Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/guaruja/gh006.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/19/02 23:31:08
Clique aqui para voltar à página inicial de Guarujá
HISTÓRIAS E LENDAS DE GUARUJÁ
Região quase teve um aeroporto internacional

"Santos há de ser um centro importante de aviação, em breve futuro, e o povo paulista, com os progressos feitos em todos os ramos do conhecimento humano, não ficará atrás dos outros estados sob o ponto de vista aeronáutico", assim terminou seu discurso o capitão-tenente aviador naval Virginius Brito de Lamare, durante recepção em sua homenagem em dependências do Clube XV, em 19/10/1919, dois dias depois de terminar histórico raid aéreo Rio de Janeiro-Santos. De fato, a região de Santos chegou a ser por várias décadas cogitada para receber um aeroporto internacional, e teve até pista de pouso da companhia francesa Air France. Porém, o grande projeto do aeroporto internacional não chegou a sair do papel, e mais de 80 anos depois desse discurso, divergências políticas regionais dificultam até mesmo a instalação de um aeroporto metropolitano na Baixada Santista.

Contou o jornalista e pesquisador J. Muniz Jr., em seu livro Episódios e Narrativas da Aviação na Baixada Santista (edição comemorativa da Semana da Asa de 1982, Gráfica de A Tribuna, Santos/SP) que, da mesma forma como as autoridades brasileiras, desde o século XVI, sempre se preocuparam em manter o porto fortificado, para proteger a população dos ataques de índios e piratas, ao surgir a aviação ficou evidente a necessidade de guarnecer o porto com um núcleo de defesa aérea, como parte da Defesa Aérea do Litoral Brasileiro.

Assim, já por volta de 1920, como resultado daquele discurso e dos esforços do capitão De Lamare, ocorriam os primeiros estudos para a implantação de um posto de aviação que operasse com hidroplanos. A Praia do Góes, junto à entrada do canal da Barra de Santos, na ilha de Santo Amaro, foi cogitada para a construção de um hangar que abrigasse os hidroaviões que amerissassem nas águas da Ponta da Praia.
Com o desenvolvimento do projeto, concluiu-se que o sítio de Conceiçãozinha (N.E.: onde em 1981 foi inaugurado o Terminal de Conteineres da Margem Esquerda do Porto de Santos) tinha melhores condições para aquela instalação, ao se aterrar os mangues ali existentes. A área, com 500 metros de frente e 2 mil metros de fundo, foi entregue pelo governo estadual ao federal.

"De acordo com o noticiário da época - relatou J. Muniz Jr. -, a Marinha deveria construir o hangar com o apoio dos poderes públicos estaduais e municipais, pois o governo federal, além do envio de seis hidroplanos para o serviço de patrulhamento da costa, investiria cerca de 600 contos de réis no empreendimento".

Dr. César Lacerda de Vergueiro (foto: revista Flama)

Dr. César Lacerda de Vergueiro (foto: revista 'Flama')Quem apresentou na Câmara os projetos da base aeronaval santista foi o deputado federal por São Paulo (de 1913 a 1930), Dr. César Lacerda de Vergueiro, nascido em Santos em 11/6/1886, e que também dirigiu os jornais Correio Paulistano e Diário de Santos. Entre os projetos de sua autoria, aliás, estão as construções dos prédios dos Correios e Telégrafos em São Paulo e Santos; da estrada de rodagem entre São Paulo e o Rio de Janeiro; do monumento dos Andradas em Santos. Ele foi ainda presidente do Aeroclube do Brasil e grande incentivador das viagens aéreas.

Depois da instalação do primeiro centro de aviação naval na Ponta do Galeão, no Rio de Janeiro, a partir de 1921, existia certa urgência na implantação de novos centros, para receber os aeroplanos em trânsito e fazer manutenção, abastecimento e reparos. Aprovada (pelo Aviso Reservado 42.681, de 5/12/1921) a criação de um aeródromo na região, e contratada a Companhia Construtora de Santos para as obras, ocorreu em 22/10/1922 a solenidade de lançamento da pedra fundamental do Posto de Aviação Naval, com a presença do presidente da República, Dr. Epitácio da Silva Pessoa, entre outras autoridades civis e militares. Estavam então em Santos o encouraçado São Paulo e uma esquadrilha de hidroaviões da Escola de Aviação Naval do Rio de Janeiro.

