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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
Cacilda Becker

Embora nascida no interior de São Paulo, Cacilda Becker morou em Santos e São Vicente a partir dos nove anos de idade, junto com sua irmã Cleyde Yáconis. Ambas se tornaram atrizes profissionais, como destaca o verbete da Wikipedia (consulta em 6/2/2011):

Nome completo Cacilda Becker Yáconis
Nascimento 6 de abril de 1921
Pirassununga, SP
Falecimento 14 de junho de 1969 (48 anos)
São Paulo, SP
Cônjuge Walmor Chagas

Cacilda Becker Iaconis (Pirassununga, 6 de abril de 1921 — São Paulo, 14 de junho de 1969) foi uma atriz brasileira, um dos maiores mitos dos palcos nacionais.

Filha do imigrante italiano Edmondo Yáconis e de Alzira Becker, Cacilda tinha apenas nove anos quando seus pais romperam o casamento e sua mãe viu-se obrigada a criar três filhas sozinha, uma delas a também atriz Cleyde Yáconis. Por este motivo, fixaram-se na cidade de Santos, onde Cacilda ainda jovem freqüentou os círculos boêmios e mais vanguardistas, já que por ser filha de pais pobres e separados não podia estabelecer amizade com pessoas da alta sociedade.

Cacilda começou no teatro paulista como atriz amadora e se profissionalizou em 1948. Neste ano, Nydia Lícia recusou um papel na peça Mulher do Próximo, de Abílio Pereira de Almeida, produzida pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), para não ter que beijar nem dizer "amante" em cena, pois isto podia lhe custar o emprego numa importante loja. Cacilda, que a substituiu, exigiu ser contratada como profissional, acabando com o velho preconceito de que artista sério deveria ser diletante

Em 30 anos de carreira, Cacilda encenou 68 peças, no Rio de Janeiro e em São Paulo; fez dois filmes (Luz dos Seus Olhos em 1947 e Floradas na Serra, em 1954) e uma telenovela (Ciúmes, em 1966), na TV Tupi além de outras participações em teleteatros na televisão, foi Cacilda quem inaugurou o Teatro Municipal de São Carlos com a peça Esperando Godot no começo de 1969.

Cacilda provocava paixões avassaladoras e teve três maridos. Durante a apresentação do espetáculo Esperando Godot, que encenava com o marido Walmor Chagas, na capital paulista, em 6 de maio de 1969, Cacilda sofreu um derrame cerebral e foi levada para o hospital, ainda com as roupas de seu personagem. Morreu após 38 dias de coma e foi enterrada no Cemitério do Araçá, com a presença de uma multidão de admiradores.

Personagens - Cacilda Becker já foi retratada como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Camila Morgado na minissérie Um Só Coração (2004) e Ada Chaseliov no filme Brasília 18% (2006).

Cacilda Becker também foi homenageada na peça Cacilda!, escrita por José Celso Martinez Corrêa. Cacilda Becker foi interpretada por Bete Coelho, posteriormente por Leona Cavalli. E em 2009 volta a ser homenageada pela Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona na peça Cacilda!!, interpretada por Anna Guilhermina.

Cacilda Becker já foi homenageada na peça Revivendo Cacilda, atuada por alunos da Escola Estadual Professor Fernando de Azevedo, exibida no Teatro Municipal Brás Cubas em Santos, no dia 20 de outubro de 2009.

Teatro

* Esperando Godot de Samuel Beckett (1969)- Estragon
* Isso Devia Ser Proibido de Walmor Chagas e Bráulio Pedroso (1967)- Ela
* Quem Tem Medo de Virgínia Woolf de Edward Albee (1965)- Marta Moliére de Melhor Atriz
* A Noite do Iguana de Tennessee Williams (1964)- Anna Jelkes
* A Visita da Velha Senhora de Friedrich Durrenmatt (1962)- Karla Zachanassian
* ...Em Moeda Corrente no País de Abílio Pereira de Almeida (1960)- Florípedes
* Longa Jornada Noite A Dentro de Eugene O'Neill (1958)- Mary Tyrone
* Gata em Teto de Zinco Quente de Tennessee Williams (1956)- Maggie Pollit, a Gata
* Maria Stuart de Friedrich Schiller (1955)- Maria Stuart
* Antígone de Sófocles e Jean Anouilh (1952)- Antígone
* A Dama das Camélias de Alexandre Dumas Filho (1951)- Margarida Gauthier
* Seis Personagens a Procura de Um Autor de Luigi Pirandello (1951)- A Enteada
* Pega-Fogo de Jules Renard (1950)- Pega Fogo
* O Anjo de Pedra de Tennessee Williams (1950)- Alma Winemiller
* Os Filhos de Eduardo de Marc Gilbert Sauvajon (1950)- Denise
* Entre Quatro Paredes de Jean Paul Sartre (1950)- Inês
* Arsênico e Alfazema de Joseph Kesselring (1949)- Abby
* Nick Bar, Álcool, Brinquedos e Diversões de William Saroyan (1949)- Kitty Duval
* Não Sou Eu... de Edgard da Rocha Miranda (1947)- Mônica Fillimore
* Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues (1947)- Lúcia
* A Farsa de Inês Pereira e do Escudeiro de Gil Vicente (1945)- Inês Pereira
* O Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente (1943)- Brízida Vaz
Fotos de Cacilda Becker

