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HISTÓRIAS E LENDAS DE GUARUJÁ
Tombou a capela tombada...

Esta é a história de uma capelinha tombada pelo Patrimônio Histórico, ou seja, registrada no livro de tombos como merecedora de preservação, mas que, entretanto, tombou no sentido contrário pouco tempo depois de ser feita esta reportagem, na praia de Santa Cruz dos Navegantes, também conhecida como Pouca Farinha. Profética, a matéria escrita pelo editor de Novo Milênio, então repórter no jornal Cidade de Santos, onde foi publicada em 25/2/1977:

A praia de Pouca Farinha, ainda com a capela ao fundo (Foto: jornal 'Cidade de Santos', 25/2/1977)
A praia de Pouca Farinha, ainda com a capela ao fundo
Foto: jornal Cidade de Santos, 25/2/1977

A imagem do abandono, na Pouca Farinha

No chafariz, uma placa. Na placa, o texto: "Da. Noquinha e moradores desta praia ficam gratos pela valiosa doação dos irmãos Rafael e Modesto Roma. Deram à pobreza a maior riqueza: Água. 31-5-1953". No chafariz, sem água, quebrado, um monte de areia. Retirando a areia, Valdemar José dos Santos fala dos problemas dos moradores da Praia de Santa Cruz dos Navegantes, também conhecida como Praia da Pouca Farinha:

"Está há dez anos assim. A gente usa água de nascente. Os moradores mesmo põem os canos. Não podemos trazer água do morro até aqui, porque é muito caro, ninguém poderia agüentar a despesa. Não adianta também trazer água encanada só para quem pode pagar, porque aqui quase ninguém tem dinheiro. Não existe mais nenhum chafariz. Eu mesmo trago a água, para o meu feijãozinho, da fábrica onde trabalho. Os canos que aqui havia estão todos furados. Antes a sociedade de melhoramentos consertava, agora os moradores mesmo é que fazem os consertos. A gente ainda se arranja com muita dificuldade, mas se vira. Os que já não podem, por causa da idade, é que sofrem mais. Um chafariz ajudava muito, sim senhor".

Ao lado do extinto chafariz, uma placa da Sudelpa anuncia a implantação de uma estrada ligando a praia de Santa Cruz dos Navegantes à praia de Guaiúba, antiga esperança dos moradores de Pouca Farinha.

Situada entre os rios Icanhema e do Meio, com uma população calculada em três mil habitantes, a área, situada próximo ao Forte Boa Vista, pertencia a particulares e ao Serviço de Patrimônio da União. Os únicos melhoramentos são as redes de água e luz, além de um posto policial com efetivos da Polícia Militar, e uma escola, inaugurada no ano passado, com três salas de aula, para ensino de primeiro grau.

Até agora, o único acesso àquela praia, que há aproximadamente quarenta anos foi descoberta por um grupo de pescadores, que a colonizaram, é um serviço regular de barcas, que partem de Santos, da Ponte dos Práticos, com capacidade média para 25 passageiros, cobrando a taxa de Cr$ 1,10 por passageiro. As 26 barcas, ligadas à Sociedade dos Catraieiros das Praias de Santa Cruz e do Góes, disputam com as lanchas Loirinha um espaço para a atracação na Ponte dos Práticos.

Entre os catraieiros, uma pergunta paira no ar, sem resposta: "Por que é que a Marazul, proprietária das lanchas Loirinha e Turimar, tem sua própria ponte de embarque, moderna e construída recentemente, e vem usar a dos Práticos?" Os catraieiros têm algumas queixas, devido ao pequeno espaço para a atracação, e porque a Prefeitura mantém o atracadouro em mau estado, em vez de construir um maior ou reformá-lo.

História em ruínas - Junto ao mar, na Praia de Pouca Farinha, observam-se as ruínas do que, há 150 anos, era uma igreja. Tombada pelo Serviço de Patrimônio Histórico, a construção só não tombou efetivamente devido às escoras que sustentam o teto e uma das paredes, que, arrebentadas em vários pontos, ameaçam ruir a qualquer momento. As lajotas vermelhas e pretas do piso foram arrancadas em grande parte, e encontram-se empilhadas nos fundos do prédio.

Sem portas, vazia, com metade do piso afundado, trechos de parede faltando, e com a instalação elétrica retirada, a Igreja de Santa Cruz dos Navegantes, que dizem ter mais de 150 anos, era até uma semana atrás cuidada pelo seu zelador, pago pelo serviço do Patrimônio (Condephaat).

É o zelador, Manoel Claudino dos Santos, quem conta: "Não apareceu mais ninguém, há nove meses não recebo nem um tostão. A Igreja foi totalmente esquecida, e ninguém mais se lembrou de arrumá-la. Faz cinco anos que tomo conta da igreja e sempre foi assim. Os santos estão guardados em uma casa de pedra que existe aqui perto. Aqui não tem missa, e quem quiser tem que ir a Santos ou a Guarujá, pois não tem outra igreja. Não posso fazer mais nada, não dá para trabalhar de graça. Não sou rico, tenho que trabalhar, não posso depender do pagamento por zelar pela igreja, pois a mulher (do Condephaat) prometeu liquidar a dívida e não apareceu mais".

Isolamento - O abandono da igreja, o problema da água, a sujeira das praias, a pobreza dos moradores, que vivem da pesca e de pequenas plantações de banana, e o isolamento do local, com acesso somente pelo mar, são alguns dos problemas dos moradores dessa praia, que ainda não se acostumaram à idéia de possuírem uma ligação por terra com o resto do município de Guarujá.

Enquanto a estrada aberta pela Sudelpa, com 27 quilômetros de extensão, não for concluída, essas pessoas, que temem inclusive perder suas pobres casas, devido a ações de desapropriação levantadas contra elas, viverão isoladas e esquecidas, na praia que colonizaram quarenta anos atrás.

Na praia de Pouca Farinha, a capela de Santa Cruz; a história em ruínas (Foto: jornal 'Cidade de Santos', 25/2/1977)
Na praia de Pouca Farinha, a capela de Santa Cruz; a história em ruínas 
Foto: jornal Cidade de Santos, 25/2/1977

Alguns meses depois dessa matéria, durante uma tempestade, o pouco que restava da igreja ruiu de vez.

A placa do chafariz, em foto publicada em 10/7/1977 no jornal santista 'A Tribuna'
A placa do chafariz, em 1977
Foto publicada em 10/7/1977 no jornal santista A Tribuna

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