Lançamento da pedra fundamental da base aeronaval em Conceiçãozinha (Foto: revista 'Ilustração Brasileira', 1922)
Foto do lançamento da pedra fundamental da base aeronaval em Conceiçãozinha, com o presidente Epitácio Pessoa, o presidente estadual paulista Washington Luís, o ministro J.P.Veiga de Miranda, o capitão DeLamare (de alamar e espada), o deputado Lacerda de Vergueiro e outras autoridades

Apesar do festivo lançamento da pedra fundamental, a obra não foi iniciada, pois, de acordo com o parecer dos técnicos da Companhia Construtora, o local era inadequado e inseguro para tal construção, exigindo grande volume de aterro só na preparação do terreno para a pista de pouso e decolagem das aeronaves. Outra área foi então escolhida, com as mesmas dimensões, junto ao canal de acesso a Bertioga, na ponta da Bocaina, onde existia uma vila à beira-mar.

Pelo decreto 16.062, de 6/6/1923, foram feitas as desapropriações necessárias nessa vila e logo em seguida iniciadas as obras, com alguns prédios sendo inaugurados em dezembro de 1924. Em 1925, já estavam concluídas "duas bases residenciais, um quartel para praças, fossos e canalização da água e esgoto e um forno de incineração", conforme um relatório da época. Em seguida, o fim das verbas destinadas ao projeto provocou a demora e até a paralisação das obras.

Vista aérea da Base de Bocaina em fins da década de 30, já com a pista Leste-Oeste, vendo-se ainda o antigo povoado
Vista aérea da Base de Bocaina em fins da década de 30, já com a pista Leste-Oeste, 
vendo-se ainda o antigo povoado

Muitos nomes - Com a reorganização da Aviação Naval e a criação do Corpo de Aviação da Marinha (pelo decreto 20.479, de 3/10/1931), a defesa do Litoral Brasileiro foi dividida em cinco setores (decreto 32.570, de 23/3/1933), sendo o Centro de Aviação Naval de Santos enquadrado no setor Centro, que tinha como sede principal a Base de Aviação Naval do Galeão, no Rio de Janeiro.

"A partir de 1934 - relatou J.Muniz Jr. -, com o início das atividades do Correio Aéreo Naval no Litoral Sul, o Centro de Aviação Naval da Bocaina passou a funcionar como base subsidiária daquele serviço aeropostal, dando apoio à linha Rio de Janeiro-Rio Grande do Sul, época em que eram utilizados aviões Waco-C.O., com flutuadores. Da Base da Bocaina partiam dois aviões semanais a serviço do CAN, um para o Litoral Norte, passando porUbatuba e São Sebastião, e outro para o Litoral Sul, tocando em Iguape e Cananéia, ambas, regressando no mesmo dia, utilizando os dois únicos aviões Waco existentes na Unidade". Em 1935, com a nova reorganização da Aviação Naval, a instalação santista passou a ser denominada Base de Aviação Naval, ao mesmo tempo em que era ampliada com novas pistas e instalações.

Objetivando formar aviadores civis para a Reserva Naval Aérea de Segunda Categoria, foi ali fundado em 1/11/1936 o Aeroclube de Santos, cujos alunos passaram a receber instruções de vôo dos oficiais-aviadores da Bocaina. Em 7/9/1938, foi inaugurada nesse local a Linha Aérea do Litoral, para levar a mala postal e executar um serviço regular de transporte de passageiros pelo litoral paulista. No ano seguinte (pelo Aviso 1.625, de 16/10/1939), foram aprovadas as Regras de Evoluções Locais para a base.

Com a criação do Ministério da Aeronáutica (decreto-lei 2.961, de 20/1/1941), e extinção do Corpo de Aviação da Marinha, a base foi transferida para o novo ministério, agora com o nome de Base Aérea de Santos. Já então possuía duas pistas gramadas para decolagem e pouso das aeronaves terrestres, entre outras instalações. Ampliada, já com pista em cimento para aeronaves, tornou-se Base de Segunda Classe, pela classificação dada no Aviso 13 de 1942.