Imagem: blogue Arcano Maior

 

Imagem: site Mitos do Teatro Brasileiro

 

Otelo interpretado por Abdias do Nascimento e Desdemona por Cacilda Becker, Direção Willy Keler. RJ, teatro Regina, 1946. Foto de José Medeiros

Imagem: site Tecituras em São Paulo

 

Cacilda Becker

Imagem: blogue Arcano Maior

Sites consultados em 6/2/2011

Seu falecimento foi assim registrado pelo jornal Folha de São Paulo, em um domingo, 15 de junho de 1969 (mantida a ortografia original):

O silêncio desce sobre Cacilda

Cacilda Becker faleceu ontem, às 10 horas, no Hospital São Luís onde estava internada há 38 dias, precisamente desde 6 de maio, quando fora acometida por um derrame cerebral num dos intervalos de peça Esperando Godot, na qual fazia o papel principal.

A noticia de sua morte provocou intensa comoção nos meios teatrais de todo o país e manifestações de pesar do governador Abreu Sodré e do prefeito Paulo Maluf. O corpo de Cacilda Becker - que nasceu em Piraçununga, há 48 anos - está sendo velado na capela dos dominicanos, para onde foi levado às 14 horas. Seu sepultamento será realizado hoje, às 11 horas, no Cemiterio do Araçá.

Uma vida para o teatro

— Zimba, nós vamos ter um trabalho infernal.

Era assim que Cacilda Becker dizia para Zienbisnky, sempre que se iniciavam os ensaios de uma peça. Zimba era o tratamento afetuoso para o ator e diretor, que a ajudou a se tornar a primeira atriz do teatro brasileiro.

— Ela dizia que teriamos um trabalho infernal mas dizia com um brilho de alegria nos olhos. Sempre teve um fogo sagrado ardendo dentro daquele corpo fragil, uma paixão mistica pelo teatro.

A vida de Cacilda Becker foi a historia de uma vontade apoiada em nervos e coragem e inteligencia. Sua carreira se confunde com a propria evolução do teatro moderno brasileiro, que ela enriqueceu com seu talento de atriz no impecavel desempenho de papeis dificeis e na encenação de algumas das obras da dramaturgia contemporanea.

Uma mulher pertinaz, que levou ao palco a romantica Marguerite Gauthier, a Dama das Camelias, a toxicomana Mary, de Longa Jornada Noite a Dentro, a neurotica Marta, de Quem tem medo de Virginia Woolf, ela foi brutalmente surpreendida entre um ato e outro, no dia 6 de maio, de Esperando Godot, na qual representava Estragon, ao sofrer um derrame cerebral.

Paulista de Piraçununga, Cacilda Becker nasceu em 1921. Cedo, conheceu a pobreza que não deveria abandoná-la durante anos. Ela e as irmãs Cleide e Dirce ficaram com a mãe quando os pais se separaram. Juntas, vieram para Santos, onde a vida era dificil. Mesmo assim, Cacilda conseguiu fazer os estudos de ballet, sua primeira vocação artistica. Antes do teatro, um diploma de professora e, em São Paulo, o emprego de escrituraria numa firma de seguros.

Com 20 anos, vai para o Rio disposta a iniciar a carreira de atriz. Supera as dificuldades, domina a propria fragilidade e conquista uma oportunidade no teatro, que só deixaria atingida pela adversidade. Do palco Cacilda só sairia, anos mais tarde, carregada de maca, para o hospital.

