Clique aqui para voltar à página inicialESPECIAL: 1º de Abril
http://www.novomilenio.inf.br/festas/1abril4.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 03/30/09 23:12:39

Clique aqui para voltar à página inicial

Alemanha x Liechtenstein, num Dia da Mentira

Leva para a página anterior da série

Esta história foi publicada pelo jornal A Tribuna, de Santos/SP, em 10 de setembro de 1928, em sua primeira página (ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução da matéria publicada em 10/9/1928 por A Tribuna

Curioso caso internacional

Como as fotografias publicadas por uma revista alemã, no dia primeiro de Abril, criaram um caso internacional

Berlim, agosto de 1928.

O povo do principado de Liechtenstein, país pequenino que fica entre a Áustria e a Suíça, está muito indignado por causa de um artigo publicado na revista alemã Berliner Illustrite Zeitung, um dos principais semanários ilustrados publicados na Alemanha.

Antes de mais nada, deve-se dizer que os homens de Liechtenstein são afamados pela sua força física, e as mulheres, pela sua beleza.

O referido artigo foi publicado no dia 1º de abril, como uma brincadeira tradicional.

Diz o artigo:

"Devido à falta de moças, tem deixado o principado de Liechtenstein, com destino à Suíça e ao Tirol, grande número de moços deste país.

"O caso torna-se tão grave, que o povo está seriamente considerando a situação. Com capitais fornecidos pelo governo, fundou-se uma companhia denominada Sociedade Importadora de Noivas, com o intuito de fornecer esposas aos jovens de Liechtenstein, e assim impedindo que o país fique despovoado.

"Esta companhia está em comunicação com vários países europeus, onde reúne grupos de jovens em condições de se tornarem noivas. Estes grupos são, depois, transportados para Vaduz, capital de Liechtenstein, onde mensalmente se realiza o denominado mercado  de casamentos, mais ou menos à moda escocesa.

"Nos referidos mercados de casamento dá-se aos pretendentes ensejo para serem apresentados às suas futuras noivas. E com o pagamento de uma quantia estipulada, os jovens adquirem o direito, se a moça concordar, de levá-la ao escritório do secretário do prefeito e, ali, casar com ela imediatamente".

Quando o artigo saiu, ninguém lhe ligou grande importância, pois os leitores da Alemanha e de outros países da Europa, recordando-se que era o "dia primeiro de abril", acharam graça nele. Mas, os habitantes de Liechtenstein não acharam graça alguma ao assunto.

Resolveram eles mandar abrir inquérito e nomearam comissões a fim de levá-lo a efeito. As comissões trabalharam muito bem e conseguiram apurar os seguintes dados:

"O artigo que exaltou os ânimos dos liechtenstenses foi publicado no dia 1º de abril, pela revista alemã Berliner Illustrite Zeitung, a título de gracejo apropriado à data. Os alemães gostaram muito da pilhéria, o mesmo não acontecendo com os habitantes de Liechtenstein".

Descobriram os pesquisadores o fio da meada, por meio dos dizeres "Phot. W. Arne Allemann", embaixo das fotografias que ilustravam o artigo. À primeira vista, parecia que estes dizeres tinham apenas a assinatura do fotógrafo, mas, levando avante as pesquisas, verificaram que, tirando o ponto depois do W., a legenda seria como segue: "Warne Allemann", que, traduzido, quer dizer: - "Previnem a todos".

Continuando as investigações, verificaram que os redatores da revista Berliner Illustrite Zeitung, com a tradicional perícia alemã, tinham fabricado fotografias falas da alegada exportação de noivas. Em primeiro lugar, os redatores do popular semanário alemão contrataram um certo número de moças muito gordas, para desempenhar os papéis de "noivas de exportação".

Pelo clichê, verificará o leitor que os redatores escolheram as moças mais gordas da vizinhança. Vestiram as "noivas" com o tradicional vestido de noiva, e depois alugaram numerosos vagões ferroviários, em cujos lados mandaram colocar cartazes especialmente impressos para a ocasião. Pelos dizeres dos cartazes, encontraram os investigadores de Liechtenstein uma outra prova da pilhéria.

Diziam os cartazes: "Cuidadosamente acondicionados"; "Tratem com cuidado"; "Cuidado com os vagões". Um dos cartazes estava redigido em língua francesa e dizia: "Sociedade anônima para a exportação de noivas". Um cartaz alemão tinha os dizeres "Braute-Vertriebs - A.G.", o que quer dizer a mesma coisa, mais ou menos.

Quando as "noivas", os vagões e os cartazes já estavam prontos, os pilhéricos redatores alemães conseguiram transportar os vagões para o desvio ermo, onde tiraram raras fotografias das "noivas", no ato de chegarem a seu destino. Uma das fotografias mostra as "noivas" nos vagões, outra mostra-as no ato de serem desembarcadas, ao chegarem ao seu destino.