Declarado o Estado de Guerra (31/8/1942), a Base Aérea de Santos passou a servir como sede do 13º Corpo de Base Aérea da Aeronáutica, e seus aviões iniciaram um serviço de patrulhamento aéreo do litoral paulista, projetando-se até a cidade portuária de Paranaguá (PR). O alerta só foi interrompido em 11/1945, depois da realização de 1.246 missões de patrulhamento (em 2.255 horas 40 minutos de vôo).

Em 26/8/1947, nova denominação: Destacamento de Base Aérea de Santos. Com o enquadramento do Município de Santos na lei 121 (de 22/10/1947), como área de excepcional importância para a defesa nacional, o Destacamento ganhou a missão de zelar pela defesa das instalações portuárias e indústrias de toda a Baixada Santista, como aliás já fazia desde os tempos de guerra, além de atuar em busca e salvamento de aeronaves e embarcações acidentadas e de náufragos, no transporte de pessoas enfermas e outras atividades. Em 1/1/1951, o Destacamento voltou a ser Base Aérea (portaria 17, de 16/12/1950), retornando apenas dois meses depois à condição de Destacamento (em 10/3/1951).

Prédio do comando da Base Aérea, cerca de 1980, vendo-se à esquerda o hangar do Esquadrão Aéreo (foto: jornal 'Cidade de Santos')
Prédio do comando da Base Aérea, cerca de 1980, vendo-se à esquerda o hangar do Esquadrão Aéreo (foto: jornal Cidade de Santos)

Citou J. Muniz Jr. que, "durante os contratempos políticos que ocorreram em novembro de 1955, o então ministro da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar Eduardo Gomes, deslocou-se do Rio de Janeiro para a Base Aérea de São Paulo (em Cumbica), vindo em seguida para o Destacamento de Base Aérea de Santos, onde hasteou sua insígnia de quatro estrelas e passou a transmitir suas ordens até o desfecho final daquela situação político-militar".

Durante as comemorações do Ano Santos Dumont, em 1956, a pedra fundamental da base, esquecida em Conceiçãozinha, foi levada para a Bocaina. Com a Revolução de 1964, foram ativados ali o Destacamento Especial de Segurança e a Guarnição de Aeronáutica, desativados em 4/8/1964. Também funcionaram ali uma Escola de Formação de Soldados e a formação de Oficiais Administradores da Aeronáutica.

Em 8/9/1967 (portaria 059/GM-3), foi criado o Centro de Instrução e Emprego de Helicópteros, inaugurando outra importante fase da história dessas instalações. Tanto que, em 20/1/1970, o antigo Destacamento foi desativado, surgindo no lugar o Centro de Instrução de Helicópteros (CIH), em paralelo ao Núcleo de Instrução de Helicópteros. Em 26/2/1971, foi desativado o Centro, ficando só o Núcleo, que em 22/7/1971 passou a ser denominado centro de Instrução de Helicópteros (CIH), único do gênero na América do Sul. Em 30/4/1973, pelo decreto 72.162, o CIH foi extinto, com a ativação da Ala 435, que em 21/2/1975 realizou a formatura da Primeira Turma Especial de Estagiários do Grupo de Pilotos de Helicópteros.

Nova reformulação na Força Aérea Brasileira (FAB) e a Ala 435 retomou o nome de Base Aérea de Santos (portaria 131/GM-3, de 15/6/1979), abrigando o Primeiro Esquadrão do 11º Grupo de Aviação (decreto 83.538, de 4/6/1979). A cerimônia de reativação da base ocorreu na manhã de 1/8/1979.

Alunos pilotos do Aeroclube e oficiais-instrutores e mecânicos da Base no campo da Bocaina, em 5/1941 (foto: revista 'Flama')
Alunos pilotos do Aeroclube e oficiais-instrutores e mecânicos da Base no campo da Bocaina,
em maio de 1941 (foto: revista Flama)

Aeroclube - Como citado mais acima, o Aeroclube de Santos foi fundado em dependências da base da Bocaina em 1936, tendo como primeiro presidente o engenheiro Ismael Coelho de Souza e como primeiro aparelho de treinamento um Moth Trainer doado pelo Aeroclube do Brasil. Mas, já em 5/1922 foi instalada a Escola de Aviação Civil de Santos, funcionando na praia do Gonzaga, sob a direção do célebre aviador Roland Garros.

