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HISTÓRIAS E LENDAS DE GUARUJÁ
Pai do presidente Lula morreu no Itapema

 

Pobre, a família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva migrou do Nordeste para Vicente de Carvalho (Itapema), e Aristides Inácio da Silva, pai de Lula, trabalhou no cais do porto santista. A história foi relatada em texto publicado no site santista PortoGente em 11 de abril de 2005::


Aristides Inácio da Silva

Imagem publicada com a matéria

Memória • Aristides Inácio da Silva

Pai de Lula morreu como indigente

Texto publicado em 11 de Abril de 2005 às 21h29

Bruno Merlin
colaborador

Aristides Inácio da Silva trabalhou no Porto de Santos durante mais de duas décadas. De origem pernambucana, ele seria somente mais um esquecido trabalhador que carregou sacas de café pelos armazéns do Cais caso um dos seus filhos – calcula-se que Aristides deixou mais de 25 espalhados pelo país – não se tornasse uma figura ilustre no meio sindical e político do Brasil. Aristides morreu em 1978 e foi enterrado como indigente, em Vicente de Carvalho.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já afirmou por diversas vezes que seu pai era um trabalhador honesto, mas o alcoolismo jamais permitiu que dedicasse aos filhos e às mulheres o carinho e respeito que mereciam. Por isso, Aristides sobrevive como figura incômoda, um progenitor de poucas boas lembranças na memória de Lula e de seus irmãos.

Embora fosse sindicalizado e atuante, Aristides raramente é lembrado pelos estivadores que trabalharam na mesma época no porto santista, pois naqueles tempos não tinha o status de ‘pai do Presidente’. Mas seus trejeitos e características peculiares estão presentes na mente dos moradores mais antigos da Rua Minas Gerais, no bairro de Itapema, no Distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá (SP). Lá, no número 275, Aristides morou por muitos anos. A casa chegou a abrigar, também, o atual presidente, sua mãe e alguns de seus irmãos, antes de seguirem rumo ao ABC Paulista e a história da família Inácio da Silva se mesclar à história das lutas sindicais e do Partido dos Trabalhadores.

Aristides chegou à Baixada Santista em setembro de 1945, buscando uma vida financeira mais estável e deixando em Caetés, no sertão de Pernambuco, seus primeiros filhos e a esposa, Dona Eurídice, que estava grávida. Um mês depois ela deu a luz à Lula, que só chegaria no litoral paulista em 1952.

O pai de Lula era ensacador de café no Porto e exercia a profissão como avulso. No local de trabalho, fez amizade com o vizinho de rua e estivador Ari da Silva Souza. Ari trabalhou nas Docas, foi mestre-caldereiro e inventor de ferramentas de utilidade portuária, além de abrigar Aristides no porão de sua residência por quatro dias quando o amigo necessitou. Quem conta a história com nítida clareza é o filho de Ari, Pojucã da Silva Souza, 61 anos, que também trabalhou diretamente com o Porto e conviveu intimamente com Aristides.

Pojucã conta que o amigo de seu pai também foi seu colega. "Ele era um homem forte, alto e cumpria seu trabalho com eficácia, carregando várias sacas de café nos ombros. Como na época se ganhava por produção, Aristides trabalhava muito para sustentar os vários filhos e mulheres que tinha", diz. Somente na Rua Minas Gerais, moravam duas famílias de Aristides. Em uma casa habitavam Dona Eurídice, Lula e seus demais irmãos, todos vindo de surpresa para a Baixada Santista, sem o pedido de Aristides. Outra residência abrigava Dona Mocinha, sua prima e ‘mulher’, que veio do Nordeste ainda na primeira ‘leva’, em 1945.

Aristides não era atencioso com os filhos. Embora faturasse respeitável salário exercendo a função de ensacador – "mais até do que a maioria dos estivadores", ressalta Pojucã - tinha muitas despesas a pagar devido à quantidade exorbitante de filhos e mulheres que mantinha. Conta-se, na região, que ele era conhecido como "o homem das sete mulheres". As crianças de Aristides andavam nuas pelo quintal, pois não havia condição de comprar roupas para todas. "Para ir ao mercado, os meninos colocavam uma camisa do pai para cobrir as partes íntimas", lembra Pojucã. O ex-estivador, que continua residindo na Rua Minas Gerais, viajou por 63 países quando trabalhou pela empresa Loyd Brasileiro. Ele afirma que conseguiu seu primeiro emprego junto com Lula, na extinta Lavanderia e Tinturaria Iporanga, com sede no Itapema. Além disso, os dois vendiam água para complementar a renda.

Nas horas de folga, Pojucã tinha o hábito de caçar com o pai de Lula. Aristides era famoso na região como "O Caçador", pela sua perspicácia na atividade e pela vontade que tinha de adentrar nas matas atrás de animais como antas, veados, tatus, cotias e porcos-do-mato. No fim de semana Aristides não trabalhava para poder caçar e se divertir. Além de lazer, a caça garantia alimentação para suas famílias, economia nas despesas domésticas, lucro com a venda para conhecidos e prestígio no Sindicato. "O Aristides sempre dava o produto de suas caças para os diretores do Sindicato. Dessa forma, ele nunca ficava sem trabalho, já que o próprio Sindicato era encarregado de escolher os trabalhadores que as empresas requisitavam", destaca Pojucã.

