Carlos Pimentel Mendes [*]
Em 1492, o navegador genovês Cristóvão Colombo descobriu
o Novo Mundo, as Américas. Ou a descoberta ocorreu em 1477? Embora a data oficial seja 12 de outubro de 1492, estudiosos
franceses e espanhóis afirmam que Colombo já esteve nas costas de Labrador e São Domingo em 1477. O historiador Las Casas -
contemporâneo do descobridor das Américas - escreveu: "das terras a serem descobertas, ele falava com tanta segurança como se
lá já tivesse estado... coisa de que eu, pessoalmente, não duvido muito..."
Outra curiosa referência é encontrada no texto original das "Capitulações" (contrato
estipulado entre o rei Fernando de Aragão e Colombo): "As coisas que Vossas Altezas concedem a Cristóvão Colombo em recompensa
daquilo que já descobriu nos mares e da viagem que agora, com a ajuda de Deus, irá completar neles..." O documento -
comprovadamente autêntico - é datado de abril de 1492, quatro meses antes de Colombo partir do porto de Palos para a histórica
viagem.
Desembarque de Colombo na ilha San Salvador, em 1492
Reprodução: revista História 20, Ed. Três, S.Paulo, 1/1977
Juan de la Cosa, geógrafo, fez um mapa
revelador do conhecimento já existente na época
Mas o próprio navegador
forneceria outra prova ao escrever a nota 54, entre os anos de 1477/78, no livro Historia Rerum Ubique Gestarum, do
papa Pio II: "nota et de Seres multa nobis spect antibus". Esta frase latina significa: "para notar a grande quantidade
de coisas relativas aos Seres dos quais nós mesmos fomos espectadores". Com isso, é reforçada aquela
hipótese, pois Colombo teria chegado então ao estreito de Avis e mesmo ao Labrador e, ao ver os nativos, esquimós, os teria
confundido com chineses. Segundo os registros históricos, Colombo sempre acreditou ter dado a volta ao mundo e chegado à Ásia
pelo lado oposto (feito mais tarde realizado por Fernão de Magalhães). Entretanto, sem o saber, Colombo havia descoberto um
novo continente.
Os estudiosos europeus argumentam ainda que outros documentos citam a partida de uma
expedição dinamarquesa aos mares do Norte para encontrar uma passagem para as Índias, em 1476. Tal expedição seria comandada
por um certo Johannes Skolnus, que teria descoberto nesse ano o estreito de Anian e a terra de Laboratoris (estreito de
Davis e Labrador), segundo registro feito por George Horn, em manuscrito do século XVII.
Afirmam os historiadores que - por questões de pronúncia e tradução - o
nome Christophorus Colón (Cristóvão Colombo) pode ter sido transformado na corruptela Johannes Skolnus. O
próprio Colombo registra uma viagem àquela região, com detalhes que parecem indicar a confirmação dessa teoria.
O fato de, após sucessivos fracassos, ter conseguido convencer os reis espanhóis a
investirem grandes somas no empreendimento parece confirmar que Colombo teria revelado então seu segredo aos reis Fernando e
Isabel de Castela. Também se especula sobre a notável segurança com que Colombo comandou as caravelas na direção da América,
desviando-se de tempestades e demonstrando conhecer o fenômeno da declinação magnética, já que conseguiu manter a rota certa.
Como diria o piloto Gonzalez Diaz, "sem o almirante, as Índias não teriam sido descobertas".
Colombo quando era um comerciante obscuro de lã e açúcar - retrato
conservado em New York Imagem: revista História 20, Ed. Três, 1/1977
História oficial - Apesar de apreciável quantidade de documentos dos séculos XV e XVI
sobre Cristóvão Colombo, há muita polêmica entre os historiadores acerca de diversos fatos de sua vida, entre eles o local e a
data de seu nascimento. Já lhe atribuíram as nacionalidades espanhola, portuguesa, grega e mesmo judaica, sendo entretanto
mais aceita a versão de que teria nascido em Gênova, Itália, filho de Domenico Colombo e Susana Fontanarrossa, no ano de 1451.
Desde cedo se interessara pela vida do mar e, leitor apaixonado dos escritos de Marco Polo,
foi se familiarizando com as navegações e relatos sobre terras estranhas. Empolgou-se, quando esteve em Portugal, com o mapa
desenhado por Paulo Toscanelli, dentro da teoria - considerada absurda na época - de que a Terra seria redonda. Colombo
acreditava que, navegando em direção ao Ocidente, daria a volta ao mundo, chegando talvez mais rapidamente às Índias,
importante centro do comércio de então.
O navegador - que já havia se casado com a portuguesa Filipa Moniz de Perestrelo, filha do
primeiro governador e donatário da ilha de Porto Santo - passou a tentar convencer os monarcas europeus a financiarem a
expedição, sem qualquer apoio. Já viúvo, partiu, com o filho Diogo, para a Espanha, onde depois de muito esforço conseguiu que
os Reis Católicos - Fernando e Isabel de Castela - aparelhassem três naus (Pinta, Niña e Santa Maria)
para a viagem.