Em 22/10/1942, o Aeroclube de Santos ganhou nova sede social, na Rua D. Pedro II, 76, e nos anos seguintes as instalações operacionais foram transferidas da Bocaina para o antigo campo da Air France, que a partir de julho de 1942, devido ao Estado de Guerra, fora ocupado pelo II Corpo de Base Aérea, recebendo várias melhorias.

Na Semana da Asa de 1947, o Aeroclube teve a primazia de levar a cabo a primeira procissão aérea de São Paulo, quando um de seus aparelhos transportou a imagem de Nossa Senhora de Loreto, padroeira dos aviadores, e o bispo diocesano de Santos, D. Idílio José Soares, pelos céus da região. Em 1967, o aeroclube foi declarado de utilidade pública.

Instalações do Aeroclube de Santos, em Praia Grande (foto do jornal 'Cidade de Santos' em 1982)
Instalações do Aeroclube de Santos, em Praia Grande (foto do jornal Cidade de Santos em 1982)

Aeroporto internacional? - A partir de janeiro de 1930 (quando o hidroavião Guanabara, primeiro a ir ao Norte do Brasil, escalou em Santos na rota Rio de Janeiro-Porto Alegre), tornou-se rotineira a chegada de hidroaviões com passageiros, encomendas e malas postais, amerissando no canal da Ponta da Praia (onde existia uma estação flutuante) e entrando pelo Estuário até a base aeronaval da Bocaina.

No dia 8/1/1930, a companhia Nyrba inaugurava seu serviço regular entre Argentina, Uruguai e Brasil, incluindo escalas em Santos, como a feita no dia seguinte pelo hidroavião Buenos Aires, com capacidade para 20 passageiros. O movimento foi crescendo nos anos seguintes e em 1938 foi registrada pela Companhia Docas de Santos a escala em Santos de 625 hidroaviões, com 4.540 toneladas de registro e 2.345 tripulantes.

Em fins de 1947, o deputado Lincoln Feliciano apresentou projeto (número 138) na Assembléia Legislativa de São Paulo, para que fosse estudada e autorizada a construção de um aeroporto internacional no Campo da Aviação (na atual Praia Grande), mediante um crédito de Cr$ 15 milhões. Dois anos depois, um projeto semelhante foi apresentado na Câmara Federal pelo deputado Antônio Feliciano. Justificando a obra, alegou o deputado federal que "Santos é a segunda cidade do Estado de São Paulo e, como porto, é um dos mais importantes da América do Sul. Reclama de há muito a construção de um aeroporto à altura de seu progresso".

Esse projeto previa a construção do aeroporto internacional "em terrenos de propriedade da União, por estar desapropriado da S.A. Air France, pelo decreto-lei nº 6.870, de 14/10/1944, com a área total de 134.339 m²". O terreno, já ocupado pelo Aeroclube de Santos desde 1946, deveria ter ampliada para 1.600 metros a pista então de 850 metros, já usada pelos aviões da empresa aérea Real.

Aliás, essa empresa chegou a inaugurar em 10/4/1949 uma linha Praia Grande-Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que a Vasp anunciava que seus aviões continuavam saindo da Base Aérea da Bocaina - que também servia a empresas como a Transportes Aéreos Limitada (TAL). Na época, os passageiros contavam com um serviço de bar junto ao hangar, e eram transportados por lanchas que saíam e chegavam no antigo pontão da Santense, atrás do prédio da Alfândega santista.

Apesar dos planos grandiosos, para até mesmo um aeroporto internacional, o século XXI começou sem sequer uma definição para o local do aeroporto metropolitano, em meio à disputa política entre os municípios de Guarujá, Praia Grande e Itanhaém. Enquanto isso, foram construídos os aeroportos de Congonhas, Viracopos e Guarulhos-Cumbica, todos com capacidade para operar o tráfego internacional...

Veja mais:
Nas asas da Panair, dos franceses e do Condor
Nas asas da Panair
Nas asas... dos franceses
Nas asas... do Condor
No tempo das primeiras companhias aéreas
Um heróico pescador de avião
Um vôo pioneiro
As primeiras aviadoras
Asas partidas (Tragédia na praia)
Raids aéreos e outros acontecimentos
JORNAL PERSPECTIVA: Sonho octogenário começa a se concretizar

QR Code - Clique na imagem para ampliá-la.

QR Code. Use.

Saiba mais