Ele conta, ainda, que além de filhos, Aristides tinha muitos cães – mais de 20. O pai do atual presidente também se envolveu em algumas confusões em Vicente de Carvalho. Certa vez, recebeu 14 facadas após uma discussão e foi para o hospital em condições precárias. Sobreviveu, provavelmente, pelo seu preparo físico e força invejáveis. Ainda assim, Pojucã lembra que todos se conheciam na região e que a maioria mantinha relação de amizade uns com os outros, como seu pai Ari e o ensacador Aristides. Era comum a troca de produtos e a ajuda solidária quando havia necessidade em alguma família. "O salário de quem trabalhava no Porto não era tão alto assim. O que garantia boa condição financeira era a troca de comida, de produtos, além do fato de não se pagar água, luz e diversas taxas, como ocorre hoje", afirma.

Desde que chegou à Baixada, Aristides sempre trabalhou no Porto, se aposentando na década de 70. Mudou-se da Rua Minas Gerais e perdeu o contato com os colegas, como Pojucã. Aristides bebia demais e com a inatividade começou a se embriagar mais constantemente. Morreu em 1978, devido ao alcoolismo, e foi sepultado como indigente no cemitério de Vicente de Carvalho. Nenhuma mulher ou ex-mulher que ficou sabendo do fato quis assumir a responsabilidade do corpo. Nenhum filho tentou tirá-lo da vala comum e conceder-lhe um túmulo. Tudo pelos maltratos aplicados por Aristides, sempre influenciado pelo álcool. Ainda assim, ele foi mais do que o pai do atual presidente da República. Ele construiu sua história na região, como lembra Pojucã: "Ele foi um ensacador competente, um dos melhores, mais fortes e mais conscientes da categoria na época".

A família de Lula foi assunto de matérias jornalísticas quando o então presidente passou alguns dias em férias no Forte dos Andradas, em 8 de janeiro de 2007:

Segunda-Feira, 8 de Janeiro de 2007, 07:40
Irmão de Lula também tem acesso barrado no Forte

Da Reportagem
MANOEL ALVES FERNANDES

Dois irmãos, dois destinos, duas histórias vividas ontem pela manhã nas dependências do Forte dos Andradas, em Guarujá. Um dos personagens chegou de helicóptero, na noite da última sexta-feira, para merecidas férias de verão na Praia do Monduba, protegido por duas montanhas, e militares fortemente armados.

O outro veio em um ônibus das linhas urbanas de Guarujá, acompanhado pelo filho, desde a Rua Santa Isabel, 240, em Vicente de Carvalho, onde mora há 20 anos.

Germano Ignácio da Silva, 41 anos, foi o último filho de Aristides Ignácio da Silva, pai de nove outros meninos e meninas, com duas esposas. Ontem, levantou-se às 8 horas para visitar um dos irmãos por parte de pai: Luiz Ignácio Lula da Silva, presidente do Brasil.

Germano chegou à porta do forte, às 11 horas. Identificou-se e foi barrado. O soldado primeiro procurou o nome do irmão do presidente na lista de visitantes aguardados. E como não o encontrou, por cautela, mandou que esperasse a comunicação com o comando, via rádio.

Lula não estava. Havia saído para pescar, a bordo de uma embarcação da Marinha e longe da Imprensa, como puderam constatar os repórteres que cobriam as férias presidenciais.

Duas horas antes de Germano tentar entrar no forte, o catraieiro Marcelo conduzia o Netuno, um barco de alumínio com potente motor de popa, desde a Praia de Nossa Senhora dos Navegantes (que os mais antigos chamam de "Pouca Farinha") até o largo da pequena baía da Praia do Monduba.

Transportava uma equipe de jornalistas, que tentava fotografar o irmão de Germano, nas superprotegidas areias das instalações militares.

Duas corvetas impediam a aproximação. De uma lancha da Capitania dos Portos, fortemente armada, partiu a ordem para que a pequena embarcação se afastasse, pois a área estava interditada à navegação.

No retorno à praia, Marcelo ouviu a já esperada gozação dos demais catraieiros: "E aí, conseguiram falar com o Lula?"

Segunda-Feira, 8 de Janeiro de 2007, 07:41
Idéia era sugerir uma reunião com os que residem em SP

Da Reportagem

Enquanto esperava a autorização para entrar, Germano contava ontem no portão do forte (distante cerca de um quilometro e meio da praia, com acesso por uma estrada que circunda as duas montanhas antes de chegar ao mar), que pretendia sugerir uma reunião de Lula com os irmãos que residem em São Paulo.
Entre os participantes do possível encontro, estará Jackson Ignácio da Silva, um mestre de obras de 52 anos, residente em Mongaguá, que na última eleição votou em Alckmin, revoltado com o atendimento médico naquela cidade e contrário à reeleição presidencial. Um detalhe que não escapou à família. E que foi mal interpretado, segundo Germano.

