra "o"
e introduzindo na rabeira um "us", você ainda ficaria quieto? Hein,
Fulanus, Sicranus ou Beltranus?
XXX - Bem, o Reichstul - se
ele pode fazer isso com a gente, também me concede o direito de
lhe dar o troco, chamando-o de algo entre Reich (xô, Hitler) e eSTULto
- contratou uma empresa - sem licitação, afinal desde quando
ditador deve explicações a alguém? - para mudar o
nome de Petrobrás para Petrobrax. Para ser mais preciso, a empresa
tinha tempos atrás brigado com o idioma nacional, mudando a sílaba
tônica, de oxítona para paroxítona, deixando os lingüistas
em paroxismos de dor. A tradicional Petrobrás já não
se dignava a ser chamada assim, exigia em termos práticos ser conhecida
como PetrObras. Talvez tivesse razão: com suas competentes gestões,
estava sempre em obras, petróleo que é bom, até hoje
continuamos sem a desejada autonomia.
Por quê o X? Ora, os Undmarketeiros
devem ter chegado à brilhante conclusão ao verem como a letra
é popular no Brasil. Grande parte da população usa
apenas essa letra para assinar seu nome. Já os assalariados, que
lutam para esticar o salário até o final do mês, têm
como sonho de consumo um X-tudo, experiência tipicamente brasileira
que consiste em adicionar uma fatia de cheese a duas fatias de pão
e mais algumas substâncias de origem incerta. Em Minas Gerais, aliás,
pode-se até encomendar um autêntico X-queijo sem queijo, mas
aí é outra história.
Diz o Raixistulto que a letra X é
associada a alta tecnologia. Bem, talvez na cabeça dele, pois o
cidadão médio associa o X a algo desconhecido, aos alienígenas
de Projeto X. Taí uma pista, será que alienígenas
raptaram os diretores da Petrobraxis e colocaram clones em seus lugares?
Bem, talvez a desculpa cole quando os acionistas pedirem a cabeça
desses desastrados dirigentes...
Teorias - Existem também
algumas teorias conspiratórias a respeito, que talvez expliquem
o que está acontecendo. Circularam boatos insistentes de que a apresentadora
Xuxa, rainha dos baixinhos, encantada com a capacidade da empresa de perfurar
poços de petróleo bem baixinho, lá no fundo do oceano
profundo, tenha resolvido comprar a empresa e colocar na Petrobrás
sua conhecida marca.
Outra teoria afirma que a colocação
do X, desvinculando a empresa do Brasil, seria apenas a primeira etapa
de um processo maior. Na segunda etapa de remodelação da
empresa, teríamos também um segundo X (passando o nome da
empresa a ser lido como Petrobraxixi). Para completar o processo, o nome
sofreria uma transformação mais ampla, adequando-se às
novas atividades da empresa: PornobraXXX. Como você sabe, caro leitor,
XXX é a referência comum àquelas fitas de vídeo
de sexo profundo, a pornografia do mais baixo nível. E você
sabe, ela vem se tornando a que produz mais baixo no mundo, não
é? Ela explora o seio da Geo, então a cada vez enterra seu
equipamento mais fundo, e depois que abre o buraco e nele penetra, começa
a bombear o precioso líquido, que jorra aos borbotões...
E há uma terceira teoria,
até mais plausível. A notória Und, usando pesquisas
"made in Rio" ou importadas diretamente do Nordeste brasileiro (Oxente!),
comprovando como o nome proposto é bem aceito pela população
brasileira, partiria para uma segunda etapa, agora usando junto ao Governo
Brasileiro a notória especialização reconhecida pela
Petrobrax. Como o nome do país tem esse "bras" indicativo de algo
atrasado, lembrando ao mundo um mastodonte burocrata, o país só
teria a lucrar se - em nome dos altos interesses comerciais que são
tudo o que importa - alterasse o nome para algo mais fácil de os
estrangeiros lerem. Passaríamos a morar num país de primeiro
mundo, o Braxil.
Nosso xociólogo de plantão
permanente na prexidência, o F. H. Cardoxo, apoiaria imediatamente
a idéia fantáxtica da Und, entregando maix algunx milhõex
de Reaix para o dexenvolvimento do projeto.
Ousadias - Montada em tão
podero$o$ argumento$, a Und, notória entre as notórias, poderia
partir para um plano ainda mais ousado: modernizar os United Xtatex (UXA).
Afinal, não ficaria bem para a moral dos estadunidenses que seu
país continue a usar o ultrapassado S, em vez de se associar à
alta tecnologia, como seus vizinhos imediatos do Sul (o México,
com X no nome do país e também na Pelmex, a empresa nacional
de petróleo).
Nota: embora ocorrida no milênio
passado, esta nota abre o Febeanet neste ano como forte concorrente, em
razão das declarações da Petrobrás de que o
projeto X foi "adiado", face à repercussão negativa (ué,
as pesquisas da notória Und não indicavam uma ampla aceitação
popular? Aliás, cadê as tais pesquisas? Cadê o projeto
completo da mudança?). A empresa não anunciou o cancelamento,
e nem mesmo, até o fechamento deste texto, o haraquiri dos diretores
que envergonharam o Brasil, nem sequer o mínimo aceitável,
a demissão dos dirigentes que perpetraram tal absurdo. Portanto,
vai continuar neste festival.
Eis, portanto, o primeiro concorrente
ao troféu Febeanet!
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