Crianças e meninos-moços
trabalharam sem repouso na confecção dos capacetes
Um grupo de senhoras da melhor sociedade paulista decidiu dar
maior evidência aos festejos da memorável data e procurou o necessário apoio daqueles que participaram, dessa ou daquela forma,
da revolução. Não houve discrepância. Ricos, pobres e remediados, todos paulistas, imediatamente se puseram a trabalhar, no
sentido de que tudo corra às mil maravilhas e que o Nove de Julho do IV Centenário jamais seja esquecido.
Os aviões revoltosos cruzavam os
céus de S. Paulo
Tudo está pronto. A cidade vibrará e a mocidade paulista de hoje
terá uma rápida idéia do que foram os gloriosos dias vividos por São Paulo em 1932.
"Nunca houve em São Paulo quem alimentasse o sentimento
separatista", afirmou-nos Júlio de Mesquita Filho, dando início ao seu depoimento sobre a revolução constitucionalista. "O
movimento se processou com o alevantado espírito de brasilidade. São Paulo, farto do caudilhismo do senhor Getúlio Vargas,
decidiu, depois de muito sofrer, libertar-se do jugo odioso e, conseqüentemente, libertar a nação.
"Na sede do O Estado de São Paulo foram levadas a efeito as
reuniões preparatórias. Homens como Cesário Coimbra, Antônio Pereira Lima, Paulo Duarte, Francisco Mesquita, Joaquim Celidômio
dos Reis, Elias Machado, Antonio Carlos de Abreu Sodré e quase a totalidade dos membros do antigo Partido Democrático, entre
eles Aureliano Leite e Joaquim Sampaio Vidal, sem esmorecimentos, dia e noite, confabulavam, procurando os meios mais práticos e
eficazes que levassem S. Paulo à vitória rápida e gloriosa.
"Entregue a chefia do movimento ao pranteado general Izidoro Dias
Lopes, este escolheu, para seus auxiliares imediatos, a mim e ao falecido coronel Salgado, da gloriosa Força Pública paulista.
Também participavam das reuniões preparatórias os capitães Eliodoro da Rocha Matos e Odilon Aquino de Oliveira, oficiais
brilhantes e que deram o máximo de seus esforços em prol do movimento revolucionário.
"Objetivando maior coordenação dos diversos setores aos quais
estava afeto o controle da revolução, decidiu-se a organização da chamada Frente Única dentro do Estado de São Paulo. Essa
Frente Única consistia na reunião dos elementos que constituíam o antigo PRP e o Partido Democrático, que representavam a grande
força de opinião do Estado.
"Na célebre reunião, da qual resultou a homologação desta Frente
Única, ficou deliberada a constituição de uma comissão encarregada do preparo da ação militar propriamente dita. Pelo PRP foram
indicados os srs. coronel Ataliba Leonel e o sr. Coriolano de Góis. Pelo Partido Democrático foi indicado o sr. Cesário Coimbra
e eu pelo chamado grupo do Estado de São Paulo.
"No dia seguinte levava-se a efeito a primeira reunião e eu fui
nessa oportunidade designado para assumir a honrosa função de coordenador das forças militares. Daí por diante, toda a
responsabilidade do movimento militar recaiu sobre os meus ombros. Investido dessas funções, falei somente em nome de São Paulo
e indiquei os comandos que chefiaram o movimento militar.
Garoto, ainda, alistou-se na Força
Aérea paulista
"Coube-me ainda, nessa altura, e em nome da Frente Única paulista,
redigir, juntamente com João Neves da Fontoura, representante no Rio de Janeiro da Frente Única Riograndense, o Pacto Militar
entre os dois Estados. Por esse Pacto ficava estabelecido que três seriam os objetivos bélicos:
"1º - a mudança por parte do Governo Federal do comando da Região
Militar do Rio Grande do Sul, que nessa altura estava nas mãos do general Andrade Neves;
"2º - destituição do Governo Civil de São Paulo, chefiado por
Pedro de Toledo, e do Secretariado imposto pelo povo paulista no dia 23 de Maio.
"3º - e este é o mais importante, porque, a princípio impugnado
por mim, o acabei aceitando em nome de São Paulo, por ter sido considerado pelo general Flores da Cunha (então interventor do
Rio Grande do Sul) a sua aceitação como o penhor da entrada daquele grande Estado sulino na Revolução - que era a
intangibilidade do comando de Mato Grosso nessa ocasião ocupado pelo general Bertoldo Klinger. E foi justamente a destituição
desse comando que provocou a entrada imediata de São Paulo na luta da qual, infelizmente, o sr. Flores da Cunha não participou.
"Daí por diante, meu amigo, difícil se torna traduzir com
fidelidade aquilo que se passou nos dias da Revolução paulista. Os atos heróicos, tão decantados ainda hoje pelos que
acompanharam de perto e de viso a bravura e o estoicismo do povo paulista, por si só falam de sobejo, não necessitando pois de
depoimentos individuais.
"De Mogi a Cruzeiro, no Túnel, em Silveira, enfim, em todas as
frentes de combate, o paulista, lutando contra todas as vicissitudes, contando apenas com o apoio material restrito que lhe era
fornecido e também com o formidável apoio moral que lhe deu a mulher bandeirante, demonstrou ao Brasil e ao mundo que quando se
objetiva algo de nobre e elevado, o sacrifício e o desconforto se esboroam na muralha intransponível da fé e da fibra.
"Citar, isoladamente, episódios heróicos da revolução de 1932,
omitindo outros que ficaram no anonimato, menos por nossa vontade do que pela modéstia daqueles que os praticaram, seria odioso
e injusto. Prefiro encerrar o meu depoimento afirmando que em 1932 o povo paulista, na sua ânsia de liberdade e olhando sempre o
bem-estar do nosso querido Brasil, se lançou à luta com o intuito único e exclusivo de alijar do poder um governo de exceção que
tantos malefícios nos acarretava.
"Por isso, meu amigo, as comemorações de 9 de Julho, justamente no
ano do quarto centenário de fundação de São Paulo, deverão ultrapassar a todas as expectativas. Reverenciar a memória daqueles
que tombaram no campo da luta em prol de um ideal comum é praticar um ato de justiça que nos deixa bem com a nossa própria
consciência. A data de 9 de julho não pertence somente aos paulistas. É uma data nacional".
Preparando planos para os
ataques aéreos ao inimigo
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