O ajuste definitivo entre as partes, no qual Colombo incluía a concessão de vários títulos
para si e seus descendentes, foi objeto de um documento - Capitulações - assinado a 17 de abril de 1492. Ainda na
Espanha, Colombo uniu-se a Beatriz Enriquez de Arana, daí resultando o nascimento do filho Fernando, em Córdoba, que mais
tarde reuniria uma importantíssima Biblioteca Colombiana.
Colombo, nos últimos anos de sua vida
Reprodução: revista História
20, Ed. Três, 1/1977
A Descoberta - Colombo partiu de Palos, na Espanha, a 3 de agosto de 1492, comandando
a caravela Santa Maria, a maior das três. Martin Alonzo Pinzón comandava a Pinta e seu irmão Vicente Yañez
Pinzón, a Niña. Após viagem normal, a expedição chegava a 16 de setembro ao Mar de Sargaços e a 12 de outubro era
avistada a ilha de Guanahani, nome indígena que Colombo trocaria por São Salvador. Estavam descobertas as terras da América,
embora o almirante acreditasse estar em uma região desconhecida das Índias. Procurando terra firme, chegou em 28 de outubro a
Cuba, a maior ilha das Antilhas, que Colombo pensou ser Cipango (Japão).
Uma expedição foi para a terra com mensagem para o Grão-Cã, suposto potentado do local.
Entretanto, os homens retornaram sem localizá-lo, mas já com uma novidade: o tabaco. Numa das praias encalhou a Santa Maria,
e ali Colombo criou a primeira benfeitoria em terras americanas, a Natividade. Após acidentada viagem, o Almirante do Mar
Oceano - como ficaria conhecido - chegava ao rio Tejo, em Lisboa, a 4 de março de 1493, continuando viagem até o porto de
Palos, na Espanha, onde seria recebido dia 15. Martin Alonzo Pinzón faleceria cinco dias depois, com a saúde debilitada pela
viagem.
Meses depois, Colombo saía do porto de Cádiz, em 25 de setembro, para a segunda viagem, com
poderosa frota de 17 navios e levando consigo os mais famosos navegadores da época. A 5 de outubro, chegavam às ilhas Canárias
e a 3 de novembro à ilha de Dominica, nas Pequenas Antilhas. Passando por outras ilhas, Colombo chegava a 16 de novembro a
Porto Rico. Continuando a exploração, a 5 de maio de 1494 descobria a Jamaica, regressando doente à ilha de Hispaniola, onde
havia fundado a primeira feitoria e, nessa segunda viagem, a feitoria de Isabela.
Deixando seu irmão Bartolomeu no governo da ilha, voltou à Espanha, onde chegou a 11 de
junho de 1496. Procurando provas mais concretas de ter atingido as Índias, Colombo voltaria mais duas vezes à América, em 1498
(onde reconheceu terras até o rio Orinoco) e em 1502, da qual voltou em 1504, pouco antes do falecimento de sua protetora, a
rainha Isabel.
Em meio ao descontentamento geral na Europa porque as viagens à América não haviam rendido
as riquezas esperadas, morreu o almirante a 21 de maio de 1506, em Valladolid, na Espanha. De suas descobertas resultaria o
conhecimento de um novo continente, a descoberta de novas plantas e aves, um maior interesse pelo que havia no Ocidente (que
resultaria na descoberta do Brasil em 1500 e nas viagens de Fernão de Magalhães na mesma época, provando finalmente a teoria
da esfericidade da Terra).
Entretanto, o nome desse novo continente seria dado
em homenagem a outro navegador - Américo Vespúcio - e, das novas terras, apenas um país preservaria em sua denominação a
lembrança do Almirante do Mar Oceano: a Colômbia.
[*] O texto acima foi publicado pelo editor de Novo
Milênio no antigo jornal santista Cidade de Santos, edição de 16 de outubro de 1977 - ano em que, segundo alguns
historiadores, transcorreria de fato o quinto centenário da descoberta da América.
Colombo, numa das muitas imagens feitas após a viagem à América
[1] A palavra Seres se aproxima de
cinesi --> chinesi --> chineses.
[2] A transliteração Colombo-Skolnus
seria explicada pelos muitos erros cometidos pelos copistas da época. Assim, a abreviação de Christophorus (Cristóvão), Chr,
teria mudado para Jhn (de Johannes), e Colun ou Colón (grafia hispano-portuguesa de Colombo) teria sido transcrita como
Scolum. Considere-se ainda que, segundo as regras fonéticas dinamarquesas, a letra C é pronunciada como S sibilante.
De Scolum, por meio de outros erros, chegou-se a Skoluns e até Scolvus.
E não se deve estranhar a freqüência desses erros: o nome Colombo aparece em vários textos deformado como Colommo, Palombo,
Colubus e Colobo, por exemplo. |