Uma outra fotografia ainda as retrata, embarcando a bordo de um vapor denominado Virginia. Mesmo depois de terem descoberto o fio da meada, os investigadores de Liechtenstein não se conformaram e se aprofundaram ainda mais no assunto. Segundo as pesquisas, parece que a pilhéria teve a sua origem num artigo da autoria do correspondente novaiorquino de um jornal alemão. Encontraram um artigo escrito por esse correspondente alemão em Nova York, há um ano. O artigo versa sobre a cidade alemã de Liechtenstein, cujo nome é parecido com o do principado de Liechtenstein.

Alegou o referido artigo que certo milionário tencionava fornecer uma avultada quantia em dinheiro, para fundar um "mercado de casamentos" em Liechtenstein. Verificou-se, depois, ser falsa a informação do correspondente alemão. Mas, um ano depois, a revista berlinense Berliner Illustrite Zeitung resolveu aproveitá-lo como pilhéria de primeiro de abril, dia tradicional para enganar os tolos do mundo inteiro.

Os leitores da revista acharam muita graça no assunto, porque conhecem de perto o caráter tranqüilo e pacato dos habitantes de Liechtenstein.

O principado de Liechtenstein é um país tradicionalmente tranqüilo e pacífico, e até hoje os seus habitantes atravessam as suas ruas pitorescas, vestindo os trajes nacionais.

São inimigos da pressa e, quando alguém quer apressá-los, dizem: "Morgen", o que significa "Amanhã".

Em 1914, irrompeu a grande guerra mundial, e o toque de corneta reboou pelo mundo inteiro. Os quatro cantos da terra ressoaram com o bater de milhões de soldados em marcha, e o frêmito de entusiasmo pulsou em todos os países do globo - menos em Liechtenstein. O pacato principado não quis tomar conhecimento do estado de guerra, e nem ligou importância ao rufar do tambor, cujo som não conseguiu atravessar as suas fronteiras.

Enfim, algum resultado teve a guerra mundial no principado de Liechtenstein, que, antes da guerra, tinha sido um protetorado austríaco. Os habitantes aproveitaram o ensejo para proclamar a sua independência. Repuseram no trono do principado, no meio de grande entusiasmo popular, o príncipe Carlos III, e realizaram grandes festejos com todo o fausto, em todo o pequeno país. Mas, terminadas as festas, os habitantes voltaram ao seu mister predileto de sonhar acordados, enquanto a vida passava.

Os habitantes de Liechtenstein não ligaram importância à guerra e dela não quiseram nem tomar conhecimento, e - coisa curiosa - a guerra não os incomodou. Como já se disse, os homens são de estatura elevada e físico forte, e as mulheres são afamadas pela sua beleza.

Mas, se o principado de Liechtenstein não ligou importância à grande guerra mundial, ligou bastante à pilhéria levada a efeito, à sua custa, no dia 1º de abril, pela revista berlinense Berliner Illustrite Zeitung. Estão mesmo zangados os habitantes deste principado, especialmente pelo fato das fotografias darem a entender que o padrão de beleza, no país dos súditos do príncipe Carlos III, é o mesmo que prevalece na terra dos haréns, onde a formosura é calculada pela balança.

Ouve-se nas ruas de Vaduz, diariamente, conversas sobre o artigo que constitui o assunto do momento.

- Que coisa! diz um súdito de Carlos II, muito zangado.

- Não precisamos de importar noivas, pois as nossas próprias são as mais belas do mundo, diz outro.

- Sociedade anônima, retruca um outro. Qual, nada; pois você não vê que na fotografia colocaram as noivas em vagões de carga? - E assim por diante faziam-se comentários durante meetings realizados pelos habitantes indignados do principado de Liechtenstein.

 

"Desembarca com cuidado". - Uma das fotografias de 1º de abril, que tanto fizeram rir os leitores do Berliner Illustrite Zeitung, e exaltaram os ânimos dos súditos do príncipe Carlos II, de Liechtenstein

Imagem e legenda publicadas com a matéria original

 

O embarque das "noivas", a bordo do vapor Virginia, com destino a Liechtenstein,

país que fica nas montanhas!...

Imagem e legenda publicadas com a matéria original

 

Vagões ferroviários, com carregamento de "noivas"

Imagem e legenda publicadas com a matéria original

 

Uma fotografia autêntica de uma cena num dos "Mercados de Casamentos", na Rússia, onde, realmente, há corretores de casamentos

Imagem e legenda publicadas com a matéria original

Leva para a página seguinte da série