"Acho que o Jackson vai tomar uns cascudos carinhosos do Lula. Todos nós gostamos do Lula, sempre votamos nele. Ajuda a gente quando pode, embora cada um tenha o seu caminho e a sua vida. Mas está fazendo muito pelo povo brasileiro", afirmou.

Sorvete - A menos de cinco quilômetros da "Pouca Farinha", na antiga localidade de Itapema, em um ambiente mais pobre do que o apresentado pelo atual Distrito de Vicente de Carvalho (nome oficial do antigo Itapema), Luiz Ignácio Lula da Silva viveu os primeiros anos da sua vida no Estado, vindo de Garanhuns, em Pernambuco, para morar com o pai, Aristides Ignácio, na humilde casa 275 da Rua Minas Gerais.

Lula e Francisco (o Frei Chico) nasceram em Pernambuco, filhos do primeiro casamento de Aristides. Outros oito irmãos vieram ao mundo em Vicente de Carvalho. Dois deles morreram. Germano Ignácio da Silva foi o último dos filhos. "Fui a raspa do tacho do velho Aristides", conta.

De Lula,"que já era era grandinho" quando Germano nasceu, o irmão caçula só se lembra, da infância, "que ele gostava de tomar sorvete".

Enquanto falava com os jornalistas, Germano foi chamado à entrada do forte e lá lhe comunicaram que, quando Lula retornasse da pescaria, ele seria chamado em casa e transportado de carro, com a família, para visitar o presidente e dona Marisa.

Sem saber a que horas terminaria a diversão marítima do irmão, e preocupado como filho Nathan Lyneker Rodrigues Ignácio da Silva, Germano decidiu voltar para casa, de ônibus.

Goleiro alemão - Em lugar de tomar o ônibus, Germano e Nathan - que estuda na Escola Municipal Walter Scheppis — ganharam uma carona no carro de A Tribuna. Durante a viagem, o irmão caçula de Lula explicou porque deu ao único filho um nome bíblico.

"Eu era evangélico na época em que ele nasceu. E o segundo nome (Lineker) é uma lembrança do goleiro alemão, que eu aprecio. Aliás, meu pai me chamou de Germano em homenagem a um amigo também alemão", esclareceu.

Empregado de uma prestadora de serviços sob contrato com a Petrobras — emprego que conseguiu sem interferência do irmão Lula —, Germano viveu algum tempo em Mongaguá, ainda na infância. E depois retornou a Vicente de Carvalho, onde reside numa casa simples.

Segunda-Feira, 8 de Janeiro de 2007, 07:43
Ingresso na política foi cogitado mas falta filiação a um partido

Da Reportagem

Germano Ignácio da Silva tem vontade de participar da política, e já chegou a pensar em candidatar-se a vereador. Mas até agora não se filiou a nenhum partido.

O irmão do presidente gostaria de integrar um movimento que lutasse pela emancipação de Vicente de Carvalho, por acreditar no potencial econômico do distrito, que tem indústrias e instalações portuárias de grande porte. "Acho que a população de Vicente de Carvalho teria melhores condições de vida se conseguisse separar-se de Guarujá", avalia.

Segundo Germano, há alguns anos, Jackson decidiu se candidatar a vereador, animado com a carreira política de Lula. Mas não se elegeu. "Acho que só a família votou nele" observou o caçula.

Às 13h30, já em casa, Germano foi saborear o tradicional prato de operário brasileiro — feijão e arroz — enquanto esperava o chamado do irmão mais velho, na expectativa de jantar algum robalo pescado por Lula.

Livro - Depois das flores no sábado, o presidente Lula recebeu mais um presente ontem. O engenheiro da Petrobras Fábio Campos Morais foi até o Forte dos Andradas entregar seu livro A mente no Cosmos e os pés no chão. "Quero que chegue às mãos dele", assinalou, sabendo que seria quase impossível entregar o presente, pessoalmente, ao chefe do Executivo do País.

Ele estava acompanhado da noiva Gerliane Gondim de Menezes e explicou que sua obra procura fazer "uma divulgação do pensamento científico".

Morador de Santos, o engenheiro, de 37 anos, nasceu em Fortaleza e disse não ser fã do presidente da República, embora reconheça pontos positivos de seu governo. "Ele afastou o fantasma da privatização da Petrobras, que rondava no Governo Fernando Henrique Cardoso".

Na obra, Fábio Morais trata dos quatro tipos de inteligência: corporal, bioenergética, emocional e intelectual. "A corporal está associada à saúde; a bioenergética, à liberdade; a emocional, à disciplina e a intelectual ao dinheiro".

Antes de deixar a obra ao sargento Leal, que se comprometeu fazer chegar o presente ao presidente, Morais assinou a dedicatória: "A Vossa Excelência presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem os desafios como fonte de energia. Grande abraço, Fábio Campos Morais".

Visita? - Uma informação não confirmada ontem dava conta que o ex-governador do Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, teria visitado o presidente em Guarujá. Apreciador da pesca, Zeca teria chegado na madrugada de domingo, de carro.

Colaborou Luigi Di Vaio

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