Cacilda Becker começa a afirmar-se como atriz em 1941, na companhia de Raul Roulien. Ela, Raul e Laura Suarez interpretam Trio em Lá Menor, de Raimundo Magalhães Jr. Antes, por parte do elenco do Teatro do Estudante, na montagem de Hamlet, dirigida por Paschoal Carlos Magno.

Quando o teatro paulista começa a pretender profissionalizar-se, Cacilda Becker regressa a São Paulo em 1943 e integra-se no Grupo Universitário de Teatro, fundado por Decio de Almeida Prado.

Faz rádio-teatro para sobreviver mas é ao palco que ela entrega a força de sua excepcional capacidade de trabalho e sua viva inteligencia. No GTU participa de três montagens: Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente; Irmãos das Almas, de Martins Pena e Pequeno Serviço em Casa de Casal, de Mario Neme. Regressa ainda ao Rio para trabalhar com Os Comediantes, grupo responsavel por uma verdadeira revolução no panorama teatral brasileiro. Com eles, dirigida por Zienbisnky, que a conhecia desde 1943, participa da remontagem da peça O Vestido de Noiva, em 1946, no papel de Lucia, ao lado de Olga Navarro e Maria Della Costa.

Zienbisnky evoca o entusiasmo de Cacilda: "Lembro-me dela, uma moça que não comia, tinha a fragilidade de uma flor de estufa. Alimentava-se com um ovo cru e um pedaço de carne. Chegou a pesar 42 quilos. Ela nos preocupava. A Cacilda Becker que todos conheceram nos ultimos anos era robusta perto daquela mocinha que conheci. Mas ela tinha a dedicação mais absoluta ao teatro, ao fenomeno de teatro, ao amor do teatro."

O salto - Em 1948, Zienbisnky passou a integrar o elenco de Maria Della Costa, que acabara de fundar seu Teatro Nacional Popular, no Rio. Cacilda veio para São Paulo onde duas iniciativas importantes davam novo impulso ao teatro: a fundação do Teatro Brasileiro de Comedia, resultado da fusão do Grupo Universitario de Teatro com o Grupo Experimental de Teatro, dirigido por Alfredo Mesquita que, no mesmo ano, fundou a Escola de Arte Dramatica de São Paulo, estabelecimento pioneiro no ensino de teatro no Brasil. Cacilda Becker foi lecionar interpretação na EAD e entrou para o TBC como a primeira atriz contratada em carater profissional.

O primeiro espetaculo do TBC foi A Mulher do Proximo, de Abilio Pereira de Almeida. Iniciava-se um dos periodos mais fecundos do teatro paulista. Cacilda Becker ingressou no movimento interpretando o principal papel no espetaculo inaugural do TBC. Acompanhou toda evolução da nova companhia que se profissionalizou definitivamente graças ao industrial Franco Zampari que lhe imprimiu novo ritmo, realizando de quatro a cinco montagens por ano e contratando diretores estrangeiros que contribuiram decisivamente para a elevação do nivel tecnico e artistico do teatro paulista. Contratou ainda Zienbinsky como ator e diretor. Cacilda Becker esteve em quase todas montagens dessa epoca. Aparece em Nick Bar, de Saroyan, em Antigone, textos de Sofocles e de Anouilh, em Dama das Camelias, de Dumas, e em Gata em Teto de Zinco Quente, de Tennessee Williams.

Zienbinsky dirigia espetaculos que eram apresentados às segundas feiras. Em carreira normal, a semana inteira, seu primeiro espetaculo foi "Paiol Velho", de Abilio Pereira de Almeida, com Cacilda Becker. Mas, nas sessões das segundas a dupla criaria o espetaculo que se constituiria um dos maiores exitos de suas carreiras: Pega Fogo, de Jules Renard. A peça fêz tanto sucesso que entrou em carreira normal e ficou em cartaz muito tempo. Anos depois, em 1960, Cacilda remontou Pega Fogo, apresentando-se no Teatro das Nações, em Paris. A critica francesa apontou-a como uma atriz extraordinaria.

O TBC entrou em declinio a partir de 1955. Os diretores italianos regressaram à Europa enquanto os atores mais famosos fundavam suas proprias companhias. Cacilda e Valmor Chagas alugaram o teatro da Federação Paulista de Futebol e inauguraram o Teatro Cacilda Becker. Estavam no elenco, Zienbinsky, velho companheiro e sua irmã Cleide Yaconis que tambem iniciara carreira no TBC e se firmava como atriz de talento.

O novo grupo estreou com O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna. Cacilda ficou com um papel secundário para que a irmã fosse a protagonista. Seu repertorio foi crescendo com as encenações de Longa Jornada Noite a Dentro, de O' Neil; O Protocolo, de Machado de Assis; Maria Stuart, de Schiller, Santa Marta Fabril, de Abilio Pereira de Almeida; Raizes, de Arnold Wesker; Oscar, de Claude Magnier; Os Rinocerontes; A Visita da Velha Senhora, de Durremah; Cesar e Cleopatra, de Bernard Shaw; A Noite de Iguana, de Tenessee Willians; Quem tem medo de Virginia Woolf?, uma das melhores interpretações de sua carreira; Isso Devia ser Proibido, de Braulio Pedro e Esperando Godot, de Samuel Becket.

Zienbisnky rememora a fibra de Cacilda Becker em seus trabalhos: "Ela era impressionante. Para fazer o garoto de Pega Fogo enfaixava a região dos seios com tiras largas de esparadrapos. Depois de uma semana de representação, a pele saiu e ficou a carne viva. Ela teve de se enfaixar com tiras de pano. Cacilda sempre fêz esses sacrificios. Quando montamos Maria Stuart sofreu dores nos rins porque a roupa era pesada demais e a peça durava 3 horas e 15 minutos. Aos sabados fazia três sessões e, no domingo, duas. Exauria-se de cansaço. Representou Arsenico e Alfazema gravida de sete a oito meses. Esta é a Cacilda Becker que conheço há quase trinta anos".

Um cargo dificil - Em 1968 Cacilda suspende as atividades da sua companhia para presidir a Comissão Estadual de Teatro, um cargo dificil, com implicações e problemas que desafiavam uma mulher que sempre se considerou atriz, e apenas atriz. Fêz o possivel para ser a mediadora entre classe teatral e o governo. Mas, nos momentos de crise, seu cargo, que desempenhou com inquebravel dignidade, não a impedia de ladear, com a mesma dedicação, os seus companheiros de profissão. Ficou no cargo até o momento em que julgou ter cumprido sua tarefa.

Voltou ao teatro, este ano, aceitando um novo desafio. Representar, sob a direção de Flavio Rangel, o vagabundo Estragon de Esperando Godot. O papel exigia uma interpretação impecavel. Cacilda superou-se a si mesma. Sua presença no palco, ao lado de Valmor Chagas e de seu filho Luís Carlos Martins, que estreava no teatro, era citada como um dos acontecimentos importantes da temporada teatral do ano.

Cacilda Becker foi a nossa primeira e grande atriz até a ultima fala do 1.o ato de Esperando Godot, na tarde de 6 de maio. Não voltou para o segundo ato. Saiu do camarim carregada para o hospital. Só o derrame cerebral pôde vencer a força contida naquele fisico delicado.

Resta o palco vazio, a cena cortada e a lembrança de uma atriz que mereceu o apaixonado elogio do critico francês Michel Simon ao vê-la em Pega Fogo: "Cacilda Becker vem de muito mais longe do que seus dez anos de aprendizagem em sua arte, porque é um monstro do teatro, como De Max, Gaby Morlay, Charles Chaplin, Jean Louis Barrault ou Charles Laughton. Ela é medium, mãe dos Santos, do orixá do teatro. Basta ela aparecer que a magia se opera. Pessoalmente tenho a pretensão de me haver tornado um duro, um empedernido, um desconfiado do palco. Conheço-lhe o mecanismo. Pois bem, chorei como uma Madalena arrependida assim que o pano se levantou e vi aquele rosto amaciado, aquele olhar em virgula (como nos desenhos de Poulbot), aqueles gestos pletoricos de garoto infeliz e arrogante. Ela ainda não tinha aberto a boca e eu já estava possuido ("como um rato na ratoeira", diria Sartre). Enfim, ela é Poil de Carotte. Poil de Carotte não pode ter mais, para mim e para muitos outros, de agora em diante, outro rosto senão o seu."

Velorio entre os dominicanos, seus admiradores - Às 14 horas de ontem, o corpo de Cacilda Becker é levado para o velorio na capela dos dominicanos, que sempre foram seus admiradores.

Vinte minutos depois, o esquife é colocado na capela da rua Caiubi. As portas são fechadas para armas o velorio. Na escadaria, parentes, gente de teatro e admiradores. Mais quinze minutos e chega o aviso de que todos podem entrar.
Nas primeiras cadeiras ficam Walmor Chagas, Maurice Vaneau, Luís Carlos Martins, Fredi Kleeman, Leonardo Vilar, Benedito Corsi e Flavio Rangel.

O silencio é quebrado quando chega da. Alzira Becker, mãe da atriz; amparada por Cleide Yaconis e Osmar Rodrigues Cruz, ela sobe a escadaria com dificuldade, sempre exclamando "onde ela está, onde ela está?"

Cantata de Bach - Da. Alzira só pode ficar alguns minutos junto ao caixão onde, de rosto tranquilo e sem aparentar ter passado por sofrimento ou dor, está Cacilda Becker.

A mãe da atriz chora muito. Norma Grecco corre em busca de um copo de agua com açucar. Depois, todos da familia acham melhor retirar da. Alzira do local. Ela se afasta após muita insistencia. O diretor Maurice Vaneau põe em funcionamento a fita magnetica com uma cantata de Bach. Musicas funebres prosseguem o tempo todo.

Abreu Sodré
- O governador Abreu Sodré chegou ao velorio às 17h30. Mais tarde, distribuiria a seguinte nota: "Perco uma grande amiga. Os artistas perdem uma grande lider e o povo brasileiro uma grande interprete. Extingue-se um grande talento. Fica um grande exemplo."

O governador determinou que seja dado o nome de Cacilda Becker ao teatro-auditorio da TV-Cultura. Disse tratar-se de uma homenagem "à grande atriz do teatro brasileiro, cuja consciencia profissional é exemplo de coragem, de lucidez e de intrepido espirito de defesa da nossa arte e da nossa cultura".

Afirmou ainda que ele e sua mulher, pessoalmente, perderam "a amiga de tantos anos a quem afetuosa e orgulhosamente, tanto admiravamos e estimavamos". Concluiu dizendo que com a morte de Cacilda "perdeu a cultura brasileira um de seus testemunhos de inteligencia, arte e sensibilidade que se perpetuarão sempre na nossa lembrança e no nosso coração".

Klabin Segall
- O presidente da Caixa Economica Estadual, Oscar Klabin Segall, que acompanhava o governador, disse: "Cheguei de viagem esta madrugada e fui, pela manhã, surpreendido com a triste noticia da morte de Cacilda Becker. Dias atrás, em Paris, os criticos franceses me perguntavam sobre o estado de saude da atriz, cujo nome ganhou dimensões internacionais. Venho prestar minha ultima homenagem àquela que levou o nome do tetro brasileiro alem de nossas fronteiras e que era a grande representante da classe teatral".

Laudo Natel
- O ex-governador Laudo Natel disse: "Venho prestar minha ultima homenagem à grande dama do teatro brasileiro".

Odete Lara: "Tinha fé na recuperação de Cacilda. Aprendi a admirá-la por sua obra e por sua personalidade na vivencia que tivemos. A perda é irreparavel".

Fredi Klemann: "Cacilda morreu no palco como talvez ela quisesse. Trabalhei com ela 20 anos e com ela vai-se uma parte de nossa vida. Sua morte assinala o fim de uma epoca do teatro brasileiro: a epoca da renovação".

O sepultamento
- Cacilda Becker faleceu aos 48 anos. Foi casada em primeira nupcias com o jornalista Tito Fleury, e atualmente estava separada de seu ultimo marido, o ator Valmor Chagas. Deixa a mãe Alzira Yaconis Becker (seu pai Edmundo Radamés Becker é falecido), o filho Luís Carlos, do primeiro matrimonio, e as irmãs Dirce e Cleide Yaconis, esta tambem conhecida atriz de teatro. Deixa ainda uma filha adotiva, Maria Clara.

Seu sepultamento dar-se-á hoje, saindo o feretro às 11 horas, da igreja de São Domingos, rua Caiubi, para o cemiterio do Araçá.

A morte emendou a gramática.

Morreram Cacilda Becker.

Não era uma só. Era tantas.

Professorinha pobre de Pirassununga

Cleópatra e Antígona

Maria Stuart

Mary Tyrone

Margarida Gautier e Alma Winnemiller

Hanna Jelkes a solteirona

a velha senhora Clara Zahanassian

adorável Júlia

outras muitas, modernas e futuras

irrelevadas.

era também um garoto descarinhado e astuto: Pega-fogo

e um mendigo esperando infinitamente Godot.

era principalmente a voz de martelo sensível

martelando e doendo e descascando

a casca podre da vida

para mostrar o miolo de sombra

a verdade de cada um nos mitos cênicos.

Era uma pessoa e era um teatro.

Morreram mil Cacildas em Cacilda.

 
Carlos Drummond de Andrade (Junho de 1969)

Clique na imagem para obter o vídeo em formato MP4/FLV

CACILDA BECKER E WALMOR CHAGAS, EM 1962 - A diva do teatro, Cacilda Becker, contracena com o marido, o ator Walmor Chagas, nesta peça publicitária do óleo de soja Saúde da Anderson Clayton, veiculado em 1962. Cacilda, que também era irmã da atriz Cleyde Yáconnis, é considerada uma das maiores damas da história do teatro no Brasil. Ela atuou também na TV, especialmente nos teleteatros da época, mas fez apenas uma novela, "Ciúmes", produzida pela TV Tupi, em 1965. Fez dois filmes, sendo mais lembrada pela atuação em "Floradas na Serra", de 1954, em que foi par romântico de Jardel Filho.
Walmor brilhou na TV, em novelas como "Locomotivas" (1977), "Vereda Tropical" (1984) e na minissérie "Os Maias" (2002). No cinema, tem papel marcante em pelo menos dois clássicos do cinema nacional, "São Paulo S.A" (1965), de Luiz Sérgio Person, e 'Xica da Silva" (1976), de Cacá Diegues. O ator também brilhou no teatro e ao lado de Cacilda, que morreu no palco em 1969.

Clique >>aqui<< ou na imagem acima para obter o vídeo, publicado no YouTube em 19/8/2010 por Baú da TV (arquivo MP4/FLV, com 5,73 MB, 1'19")

Participações em teleteatros na televisão: foi Cacilda quem inaugurou o Teatro Municipal de São Carlos com a peça Esperando Godot no começo de 1969. Cacilda provocava paixões avassaladoras e teve três maridos. Durante a apresentação do espetáculo Esperando Godot, que encenava com o marido Walmor Chagas, na capital paulista, em 6 de maio de 1969, Cacilda sofreu um derrame cerebral e foi levada para o hospital, ainda com as roupas de seu personagem. Morreu após 38 dias de coma e foi enterrada no Cemitério do Araçá, com a presença de uma multidão de admiradores

Vídeo publicado no YouTube em 10/11/2009 por AndreiaM30 (25")

Cacilda Becker foi o maior mito teatral do país. Começou a representar nos anos 40, e só cessou suas atividades quando sofreu um enfarto durante uma apresentação do espetáculo 'Esperando Godot' (1969). Um mês depois do acidente, veio a falecer. A sua figura ficou imortalizada na memória dos milhares de brasileiros que presenciaram sua 'fúria santa' em cena. Cacilda representou mais de cem personagens ao longo de sua carreira teatral. Fez apenas dois filmes, uma novela, e alguns teleteatros. Talvez, um dos motivos que a transformaram nessa lenda, é o fato de se haver pouco registro filmado da atriz.

No ano de 1968, a Rede Bandeirantes colocava no ar a história 'Inês de Castro', dentro da série 'Teatro Cacilda Becker'. A emissora estava engatinhando: iniciara suas transmissões no ano anterior. Cacilda estrelava o teleteatro, baseado numa história verídica de amor proibido que se passou em Portugal no século 14. Ao seu lado estavam Mauro Mendonça, Homero Kossac, Jairo Arco e Flecha, e Marta Greiss.

Nessa cena, um dos raros registros da atriz, temos a oportunidade de vê-la exercer seu talento ímpar. Participa da cena, também, o futuro cantor e ator Fábio Júnior com apenas 14 anos de idade.

Vídeo publicado no YouTube em 28/9/2007 pelo Canal Memória (2'22")

Rara imagem da atriz Cacilda Becker, em entrevista para a Rede Tupi de Televisão. - No fatídico ano de 1968, auge da censura e atentados da Ditadura contra a liberdade de expressão, a atriz Cacilda Becker militava nos direitos da classe artística. Sempre engajada na luta contra a censura, nessa entrevista feita pela TV Tupi, a atriz fala sobre a resolução do episódio em que policiais agrediram os atores da peça "Roda Viva", em pleno camarim.

Vídeo publicado no YouTube em 8/5/2009 pelo Canal Memória (57")

 Veja também:

São Vicente: Cacilda Becker e o Grupão